O André Takahashi escreveu na Carta Capital:
O Black Bloc é composto por pequenos grupos de afinidade, muitas vezes feitos na hora, que atuam de forma independente dentro das manifestações. Mas, ao contrário do MPL, o Black Bloc não é uma organização ou coletivo e sim uma ideia, uma tática de autodefesa contra a violência policial, além de forma de protesto estética baseada na depredação dos símbolos do estado e do capitalismo. A dinâmica Black Bloc lembra mais uma rede descentralizada como o Anonymous do que um movimento orgânico e coeso.E ele ampliou:
Utilizada primeiramente pelos movimentos autonomistas da Itália e da Alemanha, é muito presente na Europa e EUA, e mais recentemente nos países árabes, mas nunca havia encontrado condições para se desenvolver em solo brasileiro.
Em junho o cenário de manifestações criou um ambiente favorável para o florescimento do Black Bloc brasileiro na sua forma de autodefesa. Em diversas capitais as mobilizações extrapolaram a capacidade organizativa dos grupos e movimentos que as desencadearam, criando movimentos multicêntricos onde cabem diversas estratégias, táticas e narrativas mobilizadoras. Como na maioria das cidades esse crescimento veio pela solidariedade popular pós-repressão, é coerente afirmar que a violência policial foi o fermento da indignação que levou a população às ruas no auge das jornadas de junho; e serviu como justificativa moral, segundo seus defensores, para a disseminação descentralizada da tática Black Bloc.Devo dizer que tenho grandes pontos de concordância e entendimento com o texto/autor, mas vejo uma movimentação do movimento ou da ideia Black Bloc para um caminho que, sinceramente, considero burro.
Escrevi ha alguns dias sobre a legitimidade do ato da quebra da santa na Marcha das Vadias do Rio de Janeiro. Era, como disse, legítimo ato de um oprimido contra o opressor, mas ao mesmo tempo era burro, pois alienava a imensa massa de católicos progressistas que podem ter criado uma antipatia irreversível em relação ao movimento, potencialmente prejudicando todas as feministas, tratadas como uma massa uniforme pela mídia.
Além disso, era uma ofensa que acabava atingindo também membros de outras minorias religiosas que também tem na Nossa Senhora (estátua quebrada) um símbolo.
Ou seja, foi uma atitude/ato impensado, ou mal pensado, que tinha a legítima intenção de atacar a estrutura católica, mas acabou se mostrando contraproducente para o movimento pelas razões citadas (dentre outras).
No caso dos Black Blocs, a situação é semelhante.
O ato de "vandalizar", de quebrar agências bancárias e outros símbolos de poder econômico é absolutamente legítimo. É a legitima expressão da revolta de setores sociais oprimidos ou que se reivindicam oprimidos, contra seu opressor ou um de seus principais opressores.
Mas, ao mesmo tempo, o Black Bloc quando deixa de ser defensivo e passa a ser ofensivo acaba por ser também burro, contraproducente e afasta das manifestações quem não está lá para apanhar "de graça" e afasta a opinião pública dos pontos centrais das manifestações.
Enquanto o Black Bloc agia defensivamente, ou seja, destruindo bancos e afins DEPOIS da violência policial ter começado, o apoio era irrestrito.
Era possível ver e ouvir nas ruas as pessoas comentando sobre a legitimidade de, após uma agressão, se revidar à altura e da única forma possível (afinal, uma coisa é você quebrar um banco e toda a simbologia que vem junto, outra é você enfrentar de cara limpa a armada PM).
Porém, com a atitude OFENSIVA dos Black Blocs em manifestações (em particular a contra Alckmin em São Paulo no dia 31 de julho) de quebrar agências e revendas de carros sem que a PM tenha dado o primeiro tiro, acabou por se mostrar contraproducente para o conjunto dos presentes.
A população se colocou contra, não foi em peso na manifestação seguinte em parte pelo medo de serem alvos da PM por estarem juntos a encapuzados que poderiam iniciar a violência.
Enfim, a questão central é a de que para serem efetivos, os Black Blocs devem se manter como movimento/tatica/ideia defensiva, buscando defender manifestantes da violência policial que, em geral, acontece independente de qualquer ação vinda da manifestação. Ao passar a "agir" primeiro, perdem apoio - não a legitimidade - e acabam por ajudar a enfraquecer o movimento e a causa.
Deixo claro, novamente, que seja defensiva ou ofensivamente, os Black Blocs são legítimos, a questão é se esta legitimidade pode se transformar em inteligência e agregar apoio popular.