segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Da Carta Capital ao PSTU: Os Black Blocs e a Revolução, análise de um equívoco.

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Duas interessantes discussões surgiram sobre o papel dos Black Blocs. Uma vem da Carta Capital, a outra do PSTU.

Tenho concordâncias com ambos os textos, na verdade concordância total com o texto da Carta Capital que, inclusive, usei como base para meu texto sobre o mesmo assunto.

O texto da Carta, ao que me parece, escrito pelo André Takahashi se centra mais em explicar os Black Blocs e menos em fazer juízo de valor sobre seu papel/ação. Traz algumas questões que o texto em si não responde, mas deixa no ar.
Como diferenciar o Black Bloc do agente provocador infiltrado, que está na manifestação apenas para criar fatos que justifiquem a repressão? A suspeita sobre os P2 levanta outra questão: até que ponto a violência por parte dos manifestantes serve aos interesses de determinado governo?
Cada caso é um caso, e só nos resta avaliar cada conjuntura com lucidez, a fim de que não sejamos levados a tomar opinião direcionados por interesses ocultos. Formação política, clareza dos objetivos e capacidade de análise de conjuntura serão dos fatores determinantes para o futuro da ação direta urbana no Brasil, seja ela violenta ou não violenta.
E de fato, tenho total convergência com os pontos abordados, ao passo que acredito que meu texto tenha respondido algumas das questões, ao defender abertamente a tática/ideia/movimento Black Bloc enquanto autodefesa, mas negar a utilidade enquanto ataque.

E neste ponto encontro pontos em comum com o texto do PSTU:
Mas queremos dizer, com clareza, que as ações desses grupos nos parecem completamente equivocadas. Os “Black Blocs” defendem a “propaganda pela ação”. Ou seja, defendem a utilização do método das depredações das fachadas de bancos, empresas, lojas de grifes e tudo o que simboliza o capitalismo porque, assim, estariam enfraquecendo o sistema.
Nós, do PSTU, não temos nenhum apreço por essas instituições. Muito pelo contrário. Mas, consideramos que esses métodos não enfraquecem os grandes empresários. Ao contrário, lhes dão um argumento para jogar a opinião pública – e muitos trabalhadores – contra as manifestações e, assim, preparar a repressão. Sua “ação direta” é típica de setores de vanguarda, descolados das massas, que terminam por fazer o jogo da direita, justificando a repressão.
Desta citação discordo do termo "jogo da direita", comumente usado por setores majoritários petistas para deslegitimar a oposição de esquerda. Não cabe aqui. Mas em geral, é o que penso em termos da utilidade da tática ofensiva de ação direta dos Black Blocs.

O texto do PSTU ainda completa este raciocínio, demonstrando como a ação dos Black Blocs por vezes acaba por atrapalhar as manifestações, trazendo para os manifestantes a violência (que chegaria de qualquer forma, mas teria o diferencial importante para a opinião pública do "quem começou primeiro").

Enfim, enquanto o texto da Carta Capital faz uma análise sobre o que é ou são os Black Blocs, o do PSTU os qualifica e analisa em termos de ações.

E chegamos no meu ponto de discordância. Diz o PSTU:
Mas se esses grupos, aparentemente radicais, são equivocados no que se refere ao método de ação, também possuem outra grave limitação: a falta de um programa revolucionário.
Não estamos falando de revolução.

Como escrevi a um amigo do partido sobre o assunto:
Concordo com a análise inicial, mas começo a discordar quando começa com "programa revolucionário". Os Black Blocs são uma realidade objetiva, ao passo que a "revolução" é, com boa vontade, um horizonte distante. A ação dos BB tem como objetivo a radicalização da democracia em uma ponta e a autodefesa em outra, e serve aos propósitos imediatos de protestos que NÃO SÃO o gérmen de uma revolução. Fala-se aqui de dois momentos distintos. A análise do PSTU peca por avançar.
Em outras palavras, estamos falando da autodefesa/proteção de movimentos sociais nas ruas com reivindicações específicas e bem definidas (e limitadas) e não de um movimento ou momento pré-revolucionário.

Criticar os Black Blocs pela inutilidade ou estupidez de sua violência pré ou pós-provocação/ação policial é uma coisa, é válido e podemos debater, mas querer tratar em termos de "a revolução está chegando" é partir da realidade para o sonho.

E o PSTU deixa claro que seu objetivo final é o de atacar os Black Blocs enquanto anarquistas, mais como forma de atacar a ideologia que a ação:
Os “Black Blocs”, evidentemente, não defendem a revolução socialista. Muitos de seus integrantes reivindicam o anarquismo, mas na verdade param na radicalização da democracia como horizonte político. Ou seja, no programa acabam sendo  moderados.
E é aí que se perde.
É preciso deixar claro a inconsistência no programa e na ação desses grupos que, na verdade, são reformistas e radicais apenas na ação. Existem muitos ativistas sérios que se deixaram atrair pelos “Black Blocs” e já começaram a ver os problemas. Agora, é necessário que reflitam sobre isto.
Pois eu posso e devo dizer o mesmo ao PSTU, é preciso deixar claro que o programa e a ação dos movimentos que estão nas ruas NÃO é revolucionário, ou ao menos se preocupam com questões concretas imediatas antes do sonho de mudar todas as estruturas. São protestos por REFORMAS na PM (ou mesmo sua extinção), contra o aumento das passagens, contra a violência nas periferias, enfim, pautas da esquerda que podem LEVAR a um momento revolucionário, mas de forma alguma o são em si.

Aí reside o grande equívoco do PSTU.

Me parece, por fim, que o grande problema do PSTU com os Black Blocs não passa de uma luta por protagonismo.
Não somos, nem nunca fomos pacifistas. Mas é a violência das massas, e não de um pequeno grupo, que poderá fazer a revolução. As ações desses pequenos grupos facilitam a repressão da polícia contra as massas nas passeatas.
Enquanto os Black Blocs apanham e batem, o PSTU foge (e isto não é uma crítica), mas defende, em tese, a violência das massas. Mas só das massas, se um grupo resolver apanhar pelas massas não pode.

É incongruente. Esperemos, pois, a revolução, apanhando.
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