quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Homofobia no México e a "intervenção" da OEA

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Uma pergunta aos meus caríssimos amigos petistas e não petistas que defendem Belo Monte e acusaram a OEA de ser intervencionista por ter condenado o Brasil, se dizem o mesmo da condenação, em maio, do México no mesmo organismo por não proteger de violência sua comunidade LGBT:
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou nesta terça-feira o assassinato de Leija Herrera, militante pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais (LGBT) no México, cujo corpo foi encontrado com golpes na cabeça que lhe desfiguraram o rosto.
Em um comunicado divulgado em Washington, a comissão pertencente à Organização dos Estados Americanos (OEA) disse que recebeu informações de que o ativista teria sido encontrado morto na madrugada de 4 de maio próximo do antigo Palácio de Justiça de Chilpancingo, na cidade de Chilpancingo, capital do Estado de Guerrero.
A CIDH defendeu que 'é obrigação do Estado investigar acontecimentos desta natureza e sancionar os responsáveis' pelo assassinato do militante, de 33 anos. 
[...]
A comissão também pediu às autoridades mexicanas que adotem 'de forma imediata e urgente todas as medidas necessárias para garantir o direito à vida, à integridade e à segurança dos defensores e defensoras dos direitos das pessoas lésbicas, gays, trans, bissexuais e intersexuais'.
Aliás, vale uma distinção: Trata-se não da OEA, mas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, virtualmente/formalmente independente.

Será que se trata de mais um caso absurdo, terrível e intolerável de intervenção contra a soberania do pobre México? São os EUA tentando invadir o México através da defesa da comunidade LGBT?

Engraçado que muitos dos que agora se revoltam apoiaram a decisão da Corte Interamericana contra o Brasil no caso da Anistia e provavelmente encontrarão alguma desculpa para concordar com a decisão da Comissão de condenar o México. Ou melhor, possivelmente manterão o mais completo silêncio, mesmo se questionados.

E, sempre é bom lembrar, muitos ainda comemoraram a ingerência absurda do Miguel Insulza, Secretário Geral da OEA sobre a Comissão, tentando forçá-la a rever sua decisão, algo sem precedentes. Uma ingerência criminosa do principal líder da OEA sobre um organismo formalmente independente.

Estamos diante de um movimento grotesco do Brasil que ameaçou se retirar e cortar financiamento da Comissão para que esta tome decisões de acordo com suas vontades.

A Anistia Internacional, por sua vez, condenou as declarações de Insulza e sua tentativa de intervir na Comissão. Engraçado que quem me passou a notícia a entendeu errado, como se a AI estivesse apoiando a intervenção. Vendo que estava errado, passou a condenar a AI e colocar no mesmo saco de outras "agências americanas".

Imaginemos um cenário hipotético em que um país é desafiado por um organismo internacional relevante que se opõe a seus interesses. Digamos que este país tenha a intenção de ir contra os direitos humanos de uma população vulnerável, indefesa cuja única forma de reagir é através de um, organismo internacional.

Este organismo condena este país que, como todo bom imperialista, passa por cima de sua decisão, mas não sem antes fazer ameaças. Esta história lembra alguma coisa? Os EUA talvez, durante a invasão ao Iraque?

Não, o Brasil. O país copia EUA e joga multilateralismo no lixo.

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