quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lugar de pobre é na rua, andando...

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...e não no transporte "público".

Aliás, "público"? Um direito de todos? Garantido pelo Estado?

Não em São Paulo, e sem dúvida não em muitos outros estados e cidades.

No final do ano tivemos o segundo aumento de tarifas do ano (sim, a tarifa do ônibus sobre duas vezes, mas a do trabalhador só uma - e olhe lá!), e agora chegou a vez de mais um reajuste, só que desta vez dos trens e metrô.


Do mesmo metrô lotado, ineficiente e sujo (e agora com linha privatizada e precarização de mão de obra) e trens que servem à população obrigada a andar MUITO para chegar até a cidade (normalmente de classe mais baixa e que terá imensa dificuldade em pagar as novas tarifas) e que normalmente precisam combinar o trem com outro tipo de transporte para chegar a seu destino final.

Mas isto pouco importa pra prefeitura e para o governo do estado. Se o governo não se preocupa sequer em evitar enchentes, porque iria se preocupar com o direito de ir e vir e o direito a um transporte de qualidade e acessível para o povo?

O sistema público de transportes em São Paulo é um lixo. Pra dizer o mínimo. Ônibus lotados, poucos corredores de ônibus, trânsito insuportável, poucas linhas para lugares cruciais, metrô com malha ridiculamente pequena, e por aí vai. Mas, mesmo assim, pagamos proporcionalmente a um serviço de luxo.
Engravatados da av. Paulista estão mais apertados dentro do metrô do que moradores de Carapicuíba, Itapevi ou Itaquaquecetuba, na Grande SP, que usam trens para ir ao centro da capital.

O efeito "lata de sardinha", com que a periferia convive há anos, atingiu a linha 2-verde a ponto de a lotação encostar no limite do que é considerado aceitável, informa a reportagem de Alencar Izidoro publicada na edição desta segunda-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL)

Ela saiu de um patamar de 4,7 passageiros por m2, em 2009, para 5,9 por m2, em 2010, nos horários mais críticos do dia. O nível máximo de desconforto projetado é de seis usuários por m2.

A lotação da linha 2 do metrô nos picos passou a ser pior que a de três das seis linhas de trens que atendem a periferia.
O Blog Festival de Besteiras da Imprensa acertou em cheio, é o programa "Vá a pé" do governo de São Paulo (cidade e estado). A classe média deve estar pensando neste momento em como é sortuda! De uma só vez conseguiu expulsar a pobretada dos ônibus (que eles pegam em dia de rodízio, claro) e do metrô!

Realmente é coisa de gênio. O partido que sempre governa pros ricos (o DemoTucanato, que não pode ser entendido senão como um partido só) encontrou uma forma de aumentar ainda mais o apartheid social. Com esses preços o pobre via ter que decidir se vai de transporte público (sic) ou se volta, porque os dois tá difícil!

A inflação do ano passado foi de 5,83% e apenas no SEGUNDO aumento do ano do ônibus o absurdo foi de 11%, basicamente o DOBRO. Se contarmos o primeiro aumento de 2010, de 17%, só podemos ficar abismados com um aumento de quase CINCO vezes a inflação.

Junto a isso, mais um aumento do metrô. Agora de 2,56 pagaremos absurdos 2,90! Pegar um ônibus e um metrô ou trem (ida e volta) custará ao trabalhador 11,80, praticamente o valor de um almoço! Se contarmos cerca de 22 dias úteis por mês, o trabalhador gastará perto de 260 reais apenas para se locomover.

E para quem vier falar da tal integração ônibus/metrô, lembro que o trânsito e as distâncias muitas vezes inviabilizam para muitos esse "arrego" do governo.

E, apesar de tudo isto, ninguém fala nada. 3, 4 mil estudantes vão às ruas, a população até se mostra simpática... Mas os índices de aprovação do Kassab continuam altos. Os do Alckmin na mesma. Eles continuam a se eleger, o DemoTucanato continua forte - e agora Kassab vai pro PSB, tem apoio do PCdoB... E o povo? Na merda - literalmente!

Agora o Paulistano e o Paulista que precisa vir à São Paulo, se for pobre, poderá se beneficiar de uma boa caminhada de algumas horas, no meio de um delicioso ar poluído, porque o transporte público é para quem pode pagar, não é um direito.
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