sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Espancaram o coronel... tá com pena? Leva pra casa*

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Espancaram o Coronel Reynaldo.

Eu o conhecia, aliás, praticamente todo jornalista de São Paulo com o costume de cobrir manifestações o conhecia. Calmo, sempre na dele e, em muitos casos, disposto a se meter no meio da confusão para segurar seus soldados e evitar maiores conflitos (ao menos presenciei cena semelhante um par de vezes).

Sim, esta é a imagem que muitos temos dele.

Eu mesmo fui "salvo" por ele ainda num dos primeiros protestos de junho quando um de seus gorilas veio me atacar e ele evitou que eu levasse a segunda porrada. Ele ainda me pediu desculpas.

Mas, apesar disso não podemos nos esquecer, ele era o comandante da tropa que agrediu milhares, que cegou jornalistas e que respondeu com bombas e balas protestos pacíficos levando à sua radicalização.

Sim, os Black Blocs são uma reação à violência da PM e do Estado. Querer por um segundo sequer afirmar que a violência da PM é que é resposta à "violência" das ruas é afirmar que a tortura é legítima e que a PM não atira, mas joga rosas no povo (Amarildo que o diga!).

A violência das ruas, dos Black Blocs e daqueles que não aguentam mais apanhar da PM é, obviamente, resposta à violência da PM diária. Nas favelas, nas UPPS, nas desocupações, nas abordagens criminosas, enfim, é uma resposta do oprimido à violência do opressor.

Não compreender isto é fazer coro aos opressores. É reforçar o papel de submissão da população frente a quem lhes oprime.

Mas enfim, não fiquei feliz com a violência sofrida pelo Reynaldo. Não consigo ficar feliz com agressões, seja do lado que for. Mas eu posso compreender perfeitamente as razões pelas quais tudo isso aconteceu. E "feliz" não seria o termo. Uma coisa é aceitar a resposta violenta do oprimido, outra é ficar feliz ou alegre pela necessidade de seu uso.

O Coronel não era burro

Vamos lembrar da brutalidade da PM em apenas UM dos protestos em São Paulo (sob comando total ou parcial do coronel Reynaldo, aliás):

Brutalidade da PM/Choque na Consolação http://www.youtube.com/watch?v=INbRznbgMZM
Brutalidade policial na Praça Roosevelt e Rua Augusta http://www.youtube.com/watch?v=yZ6HfSWsIvk
Brutalidade na Rua Augusta até a Paulista http://www.youtube.com/watch?v=bmcgKrqJe_U
Violência e brutalidade da PM na Paulista http://www.youtube.com/watch?v=ifXTX-HDb0o

O coronel controlava uma tropa de assassinos e, na frente das câmeras ou junto aos jornalistas, se mostrava calmo e ponderado. Mas 10 passos adiante acontecia a barbárie. Podemos culpá-lo por tudo? Não.

Mas era o comandante de soldados que não pensam, mas cumprem ordens. Pensar era o papel do coronel.

No dia em que sofreu a agressão, segundo relatos, saiu sozinho no meio de um grupo de pessoas, algumas encapuzadas, para efetuar uma prisão, além de, até aquele momento, estar agindo com truculência na revista de pessoas e exigir RG de qualquer um que passava perto da área onde estava.
Vândalo militar revistando manifestante. Mas isso NÃO é violência.

Oras, era de se esperar que frente a uma prisão aparentemente abusiva houvesse reação. Os Black Blocs vem reagindo contra a repressão de homens armados, do Choque, como o coronel achou que iriam ficar quietos quando um só homem agia com truculência no meio deles?

Veio a reação.
eu estava pouco antes desse momento, tentando falar com o coronel, arrogante. Ele estava pegando o RG e anotando c outro soldado de todos os manifestantes q passavam, quem chegava perto só pra perguntar o q estava acontecendo ou p quem perguntava pq tinham detido uma menina q nao estava fazendo nada: qq manifestante era "fichado" por eles. Apresentei-me como advogada e perguntei o motivo e finalidade desse fichamento. O coronel foi debochado e recusou-se a responder. Insisti e logo em seguida ele largou os RGs e partiu para cima de um garoto vestido de black bloc q passava segurando um mastro, tipo pau de bandeira. Avançou pra cima do garoto e começou a bater, mas acho q nao contava q todos q estavam em volta se revoltassem e partissem p cima dele pra ele largar o garoto. Depois disso nao vi mais pq estourou a confusão e saí de perto, mas creio q as imagens sejam do vídeo. Fica uma pergunta: repúdio a conduta de quem? Cade o repudio à violencia policial e o apoio federal aos manifestantes reprimidos pela nova ditadura em epocas de governo de uma ex-militante "terrorista"? Justificar um erro pelo outro nao, mas aonde estamos querendo chegar repudiando apenas esse fato isolado e q teve um contexto? Nao vamos refletir q se essa repressão surda às reivindicações nao parar entraremos numa guerra? Q violência so esta gerando mais violência? Quem sera culpado ou inocente? Quem está certo ou errado nisso tudo? Legítimo ou ilegítimo? Nao acho q o espancamento (q foi bem menos agressivo q as diversas balas no olho de manifestantes, q outras pessoas espancadas e ameaçadas de morte se denunciassem) do coronel seja um ato "bonito", louvável, mas nao sou moralista hipócrita de repudiar ou de ignorar todo o contexto revoltante q estamos vivendo para tecer críticas diretamente do sofá.... "Nao confunda REAÇÃO do oprimido, com violência do opressor". O vândalo culpado disso tudo é o estado q só sabe armar-se e construir uma maquina de repressão para calar a luta social. Isso sim é repudiável!!! Melhoras ao coronel, de saúde e de conduta.  Tabatha Alves, no Facebook
Imagino que o coronel tenha agido sem pensar, tenha perdido a paciência a cabeça... Mas não importa, não justifica. Sua ação pensada ou impensada resultou na resposta de quem já estava cansado de apanhar.

E, lembremos, nas fotos e vídeos da presença, ao lado do Coronel, de um homem armado, PM, sem uniforme. Seria um P2? Um infiltrado? Teria tido ele papel em incitar o quase linchamento contra o coronel? Onde foi parar a arma .40 do coronel supostamente roubada por manifestantes? O "assunto" foi esquecido?

De qualquer maneira, a partir deste ponto a violência da PM provavelmente sofrerá uma escalada, para a alegria dos petistas e governistas dispostos a verem pessoas mortas para satisfazer sua sede de poder, e para a tristeza da sociedade me geral.

Mas cedo ou tarde algo assim aconteceria.

Movimento global e a farsa do direito ao protesto

Como disse o @roteirodecinema no Twitter:
"A difícil verdade é que a Polícia perdeu legitimidade no monopólio da violência e perde as batalhas na rua. Não é de hoje. Não é só aqui. De Oaxaca a Clichy-sous-Bois; de Sidi Bouzid a Oakland ao Rio as ruas ardem. Não são fenômeno locais, não devem ser analisados isoladamente. E a resposta aos insurrectos é mais repressão, mais bombas de gás, mais helicópteros, mais lei anti-terror, mais supressão de direitos."
Estamos diante de um movimento global de resistência à opressão e à repressão. Os Black Blocs não são um fenômeno local, nem novo, mas apenas a forma atual de resistência popular frente ao estado de exceção que se impôs no Brasil.

Sim, nós podemos reclamar, mas em casa, sem atrapalhar o trânsito senão a PM cega e espanca. Sim, podemos votar, mas apenas no jogo de cartas marcadas em que os políticos criam as regras que os elegem e onde estelionato eleitoral não causa qualquer problema.

Podemos votar, mas não temos nenhuma ingerência sobre quem votamos, sobre as alianças, sobre as políticas adotadas. Um candidato pode prometer A e, no poder, fazer B e, no caso do PT, ainda terá uma tropa de choque de fanáticos, de fakes e de elementos bem pagos para realizar o trabalho sujo e a propaganda.

Um trabalho sujo que consiste em pregar a violência estatal e comemorar as baixas do povo.

Amarildo é reflexo direto desta política. As UPPs são o modelo que vem desta política. A manutenção da PM enquanto aparelho repressor é a consolidação dessa política,

Não importam os professores espancados, a criminalização dos protestos, as revistas vexatórias, a violência do Estado nua e crua - e diária.

Serve apenas a defesa cega do Estado sempre que este esteja sob o controle dos seus.

Este episódio do Coronel serve para mostrar que a revolta popular chegou ao seu auge momentâneo, ao passo que o Estado é incapaz de compreender o que levou às ruas a chegar neste ponto. E a corja fanatizada se limita a bradar por mais violência estatal para calar qualquer voz dissidente de seu projeto de poder e, com isto, legitima a resposta violenta e será responsável pelas mortes que possam vir a acontecer - e no que depender da polícia, haverá mortes.


Em Tempo: Um comentário do Rudá Ricci no Facebook que deveria fazer muito petista/governista dormir e nunca mais acordar de tanta vergonha. Aplaudo de pé.
Então, vamos tentar analisar os dados: a) é fundamento da democracia existir oposição. Mas não apenas existir, mas existir a convivência entre situação e oposição; b) se o lulismo acertou do ponto de vista social e econômico, errou profundamente do ponto de vista político porque destila a rejeição e ódio a qualquer oposição, como princípio; c) a pior situação é quando há defecção no bloco lulista, já que o ex-lulista é tido como traidor da pátria; d) há profunda confusão no campo lulista entre governo e Estado e, muitos, ainda aumentam a confusão criando uma tríade santa: governo-estado-nação; e) a tese de Marcos Nobre, da Unicamp (que acaba de lançar um belo livro intitulado "Imobilismo em Movimento" (Cia das Letras) sugere que o lulismo (e mais ainda no governo Dilma) é uma expressão do peemedebismo, um Centrão marcado pelo governismo (estar sempre no governo para poder sobreviver), pela produção de supermaiorias legislativas (nem sempre forjadas por políticas transparentes ou eticamente aceitáveis, apartando parlamento de eleitor), sistema hierarquizado de vetor e de contorno de vetos e bloqueio de qualquer oposição nos bastidores, evitando confrontos públicos. Ora, o lulismo/governismo se constitui numa anestesia política e tutela social. Sinceramente, almas inquietas não conseguem conviver com algo tão acachapante. Daí compreender claramente as defecções de militantes históricos, que se construíram nas lutas sociais e não nos gabinetes e conchavos governamentais. É mais que natural. O que não entendo é como os lulistas se incomodam tanto com gente que não se vê traído pela mudança de lógica, ideário e prática do PT. 

*Obs: O título é irônico.
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