sábado, 17 de setembro de 2011

O jornalismo "progressista" e o PIG: Afogados em um Belo Monte de mentiras [Update]

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Sempre tive um pé atrás quando algum assunto era notícia no blog do Paulo Henrique Amorim (o Conversa Afiada).

É estranho que um jornalista que critique de forma tão veemenete o chamado PIG trabalhe para... o PIG! No caso, a Record, a TV do Bispo. E, claro, que acredite tão piamente naquilo que o tal PIG veicula, sempre que bate com seus interesses.

Claro que todos precisamos comer e pagar nossas contas, mas sempre achei a virulência do dito blogueiro/jornalista - contra o PIG do qual ele faz parte - por demais exacerbada, falsa, como se jogasse para uma platéia.

Mas indo ao assunto principal, leiam rapidamente esta postagem do PHA, ferrenho defensor de Belo Monte, que não nega seu total desprezo pelas vítimas potenciais desse monstro:
Saiu no Globo, na pág. 25 (será que a Urubóloga leu ?):

“OEA volta atrás sobre Belo Monte”

“Comissão de Direitos Humanos da OEA pedira suspensão da obra da usina em abril”

“… há cinco meses a OEA havia baixado uma medida cautelar pedindo ao governo brasileiro que suspendesse o empreendimento …”

Agora, enviou uma carta à Presidenta “se retratando e pondo um ponto final no impasse”.

O “especialista” da OEA disse:

“Esse assunto está encerrado para nós. Creio que o que houve foi falta de informação dos integrantes da Comissão”.
Não diz muita coisa, senão apenas reproduz passagens pinçadas de um suposto texto publicado pelo O Globo.

Dois problemas surgem imediatamente.

Primeiro, acho engraçado que alguém tão raivoso contra o PIG aceite uma matéria de um jornal "do grupo" como verdade incontestável sem checar outras fontes (que não existem) e, segundo, desde quando há qualquer certeza sobre um assunto apenas porque saiu na mídia?

O jornalista da Época, Paulo Moreira Leite, foi outro a também cair na pegadinha d'O Globo:
Cinco meses atrás, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos baixou uma medida cautelar pedindo ao governo brasileiro que suspendesse a construção da usina de Belo Monte. Foi um pequeno escândalo, como vocês se lembram.
Intromissão em assuntos internos? Pressão imperialista? Gafe diplomática? Pura incompetencia?
Leviandade? Tudo isso e um pouco mais. Sabe-se agora que foi, especialmente, uma piada de mau gosto.
Seria suspeito, desde o início, que apenas dois jornalistas (um deles um ferrenho defensor de absolutamente qualquer atitude do governo) tivessem reproduzido (com visível felicidade) uma matéria teoricamente de grande importância.

Aliás,  inicialmentesó consegui encontrar a tal matéria d'O Globo reproduzida pelo site da Norte Energia, a empresa responsável por Belo Monte (em link que me foi enviado pelo @sergiorauber).

A matéria d'O Globo, enfim, existe, como pode ser visto na imagem abaixo (retirada do site do Min. do Planejamento), mas seu conteúdo é totalmente falso.

No twitter, conversando com o @Sergiorauber e com a @PersonalEscrito, desde o princípio duvidamos da veracidade da matéria, pois os dados simplesmente não encaixavam.

A matéria afirmava que um funcionário da OEA, o canadense Adam Blackwell, seria o responsável por revelar ao jornal a novidade, mas daí surge um problema grave: Nenhum funcionário da OEA pode falar em nome da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH, a responsável pela "condenação" do Brasil e que é autônoma em relação à OEA).

Ademais, não faria qualquer sentido a CIDH - e muito menos a OEA, que não está acima da primeira - revogar uma decisão (sua medida cautelar) em segredo e, de pirraça, contar só para o governo e para um ou dois jornalistas!

Um pouco de estudo resolveria o problema: A Corte Interamericana e a Comissão Interamericana são totalmente autônomas em relação à OEA, não podendo ter suas decisões e medidas revogadas ou sequer questionadas pela Organização dos Estados Americanos.

Desta história podemos tirar algumas lições.

É sempre bom saber quem são nossas fontes. Confiar cegamente num jornalão e, pior, em blogueiro absolutamente cego em seu apoio ao governo constitui-se erro primário. É também interessante ter o mínimo de conhecimento em relação ao que se está falando: OEA, CIDH e direito internacional.

Fica uma dúvida, porém. Será que o jornalista "progressista" Paulo Henrique Amorim irá se retratar ou manterá sua mentira original no ar, sem retoques?

Abaixo reproduzo matéria da Revista Fórum, originalmente publicada pelo Movimento Xingu Vivo, desmentindo a farsa d'O Globo, de PHA e cia:

Belo Monte: fonte fajuta mente sobre medidas cautelares da CIDH e expõe O Globo

A matéria de O Globo ignorava, ou escondia, até mesmo que nenhum funcionário da OEA está autorizado a falar em nome da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, autônoma ante a Organização.

Por Xingu Vivo [16.09.2011 00h44]
Nesta quinta, 15, o jornal O Globo publicou uma matéria na qual noticiou que “a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), que há cinco meses havia baixado uma medida cautelar pedindo ao governo brasileiro que suspendesse o empreendimento [de Belo Monte], enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff se retratando e pondo um ponto final no impasse”. Segundo a reportagem, as informações teriam sido prestadas por um certo senhor Adam Blackwell, “especialista em segurança da OEA”, que teria afirmado também que o assunto – paralisação de Belo Monte em função de violações de direitos humanos – estaria encerrado e que a medida cautelar da CIDH seria fruto de “falta de informação dos integrantes desta comissão”.
Em primeiro lugar, este senhor, ou qualquer outro empregado da Organização dos Estados Americanos, não tem autoridade, muito menos autorização, para falar em nome da CIDH, autônoma perante a OEA. Mais: beira à aberração a acusação de que a CIDH não está informada sobre os temas que analisa e delibera.
Mais constrangedor, porém, é o fato de que a informação passada ao Globo é mentirosa: as medidas da CIDH estão mantidas. A Comissão apenas considerou que “a controvérsia que atualmente se apresenta entre as partes [representantes das populações indígenas e governo], sobre a consulta prévia e o consentimento informado em relação ao projeto de Belo Monte, tornou-se uma discussão sobre questões de mérito que transcendem o âmbito de mecanismo de medidas cautelares”; ou seja, a denúncia sobre a falta de consulta aos indígenas será considerada no pronunciamento sobre o mérito da petição.
Em nenhum momento a CIDH afirma que revogou qualquer decisão anteriormente apresentada ao governo. Reiterou, outrossim, que notou com muita preocupação que o governo não está garantindo a saúde, a segurança e a demarcação das terras das comunidades indígenas, em particular as indígenas em isolamento voluntário. Ou seja, apesar da afirmação do governo de que estaria tomando medidas neste sentido, a CIDH afirma que “estimou necessário manter as medidas cautelares adotadas para proteger a vida, saúde e integridade pessoal” dos membros das comunidades indígenas da bacia do rio Xingu, especificando ações neste sentido.
Possivelmente os jornalistas do Globo não tenham se dado conta de que o funcionário de uma instituição não é fonte para falar em nome de outra. Mas sempre é sábio que, em casos controversos, se busque informações com mais de um único informante. Por exemplo, as entidades peticionárias. Evita-se assim gafes constrangedoras.

Publicado no site do Movimento Xingu Vivo.
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Update:
O Brizola Neto foi outro a publicar a notícia falsa, usando o PHA como fonte, e que ainda não se retratou por reproduzir mentiras.
Reproduzo aí ao lado a manchete de O Globo do dia 6 de abril, com a “condenação” da Organização dos Estados Americanos à construção da Usina de Belo Monte e a materinha, na página 25 de hoje, dizendo que a OEA nada tem contra a obra e que faltou-lhe informação quando se manifestou contrária a ela.
A diferença de tratamento é tão grande que eu mesmo só a li depois de alertado pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.
Não é preciso sequer dar usar argumentos diante deste flagrante desequilíbrio. É o padrão Ricúpero de jornalismo: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim, a gente esconde”.
Neste caso, a condenação a Belo Monte pela OEA é o “bom”, o arrependimento da Organização é o “ruim”, não é mesmo.
Esqueçam qualquer discussão séria – e necessária – sobre questões ambientais e econômicas. Tudo é política e propaganda.
Havia ou não havia razão para, há um mês, a gente dizer que o Código de Ética da Globo merece apenas uma risada?
Meus comentários no Tijolaço, blog do deputado Brizola Neto, costumam ser censurados, então não sei se meu questionamento sobre se ele iria manter esta emntira no ar será publicado ou não. E no blog do PHA todos os meus questionamentos foram igualmente censurados.

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Em tempo: Nada impede que a CIDH decida hoje ou amanhã mudar ou mesmo revogar sua decisão sobre Belo Monte. Se a CIDH o fizer, serei o primeiro a lamentar. Mas mentir e fabricar notícia de que ela já o fez é o cúmulo da atitude Reinaldo Azevediana que cada vez mais os "progressistas" adotam.

Em tempo 2: Aliás, sabemos que a CIDH só revisaria sua decisão de forma completa caso sofresse imensa pressão do governo brasileiro. Não precisa nem comentar o quão antidemocráticas seriam essas "pressões".

Em tempo 3: A CIDH até realizou mudanças em sua decisão, mas nada parecido com o dito pelo Globo, PHA, Brizola Neto...
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