terça-feira, 29 de setembro de 2009

A inutilidade do multilateralismo

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Cúpula da América do Sul e África, OEA, Assembléia Geral da ONU, Conselho de segurança da ONU....

Todas estas organizações (e cúpula) já condenaram o Golpe em Honduras e recomendam, pedem, protestam, referendam a volta da normalidade democrática.

Em comum esta unidade e unanimidade, mas também a falta de validade de suas decisões, falta de prática, de ações concretas.

Quando os EUA decidiram invadir o Iraque, na Primeira Guerra do Golfo, a decisão da via armada estava tomada, restava a aprovação. A ONU a deu;

Quando os EUA resolveram destruir a Sérvia, o fizeram antes da ONU decidir - no fim a ONU foi obrigada a seguir os acontecimentos;

Quando os EUA resolveram invadir o Afeganistão, a ONU concordou;

E, finalmente, quando da segunda invasão do Iraque, a ONU se colocou contra, os EUA invadiram de qualquer maneira.

Em comum a intenção pregressa de invasão, fato consumado, a ONU apenas dava a provação - ou não - a aura de legitimidade.

No caso de Honduras, o problema é que nenhum país quer intervir, se meter diretamente. É um jogo de empurra que, pelo menos até agora, não resultou em nenhuma ação concreta. O Brasil, se está no centro dos acontecimentos, caiu de para quedas - por mais que fale bonito.

Esta simples análise demonstra que os organismos multilaterais são excelentes palcos para se falar, para fingir, enfim, para fingir que os Estados são preocupados e interessados. Ação, de verdade, só quando antes já existia tal vontade, quando há algum interesse factual por trás.

Não me surpreenderá - e não deve surpreender a nenhum leitor desavisado - se for divulgado daqui ha meses, se nada for feito para reinstalar o presidente legítimo, que os EUA tinham acordos para, quando a poeira baixar, apoiar o regime golpista e torná-lo aceitável aos olhos da comunidade internacional. Alguém realmente acredita que um país do tamanho de Honduras resistiria por tanto tempo à condenação unânime do mundo e dos organismos competentes (sic) sem o apóio velado dos EUA?

Obviamente podemos lembrar de duas possíveis exceções recentes, Timor e Haiti, onde não havia um interesse claro dos EUA em intervir. Nno primeiro caso havia um genocídio em curso e a intervenção era relativamente simples - em teoria -, não se lutava contra nenhuma potência ou país apoiado por uma potência (Sudão, por exemplo, com a China colada) e a causa interessava a muitos. No segundo caso, estamos falando de um Estado falido, com proto-governo que já não mais interessava às elites latinas. A intervenção parecia fácil. O fator "elites locais" pesa enormemente quando tentamos diferenciar estes casos dos demais.

Já no caso de Honduras, vemos que o golpe foi orquestrado pelas elites organizadas e aliadas das elites latinas, teve apoio dos EUA - senão do Obama, de boa parte de sua estrutura e acessores - e, acima de tudo, não há um Estado de Anarquia, o governo golpista controla a estrutura e a mantém minimamente funcionando e com capacidade de, saindo da crise imediata, tocar o país.

Questões como abuso de direitos humanos, puro e simplesmente, não interessam às potências. E há um exército - por menor que seja - capaz de responder à agressões de qualquer um que se aventure a ameaçar os golpistas. Claro que a resposta será tímida, mas ainda capaz de causar danos, baixas, algo intolerávle em tempos de guerra pós-heróica onde a morte de um soldado é tida como incomum e não como uma consequência lógica e normal de um conflito.

Enfim, torna-se claro o apóio de diversos setores da elite - em particular o apóio descarado da Mídia - ao Golpe e, por isto, sua longevidade. Os organismos multilaterais se limitam a condenar sem, porém, se esforçar para encontrar uma solução definitiva para a situação. Urge o uso de força, de uma intervenção militar rápida e certeira, seja via Capacetes Azuis, seja através do exército brasileiro - caso a Embaixada corra perigo imediato e real.

Por mais que a opção armada não seja a menina dos olhos da comunidade internacional, a mera falação não vem resultando em ganhos para a população de Honduras, que continua a ser massacrada, e nem para a democracia, que não existe.

Sem o uso da força, dificilmente a situação tomará um novo rumo.

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Os EUA jamais pestanejaram na hora de agir quando era de seu interesse, neste momento atual fraqueja, demonstra mais do que sua fraqueza interna e hesitância de agir sozinho - sinal de multipolaridade nascente, talvez - mas também seu racha interno e o apóio de sua estrutura ao Golpe.

A Venezuela, mesmo corretamente intervindo, teria que arcar com as críticas internacionais que não livrariam a cara do país mesmo em uma ação legítima.

Já o Brasil sofre com seus problemas internos, a pressão da mídia golpista e das elites que bradam pela legalidade do golpe, temem o Socialismo do Século XXI e tudo que isto representa e se recusam a referendar um apóio militar à Honduras, preferem a elite amiga instalada no local, assassinando a população civil. Além disso, claro, existe a idéia de que a via diplomática solucionará todos os problemas e a questão de parte do exército já está alocado no Haiti, fora nossos próprios problemas de infra-estrutura militar.
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