terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Todos cometeram equívocos" - Israel, Palestina e o falseamento da história

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Comecei a ler um artigo do Gustavo Chacra e, como de costume, me deparei com o velho clichê de quem claramente defende Israel ou ao menos não tem a decência de ser contrário à existência do Estado Genocida:
Os palestinos desistiram de esperar um acordo cada vez mais distante com Israel. Foram quase duas décadas desde o início dos acordos de Oslo e a Palestina, como país, ainda não existe. Não interessa de quem é a culpa. Todos cometeram equívocos – palestinos, israelenses, americanos e a comunidade internacional.
Acho engraçado esse papo de "todos cometeram equívocos", não tem pra que buscar no passado, na história, as causas pro conflito...

Claro, é mais conveniente dizer isso do que lembrar que Israel, um Estado Genocida, praticava o terrorismo para matar palestinos e ingleses, roubar territórios e expulsar a população original do lugar...

Ah, mas os Palestinos cometeram erros, né? Não resistiram com a mesma força. O resto é balela.

Essa ignorância, ou melhor, a tentativa de tomar a todos como ignorantes que irão simplesmente esquecer o passado e realmente acreditar em algo tão estúpido me enoja.

Uma coisa é admitir que, fato consumado, genocídio em curso e a toda, os Palestinos podem ter cometido erros estratégicos, mas tomar a totalidade dos fatos como um mero jogo de erros e acertos é não só tripudiar dos mortos, mas tratar a todos como imbecis.

Mesmo que se queira apenas, por exemplo, delimitar a discussão aos acordos de Oslo, reduzir tudo a, novamente, uma série de pequenos ou grandes erros de ambas as partes é de uma ignorância absurda, além de má fé extrema. Oslo, basicamente, foi uma imposição estadunidense, em conjunto com Israel, para fazer os Palestinos aceitarem um acordo pseudo-vantajoso em que lhes deixava com um território ridiculamente pequeno, desproporcional, dando amplas vantagens a Israel e, claro, sequer contemplava efetivamente o Direito de Retorno, algo que NENHUM governo tem o direito de abrir mão em nome dos milhões de Palestinos exilados, expulsos de suas terras há décadas.

O grande erro dos palestinos - e de Arafat na época - seria o de aceitar Oslo. E o grande erro de alguns jornalistas é achar que somos todos imbecis.

De qualquer forma, a discussão atual no Oriente Médio se centra na aparente decisão dos Palestinos - mesmo o Hamas - de aceitar um Estado Palestino dentro das fronteiras de 1967 - o que propõe a ONU e os Estados que hoje reconhecem a Palestina ou que fazem parte das mesas de negociação - e o fato de que Israel se vê acuada.

Israel sempre viveu com a certeza de que os grupos mais radicais jamais aceitariam algo como um Estado sem a totalidade da Palestina e dos territórios roubados desde 1948 (ou mesmo desde antes, mas institucionalizado por esta época), logo, viveram na certeza de que iriam sempre e continuamente massacrar este povo oprimido sem se preocupar com um cenário que lhe impusesse real perigo.

Se enganaram. E, pelo visto, o Brasil resolveu participar da roda. Fomos nós (Oswaldo Aranha) que demos o reconhecimento oficial da existência de Israel quando, na presidência da Assembléia Geral, reconhecemos o direito (sic) da existência do Estado Judeu (Sionista se encaixa melhor). E, agora, somos nós novamente a entrar em cena, mas para abalar o governo do Estado Genocida e dar nosso reconhecimento à existência do Estado Palestino dentro das fronteiras de 67.

A certeza de Israel de que a divisão dos Palestinos - também patrocinada por seus agentes provocadores, por seu dinheiro e sua espionagem - iria eternamente mantê-los em guerra e longe de um objetivo unificado, vem sendo demolida paulatinamente.

O engraçado é que, afora a participação do Brasil (que com a moral conseguida nos últimos anos com sua política externa madura, atuante e moderna se coloca como peça importante no processo), a mesma Assembléia Geral pode ajudar no reconhecimento da Palestina, pois já deu mostras de pender para o lado dos mais fracos em diversas ocasiões. Agora pode ser o momento definitivo.


A irritação de diplomatas israelenses com o Brasil demonstra o sucesso do reconhecimento da Palestina por parte do Brasil:
"Se quiserem um papel sério, é necessário quem sejam mais isentos e não alinhados unicamente aos palestinos. O único caminho para um acordo definitivo sobre as fronteiras é através de negociações. Hoje, o Estado Palestino é consenso internacional, será um país que vai viver ao lado do Estado de Israel em segurança e, para isso, são necessárias negociações. Nem mesmo o presidente Mahmoud Abbas declarou oficialmente a criação do Estado com fronteiras de 67. E vem o Brasil e reconhece algo que não existe?"
O mesmo vale para os EUA, que considerou "lamentável" a atitude brasileira. Se os EUA são contra, então deve ser bom.

Agora é esperar pelos próximos passos, sabendo que Israel sente que o momento não lhe é favorável, que o Brasil pode ter um importante papel - continuando o legado de Celso Amorim - e que não devemos cair na lábia de quem, sem disfarçar, procura falsear a verdade sobre os fatos.
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