Chávez, Correa e Morales são os melhores exemplos desta mudança, saídos dos movimentos sociais ou de setores contestadores do exército e cansados da constante repressão e criminalização dos movimentos sociais e dos espelhinhos e miçangas dados ao povo para mantê-los na linha.
Lula é uma notável exceção, foi eleito junto a este bloco mas preferiu manter-se coerente ao jogo democrático de sempre, sem tentar quebrar com a institucionalidade e com a "herança maldita" anterior, na verdade, passou a agregar e elogiar os mesmos que antes atacava e acusava. Talvez fosse preciso para assegurar alguma governabilidade mas, sendo isto falso ou verdadeiro, o fato é que o governo Lula avançou muito pouco ou quase nada se compararmos com os demais presidentes da "Onda Vermelha".
Enfim, esta onda na América Latina não nasceu ou surgiu do nada, foram anos e anos de mobilização social, de repressão e lutas - no caso Boliviano vale conhecer a "Guerra da Água" que precedem os grandes protestos que levaram Morales ao poder - que culminaram com a vitória de partidos e organizações populares e, note-se, todo o processo de deu dentro do jogo democrático já antigo, ou seja, dentro do jogo das elites.
Estas vitórias esmagadoras dos movimentos populares dentro de um jogo feito para que apenas as elites se revezassem no poder causou em primeiro momento descrença e depois revolta no seio das elites.
O golpe organizado contra Chávez, em 2002, a tentativa de separação da chamada "meia lua" na Bolívia e a atual deposição de Manuel Zelaya em Honduras são a resposta das oligarquias à sua derrota.
Se em um primeiro momento estas elites resolveram continuar participando do jogo democrático, mas foram fragorosamente derrotadas pelo povo, num segundo momento notaram que apenas denunciando seus próprio jogo é que poderiam ser bem sucedidas. Quem sabe tudo não passava de um "soluço" que um golpe ou uma ditadura não pudesse resolver e trazer estes países à "normalidade" de sempre?
No caso de Chávez as elites foram derrotadas em seu golpe em em todas as suas reações, no caso Boliviano a direita foi recolocada em seu lugar e hoje o fantasma da separação da "meia lua" está mais ou menos controlado e, no fim, falta ainda resolver a situação de Honduras.
Na verdade, o caso de Honduras merece atenção particular. O ódio e o medo das elites de perderem em toda a América Latina falou mais alto e encontraram em Honduras um campo fértil para pôr em prática sue contra-golpe. Zelaya era homem da direita, da elite, mas foi seduzido pela ALBA e pelo Chavismo e passou a ser um incômodo à direita. Pela sua origem os oligarcas devem ter acreditado que não haveria grande atenção e resposta à sua deposição, mas estavam errados.
A unidade da Esquerda latinoamericana está consolidada. ainda esperamos pelo desfecho da situação em Honduras, que encontra-se isolada e sofrendo pesadas sanções por parte de diversos paises, sob um governo títere e golpista.
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"Ela (mídia) costuma dizer q “o povo brasileiro não tem memória”. Mas é essa mídia a q produz o esquecimento" (Emir Sader)Pois bem, chegando ao objetivo principal do presente artigo, podemos analisar a resposta das elites às suas perdas, à sua perda de hegemonia.
A imprensa brasileira como um todo comemorou a deposição de Zelaya. Vedetes neofascistas como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi não esconderam sua alegria - e a alegria da direita - em ver um representante contra-hegemônico governar um país. Escolheram um momento para manipular a opinião pública, fabricar fatos e, então, retirá-lo do poder. Mas calcularam mal a resposta internacional (e até mesmo a interna)e ficaram isolados.
Com Chávez podemos analisar também de forma perfeita a resposta das elites pelo mundo. O fato de ter proposto uma nova constituição, de ter aprovado referendos para se reeleger não entram na cabeça das elites.
Não importa que todo e cada movimento de Chávez tenha passado pelo crivo popular. Para a direita o povo só importa quando para manter a si no poder.
Durante as campanhas Chavistas pela reeleição e por nova constituição era lugar comum a mídia apresentar a oposição como pobre-coitada que queria manter a legalidade no país. Marchas da oposição eram mostradas a torto e a direita, quase com fervor patriótico enquanto a situação, os Chavistas, eram os crápulas.
Era ainda comum que marchas Chavistas fossem escondidas, protestos pró-Chavez fossem simplesmente deixados de lado e manifestações da oposição infladas, louvadas.
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Um conceito interessante é a de que não importa - fiquemos no Brasil - se quem está no poder é o PSDB, o Demo ou qualquer outro partido da oligarquia. Isto que a direita costuma chamar de alternância de poder, na verdade, nada mais é que uma forma de manter o poder nas mãos de um mesmo grupo, que finge se degladiar mas, no fim, ajuda aos seus. Muda o nome do presidente, mas a base, a estrutura e as ações permanecem as mesmas.
Mas a isto chamam de Democracia. Alternância de nomes, não de projetos ou ideologia.
Porém, não é democracia o fato de alguém consultar o povo sobre cada um de seus movimentos, tampouco realizar aquilo que anseia o povo.
A isto, chamam de Populismo.
Não que Chavez, por exemplo, não cometa seus erros, os comete sim pois é humano, mas as elites não toleram seus acertos.
É curioso observar o papel lamentável da mídia no caso da reeleição de Uribe. Para todos ele é um herói que tem amplo apoio popular - de fato, tem realmente apoio mas em momento algum consultou o povo sobre suas reeleições, tudo foi decidido à portas fechadas -, já Chavez, por ter consultado o povo, é chamado sem parcimônia pela mídia de Ditador.
No fim, a diferença entre um Ditador e um Herói não é nem o respeito pelo jogo democrático, mas se participa deste jogo e o modifica em comum acordo com as elites, com as oligarquias.
Se a elite vence, modifica o jogo como bem entende e não vê qualquer problema. Se é a Esquerda, porém, quem vence, o jogo torna-se obsoleto e medidas extremas são tentadas, como golpes, derrubadas e acusações falsas contra quem está no poder.