Tenho concordâncias com ambos os textos, na verdade concordância total com o texto da Carta Capital que, inclusive, usei como base para meu texto sobre o mesmo assunto.
O texto da Carta, ao que me parece, escrito pelo André Takahashi se centra mais em explicar os Black Blocs e menos em fazer juízo de valor sobre seu papel/ação. Traz algumas questões que o texto em si não responde, mas deixa no ar.
Como diferenciar o Black Bloc do agente provocador infiltrado, que está na manifestação apenas para criar fatos que justifiquem a repressão? A suspeita sobre os P2 levanta outra questão: até que ponto a violência por parte dos manifestantes serve aos interesses de determinado governo?E de fato, tenho total convergência com os pontos abordados, ao passo que acredito que meu texto tenha respondido algumas das questões, ao defender abertamente a tática/ideia/movimento Black Bloc enquanto autodefesa, mas negar a utilidade enquanto ataque.
Cada caso é um caso, e só nos resta avaliar cada conjuntura com lucidez, a fim de que não sejamos levados a tomar opinião direcionados por interesses ocultos. Formação política, clareza dos objetivos e capacidade de análise de conjuntura serão dos fatores determinantes para o futuro da ação direta urbana no Brasil, seja ela violenta ou não violenta.
E neste ponto encontro pontos em comum com o texto do PSTU:
Mas queremos dizer, com clareza, que as ações desses grupos nos parecem completamente equivocadas. Os “Black Blocs” defendem a “propaganda pela ação”. Ou seja, defendem a utilização do método das depredações das fachadas de bancos, empresas, lojas de grifes e tudo o que simboliza o capitalismo porque, assim, estariam enfraquecendo o sistema.Desta citação discordo do termo "jogo da direita", comumente usado por setores majoritários petistas para deslegitimar a oposição de esquerda. Não cabe aqui. Mas em geral, é o que penso em termos da utilidade da tática ofensiva de ação direta dos Black Blocs.
Nós, do PSTU, não temos nenhum apreço por essas instituições. Muito pelo contrário. Mas, consideramos que esses métodos não enfraquecem os grandes empresários. Ao contrário, lhes dão um argumento para jogar a opinião pública – e muitos trabalhadores – contra as manifestações e, assim, preparar a repressão. Sua “ação direta” é típica de setores de vanguarda, descolados das massas, que terminam por fazer o jogo da direita, justificando a repressão.
O texto do PSTU ainda completa este raciocínio, demonstrando como a ação dos Black Blocs por vezes acaba por atrapalhar as manifestações, trazendo para os manifestantes a violência (que chegaria de qualquer forma, mas teria o diferencial importante para a opinião pública do "quem começou primeiro").
Enfim, enquanto o texto da Carta Capital faz uma análise sobre o que é ou são os Black Blocs, o do PSTU os qualifica e analisa em termos de ações.
E chegamos no meu ponto de discordância. Diz o PSTU:
Mas se esses grupos, aparentemente radicais, são equivocados no que se refere ao método de ação, também possuem outra grave limitação: a falta de um programa revolucionário.Não estamos falando de revolução.
Como escrevi a um amigo do partido sobre o assunto:
Concordo com a análise inicial, mas começo a discordar quando começa com "programa revolucionário". Os Black Blocs são uma realidade objetiva, ao passo que a "revolução" é, com boa vontade, um horizonte distante. A ação dos BB tem como objetivo a radicalização da democracia em uma ponta e a autodefesa em outra, e serve aos propósitos imediatos de protestos que NÃO SÃO o gérmen de uma revolução. Fala-se aqui de dois momentos distintos. A análise do PSTU peca por avançar.Em outras palavras, estamos falando da autodefesa/proteção de movimentos sociais nas ruas com reivindicações específicas e bem definidas (e limitadas) e não de um movimento ou momento pré-revolucionário.
Criticar os Black Blocs pela inutilidade ou estupidez de sua violência pré ou pós-provocação/ação policial é uma coisa, é válido e podemos debater, mas querer tratar em termos de "a revolução está chegando" é partir da realidade para o sonho.
E o PSTU deixa claro que seu objetivo final é o de atacar os Black Blocs enquanto anarquistas, mais como forma de atacar a ideologia que a ação:
Os “Black Blocs”, evidentemente, não defendem a revolução socialista. Muitos de seus integrantes reivindicam o anarquismo, mas na verdade param na radicalização da democracia como horizonte político. Ou seja, no programa acabam sendo moderados.E é aí que se perde.
É preciso deixar claro a inconsistência no programa e na ação desses grupos que, na verdade, são reformistas e radicais apenas na ação. Existem muitos ativistas sérios que se deixaram atrair pelos “Black Blocs” e já começaram a ver os problemas. Agora, é necessário que reflitam sobre isto.Pois eu posso e devo dizer o mesmo ao PSTU, é preciso deixar claro que o programa e a ação dos movimentos que estão nas ruas NÃO é revolucionário, ou ao menos se preocupam com questões concretas imediatas antes do sonho de mudar todas as estruturas. São protestos por REFORMAS na PM (ou mesmo sua extinção), contra o aumento das passagens, contra a violência nas periferias, enfim, pautas da esquerda que podem LEVAR a um momento revolucionário, mas de forma alguma o são em si.
Aí reside o grande equívoco do PSTU.
Me parece, por fim, que o grande problema do PSTU com os Black Blocs não passa de uma luta por protagonismo.
Não somos, nem nunca fomos pacifistas. Mas é a violência das massas, e não de um pequeno grupo, que poderá fazer a revolução. As ações desses pequenos grupos facilitam a repressão da polícia contra as massas nas passeatas.Enquanto os Black Blocs apanham e batem, o PSTU foge (e isto não é uma crítica), mas defende, em tese, a violência das massas. Mas só das massas, se um grupo resolver apanhar pelas massas não pode.
É incongruente. Esperemos, pois, a revolução, apanhando.