"I have a dream". Martin Luther KingObama está em vias de atacar a Síria. Como Bush, baseado em premissas falsas ou, ao menos, sem informações suficientes para chegar à conclusão que chegou: a de que a síria teria armas de destruição em massa e que as teria usado - no caso, armas químicas - contra a população.
"I have drones". Barack Obama
Não há confirmação sequer de que o ataque que custou, diz-se, a vida de ao menos mil pessoas na Síria tenha ocorrido. Algumas fontes apontam para a falsificação de fotos e de dados.
Mas, assumindo a veracidade do ataque, novamente temos um problema: Ninguém sabe a origem. É óbvio que o exército Sírio poderia ter sido responsável, mas tal movimentação teria sido burra. Assad está vencendo a guerra, não teria razões para um ataque que faria a "comunidade internacional" ter argumentos para atacá-lo. Claro, um ditador é sempre um ditador e, como tal, imprevisível.
Por outro lado, tal ataque poderia ter sido realizado pela "resistência", coalhada de membros da Al Qaeda e outros malucos do tipo (além de uma parcela que efetivamente luta por democracia, mas ainda pequena). Shoko Asahara e seu ataque de Sarin ao metrô de Toquio são a prova de que um grupo organizado teria capacidade de um ataque com armas químicas.
E, lembremos, a Al Qaeda e outros grupos não são conhecidos pela compaixão mesmo pelo seu próprio povo ou apoiadores e poderia ter usado armas químicas como forma de culpar a Síria e acelerar uma resposta por parte dos EUA.
E para quem está pensando "os EUA vão novamente se juntar contra a Al Qaeda e depois fingir que não sabiam de nada?", a resposta é "sim". Afeganistão 2.0.
Assim como Bush 2.0 na mentira sobre armas de destruição em massa e Iraque 2.0 na destituição de um ditador sob falsos pretextos.
Ainda que, no caso, os EUA jurem de pé junto que a intenção é "dar uma lição" e não derrubar Assad.
Fiquemos de olho.
O complicador na questão é a Rússia, que alertou que poderá atacar a Arábia Saudita em retaliação. A declaração é possivelmente uma bravata na tentativa de frear Obama, mas ainda assim uma bravata perigosa.
No fim das contas, os EUA estão agindo da única forma que conhecem, com violência insensata, com ignorância, abusando de informações falsas, manipulando a opinião pública e, enfim, fazendo o que querem, como querem e da forma que querem sem se preocupar com mais nada.
A opinião interna dos EUA não suportará outra guerra. Obama prometeu que sairia de lamaçais por onde Bush se embrenhou, prometeu que fecharia Guantánamo e, no fim, pode acabar enfiando os EUA em mais um lamaçal.
E em mais um lamaçal de mentiras e hipocrisia. Em declaração à CNN, Obama declarou que "quem contraria a legislação internacional deve ser punido". Oras, então os EUA deveriam ter sido punidos há décadas. Nunca serão.
E completou: "Os EUA querem impedir que a Síria volte a usar armas químicas...não tomei uma decisão, recebi alternativas das Forças Armadas e tive diversas reuniões com a equipe de Segurança."
Os EUA querem impedir uma vitória de Assad com base em informações falsas ou pelo menos inconclusivas. E farão o que for possível para tanto. É a mensagem.E nada mais que o modus operandi dos EUA desde sempre.
É possível que um ataque dos EUA não culmine com uma invasão/ocupação, mas a situação da Líbia acaba por mostrar que qualquer opção é ruim. Um ataque dos EUA poderia desequilibrar a situação síria, fazendo com que a balança que hoje pende para Assad, mude para dar vantagem aos rebeldes.
É impossível ter certeza se haverá ou não um ataque, mas conhecendo a história dos EUA, é provável.
E uma intervenção teria repercussão por todo o Oriente Médio, em especial se a Rússia cumprir sua ameaça, o que poderia incentivar ainda Israel a se juntar às animosidades, e mesmo complicar a situação interna libanesa e atiçar os ânimos iranianos.
Saddam era odiado, Kadaffi não era amado, mas Assad e a Síria tem posição importante no Oriente Médio e desperta muito mais paixões. Fosse outro país e não os EUA, tal atitude seria considerada puro terrorismo.