Serve, enfim, como introdução ao meu primeiro post no blog Trezentos, amanhã, sobre a situação do Cáucaso Norte como um todo em tempos de conflitos, insurgência islâmica em detrimento do antigo movimento nacionalista de cunho étnico das décadas passadas e repressão.
Este post, por outro lado, trata da troca de governante na Rep. Aut. da Ingushétia, saiu Zyazikov, entrou Yevkurov, ha coisa de 3-4 meses e da escalada de violência na região. Trata ainda da repressão contra a população Chechena comandada por Kadyrov e aplaudida pelo Kremlin.
A parte que ainda permanece relevante toca na sensível questão da falta de democracia nas Repúblicas Autônomas. Putin aboliu o processo de eleição direta para os governantes passando ele - e agora Medvedev - a indicar algum de seus protegidos para os cargos mais altos das repúblicas autônomas.
O que se vê é um movimento pensado e calculado para neutralizar e esmagar qualquer foco não só de resistência mas também tentar sufocar o sentimento nacional das minorias e destruir suprimir suas culturas, línguas e costumes.
O primeiro passo foi o fim das eleições diretas e a indicação vinda do Kremlin, o segundo passo a abolição do direito das repúblicas legislarem sobre seu sistema educacional, impondo o fim do ensino das línguas minoritárias, da cultura e da história dos povos não-Russos.
Em meio à tudo isso, constante repressão e perseguição, intimidação e assassinato de lideranças dos Movimentos Sociais, Sindicatos e de grupos de Direitos Humanos.
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Agora Putin (ou Medvedev, na verdade não faz diferença) resolveu trocar o governador da Ingushetia, entra o coronel e herói Russo-Ingushe Yunus-Bek Yevkurov e sai o impopular Murat Zyazikov, depois deste ter sido acusado de ser o mandante do assassinato nas mãos da polícia local do repórter opositor Magomed Yevloyev, culminando com diversos protestos contra o governante.
Vale lembrar que, na Rússia, não existem mais eleições diretas para governador, desde que Putin, em 2004, as aboliu. Uma tentativa absurda de centralização do poder e diminuição da autonomia das mais diversas regiões e Repúblicas Autônomas que compõem o país.
Putin e sua máfia, obviamente, tomaram o poder de assalto. Não encontram qualquer resistência em nível federal e agora tampouco em nível regional.
Resistência meramente política, obviamente, apenas em "termos eleitorais", porque se conseguirem até certo ponto "pacificar" a Chechênia, colocando um verdadeiro genocida no poder que passou a eliminar de todas as formas possíveis a resistência Islâmica e não-Islâmica, o mesmo não aconteceu com a Ingushetia.
Por "pacificar" compreendam o óbvio, Kadyrov, presidente da Chechênia iniciou uma era de terror, de perseguições e repressão brutal e até certo ponto conseguiu diminuir a efetividade da resistência ao aplicar uma política de constantes abusos dos direitos humanos, invasões em casas durante a noite, tortura, intimidação e ataques frontais e orquestrados contra qualquer insurgente ou indivíduo que pareça insurgente - ou seja denunciado como tal, em um Estado-policial dominado pelo denuncismo e medo.
Na verdade, os "terroristas" apenas mudaram sua base de operações e contaram com a adesão de centenas de Ingushes insatisfeitos com sua situação de pobreza, exclusão e situação de opressão frente aos Russos.
Os Ingushes são parentes muito próximos dos Chechenos, é de se esperar um mínimo de solidariedade com a luta dos vizinhos. Soma-se a isso o desemprego e desilusão além da pobreza extrema da população e, por fim (em teoria, pois é difícil saber se este fator alimenta de forma decisiva ódio contra os russos) há o conflito latente entre Ingushes e Ossetas que remonta o séc. XIX, onde os primeiros se acham desprivilegiados pelos russos contra o segundo grupo, culminando com a anexação por parte da Ossétia do Norte de uma boa porção do território Ingushe ao longo dos anos.
O quadro para o surgimento e fortalecimento de grupos que pegam em armas contra o governo Ingushe e Russo é mais que propício.
Dentre os muçulmanos, especialmente após o fracasso dos projetos nacionalistas de cunho Socialista ou Pan-Arabista dos anos 60-80, houve um fortalecimento tremendo da religião como política, como arma e na Ingushétia e região do Cáucaso, de maioria Muçulmana, não seria diferente.
A resistência, dita terrorista, dos grupos minoritários à falta de democracia, condições de trabalho e vida e etc parece a única opção e não há como negar, em primeira vista, essa opção.
A única solução encontrada pelos governos, Ingushe, Russo e Checheno, é a franca repressão, as torturas nos porões das forças de "segurança" e a opressão ainda maior das minorias...
Até quando este cenário durará?
Dificil saber mas Putin e seu cãozinho Medveded, pelo jeito, esperam manter o povo Russo e demais minorias na coleira a todo custo. Jornais independentes são raridades, redes de TV independentes ou rádios livres são duramente censurados e a maioria obrigada a fechar e repórteres com o mínimo de isenção, como Yevloyev, Politkovskaia e etc são mortos sob circunstâncias "suspeitas", para dizer o mínimo, ainda que todos saibam os rais mandantes e as razões.
Por mais que seja visível uma melhora nas condições econômicas e sociais de uma boa parte da Rússia, em especial na região oeste, próxima às grandes cidades de Moscou e São Petersburgo e também nas regiões industriais dos Montes Urais, a atual crise mundial vem minando esse crescimento, o desemprego começa a ameaçar a indústria, várias cidades do interior russo começam a ver suas populações minguarem, o alcoolismo ainda é endêmico e não dá mostras de ceder e no Cáucaso a solução é a mais "simples": Oprimir, perseguir, censurar e, não dando certo, matar.