Os argumentos iam desde os que defendiam a punição da garota - e a punição de toda e qualquer ofensa racista e xenófoba - e dos que defendem o modelo americano de plena liberdade individual, de falar o que quiser e deixar que a sociedade regule o que é ou não aceitável.
Proibir a livre manifestação tendo por base conceitos abstratos do que é ou não preconceito foi questionado por isto abrir brechas para a censura e para a criminalização de opiniões, por outro lado, como garantir o controle sobre incitações ao ódio?
Nos EUA a KKK é tolerada e é residual, mas não exatamente sua ideologia, incorporada pelo Tea Party e por uma significativa parcela da população - basta observar as políticas anti-imigração em curso em vários estados americanos, especialmente no Arizona -, além disto podemos dizer que nos EUA os vários lados, as várias opiniões tem acesso à mídia, tem a possibilidade de divulgar suas idéias com um mínimo de igualdade, o que, mesmo assim, não garante que crimes de ódio não aconteçam.
A mídia é uma grande questão. No Brasil a mídia é dominada por um grupo de famílias de elite com interesses bem distantes das do povo e por igrejas evangélicas e ramos da igreja católica, logo, a mídia é usada ativamente para perpetuar o preconceito, a homofobia, o machismo.... Enquanto aqueles com pensamento diametralmente oposto são escondidos e tem limitado acesso (algo que a internet vem mudando felizmente).
Devemos, em nome da liberdade de expressão, tolerar a homofobia em igrejas? Devemos tolerar a pressão que leva dezenas, quiçá centenas de jovens gays ao suicídio pelo preconceito que sofrem da sociedade, ou é necessário combater o preconceito?
Qual seria o limite entre a censura e a punição justa, ou melhor, qual o limite entre expressar uma opinião e ser preconceituoso? Está nas palavras de quem se expressa ou no receptor, em quem é vítima?
Muitos podem dizer que é muito fácil se fazer de vítima, e é verdade, mas também é igualmente fácil desmerecer a vítima e considerar que a ofensa sofrida não foi assim tão grave.
Qual a diferença entre um grupo de amigos contando piadas de gays e um padre pregando que gays devem ir pro inferno? A intenção? A recepção dos atores envolvidos? Ou a idéia de que um grupo de amigos contando piada é inofensivo, mas um padre, como líder, prega para uma audiência que encarará suas palavras como verdade e as repetirá e perpetuará? Estaria no alcance, então?
A questão talvez passe pela responsabilidade ou pela responsabilização, por ser responsável pelas palavras, enfim. Passa pelo alcance, pela recepção da platéia, pelo local e, acima de tudo, pela intenção.
Um dos argumentos usados no debate foi o de que de certa forma, o "preconceito ou ódio de classe" em escritos marxistas poderia ser considerado, claro, como preconceito. Válido, mas discordo.
De antemão deve-se ter em mente que o ódio de classe já existe e é anterior à teoria e que esta vem exatamente para tentar sanar as distorções, ou melhor dizendo, existe um ódio de classe, perpetuado pela burguesia que explora o proletário e este se levanta contra esta exploração e encontra nos escritos marxistas seu guia.
Podemos falar em preconceito contra o preconceito. Ainda que, sejamos honestos, nunca vi playboy reclamando que sofre ódio de classe porque alguém o chamou de burguês ou porque defende a luta de classes.
Estamos aqui falando não de preconceito de uma classe inferior - como noção de sua inferioridade -se rebelando contra a que lhe oprime, bem diferente da pregação de ódio e do preconceito irracional de grupos contra outros sem que haja nenhuma relação efetiva entre eles.
Por exemplo, é compreensível que um proletário se sinta agredido por seu patrão e busque reagir, mas qual a justificativa de um padre atacar um gay, tirar sua humanidade e condená-lo? Qual o sentido em colocar os problemas do país nas costas da população de um determinado local e pregar seu extermínio? O preconceito está intimamente ligado à ignorância e ao fanatismo.
Estaríamos, aqui, falando e um "preconceito positivo", aquele usado contra outro preconceito anterior, o mesmo raciocínio que vale para o que já expliquei antes sobre Fobia Neopentecostal, é a legítima defesa contra um preconceito ainda mais nocivo.