quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Putin irá abandonar Assad pelas promessas sauditas?

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Alguns notaram um "abrandamento" no discurso de Putin em relação a Síria que em poucos dias anunciava que estaria disposto a até atacar os Sauditas caso os EUA atacassem Assad e agora fala que poderia apoiar uma intervenção no país caso fosse provado o uso de armas químicas por parte do regime.

Este artigo [em inglês] que o Guga Chacra passou no Twitter ajuda a entender a aparente mudança.

Sutil, mas ainda assim significante em termos de discurso. E de desdobramentos. Por mais que no geral seu discurso pareça o mesmo - belicoso em defesa da Síria - há alguns pontos para o debate.

Em outras palavras (ou traduzindo e resumindo), os sauditas prometeram colaborar e cooperar com os projetos de gás e petróleo russo na região, garantiram a segurança da base russa na Síria e, mais importante ao meu ver - e também um ponto importante para outros tema e discussões - garantiram a segurança das olimpíadas de inverno de Sochi.

Como?

Controlando as milícias chechenas.
“I can give you a guarantee to protect the Winter Olympics next year. The Chechen groups that threaten the security of the games are controlled by us,”
escrevi diversas vezes sobre o tema, e é notável a mudança no foco da resistência chechena que inicialmente era absolutamente étnica, ou seja, tratava-se de uma minoria lutando pela independência da região tendo por base as diferenças culturas, étnicas e históricas dos chechenos em relação aos russos. Após a Primeira Guerra Chechena o foco foi mudado para uma luta com tons fundamentalistas islâmicos até que, após a Segunda Guerra Chechena a coisa degringolou e hoje fala-se mais em um "Califado do Cáucaso" que em uma República chechena.

Em outras palavras, hoje a resistência chechena é majoritariamente guiada por uma ideologia fundamentalista islâmica. E quem está por trás disso é a Arábia Saudita. É bom notar, no entanto, que ainda há representantes da "ala nacionalista" disputando espaço, porém são hoje minoritários frente a "ala islâmica".

Este é um dado conhecido, mas nunca publicamente declarado pelos Sauditas, que sempre preferiram negar e, por debaixo dos panos, financiar a Al Qaeda e outros grupos jihadistas semelhantes.

Para além da oferta generosa e tentadora à Rússia, fica o final reconhecimento de que quem está por trás da guerrilha chechena - e podemos assumir de outras também - é a Arábia Saudita.

A grande questão neste momento, porém, é entender o que move os sauditas. O mero fato de Assad ser laico e impor dificuldades à proliferação de grupos apoiados por sauditas na região não me parece, sozinho, motivo suficiente para tanta sede ao pote em sua derrubada.

Mas o fato é que a cada dia que passa vemos que o grande ator na região do Oriente Médio não é os EUA ou a Rússia, nem mesmo Israel ou o Irã, mas a Arábia Saudita. Seus interesses estão por trás de boa parte dos últimos acontecimentos relevantes na região, inclusive de intervenções americanas.

E a certeza que fica é: Caso estas propostas convençam Putin, Assad pode estar com os dias contados e, vale notar, hoje ele está vencendo a guerra.

É claro que, no fim das contas, Putin possa estar apenas buscando uma porta de saída para a crise Síria sem se comprometer, afinal provas contundentes de uso de armas químicas seriam um argumento válido politicamente para trocar de aliado(s).
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