quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre fanatismo, patrulhamento e cegueira, a entrevista de Lula aos blogueiros

Pin It
Pensei durante as eleições que, passado esse período negro, as coisas melhorariam. Que o fanatismo partidário iria arrefecer, que tudo voltaria a algum tipo de normalidade.

Ledo engano.

Passadas as eleições, o patrulhamento e o fanatismo continuam à toda. Na verdade parecem até pior, pois toda a carga das eleições ficou acumulada e tudo que você disser pode e será descontextualizado para atacá-lo. Agora o patrulhamento está a mil!

Ao mesmo tempo, qualquer crítica ao Lula continua sendo um crime capital. Qualquer crítica ao poder ainda permanece como um pecado gravíssimo. Mas, se você fizer parte do clubinho dos adoradores do Grande Pai então pode censurar, pode ser acéfalo, acrítico, não importa, você está junto de "deus", logo, automaticamente correto.

É uma esquerdopatia obtusa e desagradável.

Como boa parte do que me levou a este post-desabafo ocorreu em lista mais ou menos fechada, serei o mais "teórico" possível, pois não seria ético citar nomes ou mesmo partes de mensagens de forma explícita aqui no blog, mas em geral esta entrevista de blogueiros com o Lula pode ser considerado um marco para uns, mas também motivo de dores de cabeça para outros.

Enquanto a franca maioria da blogosfera "progressista" (o nome me incomodava antes e vem me incomodando cada vez mais, especialmente por alguns comportamentos que lembram o "progressismo" de Maluf) se limitou a louvar a iniciativa do Lula em concender uma entrevista com os blogueiros, como se fosse um presente divino que nós conquistamos depois de muito rezar, louvar e pregar.

Não, eu não desmereço o momento. De fato, acho que o esforço da blogosfera como um TODO - e não apenas da blogosfera petista - é o grande (ou foi o grande) responsável por, finalmente, nos fazer chegar até as mais altas esferas do poder.

Enquanto 99% da blogosfera comemorava, tentei ponderar e não ser apenas mais um a gritar "Viva". Porque não raciocinar por cima da festa?
Amanhã, vários blogueiros "progressistas" irão entrevistar o Lula, vulgo "O Cara". Até aí nenhum problema, na verdade uma idéia excelente e ousada, tirar da grande mídia o monopólio e permitir que blogueiros tenham acesso ao presidente para ir além das perguntas que normalmente só interessam às elites.

Apenas, na minha humilde opinião, uma entrevista concedida no fechar das cortinas não tem o peso divino que muitos pregaram. Vejo dois significados distintos na entrevista, um o da importância conseguida pela blogosfera ao longo de todo o governo Lula e especialmente durante a campanha de Dilma e, segundo, de forma contraditória o da forma de calar a blogosfera,  ode conceder um presente pelo esforço visando apaziguar os ânimos e preparar o terreno para o(a) próximo(a) presidente(a).

Explico melhor, se por um lado muitos enxergam na entrevista uma vitória, outros podem ter enxergado - e enxergaram - também, como uma forma de dizer "ei, obrigado pelo esforço, pelo apoio, agora continuem nos apoiando e talvez a gente converse daqui ha outros 4  ou 8 anos.".

Foi uma conquista da blogosfera a entrevista? Sim. Mas daí a dizer ou saber quais as motivações de tal entrevista, são outros 500.

É crime pensar que a blogosfera, por seus esforços, cresceu e apareceu, mas que as razões do governo para a entrevista não são das melhores?

Não faltaram blogs, grandes ou pequenos, a comentar sobre a iniciativa da presidência, a elogiar e etc, muitos de forma totalmente acrítica ou simplesmente achando que era uma lição na grande mídia.

Talvez, mas foram centenas de entrevistas concedidas pelo presidente ao PIG e apenas uma à blogosfera.
Alguns - a maioria - vem enxergando nesta entrevista aos blogueiros uma revolução. Infelizmente não sou tão otimista. Vejo sim, algum reconhecimento do nosso trabalho, mas por outro lado a atitude do governo em relação à grande mídia - ou mesmo da forma pela qual a grande mídia nos trata, com censura e intimidações - não mudou e dificilmente mudará.
Claro, seria a primeira vez e esperamos que possamos ter outras vezes, mas mesmo assim, um presidente que deixa o cargo e concede uma entrevista à blogosfera, por mais que se comemore, não é a maior das revoluções. Dilma conceder uma entrevista no início de mandato sim, seria um marco. Seria nossa chance de propor e exigir.

A entrevista com o Lula, enfim, era o momento de prestar contas, de fazer as perguntas incômodas, mas de máxima importância para nós, que a grande mídia jamais faria, e tudo isto com o presidente sabendo que a franca maioria dos blogueiros presentes o apoiam e apoiaram.

Quando vi, na maioria dos blogs, aquele sentimento de triunfo, sem qualquer questionamento sobre critérios ou motivos para tal entrevista, resolvi adotar uma posição mais crítica, a de propor perguntas que considerava (e ainda considero) importantes e a de alertar e comentar sobre o que estava acontecendo.

Como comentaram na lista do #blogprog, não sabemos quais foram os critérios de seleção dos blogueiros.

Fica claro que a maioria foi convidada por seu peso e relevência, são todos blogueiros grandes, influentes e, a maioria, alinhada com o planalto em diversos assuntos. A maioria votou em Dilma (a exceção de dois que foram com Marina, mas são fáceis de conversar). Não, eu não acho que isto seja demérito, eu mesmo, no segundo turno, apoiei Dilma e muitos o fizeram, mas esta configuração me fez temer por uma entrevista chapa-branca.

O medo era, na verdade, que a entrevista fosse a tentativa de instrumentilização e partidarização da blogosfera.

Disse em post anterior que temia que os blogueiros convidados não fizessem as perguntas incômodas que nos interessavam. Talvez eu possa ter pecado por excesso ao dizer que achava difícil que os blogueiros convidados fossem "incômodos", assumo, mas os e-mails raivosos que recebi justificam?

Não concordo integralmente com o Alfredo Bessow, do blog Passe Livre, mas não lhe tiro a razão.

Me pergunto porque nenhum blogueiro crítico ao governo - e quando digo crítico, falo dos que  não votaram na Dilma no primeiro turno, por exemplo - foi convidado. Nenhum alinhado ao PSOL, ao PSTU, ao PCB....

Qual o problema em questionar?

Não me venham com "ah, ele queria convidar blogueiro de direita" porque isto é ridículo, a maior parte dos blogueiros de direita estão representados pelo PIG ou mesmo fazem parte do PIG.

Qual foi o critério? Tamanho? Penetração? Pageviews?

O fato de eu - e outros, claro - não ter(mos) me(nos) limitado a bradar em conjunto que a entrevista era e seria maravilhosa parece ter irritado alguns. Especialmente aqueles que acreditam que são os únicos bastiões da esquerda, os verdadeiros defensores da moral comunista brasileira (sic³), e que, para garantir isto, buscam censurar, podar, proibir, desmerecer o trabalho alheio e se arvoram em pedestais.

Início de conversa, é de esquerda, é progressista aquele que usa dos mesmos métodos da grande mídia e censuram quem deles discorda, mesmo que as críticas sejam fraternas ou venham do mesmíssimo lado, da esquerda? Pois é, tem que ache que são de esquerda ou mesmo que se digam de esquerda. Aliás, se sentem os únicos.

Quando a crítica morrer, estaremos todos mortos, teremos de um lado a grande mídia, alinhada aos interesses do capital e das elites e do outro uma blogosfera que usa dos mesmos métodos, mas alinhadas ao petismo oficialista.

Os demais estarão no limbo e não poderão criticar.

Aliás, criticar é sentir inveja! Sim, alguns tem o ego tão inflado que acabam vendo semelhantes em qualquer um! Criticou a entrevista? Oras, é porque você está com inveja. Ponto, simples assim.

Durante a campanha, era crime criticar certos problemas do governo, do lulismo ou da candidatura de Dilma, pois isto "ajudava a direita", era "fazer jogo da direita". Devíamos achar que Hélio Costa era maravilhoso, que apoiar Roseana era fantástico, que Belo Monte era perfeito e que não havia corrupção no governo - como em todos os anteriores. O negócio era concordar. Discordou? Levou o troco.

Passadas as eleições, a coisa continua. Lula deu entrevista aos blogueiros? Ache maravilhoso e não ouse criticar, propor, comentar. É "jogo da direita".
------