sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O "Dia Internacional para Queimar o Alcorão" como representação dos EUA

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Está marcado para 11 de setembro o chamado "Dia Internacional para Queimar o Alcorão", idéia estúpida que só poderia ter saído da cabeça de um pastor estadunidense fundamentalista.
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Ninguém sabe, aliás, se vai haver a queima ou não, o Pastor não se decide.
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Mas o que surpreende não é a data em si, não é a estupidez, a intolerância e a ignorância típica de evangélicos fundamentalistas - que se aproximam perigosamente do fundamentalismo islâmico -, mas a reação do governo dos EUA.

Obviamente, o governo censurou a idéia, comentou que era idiota e perigosa, se indignou... Mas, por detrás de todo este bom-mocismo se esconde o único e real motivo para que o governo tenha se "indignado": As tropas. A imagem sagradados EUA no mundo - algo que somente eles acreditam que tenham, claro.

Robert Gibbs, Pota-Voz da Casa Branca:
"O anúncio da queima do Alcorão coloca nossas tropas em um caminho perigoso, qualquer tipo de atividade como essa será uma preocupação para este governo."
General David Petraeus:
"Estou muito preocupado com as possíveis repercussões de queimar exemplares do Alcorão. Só o boato de que isso poderia acontecer já provocou manifestações. Se de fato ocorrer, a segurança dos nossos soldados e civis seria colocada em risco e cumprimento da missão seria muito mais difícil" "É justamente esse o tipo de ação que o Talibã usa e poderia causar problemas significativos. Não apenas aqui, mas em todo o mundo onde estamos comprometidos com a comunidade islâmica"
E mais:
As polícias locais e o FBI também levam a sério a atitude radical da igreja, que é uma potencial ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos.
Obama também resolveu apelar:
"Espero que ele entenda que este é um ato destrutivo", que pode colocar nossos jovens soldados em perigo. Se ele estiver ouvindo, espero que entenda que o que está propondo é completamente contrário aos valores americanos".

"Isso é uma fonte de recrutamento para a al-Qaeda. Você pode ter sérios problemas de violência em lugares como Paquistão ou Afeganistão. Isso pode aumentar o recrutamento de indivíduos que podem querer se explodir em cidades americanas ou europeias"

A preocupação não é com o absurdo de se aceitar as declarações ensandecidas de um fanático religioso que colocam todos os mais de 1 bilhão de muçulmanos no mesmo saco - quando na verdade os fundamentalistas são apenas uma pequena parcela, igualmente presente no seio das igrejas cristãs - mas, como sempre, apenas consigo, com os EUA e seus soldados assassinos e invasores.

A questão não passa pelos direitos humanos, pela tolerância religiosa ou mesmo pelo respeito aos próprios muçulmanos dos EUA - seria demais esperar que o governo dos EUA se preocupasse com alguém além de suas fronteiras - mas apenas pela hipocrisia egoísta estadunidense de que o ato deste fanático irá pôr suas tropas em perigo, irá fazer crescer o ódio - já imenso - contra os EUA nos países invadidos e brutalizados por este país amante da democracia (sim, ironia total).

O pior, aliás, é acreditar que esta atitude isolada -significativa, mas limitada - seria o único e decisivo fator de desestabilização no mundo muçulmano que comprometeria "todo o trabalho" dos EUA. Como se vê, a arrogância dos EUA permanece intacta. Não importa o quão atolados e desacreditados estejam, ainda se consideram acima do bem e do mal.

Inegavalmente, este ato isolado pode ter consequências terríveis, dezenas de protestos já tiveram lugar no Paquistão e Afeganistão, contra a possível queima do Corão, mas é preciso analisar o quadro amplo: Esta pode ser a gota d'água., o ponto culminante de um processo que não é novo. Ou pode, também, ser apenas mais uma gota no mar de indignação - não só islâmica, mas mundial - às ações criminosas dos EUA, semelhantes aos atos de fanatismo fundamentalista de certas lideranças evangélicas.

A queima do Corão simboliza, pode-se dizer, as motivações dos EUA nos países islâmicos invadidos, o de mostrar o islamismo como um mal a ser exterminado. Ou, por outro lado, o de reforçar o papel dos EUA de nação cristã, numa cruzada para impor seus valores "democráticos" que, sem dúvida, vão em conjunto com a noção de "cristandade". O simbolismo, sem dúvida, é significativo. Uma representação crua daquilo que é os EUA no Oriente Médio.

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