A Ministra da Cultura falar em inclusão, ao mesmo tempo em que louva a indústria cultural (ela não consegue superar a indústria), é o mesmo que o Azeredo falar em liberdade. Simplesmente não combina.
Sua idéia de inclusão é a mesma que as grandes gravadoras tem: Vamos patrocinar shows do Luan Santana achando que é cultura ou da Ivete Sangalo... Ou melhor, vamos dar milhões pra um blog da Maria Bethânia e achar que, agora sim, a "cultura" irá se espalhar pelo país.
Não estou dizendo que os dois primeiros
Com o Vale Cultura, idéia inicialmente boa, a ministra deve esperar que quem ganha Bolsa Família compre um CD - no máximo, ainda faltando um pouco pra "inteirar", dois - da EMI ou da Sony todo mês. Não há qualquer iniciativa para fomento de cultura popular, de cultura genuinamente local, apenas incentivo aos que já tem dinheiro suficiente e capacidade para captá-lo sem necessidade de incentivo fiscal algum.
Privilegia-se eternamente a indústria e seus protegidos. A indústria que muitas vezes fabrica o artista e ao mesmo tempo o anula, impondo contratos que limitam a mínima capacidade criativa (dos que chegam a ter alguma).
Para Ana de Hollanda, incentivar cultura é dar ainda mais espaço pra artista que está todo domingo no Faustão. É vender ingresso de blockbuster, é financiar a indústria cultural, achando que isto significa incentivar a cultura. E está errada.
Curioso o papo da "inclusão" quando os Pontos de Cultura são ameaçados e tem de brigar ferozmente para receber o que lhes é devido. Difícil entender o que, em época de PNBL, se entende por cultura excluindo a Cultura Digital da jogada.
O MinC defende descaradamente a indústria, é contra o compartilhamento e se alinha com os EUA na busca por um endurecimento do direito autoral. Veja, aliás, o que diz um "amigo" da Ministra:
Eles [defensores do Creative Commons] nem sempre concordam com o que pregamos. E você está falando em democratizar a cultura, isso não está entre os nossos interesses. Realmente não é a minha seara.---
Sobre Creative Commons, aliás, recomendo este post. Vale também retomar o post sobre o caráter (ou a falta) da ministra, que se vale de capangas e jogo sujo para se manter no poder e destruir nossa cultura.
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Ana de Hollanda pensa unicamente em termos de consumo, consumo de bens. O Vale Cultura exigirá que o beneficiário tenha carteira assinada, logo, impedirá muitos brasileiros de terem acesso à cultura... E que cultura? CD's de grandes gravadoras, shows financiados com dinheiro público ou através da Lei Rouanet (que no fim também é dinheiro público através de isenção de impostos) de quem não precisa (os mesmos que vendem CD's pela indústria) e por aí vai...
Mas cultura popular, cultura digital, nem uma palavra. Ou melhor, o silêncio aparente esconde ações nos bastidores para destruir as conquistas alcançadas.
A ideia de promover cultura através do Vale-Cultura, com esse MinC, é a de dar dinheiro para cinemas caríssimos e muito acima do preço justo (sem explicar, com o preço absurdo das passagens do transporte público em diversas cidades, como as pessoas chegariam ao cinema, sem falar na ampla maioria das cidades que nem cinema tem!), é dar dinheiro para comprar CD's a 40 ou 50 reais da indústria predatória...
Mas o MinC promover cultura de graça, cinemas populares, artistas novos e alternativos que produzem a baixíssimo custo, cultura digital e etc...? Nem pensar!
O Ministério da Cultura representa a indústria. E apenas a indústria. O povo é apenas um detalhe.