terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Jogo Democrático [Parte 1]

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Não sei se muitos já notaram, mas o termo democracia parece só existir ou ter validade - ao menos para as elites e para a mídia em geral - quando isto significa que as elites estejam no poder.

Pode parecer básico para uns, mas para muitos, graças à manipulação midiática, talvez esta idéia não passe pela cabeça.

O que quero dizer é que é fácil verificar, como no caso de Chavez, Uribe e Zelaya, àquele que é popular, que governa para o povo, é o "populista" na concepção negativa do termo, já o da direita - no caso, Uribe - é o herói. Os jornais dão mínima publicidade à sua reeleição - isto quando sequer tocam no assunto - e normalmente sem qualquer polêmica, contrariedade ou acusação de falta de democracia.

Quando, por outro lado, a reeleição é proposta por Chávez ou Zelaya - que sequer iria se reeleger, mesmo aprovando a proposta - então estamos falando de verdadeiros ditadores anti-democráticos (a frase é incoerente de propósito).

As elites não toleram serem vencidas em seu próprio jogo, o dito "democrático".

A questão é exatamente esta, o jogo democrático foi inventado e é mantido pelas elites que, pressionadas, foram obrigadas ao longo do tempo a incluir todas as camadas da sociedade neste jogo.

Se, no caso do Brasil, aos poucos os pobres puderam votar, as mulheres, os presos, analfabetos e etc, fica claro que a elite foi parcimoniosamente "convencida" a abrir mais espaço em seu jogo para novos participantes, mas, o ponto principal, é a de que este convencimento sempre veio acompanhado de garantias: A de que a elite não seria destronada.

Os mecanismos para evitar que o "povo" chegasse ao poder foram e são vários. E começam a falhar.

Após a segunda guerra a abertura democrática foi mais que uma necessidade para as repúblicas pelo mundo. A pressão feroz e constante dos movimentos operários insatisfeitos, dos movimentos anarquistas, dos feministas e etc no pré e pós guerra tornaram a mudança inescapável.

No pré-guerra, vejam o caso espanhol, os atentados anarquistas e avanços socialistas e comunistas eram uma constante. No resto do mundo, no pós-guerra, a única maneira de esvaziar o movimento operário e os grupos que pregavam a revolução aos moldes Soviéticos era, enfim, abrir mais espaço para os insatisfeitos participarem no processo decisório.

Em alguns lugares as medidas adotadas foram a implementação do Estado de Bem Estar Social.

Mas esta participação sempre foi controlada na base da cooptação, intimidação e até através de ilegalizações e franca brutalidade e violência estatal. No geral, as camadas de baixo se tornaram mais dóceis, acabaram por receber alguns benefícios e os movimentos políticos se enfraqueceram.

De tempos em tempos, quando a situação se tornava por demais opressiva e algum movimento de base se fortalecia, um ou outro golpe de Estado tomava lugar ou um governo de direita assumia para tentar controlar os ânimos e trazer de volta o jogo às suas regras normais.

O que se vê hoje não difere muito do quadro de outros tempos. Qualquer movimento que se oponha às elites estabelecidas é atacado. Seja num primeiro momento através da infiltração de pelegos, através da franca cooptação de seus quadros até a aberta e franca violência e repressão.

Mas o que vemos hoje, em especial na América Latina, é um crescimento avassalador dos movimentos sociais que estão conseguindo vencer as elites em seu jogo de partilha do poder.

Quando vemos pelo mundo disputas entre Conservadores e Liberais, entre tradicionalistas e progressistas, estamos nada mais nada menos que observando uma briga entre aliados das elites que tentam passar adiante a imagem de que não são tão parecidos, de que tem propostas diferentes. Basta olhar para os últimos anos dos Trabalhistas e Conservadores na Grã Bretanha e Socialistas (sic) ou Social-Democratas e Conservadores na Alemanha para vermos que, de fato, as diferenças são cosméticas e o que temos é uma (pseudo)alternância de poder entre forças basicamente iguais.

Do Brasil do café com leite as semelhanças são marcantes. As mesmas elites se revezando sem, porém, nutrirem grandes diferenças. É o poder pelo poder, sem novas idéias e pelo bem das elites.

Ao longo do processo observamos apenas "soluços", quando há alguma quebra da institucionalidade e reais mudanças sociais ou processos de readaptação e reorganização do jogo, no caso das ditaduras militares.

O objetivo deste texto, enfim, é demonstrar que ao longo de toda a história "democrática" do ocidente observamos a um jogo de cartas marcadas onde os grupos que se revezam no poder, apesar de na teoria defenderem idéias antagônicas, são basicamente iguais. São elites políticas que se revezam sem levar em consideração o grosso do povo, as massas, a não ser quando precisam delas.

As massas nada mais são que massa de manobra, usadas por uma ou outra força em momentos estratégicos e que ao longo dos anos conseguem evoluir um pouco aqui ou ali mas que, no fim, não saem da sua situação de explorados eternos.

A criminalização dos movimentos sociais segue a mesma lógica. Para as elites é intolerável que um movimento de massas, organizado, ponha me perigo suas "conquistas", suas terras, posses, bens e privilégios.
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