quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Quando Obama lava as mãos...

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...a CIA também lava?

O último discurso de Obama, ontem, trouxe novidades frente ao discurso anterior, mas ambos, em geral, foram fracos, óbvios e demonstram apenas o caráter dos EUA, o de um Estado apenas interessado em defender seus interesses e não o de efetivamente garantir democracia ao mundo.

Obama, no primeiro discurso, claramente buscava ainda manter Mubarak no poder, pedindo por uma saída pacífica do conflito e para o ditador que aceitasse realizar reformas amplas no governo e na forma de governar.

Este pedido foi aceito, ainda que a população pouco tenha se importando. Ditadores, aliás, parecem ser completamente tapados quando se trata de agradar à população. Mubarak nomeou para importante cargo (vice-presidência) o chefe do temido serviço secreto local - a Mukhabarat - Omar Suleiman. Não pode realmente esperar uma boa recepção por parte do povo. Se por um lado os militares são respeitados no Oriente Médio em geral, o mesmo não pode se dizer de chefes de centros de tortura.

Porém, com a recusa da população em se sentir satisfeita com as "reformas" - demissão de todo gabinete e promessa de mudanças políticas -, Obama mudou o discurso. E, novamente, conseguiu ser escutado por Mubarak. Este se comprometeu a não buscar a reeleição nas eleições de Setembro. Claro, isto pode perfeitamente significar que seu filho - odiado pelos egípcios, Gamal - concorra em sue lugar e, com todo aparato estatal nas mãos uma  fraude gigantesca não parece irreal.

O povo claramente quer a deposição de Mubarak e o fim do poder de seu partido, quer uma equipe ou governo de transição que organize eleições livres. Os EUA e Mubarak querem a perpetuação do regime.

Mas Obama não é besta - pode ser um péssimo presidente, mas burro não é -, e por mais que defenda pessoalmente a manutenção do status quo, buscou parecer um estadista que se importa com a população egípcia e com a democracia, por mais que todo o mundo saiba (se não sabia antes o WikiLeaks acabou com a ignorância) que o interesse dos EUA é sempre a de ter ditaduras amigas prontas a aceitar suas ordens sempre.

O discurso de Obama, de mais ou menos 5 minutos, serviu para informar que os EUA conversam com Mubarak e que o convenceram a deixar o cargo em setembro. Mas nenhuma palavra sobre o blecaute informacional, sobre os mortos na repressão (mais de 100), sobre a violência da polícia e de policiais à paisana saqueando a cidade e muito menos sobre a ditadura em si.

Parece aos EUA que Mubarak se trata de um presidente democraticamente eleito que passa apenas por problemas, e não um ditador há 30 anos no poder - com a eterna conivência dos EUA.

Dizer para a "transição começar", mas ainda sob o regime de Mubarak e seu partido é o mesmo que nada, que pedir para que fraudes aconteçam e o sucessor escolhido pelo ditador vença. Ou melhor, que os EUA vençam.

Os EUA jamais consideram "ditadura" aquele país que lhe é aliado. Não vêem problema em Mubarak ou no já deposto Ben Ali, mas não tolera Bashar Assad ou Ahmadinejad (que até as eleições passadas era o presidente democraticamente eleito). Qual o problema com a ditadura na Arábia Saudita ou na Jordânia? Afinal, são amigas!

Enfim, o discurso do Obama foi mais do mesmo. Mostrou-se "preocupado" com a situação, pediu respeito aos direitos humanos... E mais alguns blablablas.

Típico discurso Yankee tirando o seu da reta, fingindo que nunca apoiou o regime e pagando de defensor dos fracos e oprimidos. O pior? Tem gente que acredita.

E, pra terminar, esqueçamos o discurso de Obama, o que a CIA está fazendo? Quem irá matar, quem irá depor, quem irá colocar no poder?

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