Agnelo Queiroz, governador do DF foi o primeiro a ceder às pressões da FIFA. Se bem que, na verdade, cedeu de boa vontade, com sorriso no rosto, afinal, não é ele que terá direitos garantidos por lei negados.
O Ministro do Esportes ensaia aceitar, também sorrindo, diversas das imposições da FIFA e Dilma aparenta tentar resistir, mas até que ponto é jogo de cena, não posso garantir. Durona ela é, pena que tenha mostrado mais este lado contra funcionários públicos em greve.
A Folha publicou, no dia 10, uma carta minha em sua seção de leitores que, acredito, resume um pouco a ópera:
Aparentemente muitos leitores da Folha ainda não compreenderam que, gostando ou não da meia-entrada, a questão vai além. O problema principal é a soberania brasileira. Quer dizer que abrir mão de leis para agradar a uma empresa estrangeira não é problema? Não se trata de gostar ou não da lei, e sim de aceitar que uma empresa possa nos fazer abrir mão de nossa legislação para maximizar lucros.E é exatamente este o ponto. Pouco importa o que A ou B acha da meia-entrada e sim o que significa sua suspensão baseada nas vontades de uma empresa estrangeira sem qualquer legitimidade para mandar o Brasil fazer nada.
RAPHAEL TSAVKKO GARCIA (São Paulo, SP)
Diferentemente do que dizem alguns "Comunistas Ruralistas", a comparação da situação com as recentes condenações do Brasil na Corte e Comissão Interamericana de Direitos Humanos (sobre Lei da Anistia e Belo Monte respectivamente) é tosca e não resiste a uma análise mais aprofundada de um aluno de primeiro ano de Relações Internacionais.
O Brasil assinou e ratificou o Tratado de San José, que deu origem às duas CIDH's. O país é membro ativo da OEA e de ambas organizações de Direitos Humanos (inclusive com representante indicado na Comissão, o Paulo Sérgio Pinheiro), logo, não tem qualquer cabimento falar que respeitar uma decisão de organização cujos pactos foram assinados e ratificados pelo Brasil seriam uma quebra da soberania nacional, uma invasão estrangeira ou um atentado contra o país.
Já a FIFA é uma entidade privada, controlada por empresários. Isto, por si só, deveria ser explicação suficiente. Envolta em escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro e o que mais puder ser lembrado, a FIFA representa apenas os interesses de meia dúzia de cartolas sem qualquer tipo de ligação sequer com a ampla maioria dos torcedores.
Não é preciso ser gênio para entender as diferenças. Mas é preciso ser Aldo Rebelo para passar por cima disso.
Mas, enfim, a questão da meia-entrada virou assunto do momento na intenção de desviar o foco da vulneração de direitos garantidos por lei aos brasileiros. E a coisa vai até além. Já que setores políticos não vêem problema na suspensão temporária de leis estaduais (a meia-entrada não é garantida por lei federal, mas por leis locais), foi votado o Estatuto da Juventude que, pese algumas críticas, garante a federalização do direito.
Sendo federal, a FIFA terá mais dificuldade em forçar mudanças. E o governo em justificar caso ceda. Daí nasce a imensa pressão midiática para pegar um detalhe - a meia-entrada - e demonizá-la, como forma de diminuir as pressões sobre a FIFA e facilitar que os "amigos empresários" garantam também seus lucros por aqui.
Parece estranho misturar o Estatuto da juventude, que foi bravamente defendido pela Manuela d'Ávila e pelo Jean Wyllys com a FIFA, mas são duas questões que se tocam, pois a criação de uma legislação federal coloca em risco os interesses da FIFA e já aparece aqui e ali "insatisfeitos" com um direito garantido e apenas "federalizado" dos estudantes, comentando como é absurdo garantir eia para vagabundos e etc.
A própria Manuela, aliás, também notou como os assuntos relacionados à meia-entrada - FIFA e Estatuto - se relacionam.
Sobre a meia-entrada em si, devo dizer que sou favorável à sua existência, mas como defensor do Estado forte que sou, vou além, defendo total gratuidade de transporte público para jovens e trabalhadores e gratuidade para todo espetáculo financiado com dinheiro público, via incentivos ou não.
Enquanto isto, acredito que o governo devesse fiscalizar e proibir lucros abusivos e absurdos e controlar os preços de ingressos par shows, por exemplo, evitando que, para se recuperar do pseudo-prejuízo da meia-entrada, os
Não apenas os lucros dos bancos devem ser limitados, mas também de aproveitadores travestidos de empresários do entretenimento.
Devemos pensar na meia-entrada como direito, mas, dentro disto, criar maneiras de garantir que nenhum lado seja prejudicado. Um evento foi totalmente financiado com dinheiro estatal? Qual o sentido, então de cobrar, para pagarmos duas vezes? Um vento teve financiamento parcial do Estado? Então pensemos em meia-entrada. Não há financiamento estatal, meia-entrada e talvez contrapartida governamental e por aí vai.
Acabei meio sem querer dando a idéia à Manuela de uma consulta pública sobre formas de reglamentar a questão da meia-entrada, garantindo ao máximo os direitos dos estudantes, dos artistas e etc. Vamos ver o que sai daí!
Não sou contra pensar em pensar formas de melhorar o sistema e garantir que todos os lados se beneficiem, mas JAMAIS aceitarei que se eliminem direitos garantidos por nós, estudantes.
Mas, entrementes, como sabemos que de um lado o governo (qualquer governo neste ponto) é frouxo demais para se mexer, e os preços continuarão abusivos, defendo a meia-entrada, pois sua extinção não garantirá que os preços caiam. Acreditar que os preços podem cair neste país é como acreditar no bicho-papão (se bem que o Aldo deve achar que tem um debaixo da sua cama, com camisa do Greenpeace e boné da USAID).
Enfim, resumindo, esse papo de meia-entrada é forma de mascarar o real problema de vulneração de direitos dos brasileiros e brasileiras e desculpa para a FIFA se aproveitar e lucrar como nunca.
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O Idec lançou uma campanha contra as imposições da FIFA. Assinem a petição e curtam a página no Facebook!