terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Abrir os arquivos é dever do Estado, se omitir é compactuar com o crime, tripudiar da dor das mães

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A chegada do PT ao poder - mesmo que distante daquele PT de lutas de 89 e nem de longe Socialista - trouxe uma nova esperança para o país e, de fato, fez muita coisa, ainda que tenha se limitado a conviver e "humanizar" o capitalismo. Este, aliás, um dos grandes benefícios-problema.

Explico: Se por um lado tirar muita gente da miséria foi um ponto positivo, por outro a forma pela qual escolheram fazer isto foi através do incentivo ao consumo e ao consumismo, logo, aprofundando o capitalismo e o pintando como algo bom, como algo que deve ser perseguido. Tratei disto em outro post e não faz sentido retomar a discussão.

Pois bem, outro grande problema do PT foi ter criado uma gama de militantes acríticos, cegos, incapazes de separar o que é militância ideológica das ações do governo - que por vezes são puramente oportunistas.

As práticas burocráticas e desmandos foram apenas exacerbadas - vide a expulsão dos que foram formar o PSOL. As razões para a expulsão, aliás, tem íntima relação com o tema central dos militantes caninos que critico: Ou você aceita calado as ordens da direção, ou é inadequado e pode/deve ser expulso. Você pode até discordar, mas no fim fique calado e vote com a maioria.

Acreditem, existem aqueles dentro do PT que já não defendem a abertura dos arquivos da Ditadura. Porque? Porque o governo até agora se mostrou covarde e criminoso, abriu as pernas para os militares e para os reacionários (grande parte da aliança que forma o governo) e simplesmente desistiu desta luta.

Claro, existem milhares, talvez milhões de pessoas com as mesmas idéias estúpidas, são vítimas da alienação midiática, pessoas que compraram as desculpas toscas dadas por sucessivos governos, que repetem a tese do "Revanchismo" de forma totalmente acrítica. Mas o que dói é ver militante do PT repetindo este discurso.


Para evitar que haja reclamações, enviam militantes acríticos e caninos para calar os descontentes, para responder às críticas, para fazer, aí sim, o jogo da direita.- e da pior delas, a saudosa da Ditadura.

Antes da eleição, durante o governo Lula era crime criticar, pois isto ajudava a "mídia".

Durante a eleição, criticar o PT, o Lula ou a Dilma era também crime, pois isto era ajudar a direita.

Mas agora, depois da eleição, a tropa de choque continua ativa, e continua sendo crime criticar o governo: Ele tem pouco tempo, é inexperiente, é vítima das alianças (que ele próprio escolheu, diga-se de passagem) e, claro, é dar munição pra mídia e fazer jogo da direita.

Temos todos de nos conformar com o "possível", ainda que isto signifique ter uma ministra da Cultura ligada ao ECAD e que joga contra a militância digital e a cultura do compartilhamento, que signifique abandonar a luta pelo reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos e a punição dos Torturadores e criminosos da Ditadura ou que signifique defender a Propriedade Cruzada dos meios de comunicação.

Mas, como o governo simplesmente abandonou as vítimas, vem a tropa de choque abafar, dando as piores desculpas possíveis para justificar mais um crime.

A abertura dos arquivos é um direito das famílias, é garantir que o Estado cumpra o seu dever mínimo em apresentar a verdade à população. Tentar dizer o contrário é ser conivente não só com a atitude vergonhosa do governo, como é ser conivente com a própria tortura, pois é manter escondidos os criminosos.

Abrir os arquivos e punir os torturadores não é luta menor ou secundária. Se hoje ainda persistem estas práticas nas cadeias, nas delegacias, a tortura contra os pobres e o desrespeito por suas vidas, é porque nunca punimos nossos crimes, apenas os esquecemos.

Acho engraçado o duplipensar de quem aplaude a visita "humanitária" de Dilma à Argentina para visitar as Mães e Avós da Praça de Maio, mas não acham estranho que a mesma Dilme não se esforce para abrir os nossos arquivos ou, como na Argentina, processar os criminosos que mataram brasileiros. A própria, aliás, já usou terminologia da direita fascista ao chamar de "Revanchismo" a punição dos torturadores.
“O que o Supremo Tribunal Federal decidiu, decidido está”, "Não sou a favor de revanchismo."
Mas isto não pode ser dito. É fazer jogo da direita... Da direita? A mesma que também é contra a abertura dos arquivos e punição de torturadores? Ah, entendi!

Para disfarçar, muitos militantes acríticos dizem "vejam só o que o governo fez de bom".

Oras, reconhecer o certo não significa esconder o errado. Exigir a verdade. Enquanto não abrirmos os arquivos da Ditadura JAMAIS seremos ou teremos um Estado de Direito. E sinto vergonha, na verdade sinto nojo de quem tenta defender o indefensável, os militares, a tortura e a continuidade da mentira.

É a crítica que faz crescer, a autocrítica que nos mantém sãos e a negação que nos torna coniventes.
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