segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Análise do III Congresso do PSOL

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Chegou ao fim mais um congresso do PSOL, o terceiro que, infelizmente, mostrou que o PSOL quer ficar mal das pernas. Não eleitoralmente, pois vem numa crescente, com bons parlamentares e uma base que se amplia nas lutas diárias, mas mal das pernas internamente, ideologicamente e, enfim, em sua coerência.

Motivo de imensa crítica e mesmo uma das razões para a própria formação do PSOL foi a política de alianças promovida pelo PT que, basicamente, aceitava qualquer porcaria que tivesse um voto e estivesse disposto a alugar o passe por alguma boquinha, mamata ou mesmo corrupção descarada.

Mensalão é pouco perto do que está por trás das negociatas do PT, que agora paga aos "investidores" com abusos aos direitos humanos (Belo Monte é só um exemplo), com cargos mil, farras com dinheiro público e as famosas privatizações.

Derrocada

Mas, enfim, o PSOL nasceu como forma de combater tudo isto, de resgatar velhas bandeiras rasgadas pelo PT e pisoteadas pela militância fanática sempre pronta a se vender por pouco ou nada.

Mas já em seu terceiro congresso o PSOL demonstra uma fraqueza mortal, a mesma que acometeu o PT: A sede pelo poder a qualquer custo.

Não falo em corrupção, não chegamos a este ponto e sobra pouco espaço para isto entre dois gigantes do ramo, o PT e o PSDB, mas sim em uma fraqueza ideológica em se manter fiel aos princípios fundadores e se afastar dos aliados de primeira hora (PSTU e PCB) para arrastar asas para o PV (no Rio) e até para o PTB (no Amapá), e isso só pra começar a discussão.

Segundo fontes, as alianças do partido com outros não-alinhados ao ideário de esquerda foram liberadas.
*Política de alianças eleitoral: O Diretório Nacional avaliará caso a caso as alianças políticas e sociais que avançarem para além da Frente de Esquerda (PSTU e PCB), cabendo somente somente a essa instãncia a decisão final sobre concretização das ampliações tendo como parâmetros a firme defesa do nosso programa.


O congresso passado, MES e MTL

No Congresso passado, que acompanhei in loco, o partido estava rachado, com o MES (tendência da Luciana Genro e majoritária em PE, AL e RS) manobrando, junto com a Heloísa Helena, para assumir o partido e enterrar discussões importantes, como o aborto e para legitimar absurdos como o apoio da Gerdau à Luciana Genro no RS. As manobras foram sufocadas e mesmo o MES, em autocrítica, acabou sofrendo um sério racha, visível neste congresso, em que se ividiram em duas tendências, uma delas concorrendo junto com o MTL, que, segundo denúncias, usa das piores táticas para filiar pessoas que sequer sabem o significado de "PSOL".

O MTL e o racha do MES surgiram como segunda força nestas eleições que, porém, mostraram uma APS (de Ivan Valente, dominante em São Paulo) fortalecida, mesmo com um número menor de alianças em relação ao congresso anterior. Mas mesmo a APS aparece fragmentada, dividida internamente devido à questão das alianças com partidos alienígenas ao campo das esquerdas.

É visível o descolamento entre parte da militância e cargos políticos, estes últimos os que de forma mais entusiasmada apoiam, como busca pelo poder, o apoio de PV, PTB e afins.

Resultados

Enfim, eu não pude ir ao Congresso no sábado e domingo, fui apenas na abertura. Minhas impressiões neste texto, porém, são resultado de conversas com amigos que estavam lá e leituras feitas, tanto pessoais quanto influenciadas por posts, comentários no FB e Twitter.

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Antes de mais nada, o resultado do Congresso (dados via Facebook, podem conter pequenas variações que, porém, não alteram o resultado final):

Aferição de teses:

APS/TLS/MUS: 138 votos
CST: 19 votos
MTL: 67 votos
LSR/Reage/GAS: 3 votos
Campo Debate Socialista: 19 votos
MES: 56 votos
Enlace: 23 votos
Abstenções: 4 votos

Votantes: 329.

Resultado das Apurações das Chapas do III Congresso Nacional do PSOL:
Chapa 1 (MES e CST) - 77
Chapa 2 (MTL e Edilson) - 67
Chapa 3 (CDS, LSR, CSOL, Reage, parte do Enlace) - 46
Chapa 4 (APS, TLS, parte do Enlace [MUS]) - 139

Ivan Valente presidente nacional do PSOL.

Vejam a diferença - significativa - para as três chapas do ano passado:

Chapa 1: APS/CSOL/ENLACE/REVOLUTAS/Independentes
Chapa 2: CST/LSR/TLS/AS/ARS/CRS/Trotskystas
Chapa 3: MES/MTL
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O que vemos é o fim da polarização APS/MES (e respectivos aliados) e uma vitória acachapante da primeira tendência. Mas, da mesma forma, o sectarismo permanece inalterado.

Na abertura da conferência isto era algo óbvio de se reparar. Sempre que um político ou liderança era convocada ou citada pela mesa que coordenava os trabalhos, ou discursava, sua respectiva tendência era a única exclusiva a aplaudir, cantar e puxar palavras de ordem. Exceções dignas de nota para o Freixo, que foi ovacionado (a leitura de carta enviada por ele, que não comapreceu) e para a Marinor, ovacionada em uníssono após bom - e longo - discurso.
Sectarismo e unidade pontual

Mas o sectarismo que dividiu APS e MTL/MES  no Congresso passado foi posto de lado nas questões mais espúrias, como as alianças com partidos de centro-direita. Uma política de alianças pontuais que, infelizmente, serviu apenas para enfraquecer o partido ideologicamente.

E cada vez mais a burocracia parlamentar ganha mais peso. O minúsculo Amapá enviou 33 delegados ligados ao Randolfe para o Congresso. Isso mesmo, o minúsculo Amapá teve um peso imenso em relação a outros estados inimaginavelmente maiores e o peso pode ser ainda maior nos próximos congressos já que, com a possibilidad de alianças com PTB e com quem mais quiser, o poder local de Randolfe pode e deve crescer.

Update: O Matheus Lima, via Facebook, me enviou a seguinte explicação:
A eleição de delegados para o congresso foi na proporção de 40 para 1, ou seja, para cada 40 presentes nas plenárias pré-congressuais um delegado eleito. Os delegados do AP não podem ser explicados apenas pelo mandato do Randolfe. Há também o mandato de Clécio em Macapá e o trabalho nos movimentos sociais. Militantes da APS estão na direção do do DCE da federal e do sindicato da educação do estado.
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Uma nota: Não entendo bem como é a questão da escolha de delegados, espero que meus amigos do PSOL possam esclarecer que eu este ponto, especialemnte sobre o relativo poder do Randolfe
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Rachas

Este congresso se iniciou com a sombra do racha do MES, cuja tendência rvoltosa (consta como "Edilson" no resultado da apuração das chapas) acabou aliada com o MTL, de grande força no Rio,  que era uma grande força polarizadora no congresso anterior.

Neste congresso, divididos, MES (em conjunto com a CST do Babá) e MTL (com Edilson e revoltosos) individualmente não fizeram frente à APS e aliados, mas se unidos, seriam maioria apertada.

Mesmo o Enlace apareceu dividido. Com um grupo apoiando a APS (sob o nome de MUS, quando da votação das teses), e outro se aproximando dos setores mais radicais do partido. Aparentemente o MUS (Enlace rachado) é fruto de um grupo que se recusou a participar do Congresso Nacional do Enlace e acabou apoiando a APS e formando tendência própria.


Há papos de que os dissidentes do MES (Edilson) podem se fundir com o MTL, ao passo que os dissidentes do Enlace (MUS) podem se fundir com a APS.


E, digno de nota é o fato de que tanto o MTL quanto (ou especialmente) a dissidência do MES são extremamente próximos da Heloísa Helena e, por consequência, da Marina, e há papos de corredores de que este gupo poderia apoiar a Marina e a Heloísa Helena em uma nova empreitada fora do PSOL.

O sectarismo do partido se mostra mais presente do que nunca quando vemos o MES criticar a APS por querer se coligar, no amapá, com o PTB, mas o mesmo MES apoia o PV, junto ao MTL, no Rio.


Por fim, vale também notar a divisão que talvez se torne um racha dentro da própria APS. Novamente, nada concreto, mas apenas conversas entreouvidas aqui e ali. Muita gente parece insatisfeita com o apoio da tendência às alianças com qualquer um e mesmo com os rumos do partido sob a direção do grupo.


A APS, que é um grupo já antigo, mesmo dentro do PT, antes de migrar para o PSOL, votou unida, mas esta aparente tranquilidade é apenas uma fachada para uma crescente insatisfação interna.


Um mini-PT?
 

O PSOL, na minha leitura, e também depois de conversar com o amigo @jrpenteado durante a abertura do congresso e também com outros companheiros ligados ou não ao PSOL, não deve disputar o poder nas eleições para cargos executivos. Seu foco deveria ser o legislativo e, claro, ter o executivo como um objetivo ainda em espera. 


As eleições para executivo deveriam servi para angariar apoio e representatividade, como vitrine, uma forma de levar a mensagem para mais longe, para conquistar eleitores, para expandir plataforma, mas ainda não para disputar o poder, pois é algo óbvio, o PSOL ainda não tme musculatura para, por exemplo, governar o Rio sem ter uma base sólida própria e de aliados DE ESQUERDA no parlamento local.


No poder, num executivo cercado, seria forçado a copiar o PT e aceitar o apoio de qualquer um - e com isso ser forçado a contentar a todo tipo de aliado e das piores formas possíveis - ou simplesmente ter o governo inviabilizado, imobilizado e até mesmo sofrer impedimento.

A tática, enfim, de buscar alianças fora da esquerda, para disputar efetivamente cargos executivos, é de uma estupidez atroz não só por emular o PT naquilo que ele tem de pior, mas por  entrar em um jogo em que não pode ganhar.



Conclusão


Acredito honestamente que o PSOL é mais do que um congresso cujas bases são decididas por delegados, mas um partido de rua, de militância que ainda pode dar a volta por cima.


O Partido sai do congresso, penso eu, enfraquecido no que toca sua base ideológica e precisará realizar uma imensa autocrítica - e rápida - para não se tornar um novo PT, mas em miniatura e ainda longe de suas potencialidades.


O partido tem assumido um trabalho difícil, mas necessário, de apontar os óbvios erros do governo Dilma e, claro, também tem se posicionado corretamente em questões cruciais para o país, mas se coloca em uma situação difícil quando emula defeitos capitais do partido que um dia fez parte.


Mantenho, sem mudar uma única palavra, minha análise feita do congresso do ano passado, o segundo, algo que me preocupa, pois demonstra a falta de evolução do partido:
Antes de mais nada, deve-se deixar claro que o PSOL ainda tem MUITO caminho para percorrer.

Não é um partido, é uma federação de partidos concorrentes e sectários que se unem sob uma bandeira para poder ter acesso à "democracia burguesa". As bases são fragmentadas, na verdade ainda é preciso muito trabalho de base e para conseguir bases, pois se brincar o PSTU tem mais penetração nos Movimentos Sociais que o PSOL em si e é muito mais sólido.

A unidade entre as correntes só acontece em certos momentos, vejam como são as eleições de DCE's, dificilmente vemos uma chapa "PSOL" e sim uma do MES concorrendo com a da CST e daí em diante. Vejam, por exemplo, que existem correntes do PSOL na Conlutas e outras na Intersindical. Como pode um partido se dividir tanto?

Mas é o que acontece, o PSOL não é um partido ainda, é um PT parte 2 mas sem a mesma base e penetração.
Fica difícil combinar o discurso com a prática partidária diária desta forma. 
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Pequeno glossário de siglas:

APS: Ação Popular Socialista (Ivan Valente e Randolfe)
MES: Movimento de Esquerda Socialista (Luciana Genro)
CST: Corrente socialista dos Trabalhadores (Babá)
CSOL: Coletivo Socialismo e Liberdade
MTL: Movimento Terra Trabalho e Liberdade
TLS: Trabalhadores na Luta Socialista
LSR: Liberdade, Socialismo e Revolução (Unificação da Socialismo Revolucionário SR e Coletivo Liberdade Socialista CLS )
CRS: Corrente Renovação Socialista
AS: Alternativa Socialista
ARS: Alternativa Revolucionária Socialista
ENLACE: Coletivo formado por membros da Tendência Liberdade e Revolução, Movimento de Unidade Socialista, Dissidências da Democracia Socialista, da Articulação de Esquerda e do Fórum Socialista
Revolutas
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