Explico: Se por um lado tirar muita gente da miséria foi um ponto positivo, por outro a forma pela qual escolheram fazer isto foi através do incentivo ao consumo e ao consumismo, logo, aprofundando o capitalismo e o pintando como algo bom, como algo que deve ser perseguido. Tratei disto em outro post e não faz sentido retomar a discussão.
Pois bem, outro grande problema do PT foi ter criado uma gama de militantes acríticos, cegos, incapazes de separar o que é militância ideológica das ações do governo - que por vezes são puramente oportunistas.
As práticas burocráticas e desmandos foram apenas exacerbadas - vide a expulsão dos que foram formar o PSOL. As razões para a expulsão, aliás, tem íntima relação com o tema central dos militantes caninos que critico: Ou você aceita calado as ordens da direção, ou é inadequado e pode/deve ser expulso. Você pode até discordar, mas no fim fique calado e vote com a maioria.
Acreditem, existem aqueles dentro do PT que já não defendem a abertura dos arquivos da Ditadura. Porque? Porque o governo até agora se mostrou covarde e criminoso, abriu as pernas para os militares e para os reacionários (grande parte da aliança que forma o governo) e simplesmente desistiu desta luta.
Claro, existem milhares, talvez milhões de pessoas com as mesmas idéias
Para evitar que haja reclamações, enviam militantes acríticos e caninos para calar os descontentes, para responder às críticas, para fazer, aí sim, o jogo da direita.- e da pior delas, a saudosa da Ditadura.
Antes da eleição, durante o governo Lula era crime criticar, pois isto ajudava a "mídia".
Durante a eleição, criticar o PT, o Lula ou a Dilma era também crime, pois isto era ajudar a direita.
Mas agora, depois da eleição, a tropa de choque continua ativa, e continua sendo crime criticar o governo: Ele tem pouco tempo, é inexperiente, é vítima das alianças (que ele próprio escolheu, diga-se de passagem) e, claro, é dar munição pra mídia e fazer jogo da direita.
Temos todos de nos conformar com o "possível", ainda que isto signifique ter uma ministra da Cultura ligada ao ECAD e que joga contra a militância digital e a cultura do compartilhamento, que signifique abandonar a luta pelo reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos e a punição dos Torturadores e criminosos da Ditadura ou que signifique defender a Propriedade Cruzada dos meios de comunicação.
Mas, como o governo simplesmente abandonou as vítimas, vem a tropa de choque abafar, dando as piores desculpas possíveis para justificar mais um crime.
A abertura dos arquivos é um direito das famílias, é garantir que o Estado cumpra o seu dever mínimo em apresentar a verdade à população. Tentar dizer o contrário é ser conivente não só com a atitude vergonhosa do governo, como é ser conivente com a própria tortura, pois é manter escondidos os criminosos.
Abrir os arquivos e punir os torturadores não é luta menor ou secundária. Se hoje ainda persistem estas práticas nas cadeias, nas delegacias, a tortura contra os pobres e o desrespeito por suas vidas, é porque nunca punimos nossos crimes, apenas os esquecemos.
Acho engraçado o duplipensar de quem aplaude a visita "humanitária" de Dilma à Argentina para visitar as Mães e Avós da Praça de Maio, mas não acham estranho que a mesma Dilme não se esforce para abrir os nossos arquivos ou, como na Argentina, processar os criminosos que mataram brasileiros. A própria, aliás, já usou terminologia da direita fascista ao chamar de "Revanchismo" a punição dos torturadores.
“O que o Supremo Tribunal Federal decidiu, decidido está”, "Não sou a favor de revanchismo."Mas isto não pode ser dito. É fazer jogo da direita... Da direita? A mesma que também é contra a abertura dos arquivos e punição de torturadores? Ah, entendi!
Para disfarçar, muitos militantes acríticos dizem "vejam só o que o governo fez de bom".
Oras, reconhecer o certo não significa esconder o errado. Exigir a verdade. Enquanto não abrirmos os arquivos da Ditadura JAMAIS seremos ou teremos um Estado de Direito. E sinto vergonha, na verdade sinto nojo de quem tenta defender o indefensável, os militares, a tortura e a continuidade da mentira.
É a crítica que faz crescer, a autocrítica que nos mantém sãos e a negação que nos torna coniventes.