Mas, para além disto, também é curioso notar o paradoxo do excesso de manifestações vazias e sem sentidos que acabam por banalizar este importante instrumento de pressão social e política ao mesmo tempo em que novas formas de protesto são tentadas dia após dia.
É realmente curioso - e lamentável - que protestos sérios e relevantes sejam criminalizados e esvaziados ao tempo em que futilidades mil ganhem projeção e o óbvio apóio da mídia, interessada em patrocinar o esvaziamento daquilo que não lhe convém.
De acordo com o Antônio Carlos Costa, presidente da ONG, os carrinhos representam os 20 mortos por dia no estado. A estimativa foi feita pela entidade a partir de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e representa a soma de casos de crimes de latrocínio, homicídio doloso, autos de resistência e policiais mortos. De acordo com o movimento, de janeiro de 2007 a agosto de 2009, aproximadamente 20 mil pessoas foram mortas no Rio. Após percorrer a orla pela ciclovia, os carrinhos com os manifestantes foram perfilados na areia da praia, na altura da Avenida Princesa Isabel, onde também foi exibido um painel com os números da violência no estado.
É esta corrupção, aliás, que desvia o dinheiro que deveria ser usado na inclusão social, na inclusão dos marginalizados e que é desviada para os bolsos do vereador, do prefeito, do deputado....
No caso do Rio, além de tudo isto, temos uma guerra entre caciques, entre Cesar Maia, Cabral, Beltrame, os Garotinhos... Todos de uma maneira ou de outra ligados às causas da violência local.
Quando algum movimento, protesto ou manifestação sai na capa de um grande jornal, logo começo a duvidar das intenções e propostas do dito grupo. Se o PIG apóia então algo está errado. A edição de domingo da Folha de São Paulo estampa os "manifestantes" em sua capa e, como não é de surpreender, acaba por se declarar favorável à atitude do grupo.
Mesmo modus operandi adotado pelo O Globo para divulgar o grupelho burguês "Nove", que protestou contra a fraude do Enem. Isso mesmo, contra a fraude, não contra algo factual, visível, claro. Fizeram apenas o jogo DemoTucano, como é de se esperar dos filhos da elite.
No caso deste protesto no Rio - mais um de dezenas, alguns inclusive capitaneados por sub-celebridades -, é o mais do mesmo. Filhinhos de papai se encontram na Zona Sul, na praia, fazem um teatro, aparecem na TV, são capa de jornal e depois vão tomar banho de mar e voltar às suas vidas, como se nada tivesse acontecido.
Não estamos diante apenas da banalização dos protestos, dos protestos nonsense, mas do completo descaramento de uma classe média que usa o espetáculo para fingir que se importa com alguém que não apenas os de sua classe.
Porque não sobem o Morro dos Macacos e protestam lá contra a violência policial? Ao invés disto ficam seguros, cercados pela polícia e pelos abutres do jornalismo (sic) Global ao lado de sua praia favorita, para onde vão depois, descansar, com o dever cumprido. O dever de fingir se importar, o dever de fingir agirem pela paz real e não pela sonhada pelos seus: Livre das favelas, da pobreza, mas não pela inclusão, mas pelo cercamento, pela repressão, pelo apartheid social.
A Classe Média não sabe contra quem ou o que protestar. Vota nos mesmos escroques de sempre e faz campanha de boca cheia para os mesmos políticos corruptos, interessados em privilegiar sua classe em detrimento do resto do povo. Como resultado criam um círculo vicioso em que os favelados se rebelam contra sua situação, em muitos casos, através da violência do tráfico.
As elites mais abastadas contam com a Classe Média para propagar seus delírios consumistas, para divulgar a mensagem profética d'O Globo e da Veja e para garantir a nulidade ou a atitude mais reacionária da classe.
Na falta de alternativas, de argumentos para sua própria ignorância, na falta de coragem ou decência para uma atitude corajosa a Classe Média protesta. Contra quem ou o que não sabem, mas se sentem realizados em atuar como arautos da paz e da decência.