quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina Silva continua representando o atraso, mas Dilma é ainda pior

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Em 2010 me manifestei claramente sobre e então candidata Marina Silva: Ela representava o atraso.
Marina Silva não entende porque é vista, a priopri, como uma pessoa preconceituosa e fundamentalista por ser evangélica. Vamos iluminá-la? Em primeiro lugar, Silas Malafaia, Edir Macedo e RR Soares são nomes que logo vêm à mente e dizem alguma coisa. Em segundo lugar, ser contra o Aborto, Casamento/Adoção por casais homossexuais e pesquisa com células tronco dão mais uma mostra dos ideais progressistas da candidata. Realmente, porque será que ela sofre preconceito?
Sou o primeiro a admitir que não gostaria de um evangélico governando o país, mas preciso esclarecer; Me refiro não ao evangélico, ou melhor, o protestante laico, ao fiel de denominações tradicionais (em geral) e com os pés no chão, e sim ao popular "crente", ao fiel de "igrejas" neopentecostais, adeptas da tal "teologia da prosperidade", enfim, a qualquer um que orbite no entorno de Malafaia, Edir Macedo, Veldemiro, Assembleia de Deus e semelhantes.

Estes são os principais membros da chamada Bancada Evangélica (que conta também com membros de denominações protestantes tradicionais, no entanto) e são os propulsores do fundamentalismo e medievalismo no Brasil. Estes devem não apenas ficar longe da presidência, como devem ser defenestrados de qualquer cargo público, meios de comunicação e posição de poder. O Estado deve se distanciar ao máximo de religião, especialmente de fanáticos estelionatários.

Mas, enfim, Marina em 2010 era conhecida por sua claudicância em temas de direitos humanos, se opunha ao aborto, se opunha ao casamento igualitário, à adoção por casais do mesmo sexo, etc, e defendia algo absolutamente inaceitável, plebiscitos para questões de direitos humanos.

Era, apesar de todo o hype, uma candidata que representava um atraso monumental, aliado ao seu ecocapitalismo torpe e aliados que em nada se diferenciavam dos dos demais candidatos. Não havia nada de novo, senão a repetição talvez medievalizada e pseudo-moderna do que já tínhamos.

É preciso notar que hoje suas ideias não são mais a exceção. Mas a regra. A política brasileira cada vez mais se aproxima de um jogo não de soma zero, mas de resultados absolutamente negativos.

Chega 2014 e Marina tem novamente a chance de disputar a presidência. E algumas de suas posições mudaram. Acabou o papo de plebiscito pra direitos humanos, ela passou a defender (ao menos diz sua assessoria) direitos LGBTs e, no fim, seu discurso se mostra em tese mais progressista que as práticas dilmistas (esta sim um verdadeiro retrocesso em todos os sentidos).

Marina continua não diferindo em termos econômicos dos demais. Dilma, Marina e Aécio são patrocinados pelos mesmos grupos poderosos, defendem agenda econômica semelhante e cujas nuances não alteram o quadro geral - o de garantir lucros imensos aos patrocinadores e amigos e apenas garantir migalhas ao povo. Não há nenhuma diferença fundamental entre as três principais candidaturas que se apresentam este ano - e temos como o ponto mais baixo a candidatura do Pastor Everealdo, este sim que causa calafrios, mas é outro assunto.

Marina se coloca como defensora de um ecocapitalismo que, em tese, seria refratário aos anseios mais virulentos de Katia Abreu e sua turma - esta que é unha e carne com Dilma e o PT - e este é um ponto positivo, mas no fim é difícil vislumbrar, especialmente com o vice escolhido pelo PSB para ela - Beto Albuquerque, ruralista -  alguma mudança efetiva no campo, a suspensão de Belo Monte, reforma agrária e afins.

Aliás, faço um adendo, cito o Aécio neste texto, mas jamais votei ou votarei no PSDB, logo, não me demoro em sua candidatura.

Resta, então, os direitos humanos. Este era o ponto fraco de Marina, e continua, em geral, sendo, mas diante de Aécio e de Dilma, mesmo suas posições não muito progressistas gerais conseguem colocá-la à frente dos concorrentes.

Seu discurso hoje - e o de seu vice, abertamente pró-LGBT - é mais afinado com os direitos humanos e é sem dúvida mais progressista que Dilma, que foi uma franca INIMIGA dos direitos humanos: Promoveu com seus aliados genocídio indígena, homofobia, machismo, crescimento da AIDS....

Dilma se aliou, cedeu e governou com os evangélicos de tal forma que o mero fato de Marina ser evangélica ou se pautar em sua religião para governar (pese ter dado declarações em defesa do Estado Laico) se torna algo menor. Os recuos nos direitos humanos foram tão gigantescos com Dilma no poder que Marina não parece mais ser o imenso atraso que representava em 2010. Hoje o maior inimigo ou inimiga dos direitos humanos é Dilma e o PT. E isto não é teoria, não é análise de discurso, é a/na prática, ou esqueceram, por exemplo, da declaração criminosa de Dilma de que o "Estado brasileiro é Laico, mas"?

Não, Marina não se tornou simplesmente "palatável", o PT é que tomou seu lugar nas trevas.

Em outros tempos eu poderia, criticamente, chamar o voto em Marina num eventual segundo turno, mas depois do erro imenso que cometi na eleição passada ao apoiar o suposto mal menor, Dilma, não consigo repetir no erro e nem me comprometer a tal ponto.

Nesta eleição deixo claro, gostaria de ver o PT perder. O país precisa disso, a esquerda precisa disso e os movimentos sociais mais do que nunca precisam de espaço para se renovar sem a constante pressão, cooptação e violência vinda do  e patrocinada pelo PT, mas é preciso ter em mente que qualquer alternativa não é, em si, uma real alternativa, mas no máximo um período de transição que deve ser aproveitado.

Admito uma certa hipocrisia em afirmar a necessidade de derrotar o PT enquanto não me comprometo a apoiar ninguém que efetivamente possa derrotá-lo. Sim, espero que outros o façam, pois não tenho forças para dar meu voto a Marina. Nem coragem.Ela continua representando o atraso, pese Dilma ser pior.

Para o país, uma eventual vitória da Marina nos aliviaria de mais um governo ruralista, privatizador e genocida indígena representado pelo PT, mas traria novos desafios, pois seria igualmente aliado das oligarquias, representaria interesses semelhantes.


Todos os cenários são ruins para a população e todos exigem mobilização constante, movimentos sociais fortes e atuantes que, sem o PT no poder e sem a verba ilimitada para o partido cooptar, poderiam efetivamente se reerguer. Não tenho qualquer esperança de que o PT derrotado voltaria a seu papel de oposição de esquerda. O partido se degenerou de tal forma que não resta mais ilusão. Precisa do poder e das verbas que vem com ele. Uma oposição de esquerda invariavelmente teria de nascer das ruas e dos movimentos sociais e coletivos diversos.

Uma vitória da Marina seria ruim, sem dúvida, mas seria algo como o famigerado "menos pior". É, hoje, o possível. Posso estar enganado? Sem duvida, assim como me enganei com Dilma pensando que seria ela a menos pior e, no fim, ela foi a pior presidente que o país teve desde a redemocratização.

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Alguns podem perguntar "mas e a Luciana?", bem, eu não confio. Não digo ser uma candidatura em si ruim, mas a quantidade de tetos de vidro junto com as disputas internas no PSOL com sua tendência, o MES, das quais tenho conhecimento me afastam de sua campanha. É sem dúvida uma opção no primeiro turno, faço votos que consiga superar o traço, mas de fato não me anima ou enche os olhos. E, sejamos francos, não passará ao segundo turno e quis aqui me concentrar em cenários reais entre os três candidatos com chances de serem eleitos.
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