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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Batman, Rolezinho e a Copa: Um retrato da história do Brasil


O vídeo amplamente divulgado pelas redes em que moradores do Leblon, bairro de elite do Rio de Janeiro, esbravejam contra manifestantes - em especial o Batman carioca - durante um "rolezinho" no shopping local me faz ter apenas uma certeza: Estamos diante do quadro mais perfeito do que é o Brasil.

Racista, preconceituoso, burro, elitista... E mostra a irônica, mas comum "aliança" entre os piores fascistas, olavetes descaradas, e gente que se diz de esquerda e engole o discurso oficial do governo do PT.

O cidadão mais exaltado - aparentemente o fundador do bloco Simpatia é quase amor, Dodô Brandão -, que se revolta contra o Batman, por ser "símbolo do capitalismo americano", que chama o protesto de "factóide", não deixa a nada a dever aos discursos diários de #Zédia e outros fanáticos governistas. Ataca a "direita" a quem acusa de estar por trás das manifestações e, claro, defende a Copa.

Ao acusar o "cara de direita", o "merdinha pago pelo Garotinho" (no caso, o Batman) deixa claro que é assíduo leitor da blogosfera governista. "Garotinho" é, depois de "Psolento" a desculpa oficial do petismo para defender todas as ações de Cabral e Paes, como se a oposição fosse pior. Lembrando que a Dilma quer o palanque do Garotinho nas eleições, mas este fato a "militância" esconde.

Corta para uma senhora falando "o carnaval tá longe", em clara alusão ao único período do ano em que pretos e pobres tem acesso livre à região da elite carioca. O único período em que a favela pode descer sem ser perseguida pela PM, e pode se misturar a "gente de bem" do Leblon e do resto da Zona Sul.

Mas só no carnaval. Tem que ter data marcada, senão é mistura demais e zona demais. Imagina se misturar com essa rafaméia diariamente!

Então surge uma mulher exaltada, gritando "Manipulado!", pese claramente ser leitora de Olavo de Carvalho e Constantinos da vida. Sem medo de ser ridícula afirma de boca cheia que os manifestantes querem fazer uma "ocupação comunista". E diz com orgulho ser de direita - mas não fascista!
"Fascismo sim, mas de direita não porque eu sou de direita e não faria isso".

"Existe um plano de ocupação comunista, totalitarista no país. Será que ninguém vê isso?"

Enfim, direita e esquerda se juntando quando necessário para criminalizar o pobre, o preto, o periférico, o que se recusa a se isolar e não ficar no caminho da elite.

Mas o vídeo mostra algo mais: A aliança CLARA entre os setores mais radicais da direita com a suposta esquerda, a ex-querda governista para derrotar manifestações populares.

O racismo, o elitismo, a discriminação e o preconceito estão mais que claros, independentemente da suposta ideologia de cada um dos presentes. O absurdo é tanto que um repórter francês tenta entender o que se passa, pergunta sobre a discriminação, mas o senhor exaltado não consegue enxergar qualquer discriminação.

Preconceito? discriminação? No Rio? No Brasil? No País da Copa? ABSURDO!

O cara toma cerveja com pessoas que, ele alega, são de outra classe. ele aceita dividir alguns espaços com quem não é "dos seus"! Mas tão querendo o braço inteiro.

Ele ganhou muito dinheiro, informa não sem algum orgulho, enquanto critica a FIFA, mas defende com unhas e dentes a Copa, fazendo um malabarismo digno de #Stanley, para sustentar seus pífios argumentos.

Após vaias dirigidas aos manifestantes, em repetição quase que em looping da história do Brasil, e gritos de "vai trabalhar", o exaltado senhor de bem encerra com "eu ganho bem pra caralho", para demonstrar como é diferente da "direita" que ele tanto despreza.

Apesar das razões aparentemente diversas - ao fundo ouve-se a olavete criticando a Copa enquanto o cidadão de bem a defende com unhas e dentes -, o que se vê é um encontro o repúdio ao direito à manifestação, no direito à ocupar espaços que a elite pensa ser seus. É o desejo da limpeza social, a incitação ao apartheid.

Tirando o carnaval - contra o qual nada podem fazer - a elite do Leblon e adjacências só se relaciona com negros quando estes saem do quartinho de empregada, ou quando vão lhes servir em um restaurante ou quando olha com cara feia para o gari ou para o segurança do shopping. Para eles é algo intolerável ver que há revolta entre quem devia continuar calado e servindo.

E isso transcende a suposta ideologia da figura. Numa coisa a olavete tinha razão, não é preciso ser de direita para ser fascista, o cidadão de bem com discurso governista posando de esquerda é tão fascista quanto ela.

Os protestos de junho deixaram governistas dias sem dormir. Não conseguiram até hoje entender o que significaram e se limitaram a ora atacar, ora fazer coro à repressão, ora organizar pequenos núcleos para tentar tomar a frente das manifestações. Em todos os casos fez (e faz) papel ridículo e vergonhoso. Agora, com os Rolezinhos, se juntou ao coro dos que odeiam manifestações a direita mais reacionária, afinal uma coisa são protestos em muitos casos contra governos do PT ou aliados (ainda que não só, pois foram generalizados), outra é violarem locais sagrados do consumo e, pior, em bairros de elite!

Direita a ex-querda, enfim, estão de braços dados contra quem toma as ruas. contra o "bando de filhos da puta" que ousa entornar o caldo da revolta social e que, segundo fanáticos, buscam dar um golpe no governo...

Se é verdade que os rolezinhos são um fenômeno social sem grande politização (ou mesmo sem nenhuma politização), por outro traz consequências políticas claras. Oras, os rolezinhos são o reflexo mais escancarado do Lulismo, do incentivo ao consumo desenfreado, em que a cidadania se faz ou se dá apenas e exclusivamente através do consumo.

É a base do "consumo, logo existo" que o PT vem incentivando há 11 anos. Surpreende que aqueles menos capazes de ascender pelo consumo busquem se tornar visíveis através de "rolês" e afins?

Este vídeo é sem duvida um quadro riquíssimo sobre a história do Brasil. Sobre o que é (ex)esquerda e o que é direita, sobre apartheid social e Copa do mundo.

Em tempo, #NãoVaiTerCopa.

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Leitura recomendada: O rolezinho como ato político, os preconceitos de classe e suas consequências
e Os novos “vândalos” do Brasil


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quinta-feira, 24 de maio de 2012

O rapaz pobre, "estuprador", e o jornalismo de esgoto, branco e rico.


Escrevi recentemente um artigo para o Global Voices sobre o rapaz Paulo Sérgio, negro e pobre, humilhado em um programa da Bandeirantes da Bahia por uma jornalista branca e obviamente privilegiada, mas acredito que eu precise expressar minha opinião de forma ainda mais clara. E o faço a seguir.

No vídeo, Paulo Sérgio chora, se desespera, enquanto é chamado de estuprador - o que ele nega - mas, no fim, pouco importa. O desrespeito da repórter - e do programa, da Bandeirantes e da falta de regulação da mídia que o governo nega à sociedade - não é só ao rapaz, mas também à suposta vítima de estupro, pois se tivesse efetivamente sido estuprada estaria vendo o crime ser tratado como galhofa na TV.

Mesmo que um ladrão - e confesso, mesmo que sem julgamento - Paulo Sérgio não merecia ser tratado da forma que foi. aos criminosos a lei, a prisão, e não a humilhação pública sob a tese de que estaria "pagando" pelo que fez. Ser humilahdo e ter a vida destruída em público não é "pagamento", é tortura.

A jornalista, branca, bonita, com educação (em tese), não faz ideia, por exemplo, de onde vem Paulo Sérgio, do que passou. Não que isto, em si, desculpe atos criminosos, mas ao menos nos permite compreender parte do problema. E a própria jornalista não é a única culpada, mas sim um produto do jornalismo brasileiro atual, com felizes ecxeções, que busca apenas o entretenimento e que é capaz de transformar até o estupro (suposto) em uma forma de fazer rir.

Processo

O ministério Público da Bahia irá processar a jornalista... Mas só ela? Ela é culpada, claro, mas não é a única. Não saiu só de sua cabeça a ideia de humilahr o rapaz, mas este é o mote do programa da qual faz parte, assim como de vários outros, e de sua rede de TV. Não partiu dela unicamente a iniciativa  de humilahr o rapaz, ou qualquer pessoa em situação semelhante, mas é a regra deste tipo de programa, incentivado por seus diretores e donos de TV.

Não faltam jornais que pingam sangue, com closes grotescos de vítimas - inocentes ou não - que tratam o ser humano como lixo sem respeito por sua dignidade e pelos direitos humanos. Na TV a mesma coisa.

Não adianta punir (apenas) a jornalista, reclamar do programa e dar um tapinha na cabeça da Band a título de "não façam mais isso, ok?". É preciso ir atrás da concessão da rede, realmente causar algum dano, ameaçar de forma que haja uma mudança. Da forma como tudo acontece hoje, a rede finge que reconehceu o erro e o repete na semana seguinte. E é isto mesmo que acontecerá, já que a Band ameaça demitir a jornalista, mas não comenta sobre o nojo que é seu programa e dificilente mudará alguma coisa.

E não podemos nos esquecer da conivência de agentes do Estado - policiais - e do governo da Bahia por permitir que um canal de TV entre da forma como fazem em delegacias para humilhar presos, que estão sob a tutela e responsabilidade do Estado.

Comédia versus jornalismo

Será que teremos no futuro repórteres fazendo paidas de desastreas aéreos? Já temos o CQC, cujos comediantes se auto-declaram "jornalistas", mas são repudiados por muitos dos verdadeiros trabalhadores de jornais, rádios e TV's, pois não exercem a profissão com ética e dignidade, mas transformando tudo nuam grande piada. E, infelizmente, os policialescos que pipocam pela TV fazem um serviço semelhante, mas adicionando a degradação social no hall da comédia.

Trata-se de um jornalismo feito pela elite e para as elites, para que estas possam rir da desgraça alheia, de onde não querem se aproximar. Estereotipam a periferia, aplaudem a violência contra o pobre, contra o negro, criminalizam as lutas e tem medo, pavor, de que haja uma reação capaz de subverter essa realidade. É o serviço oficial da elite para manter seus privilégios e manipular mesmo - ou especialmente - aqueles "do andar de baixo" para que aceitem sua posição. 

Oras, riam de sua desgraça e da de seus semelhantes. Mas façam isso em casa.

A Confecom aconteceu ha anos, o Ministério das Comunicações não se moveu desde então e a farra continua.

Manipulação é a regra

Um jornalismo emancipatório, crítico, faria com que houvesse ação, revolta, talvez até mudanças. Uma regulação da mídia, impondo a ética e punindo coisas grotescas como programas policalescos onde as vítimas são ridicularizadas tanto quanto os que as vitimam em um show de horrores em busca de ibope, apavora os donos do poder, que perderiam seu principal instrumento de doutrinamento e controle.

É interessante que na mesma semana em que surge este caso - apesar do vídeo não ser exatamente novo - tenhamos (com seus respectivos limites de comparação e tamanho, claro)por exemplo um jornalsita da Globo chamando de 'babaca" um jogador que se recusou a participar de um quadro do principal dominical da rede. Ao fazer 3 gols, Herrera, do botafogo, teria "direito" a pedir uma música no programa. E se recusou, dando a entender que achava uma tolice.

E é de fato uma tolice. Em seu direito de se recusar a participar involuntariamente de um programa de TV, Herrera despertou a ira daqueles que tomam o jornalismo (seja o policial, o esportivo ou qualquer outro) como simples entretenimento, até mesmo humor. Me recordo de quando um jogador de futebol americano ao fazer 3 touchdowns pediu uma musica de uma banda de metal extremo em outro programa da mesma Globo, mas editaram o vídeo fazendo aprecer que ele pedira o de uma cantora qualquer, porque o metal, talvez, fosse demais para os ouvidos do pobre telespectador e, afinal, a cantora era parte do cast era da gravadora da... Globo!

A manipulação é clara, a falta de ética mais clara ainda.

É um exemplo que parece não ter relação, mas mostra como é fácil e comum a manipulação da mídia, a falta de ética e como tudo fica impune, apesar do governo ter noção do que acontece. Mas nada faz.

Em São Paulo, estamos no meio de uma greve do Metrô e trens e em todos os jornais não ouvimos a voz ou não lemos a opinião de nenhum metroviário, apenas do governador e de seus imediatos. Não há espaço para as reividnicações dos trabalhadores, apenas para a criminalização da greve através de frases como "São paulo está um caos" e afins. Esta é a regra. A voz dos patrões frente o resto.

A mídia faz o que quer, como quer e nada a impede.

Não se trata, porém, apenas de regular a mídia, de impor limties éticos, mas de se investir em educação, em cultura. Há quem consuma este lixo, há uma retroalimentação. Esta que só pode mudar com cosncientização, com longo trabalho de ensinar direitos humanos, com educação de qualidade e emancipatória e a intenção de mudar a sociedade.
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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Big Brother Brasil: O show da degradação da vida

Antes de mais nada, deixo claro - e o título não esconde - que sinto total desprezo e asco por esse programa, que considero um dos - senão o mais - asqueroso da TV brasileira. Um programinha baixo, sem qualidade, onde pessoas em geral vazias colocam suas vidas inúteis na TV para que milhões de pessoas se imbecilizem em conjunto.

Claro que isso não quer dizer que TODOS que assistem ou mesmo que participaram do programa sejam vazios, há quem simplesmente tenha gosto pelo grotesco ou, bem, não sei, que simplesmente consiga gostar e tudo aquilo.

Mas enfim, falemos sobre o caso de estupor envolvendo dois participantes. Assisti ao vídeo colocado no youtube e que a Globo vem caçando em todas as redes para tentar apagar o óbvio: Houve estupro.

Para quem se surpreende com a declaração, pois não é possível ver nem afirmar que houve penetração, uma dica: Procurem conhecer a legislação, não é preciso haver penetração para se ter um estupro. A vítima, como toda mulher, foi interpelada, questionada, enquanto o autor do crime nada sofreu - ao menos dentro da casa e aos olhos dos diretores e produtores daquele lixo midiático.

A garota sequer lembra do ocorrido, embrigada e possivelmente sofrendo de amnésia alcoólica. O autor do crime mal sabe da reação fora da "casa" aos seus atos.

Mas meu objetivo com esse texto não é, em si, discutir o estupro, se houve ou não e etc, acredito que não faltem textos excelentes, como os da Maíra ou da Maria Frô ou ainda o impecável e definitivo artigo do Alex Castro sobre estupro, mas sim tentar entender porque acredito que essa história toda não vá dar em nada.

Qual o público alvo do BBB? A chamada Classe C, que vem ascendendo socialmente, tendo crescente poder de compra e que, no fim, carece de educação de qualidade ou mesmo formal, é em geral conservadora (apesar disso parecer anacrônico) e consome qualquer lixo que lhes é imposto.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mais um documentário sobre neonazismo, Carecas, violência e ignorância política

Documentário feito pelos estudantes de jornalismo Yuri Gonzaga e Bruno Fávero Leite para a disciplina de documentário do quarto ano da USP em que o foco está na entrevista de "representante" dos Carecas do Subúrbio, chamado de "Capoeira", que desfila toda sua ignorância e necessidade de se firmar através da violência insensata contra seus "inimigos" e na entrevista comigo, fazendo um contraponto ao discurso tosco do Careca e comentando sobre o protesto dos neonazis na Paulista em defesa de Bolsonaro.

No documentário comento também sobre as ameaças que jornalistas receberam de neonazis mais exaltados, os vídeos podem ser vistos aqui.

A entrevista com o "Capoeira" e comigo começa por volta dos 3:15.
Documentário sobre protesto pró-Bolsonaro na Paulista from Raphael Tsavkko on Vimeo.
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Homofobia não é crime... Apenas para os criminosos. Uma resposta à folha de São Paulo

Leiam - não recomendo, mas é necessário para estômagos fortes - a leitura de artigo do jornalista (sic) João Pereira Coutinho na Folha onde ele defende abertamente o "direito" à homofobia, ou seja, o "direito" a pregar o ódio e que pode ser interpretada até na defesa do jornalista (sic) do fim da criminalização do racismo.

A Folha brir espaço para este tipo de escória não é incomum, muito pelo contrário, até Brilhantes Ustra já passaram por lá.

Mas, enfim, enviei uma carta à Folha e foi publicada:
Homofobia
Em "Homofobia não é crime" ("Ilustrada", ontem), João Pereira Coutinho argumenta que "é perfeitamente legítimo que um heterossexual não goste de homossexuais. Como é perfeitamente legítimo o seu inverso". Não posso deixar de pensar que racistas pensem de forma semelhante. Ora, por que não posso odiar negros? Por que não posso odiar mulheres? Por que não posso odiar índios? Do ódio para a ação e para a violência.
Se pretender criminalizar a homofobia é errado, porque não gostar "deles" é aceitável, então vamos logo legalizar o Partido Nazista e importar a Ku Klux Klan, afinal, ter ódio é legítimo e somos todos "adultos" para entender a diferença entre odiar e agir baseados pelo ódio, não?
Raphael Tsavkko Garcia (São Paulo, SP)
Mas, vale notar, com algumas edições inexplicáveis, como é possível comparar com o texto que enviei originalmente (em vermelho o que foi excluído pela Folha):
João Pereira Coutinho raciocina (sic) que " é perfeitamente legítimo que um heterossexual não goste de homossexuais. Como é perfeitamente legítimo o seu inverso.". Não posso deixar de pensar que racistas pensem de forma semelhante. Oras, porque não posso odiar negros? Porque não posso odiar mulheres? Porque não posso odiar índios? Do ódio para a ação, para a violência e o assassinato não resta sequer um passo. Se pretender criminalizar a homofobia é errado, porque não gostar "deles" é aceitável, então vamos logo legalizar o Partido Nazista e importar a Klu Klux Klan, afinal, ter ódio é legítimo e somos todos "adultos" para entender a diferença entre odiar e agir baseados pelo ódio... Não?
E, graças ao @senshosp, temos também um print jdo jornal impresso:
Não faço mais do que minha obrigação, aliás, é obrigação de tod@s, ao lerem absurdos como os do Coutinho, se manifestarem nas redes ou mesmo entupindo os jornais de cartas de repúdio.

Apenas unidos em prol de uma causa e abertamente repudiando aqueles que defendem o preconceito e o ódio em nome de uma tosca "liberdade" é que poderemos mudar alguma coisa.
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Antropólogo da USP é espancado pela PM na Paulista

Carta recebida via listas de e-mail diversas com denúncia de antropólogo da USP espancado por um PM na Av. Paulista enquanto comemorava a vitória do Corinthians no dia 5 de dezembro. Não é preciso nem comentar o que está por trás, senão o típico sentimento de ódio contra torcedores de um time que representa historicamente (ao menos no imaginário) as classes mais pobres que, claro, são o alvo especial da PM marginal deste e de outros estados do país.

Sou vascaíno, sei que meu time foi roubado e que CBF e Globo conspiraram para garantir mais uma vitória ilegítima ao Corinthians, como em 2005, mas não posso aceitar que um torcedor seja vítima do ódio da PM por comemorar inocentemente a vitória de seu time, sendo esta vitória legítima ou não.

Segue a carta:

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sábado, 9 de julho de 2011

Heterofobia? Leitora da Folha tem sua resposta. #PLC122

Ontem, na Folha, li e me revoltei com o comentário de uma leitora, Ana Prudente, que reclamou da "Heterofobia". Possível eleitora de Bolsonaros da vida, Ana respondeu (sic) à entrevista com o ministro Ayres Britto, que repudiou a homofobia e disse que o STF está de olho na questão.

Tática comuns destes seres grotescos que sentem ódio venal aos gays é desconversar e reclamar que sofrem "heterofobia". É fácil desmascarar esse povo. Vejam a declaração da infeliz:
Ante as declarações do ministro Ayres Britto, para quem o homofóbico "chafurda no lamaçal do ódio", pergunto: o crime de "heterofobia" terá o mesmo tratamento que a homofobia, já que todos somos iguais perante a lei?
ANA PRUDENTE (São Paulo, SP)
Ao que respondi prontamente e , para minha surpresa, foi publicada minha resposta no dia seguinte:
Homofobia
A leitora Ana Prudente ("Painel do Leitor", ontem) questionou se o crime de "heterofobia" teria o mesmo tratamento do de homofobia. Pergunto: algum heterossexual, por acaso, já foi vítima de qualquer tipo de ofensa ou sofre agressões por ser heterossexual? Quantos heterossexuais foram agredidos na avenida Paulista por estarem acompanhados de seus parceiros? Quantos foram forçados a sair de um recinto após demonstrações de afeto? Quantos foram impedidos de se hospedar em hotéis devido à sua orientação sexual?
É vítima de preconceito aquele estigmatizado por sua orientação, vítima de chacota, de violência e repúdio devido ao medo e à ignorância dos demais. Héteros não estão nesta categoria.
RAPHAEL TSAVKKO GARCIA (São Paulo, SP)
Com um ou outro corte, mas o principal está lá. Hétero não sofre preconceito, não apanha por existir, por amar, por demonstrar afeto. Se pudessem os homofóbicos também reclamariam das leis específicas contra racismo - e na verdade fazem algo semelhante na forma como se opõem às cotas - e mandariam todos os índios pro inferno.

Não é muito, mas acho que dei uma pequena contribuição na luta contra a homofobia.

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Relato do protesto/churrascão da #GenteDiferenciada (Fotos e Vídeos)


Cheguei por volta das 3 da tarde no Churrascão da Gente Diferenciada. Enquanto caminhava pela Maria Antônia até o local notei a quantidade imensa de carros em pleno sábado e logo imaginei "o protesto deve estar pegando fogo".

Organizado pela internet, o evento atraiu uma quantidade impressionante de pessoas para protestar pelo metrô e contra a elite preconceituosa de Higienópolis que, mesmo frente à tamanha mobilização, permaneceu firme e forte em seu preconceito.
Um mar de gente, de todos os tipos, cores, gêneros prontos para, com muito bom humor, protestar contra o racismo e o preconceito.

De longe avistava-se uma fumaça preta persistente em meio à quantidade surpreendente de pessoas - era a catraca de ônibus que havia sido queimada pelos presentes para protestar, também, contra o preço abusivo do ônibus e do metrô -, além da presença maciça de veículos de meios de comunicação, prontos a noticiar e, claro, falsear o número de presentes.

A PM informou serem 600 os manifestantes, a Folha teve a cara de pau de dizer 300. Mas eram (ou éramos) mais de mil. Seguramente mais de 3 mil ou até 5 mil passaram pelo protesto, comeram um churrasquinho, tomaram uma cerveja diferenciada e se divertiram e cantaram durante as mais de 5 horas de protesto.

Presença maciça de jornalistas e presença de um "jornalista" do humorístico favorito da elite racista brasileira (de onde saiu Danilo "eu não gosto de judeus" Gentilli e Rafinha "estupro mulher feia" Bastos) que foi prontamente vaiado e xingado pela maioria dos presentes, ainda na frente do Shopping Higienópolis. Será que as imagens e principalmente o áudio irão ao ar no programa, ou irão editar o possível para fingir que o "jornalista" foi bem recebido?

O churrasco propriamente dito teve início ainda na frente do Shopping, quando chegou a churrasqueira diferenciada, o carvão produzido com trabalho escravo de pobre, a picanha (filé miau disfarçado) e a linguiça (provavelmente de cachorro). Faltava o álcool para acender o fogo, mas os presentes logo trataram de gritar para quem nos olhava dos prédios em frente pedindo pelo Red Label e pelo Blue Label. Mas tivemos de nos contentar com cachaça mesmo.

Perguntado por um policial sobre quem liderava a manifestação, o tuiteiro Gerson Carneiro prontamente respondeu: "O povo".

E era verdade. Um churrasco autogestionário, autônomo, sem qualquer presença de políticos profissionais e/ou oportunistas ou mesmo bandeiras políticas. Um evento extremamente politizado, mas ao mesmo tempo livre de políticos. Um verdadeiro exemplo de que ainda resta esperança para São Paulo, de que o povo ainda pode e sabe se organizar, protestar e fazer uma bela festa de forma completamente autônoma e livre.

Apesar da ausência de políticos, FHC, Serra, Alckmin e Kassab foram lembrados com carinho.

Aceso o fogo, começamos a caminhada pela Av. Angélica até o cruzamento com a Rua Sergipe (local onde deveria ficar o metrô), com a churrasqueira sendo carregada por bravos diferenciados que, claro, cantavam todo o tempo músicas jamais ouvidas anteriormente no bairro pela elite racista local.

Uma curta caminhada na qual muitos moradores viravam a cara ou faziam caretas enquanto quem estava nos ônibus e nos pontos aplaudia, cantava e fotografava. Uma demonstração ímpar da luta de classes que tomou conta do bairro.


Já no cruzamento da Sergipe com Angélica, bem perto da casa de FHC (que foi homenageado diversas vezes pelo público presente, sempre pronto a mandá-lo pra algum lugar exótico ou querendo ajudá-lo ao pedir um metrô em seu quintal para facilitar sua locomoção), uma imensa concentração.

Chegaram logo mais 3 churrasqueiras, mais carne e muita cerveja e outras bebidas diferenciadas, enquanto o público cantava muito samba e pagode, para horror da elite pura da região.

O churrasco alimentou os presentes e vários mendigos e trabalhadores que passavam pela região. Logo arranjou-se um espaço para o truco no meio da rua e o samba rolava solto, cantado pelos milhares de diferenciados que lotaram o cruzamento. O churrasco, aliás, era abanado com capas de LP's do Ultraje e Beto Barbosa.

Senti falta do fiscal do ECAD pra nos cobrar por cantar Bandeira Branca, Trem das Onze e outras musicas livremente.

Não faltou o chuchu assado!

Logo, no pico de criatividade, subiram 3 varais de roupa, com calças, cuecas e mesmo lençóis que, no fim do protesto, foram doados aos sem-teto que circundavam o protesto.

Em um determinado momento, o Lino, da Falha de São Paulo foi conversar com um gari que simplesmente não entendia como e porque a elite local se recusava a aceitar o metrô. Ele não se beneficiaria diretamente pelo metrô, pois onde mora não tem esta facilidade, mas se limitava a dizer que o metrô era bom, como alguém podia ser contra?

Pois é, é incompreensível. Apenas para a elite racista faz algum sentido. Querem manter os pobres distantes, querem, como dizia um cartas deveras ácido, que suas empregadas andem a pé. Pobre tem mais é que se explodir.

O interessante é que esta elite até poderia se opor ao metrô com algum argumento válido. Poderiam dizer que o centro é uma região carente de bons mercados, e que retirar o Pão de Açucar da região (este seria demolido para a criação da estação) seria um prejuízo para todos, completando ainda com a preocupação pelo emprego dos que lá trabalham.

Mas não, a elite não consegue pensar nos outros, mas apenas em si. Não querem pobres, não querem "gente diferenciada" em sua região, em seu feudo.

Ponto negativo foi a cobertura da mídia, que diminuiu de forma vergonhosa a quantidade de presentes e mesmo a importância do evento, dizendo que poucos dos 50 mil que haviam confirmado presença no Facebook haviam comparecido. Bem, para esta mídia poderíamos apenas responder: Compare com o #ForaSarney, que atraiu não só a atenção de milhares de internautas facilmente manipuláveis e ainda com o massivo apoio da mídia golpista e mesmo assim não reuniu nem 50 pessoas em qualquer parte do Brasil.
Ao contrário de outros eventos que contaram com amplo apoio da mídia, em sua maioria preconceituosos ou golpistas, o churrascão da gente diferenciada foi um sucesso. Reuniu uma imensa quantidade de pessoas e prezou pela diversidade, com brancos e negros lado a lado, com héteros, gays e travestis cantando juntos, abraçados slogans contra a homofobia, contra Bolsonaro e pregando total respeito por todos.

Negativa ainda foi a recepção do protesto por muitos moradores do bairro, que viravam a cara ou ensaiavam protestos, mas eram intimidados pelo tamanho da oposição ali presente. Mas, felizmente, muitos moradores nos apoiaram e até participaram do protesto, mostrando que nem todos são os criminosos racistas que pensávamos antes.

A elite brasileira, racista, preconceituosa, não cansa de se mostrar, mas agora também é confrontada.

A festa foi bonita, foi plural, foi imensa, um sucesso. Não importa o que diga a mídia, o governo terá que nos ouvir.

Na sequência, alguns vídeos do protesto. Mais fotos podem ser encontradas no Flickr.



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sábado, 4 de dezembro de 2010

MPF processa Datena por preconceito contra Ateus

Em 27 de julho, José Luiz Datena, famoso apresentador brasileiro, em seu programa Brasil Urgente, “proferiu discursos de profundo preconceito e intolerância contra os ateus, contra quem “não tem Deus no coração”. Pouco depois, em setembro, ia ao ar meu post no Global Voices compilando diversas reações revoltadas da blogosfera contra estas declarações, que beiravam a mais completa loucura.
“Como nós temos mais de mil ateus? Aposto que muitos desses estão ligando da cadeia.”
“Ateus são pessoas sem limites, por isso matam, cometem essas atrocidades. Pois elas acham que são seu próprio Deus.”
“É só perguntar para esses bandidos que cometem essas barbaridades pra ver que eles não acreditam em Deus.”
Disse que só quem não acredita em Deus é capaz de cometer crimes. Disse que ateus são “pessoas do mal”, “bandidos”, “estupradores”, “assassinos”. Disse que a culpa da violência e da corrupção do nosso país é dos ateus.
“Quem é ateu pode desligar a televisão, ou mudar de canal pois eu não faço questão nenhuma de que assistam o meu programa.”
 Estes declarações foram coletadas pelo blog Ateus do Brasil, mas não são nem as piores.
"Esse é o garoto que foi fuzilado. Então, Márcio Campos (repórter), é inadmissível, você também que é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus, porque nada justifica um crime como esse, não Márcio?"
(Márcio) "É, a ausência de Deus causa o quê Datena? O individualismo, o egoísmo, a ganância... claro!
(Datena diz), tudo isso."
"Só pode ser coisa de gente que não tem Deus no coração, de gente que é aliada do capeta, só pode ser ser."
"Esses crimes só podem ter uma explicação: ausência de Deus no coração."
"Eu fiz a pergunta: você acredita em Deus? E tem 325 pessoas que não acreditam. Vocês que não acreditam, se quiserem assistir outro canal, não tem problema nenhum, não faço questão nenhuma que ateu assista meu programa, nenhuma...não precisa nem votar, de ateu não preciso no meu programa."
"... quem não acredita em Deus não precisa me assistir não gente, quem é ateu não precisa me assistir não. Mas, se eu fizer uma pesquisa aqui, se você acredita em Deus ou não, é capaz de aparecer gente que não acredita em Deus. Porque não é possível, cada caso que eu vejo aqui, é gente que não tem limite, é gente que já esqueceu que Deus existe, que Deus fez o mundo e coordena o mundo, é gente que acredita no inferno..."
"...porque o sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente vê esses crimes aí." 
E a palhaçada ainda segue - leia mais no link - com um Datena costumeiramente raivoso, agressivo e completamente desligado da realidade.

Quem conhece a figura e seu programa sabe da qualidade (sic) do mesmo, sensacionalismo, sangue, baixaria, desgraça humana, completo e absoluto desrespeito pelos direitos e humanos e pela dignidade humana, enfim, algo que nenhum país decente deveria permitir em horário nobre - na verdade, em horário nenhum - especialmente em se tratando de programa veiculado por uma concessão pública que, em tese, deveria ter também função social e, logicamente, não se encontra acima da lei.

A revolta de blogueiros - ateus ou não - pouco sensibilizaram o homem que costuma comemorar episódios de violência contra movimentos sociais e que não hesita em defender a brutalidade social como resposta a tudo.
Em 17 de agosto, Datena comentou, ao vivo em seu show, o pedido [de direito de resposta] da ATEA e, mais uma vez, insultou os ateus. Em resposta a isto, o blog Bule Voador comentou que precisava de “Alguém [que] ensine lógica para ele, por favor”. O blog Bule Voador também postou excertos do código legal brasileiro, e dicas de um advogado, com o objetivo de ajudar os internautas a abrirem processos contra o apresentador.
As reações às declarações de Datena continuaram, o Twitter se mobilizou, através da tag #CalaBocaDatena, vídeos fora gravados, posts foram feitos....
O público encontrou uma forma equivalente de reagir ao festival de preconceitos em horário nobre na TV. O blog Sedentário e Hiperativo postou um video de Pablo Villaça, editor do site Cinema em Cena, criticando a atitude de Datena e seus comentários ofensivos contra os ateus. Robson Fernando também postou uma série de respostas em vídeo no Youtube, com internautas criticando o Datena, e que podem ser encontrados aqui, aqui e aqui.
O usuário do Youtube DanielFragaBR postou um vídeo aconselhando os ateus individuais que se sentiram ofendidos pelo discurso de ódio a como processar o Datena.

Até que, finalmente, o Ministério Público Federal entrou em cena e cumpriu seu dever.
O Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública para que o programa Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes de Televisão, se retrate de declarações consideradas preconceituosas contra ateus. Segundo o MPF, no dia 27 de julho, por 50 minutos, o apresentador José Luiz Datena e o repórter Márcio Campos, durante reportagem sobre um crime, fizeram comentários preconceituosos sobre pessoas ateias.
Segundo o MPF, o apresentador e o repórter relacionaram os crimes a pessoas que não acreditam em Deus. "TV aberta é concessão pública e não pode ser usada para disseminar preconceito", diz o MPF. 
Pena que o MPF se manifeste tão raramente em casos claros de abuso, em que concessões públicas são usadas para jogo político, pressão, apoio ilegal a candidatos e por aí vai... Mas, querendo ou não, não deixa de ser uma vitória! O MPF mostrou que existe e o Datena aprendeu que tudo tem limite, ou pelo menos deveria aprender.

Disseminar preconceitos é o que mais fazem nossas concessões públicas... Vejam quantas negra(o)s tem papel principal em novelas e quantas são escravas, prostitutas... Nas novelas a favela parece um paraíso, as os personagens principais costumam todos morar em mansões. Vejam nossos jornais, a clara criminalização dos pobres, dos excluídos, o uso político e político-partidário dos canais de TV em prol de grupos, de empresas, de grupos específicos de interesse e pressão.

Tudo na mais santa e completa ilegalidade.
Para o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, ao veicular as declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham o mesmo modo de pensar do apresentador, a emissora descumpriu a finalidade educativa e informativa, com respeito aos valores éticos e sociais da pessoa, prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que encoraja a atuação de grupos radicais de perseguição de minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus.

“Evidentemente,  houve atitudes extremamente preconceituosas uma vez que as declarações do apresentador e do repórter ofenderam a honra e a imagem das pessoas ateias. O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, 'responsabilizaram' os ateus por todas as 'desgraças do mundo'”, afirma o procurador.
Mas, ao menos, desta vez, nossa pressão funcionou. Difícil saber qual foi o real papel da rede, mas é de se esperar que tenha tido alguma influência, dada a repercussão e o alcance da revolta.

Pena que a "pena" proposta pelo MPF seja ínfima, muito aquém de uma punição à altura do crime, de promover o preconceito.
O Ministério Público Federal apresentou pedido de liminar para que o programa seja obrigado a exibir quadro com retratação das declarações ofensivas às pessoas ateias e esclarecimentos à população sobre diversidade religiosa e da liberdade de consciência e de crença no Brasil. O MPF quer que o quadro tenha o dobro do tempo usado para exibição das mensagens ofensivas.
Mas é fato, mesmo 5 minutos de uma peça sobre direitos humanos e tolerância em um programa como o do Datena, já é algo impressionante.
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Preconceito e Histórias de um Nordestino

Abaixo, copio o depoimento de Givanildo Manoel, nordestino e morador de São Paulo, recebido através de uma das várias listas que participo.

Não sou nordestino de nascimento, mas de criação. Sou Carioca, mas fui criado na Paraíba (interior e capital), terra da minha avó, e em Pernambuco (também interior e capital) e boa parte da minha formação se deu em Recife, terra de minha mãe. Meu avô? Maranhense.

Meu pai é carioca, minha mãe viveu boa parte da vida no Rio, assim como meus avós, logo, vim de uma família nordestina com largos laços com o sudeste, com o Rio e fui criado com esta dupla visão, a de um carioca e a de um nordestino.

Sem dúvida não passei por nada comparável ou notei nada similar ao descrito pelo Giva no texto abaixo, mas não posso dizer que não entenda, que não conheça.
Car@s companheir@s,

Queria dar um depoimento pessoal em relação ao caso Mayara.

No começo de 1982 no começo da adolescência cheguei em São Paulo vindo do interior de Pernambuco com a minha mãe e irmãos, a minha vinda foi como a  de muitos nordestinos, que sem perspectiva de vida naquela ocasião, tinha que se desteritorializar, com todo o sentido do que significa isso e  reteritorializar em outro lugar de grande estranheza do seu local de origem.

Para muitos que são de São Paulo, pode ser que não compreenda esse processo, mas para quem vem de fora, acreditem, o impacto deixa marcas muito grande e mais ainda se for traumática, como foi o meu caso e de muitos outros.

São Paulo me traumatizou em muitos aspectos e o primeiro deles , foi em relação a questão urbana, para alguém que sai de uma cidadezinha de menos de 10 mil habitantes, com um traçado urbanístico português com casas ainda do estilo colonial, sem nenhum aranha céu, o que permitia vê o céu  azul e límpido, chega aqui e já se depara com os prédios monstruosos, sem que permitisse vislumbrar o céu e quando o via era plúmbeo,  o que alguns  anos depois lembrei do impacto daquele céu apresentado na minha chegada,  assistindo a Blade Runner. Aquele cenário, foi o primeiro choque que tive, lembro que me perguntava assustado, aonde estava o céu ?

Um segundo trauma, foi em relação ao tratamento que me foi dispensado pelas pessoas de forma geral,  que conheci nos primeiros tempos quando aqui cheguei, acontecia principalmente quando abria a boca para falar, que era sempre acompanhado por uma platéia sempre disposta a rir e me pedir um biz da minha fala, para repetir sempre , “ fala mais baiano”, foi assim na rua em que fui morar, foi assim com os filhos dos meus parentes  que aqui nasceram  e foi assim na escola.

Essa situação fez com que, eu recolhesse a minha fala para o mínimo possível externo a minha casa, ou seja, praticamente não falava na rua (latu) e durante um ano, fizesse um exercício absurdo para aprender a falar o paulistês, apesar de não entender porque era tratado daquele jeito, porque quando chegava um paulista ou alguém que estava morando em São Paulo, na minha cidade  era uma festa, as casas que recebiam os hóspedes ilustres, sempre era agraciada com visitas de toda a cidade e se fazia durante vários dias, a casa mais respeitada por ter tal honra de receber tão  ilustres visitantes.

Lembro que  uma das coisas que mais gostávamos daqueles visitantes, era o sotaque, nos derretíamos todos ao ouvir os paulistas falarem, que sempre levavam seus filhos e filhas  isso fazia com que as meninas se apaixonassem pelos meninos e os  meninos pelas meninas, era uma tristeza só quando iam embora.
  
Então a minha estranheza foi enorme, porque eu teria virado motivo de chacota, porque o meu sotaque , a minha fala, estava sendo caçada? Imediatamente não conseguia compreender, só muito tempo depois, pensando no que vivi é que fui compreendendo , que aquilo fazia parte de um acultura de opressão constituída na cultura brasileira, que dizia respeito ao dominador e dominado e mais contraditoriamente, que uma parte considerável daqueles que me oprimiam, tinha a sua origem familiar, exatamente nas regiões que eram oprimidas, que os pais tios e avós, fugiram da má sorte imposta  por quem tem poder , para vir para essas grandes cidades em busca de sobrevivência , tentando assim romper com a sina estabelecida.

Claro, que essa memória aliada com a necessidade de oferecer aos vencedores uma boa  prenda, impôs a necessidade de apagar da memória dos vencidos a sua verdadeira história, que em muitos casos levou a assumir a cultura do vencedor, que trás fortemente a marca da opressão.

A terceira e mais marcante opressão e pouco falada, poucas pessoas falam disso. Naqueles anos ainda de opressão, uma crise econômica assolava mais uma vez o capital, na medida que tínhamos a organização dos trabalhadores e  movimentos sociais, lutando pela efetivação da democracia, a crise econômica jogava grandes contingentes de trabalhadores na rua, logo o capital precisava encontrar responsáveis, que não ele, que não a sua lógica, nesse período surgiu, um grupo que se autodenominava, Comando de Caça aos Nordestinos –CCN, que destilava em muitos muros da cidade o seu ódio ao povo do nordeste, não era anormal encontrar muros com frases , “ Nordestino bom é nordestino morto!”, “Fora Nordestinos!”, “morte aos nordestinos!” . Lembro vagamente de noticias de ataques a nordestinos, porém, como São Paulo sempre foi uma cidade violenta, como comprovar isso?? Logo, não era relevante investigar esses crimes de ódio.

Lembro-me que tinha medo de duas coisas,naqueles idos de 80, da Rota e de encontrar com alguém desse CCN, a Rota ainda havia a possibilidade de mostrar o avental branco de estudante ( que era a forma da Rota não nos matar , depois que matou muitos estudantes que estudavam a noite) ,mas o CCN era exatamente no aspecto físico e na fala, que eu pensava que a minha sentença de morte estava assinada!

Penso que o capital cria diversos tipos de preconceitos para justificar a opressão, machismo, racismo, homofobismo, adultocêntrismo e tantas outras formas de opressão, sei que guardo muitas das características que põem levar a situações de opressão , mas o ódio e a opressão que sofri enquanto nordestino, foi o pior deles, talvez por ser um menino quando o sofri tão violentamente, mas, com certeza esse deixou uma marca em minha alma, que por muito tempo tive dificuldade de  superar os traumas desse ódio.

Sinto que o rebaixamento dessa campanha eleitoral, tenha retirado o que de importante tenha em uma campanha política, que é o aspecto educativo , principalmente para aqueles que fazem alguma defesa de classe, que retira a possibilidade de refletir essas opressões, colocando o que tem de pior em uma sociedade opressora , logo entendo que todos aqueles que rebaixaram o debate político são responsáveis por essa ação que esse grupo que é ligado a um partido x, mas poderia ser y ou z, não importa, todos aqueles que aceitaram o debate conservador e opressivo,  é responsável pela Mayara.      

Givanildo Manoel, do blog http://infanciaurgente.blogspot.com/
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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Caso @Ju_Tedesco: "Apenas" mais racismo e preconceito ou AI5Digital e Vigilantismo?

@Ju_tedesco, apenas mais um dos milhares de perfis racistas, preconceituosos e de caráter neonazista que se espalham pelo Twitter.

Mais de 15 mil seguidores, presente em várias listas.... Fez escola com a Mayara Petruso e com a elite paulista.
Possivelmente fake?

Sem dúvida. De uma hora pra outra a figura perde 15 mil followers (tinha 30 mil no começo do mês), deletou todos os tuítes e começou do zero, mesmo não sendo um perfil novo. E pra piorar, usa o nome de uma travesti carioca, assassinada em 2006.
O CRDH  Juliana Tedesco  recebe o nome da  travesti de 17 anos assassinada com dois tiros em 2006 em Cabo Frio. Juliana foi uma das vítimas da homofobia ano passado no município, assim como ela a jovem lésbica A.S., também com 17 anos, foi encontrada morta por asfixia na Praia do Siqueira e em ambos os casos os assassinos continuam livres e os crimes sem solução.”
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Segundo pesquisas no Twitter levada a cabo por vários ciberativistas, o perfil @Ju_Tedesco possivemente era controlado pelo estudante de Letras da UnB Marcelo Valle, já processado por pregar o ódio nas redes sociais.
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Na verdade, pouco importa. É resultado do mesmo fenômeno, ou melhor, resultado do trabalho do mesmo grupo. DemoTucanato censurador, que sente ódio da democracia e da liberdade. Parece forte? Sim. Mas a briga é dura e é esta a verdade.

Uma elite racista, preconceituosa, que acredita que o Brasil se limita ao sul e ao sudeste e que o resto é apenas território inóspito a ser sustentado (contra a vontade) e devidamente roubado - e com a ajuda das elites locais, claro.

A juventude racista e xenófoba de hoje é resultado direto do trabalho das elites racistas do sul/sudeste brasileiro que, por anos, subjugaram o nordeste e o reduziram a um lugar para passar férias e explorar, mas não onde existe gente, onde habitam os mesmos brasileiros que em qualquer outro lugar do país.


Estereotipado, explorado e humilhado, o nordeste ao ganhar visibilidade no governo Lula acabou sendo alvo do ódio desta classe acostumada a mandar, a dar as ordens, a tratar todo o resto como serviçal.

E o AI5Digital vem também daí. De uma elite que não aceita insurreições, que não tolera que seu poder midiático seja denunciado e que haja competição. Para manter a posição da elite, vale tudo, disseminar o ódio e censurar.

Ao criar sites carregados de ódio, perfis e comunidades, os vigilantes se auto-municiam. Podem, desta forma, mostrar aos cidadãos preocupados - conservadores sem tanto ódio ou ao menos que fingem preocupação - que só o controle ferrenho da internet, o cerceamento da liberdade na rede, é que irá garantir que este tipo de coisa não aconteça.

Reagir com raiva a estes perfis, a estas provocações é dar apenas munição aos censuradores que, desta forma, podem pregar com mais força ainda a necessidade de um controle para evitar este tipo de "abuso", o que eles não dizem é que o objetivo real é o de controlar todo o conteúdo da rede e espionar todos os nossos passos, enfim, a intenção é a de criminalizar o usuário e usar desculpas e subterfúgios para conseguir.

Curiosamente, os mesmos que pregam a censura da internet são os que bradam desesperados e raivosos que regulamentar a mídia seria censura! Basicamente, querem garantir a total libertinagem da mídia, seu polo de ação, mas restringir a internet, lugar onde não conseguem se impor, não importa quanto dinheiro tenham.


AI5Digital e racismo são irmãos. Filhos de mesmo pai e de mesma mãe. Reflexos da decadência de nossa sociedade, ou melhor, de nossa elite.

O que nos resta fazer? Combater. Ambos. Na mesma frente. Todos contra o racismo e contra o controle da rede, pela democratização das comunicações, pelo acesso.

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Com humor também se combate!=)

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Investigação sobre o perfil, é interessante notar que até 4 de novembro "ela" era seguida por mais de 30 mil pessoas e tuitava com alguma frequência. Deve ter apagado todos os tuítes, mudado o nome e passado a agir como neonazista. O que este perfil era antes, não sabemos, mas se pudesse apostar diria que tem o dedo do DemoTucanato.

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E o perfil foi deletado no fim do dia 15 de novembro ou, possivelmente, mudou de nome.
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ódio pós-eleitoral: Folha, Leandro Narloch e Pobres, ou quando os fascistas saem da toca

Típico fascista "descolado", que posa de moderno, que detesta o politicamente correto, Leandro Narloch, porém, apenas desfila aqueles mesmos ideais supremacistas e aquela mesma ideologia de ódio do começo do século XX e que foi responsável, sabemos, pelas maiores atrocidades.

Seu ódio é contra os pobres, contra os analfabetos, contra aqueles que ele chama da "ignorantes". Ignorantes por votar diferente dele, por não terem a mesma linha ou forma de raciocínio e concordarem com suas opiniões Narloch tem preconceito contra quem votou na Dilma, pois, segundo ele, não pensam.

Ou melhor, é daqueles que diz que pensam com a barriga, logo, acusa o governo de compra de votos, de usar programas sociais para ter dividendos políticos. Em sua opinião, bom seria deixar o povo morrer de fome, aí sim votariam com a "consciência". Pelo menos aqueles que continuassem vivos.
Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.
Todas as criticas da figura se direcionam, obviamente, para os pobres, mas ele esquece qe boa parte dos membros de sua classe, dos playboys de classe média, também não sabia, na época, o nome dos candidatos.

Muitos destes votavam em Serra porque este iria manter os privilégios de sua classe ou na Marina, porque, afinal, todo playboy de classe média gosta de seguir a moda e ser descolado.


Aliás, os dados apresentados por Narloch são interessantes, na tentativa de denegrir o eleitor de Dilma - que em grande parte votou pela continuidade do governo Lula - ele acaba por mostrar que mesmo Serra era desconhecido por 55% dos eleitores, afinal, eles não conheciam o nome de nenhum dos concorrentes.


A direita mais fanática é engraçada, se FHC não presta como cabo eleitoral - na verdade tira votos - e não pode ser usado por Serra, então o PT também não pode usar o Lula. A continuidade é ilegal, porque a do FHC seria um tiro no pé.
É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que você... hum... está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.
Ao invés de ter preconceito contra quem não sabia quais eram os candidatos, Narloch deveria parar e pensar um pouco: Porque? Porque não sabiam? Será que é porque são pobres e ignorantes ou é porque o sistema político brasileiro é uma farsa? Porque os políticos em geral não investem em educação, em polização, em inclusão social e apena surgem na hora de pedir voto para, depois, dar uma banana ao eleitor?


Mas não, mais fácil odiar o nordestino pobre e "ignorante". Talvez os mesmos "ignorantes" que colocavam Serra na frente nestas mesmas primeiras pesquisas... Sinal dos tempos!


A referência ao Homer Simpson, aliás, é providencial. William Bonner já a usou - Vejam como a direita se entende. Se referiu assim aos que assistem o Jornal Nacional. Será, meu caro Narloch, que o povo que você tanto odeia, politicamente alienado - e que não é "apenas" os pobres - assim o é porque sofrem amplo descaso dos políticos e tem uma mídia de merda (perdoem o termo, mas é o mais próximo da realidade) que apenas nos imbeciliza?
Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.
Aliás, vale lembrar, o Narloch, o grande gênio do voto consciente, é editor da revista pseudo-científica Superinteressante, trabalhou na Veja e possivelmente não lê o que publica sobre história na "Aventuras na História". Ou se lê, não aprende. Não nota que seu ódio contra os "ignorantes" beira o ódio de certos elementos que, daí, passaram ao puro e simples extermínio.

Aliás, a referência educacional claramente faz alusão ao Lula, ao melhor presidente que o país teve em sua história (não que tenha sido, por isto, maravilhoso, claro). A direita ainda não aceita o fato de que um PhD como FHC tenha sido um lixo e que Lula representa um Brasil moderno e respeitado internacionalmente.


Todo o ódio se limita a isto, ao fato de que um cara que veio da pobreza e nunca fez seu doutorado e tampouco pertença ao seleto clube da elite racista do Jardins/Leblon. O ciclo foi quebrado. Collor não era do grupo e logo sofreu um impedimento, não quis dividir o butim, já Lula, meu deus, ele veio da merda, ele era um sindicalista, ele não faz parte do nosso grupo! Intolerável!
São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!".
O ódio de classe e o ódio contra a origem e a história de um nordestino pobre fica, então, escancarado. Este é o problema principal. O povo votou num "ignorante" e a elite não tolera ser desrespeitada, não tolera que passem por cima das suas decisões.


Vejam o raciocínio: "Globo, Folha, Veja, Abril, todos fizeram, junto com a elite, campanha pro Serra. Então como é possível que este povo ignorante tenha escolhido a Dilma! Oras, eles são analfabetos e pobres, não lêem a revista! Então vamos logo atacá-los, mostrar sua inferioridade, lamber nossas feridas atacando, porque nós é que somos inteligentes, letrados, estudados! Nós é que temos de governar este país!"


Mude algumas palavras, mas a idéia permanecerá a mesma. A direita está saindo do armário. A mídia ainda se esconde, se faz de imparcial, mas vários indivíduos-chave começam a se mostrar, a assumir seu racismo e preconceito. Esta elite que vê o mundo preto no branco e não cinza, contraditório, complicado.


Afinal, no poder, fecham os olhos para as classes baixas e governam para si. "Porque descriminalizar o aborto se só pobre morre? Afinal, nossas mulheres, brancas, ricas, podem pagar clínicas e não sofrem nada. Porque aumentar o gasto do governo com programas sociais se a elite não precisa? Ou mesmo os impostos, porque reduzir a carga para os mais pobres se isto significa aumentar a nossa, a dos ricos?"


A direita, a elite, tem um raciocínio linear, não consegue concatenar as idéias, pensamento complexo? Sem chance! Podem até estudar o conceito na universidade, mas a prática é diferente. Sabem usar a palavra, é bonita, "c-o-n-t-r-a-d-i-ç-ã-o", mas usar, aplicar à realidade...



Aliás, devem estar apavorados, hoje tem mais pobres na universidade que ricos! Como então irão agora chamar os pobres de burros e ignorantes?

Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.
Admito ser dificil ler e comentar parte-a-parte o texto desta figura grotesca, mas é necessário. Precisa ser denunciado, demolido. O bom é que, debaixo d todo este ódio, apenas grassa ignorância, conceitos deturpados ou mesmo um raciocínio tão rasteiro que até envergonha. Sob o perigo de cair na Lei de Godwin, Hitler ao menos sabia discursar. Mussolini tinha estilo. A direita brasileira é apenas patética.


O orgulho é patético. O orgulho daquele pobre que hoje vai à universidade que, mesmo sendo uma Uninove ou uma Uniban, ainda é motivo de orgulho, por ser alguma coisa melhor que a submissão à casta dominante, daquele outro miserável que saiu de lá e pode ter um telefone - mesmo pagando as taxas mais caras do mundo.

Mas, lembrem-se, pela cartilha da direita brasileira, privatizar é bom! Nossa direita é entreguista, sem um pingo de patriotismo ou respeito pelo país, sonha em morar em Miami para não se misturar.



Estes 30% de eleitores que não se lembram do voto são o que? Pobres ignorantes ou apenas uma imensa parcela da população que, independentemente de classe social, não se vê representada pelos políticos eleitos ou não vê na política representativa uma saída ou solução para seus problemas?
Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao "rouba, mas faz", sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas.
E isto é problema do desiludido ou é um problema da formação política e social brasileira e do trabalho de imbecilização midiática? Imbecilização esta, aliás, patrocinada por que usa o espaço na mídia para destilar ódio e preconceito.


Mas o caro Narloch subestima o povo. Chama-o de imbecil, de idiota, de inferior... É o último estágio dos fascistas brasileiros, impotentes frente à vitória de Dilma. Se o governo será bom ou ruim, difícil saber, mas é herdeiro de um governo cujo presidente ultrapassa os 80% de aprovação e em que nem a direita mais odiosa consegue demonizar ou, se o faz, não consegue fazer ressoar pela sociedade.

Discriminar é aquele estágio final em que viram que seu poder de fogo é quase zero, que seus diplomas - por enquanto, os "ignorantes" estão chegando! - não valem de nada, não mudam a balança eleitoral. É melhor, então, apenas admitir que tem horror a pobre, a cheiro de pobre e viver com isso.


Conquistas econômicas só para a elite. Pobre não pode ter dinheiro! Absurdo! Reforma urbana, casas para sem-teto e população de baixa renda, urbanização de favelas, todas obras que merecem repúdio. Obra boa mesmo é aquela patrocinada pelo Kassab, sanitarista, higienista, que tire os pobres sujos do caminho e deixe a elite andar em paz.


Referência ao Mensalão, talvez? Ao caixa dois que, de fato existiu, mas começou em minas com o PSDB e é praticado por TODOS os partidos com exceção de poucos como o PSOL? Não é justificável, mas condenar um em detrimento de outros é atitude tão burra quanto.
Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os "coronéis", os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um "candidato dos pobres" contra um "candidato dos ricos".
"Marketing da pobreza", adorei! Vai ver que as crianças pedindo esmola no sinal, ou as favelas - pegando fogo - ou mesmo os indigentes dormindo nas calçadas sejam só intriga da situação. É marketing. Querer tirar estes da miséria? Marketing.


Mas, realmente, terrível culpa os "outros". Culpar as potências mundiais que, com seus acordos e organizações perpetuam a pobreza ao impor concertos econômicos esdrúxulos aos países pobres? Absurdo!


Clpar os coronéis que mantiveram - e ainda mantém - os pobres das cidades mais desgraçadas (no sentido de pobres, por favor) na mais completa miséria e ignorância? Jamais!


Oras, vejam que disparate, culpar os empresários, só porque estes formam cartéis, aprovam o monopólio, praticam uma mais-valia assustadora, escravizam trabalhadores e se recusam a reconhecer os direitos sociais e trabalhistas de seus funcionários? Inaceitável! Acusação vil!


A referência à Cuba é a cereja do bolo. Sempre. É a Lei de Godwin da direita. Ou a Lei de Fidel. Sempre que uma discussão com a direita esquentar, eles apelarão pra Cuba. Não importa que críticas faça a própria esquerda à Cuba, nem o embargo, nem os sucessos, é sempre a saída final, aquilo que acaba com a discussão - para eles.

Falando nesta direita acéfala, não é de surpreender que o artigo tenha sido publicado pela Folha (acesso restrito) e logo depois re-postado pelo Augusto Nunes, o cão de guarda da Veja que foi humilhado pelo Zé Dirceu no Roda viva (vale à pena assistir), que demonstra a cada post o nível (ou a falta) da atual direita brasileira. Ressentida, acuada, sem argumentos e em franco desespero.


A direita brasileira é tão burra que sequer sabe aproveitar o fato de boa parte da população ser conservadora. Partem logo para a agressão, afastando os mais moderados  e virando mero motivo de piada.


Vejam, apenas de passagem, a argumentação usada por este Augusto Nunes para criticar o Ministro Celso Amorim, apenas o maior ministro de Relações Exteriores desde Rio Branco:

Nenhum país merece, pensei na poltrona logo atrás. Amorim lembrava um pintassilgo com frio. E então tive de resistir bravamente à tentação que sempre assaltava Nelson Rodrigues quando topava com o cronista Carlinhos Oliveira, pequeno e franzino, nas ruas do Rio.
Nunes chama o nosso ministro de "passarinho", critica o formato de seu corpo e diz que "nenhum país merece". Realmente, saudades do Ministro Lafer, que humilhava o país retirando o sapato nos aeroportos dos EUA. Mas é desta subserviência que nossa elite gosta!


De fato não podemos falar, nas ultimas eleições, em apenas um candidato dos ricos e dos pobres. Mas podemos com segurança falar do candidato da criminalização, da mentira e da farsa, do sanitarismo, da violência, da barbárie, da intolerância e do atraso. Serra e Marina disputam as classificações.
Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza.
Já sei, aquela receita neoliberal aplicada por FHC que tirou os pobres..... hmmmm, não, não tiro não, só os afundou no buraco. Ou talvez aquela, também neoliberal, que resgatou a Argentina... opa, também não. A Argentina faliu... Ou a do FMI pra Coréia do Sul! Ah essa... eita, também não, a Coréia do Sul se recusou a seguir o FMI, por isso cresceu....

É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.
Pois é, países com população ínfima comparada ao Brasil... Cingapura nem vale comentar, é um colosso!


Mas, bem, vamos entrar na discussão de ditaduras? Porque o Chile teve de matar mais de 30 mil pra ter o crescimento que o Narloch admira. Cingapura também nunca foi bem ma democracia. Pena que o Brasil "só" matou uns 300 ou 400. Se tivesse matado um milhão, quem sabe?


Mas, realmente, Chile é bom exemplo, a população Mapuche que o diga! Estão em festa.


Já Venezuela e Bolívia, realmente, terrível! Ao invés de caminhar rumo ao consumismo, à noção de acumulação acima de tudo, passaram a impor leis democráticas de respeito aos povos originários, garantiram educação universal a todos, erradicaram o analfabetismo, melhoraram os indicadores sociais....Besteira.
Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.
A declaração final da elite racista e entreguista. Dispensa grandes comentários. A declaração em si representa tudo aquilo de mais repudiável, de uma elite disposta a abrir mão da história do país, a negar sua origem.


Que vendam tudo, que matem todos, mas a elite permanecerá. O resto é resto.

Este artigo da/na não vem do nada, mas é reflexo e uma campanha suja em que a direita mais racista, os fascistas dormentes, despertaram e ganharam a mídia. Mayara Petruso, Leandro Narloch, Augusto Nunes e tantos outros são apenas o reflexo do nível do debate político nacional, em que a mídia e a direita, completamente desesperados e esvaziados de idéias, partem para os ataques mais toscos e absurdos, criando e perpetuando ódio, preconceito e racismo.



Mas, de fato, Narloch, nós (sic) somos mesmo preconceituosos e racistas.

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ato de Desagravo aos Nordestinos, contra o preconceito!

Vereador Francisco Chagas promove Ato de Desagravo aos Nordestinos
Evento será realizado após a Sessão Ordinária da Câmara nesta quinta-feira, dia 11, e contará com a participação de autoridades ligadas aos Direitos Humanos e Cidadania e representantes da sociedade civil

Acontece nesta quinta-feira (11/11), às 17 horas, no Plenário 1º de Maio, na Câmara Municipal de São Paulo, o Ato de Desagravo aos Nordestinos. O evento será realizado após a Sessão Ordinária da Casa Legislativa.
Promovido pelo Vereador Francisco Chagas (PT), o Ato tem por objetivo manifestar repúdio às ofensas disseminadas na Internet, e à introdução e prática na sociedade paulista e brasileira de qualquer forma de discriminação das pessoas motivadas por preconceitos, seja de raça, cor, etnia, sexo, origem regional, religião, nacionalidade, entre outras.
São aguardadas para o Ato, além dos vereadores, outras autoridades e instituições ligadas aos Direitos Humanos e Cidadania, representantes das comunidades nordestina, negra e indígena, bem como entidades da sociedade civil, e representantes de trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais.
Na semana passada o Vereador Francisco Chagas protocolou no Ministério Público Federal, em São Paulo, uma Representação para apuração de possível prática de Crime de Racismo cometida por usuários de redes sociais da Internet, como Twitter, Facebook, Orkut e outras.
Esses usuários distribuíram ofensas de cunho racista pelas redes sociais logo após ter sido anunciada a vitória de Dilma Roussef, na noite do dia 31 de outubro. As ofensas são contra os habitantes e pessoas com origem nos Estados localizados no Nordeste e Norte do País, bem como contra membros das comunidades indígena e negra.
O Vereador Francisco Chagas é autor da Lei Municipal que criou o Dia do Nordestino na cidade de São Paulo. A data faz parte do Calendário Oficial de Eventos do município, e tem como objetivo prestar uma justa homenagem e reconhecimento aos mais de 4 milhões de cidadãos de origem nordestina ou seus descendentes que moram na capital paulista.
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