segunda-feira, 18 de abril de 2011

Belo Monte: "Mas são só 200 índios!"

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Argumento recorrente dos defensores de Belo Monte é a de que "só 200 índios" seriam afetados pela obra.

Esquecem de contar os ribeirinhos, os efeitos na cidade de Altamira e, claro, pouco se importam com os cemitérios indígenas que seriam atingidos.

Eles completam acusando os opositores do projeto de pregarem uma "ditadura da minoria", algo que me lembra bastante a bancada evangélica quando fala sobre o PLC 122 que condena a homofobia.

Sempre que conversamos com os pró-Belo Monte, o argumento é de que todo o processo é democrático.

Oras, quando pergunto se a opção de Belo Monte não existir está em discussão, desconversam. Voltam ao papo da "ditadura da minoria".

Mas, oras, democracia pressupõe todas as opções concorrendo em igualdade, ou não? Se eu defendo A eu devo ter o mesmo direito que B em defender minha tese, em discutí-la. Mas na democracia de alguns petistas amantes do governo, a opção de construir é a única que existe. No máximo - e olhe lá - falam em compensações ou ajustes no projeto.

Que me desculpem, mas isto NÃO é democracia.

Faço paralelo com o caso basco, que tanto escrevo e estudo. A Espanha se diz uma democracia, diz debater todas as questões com os Bascos (nem vou entrar no caso das ilegalizações, tortura e prisões políticas), mas quando perguntada se aceitaria um plebiscito ou mesmo discutir a opção da independência, o tempo fecha.

JAMAIS! É impensável discutir a separação de território espanhol!

É ou não é uma bela democracia? As opções são apenas aquelas que um dos lados dá ou quer dar, mesmo que de má vontade. Aos bascos - e aos opositores de Belo Monte - resta aceitar um jogo em que já entram derrotados.

E notem que, em um possível plebiscito, quem votaria seria os habitantes da região e não de todo o país. Os atingidos e os interessados.

Quem decide seu futuro é quem tem relação com o caso. O mesmo vale para Belo Monte. Porque não uma votação entre quem será afetado diretamente? População ribeirinha, de Altamira, indígenas.... Mas não, os termos da democracia só valem se forem as do Estado opressor.

O engraçado sobre Belo Monte é que o projeto original foi duramente combatido por esta mesma esquerda (ou pseudo) que hoje aplaude de forma entusiasmada o projeto. Tanto os soldadinhos disciplinados quanto os mais ou menos aplaudem e comemoram.

O projeto, para quem não sabe, é da Ditadura. Isto mesmo, da Ditadura.

E foi duramente combatido - e derrotado - pelos indígenas da região e, acho que muitos vão lembrar, com imensa propaganda internacional através do Sting e do Cacique Raoni. Alguns podem até rir hoje, mas a pressão funcionou.

A esquerda barrou o projeto da Ditadura, mas a própria esquerda (sic) o retomou. Afinal, são só 200 índios e precisamos crescer a qualquer custo. Desenvolvimento é só um detalhe.

Isto me lembra outros momentos interessantes. Como já comentei, me lembra da Bancada Evangélica e criminosos drelacionados dizendo que direito pra gay não serve porque são minoria, é ditadura gay, ditadura da minoria...

Vai ver é o raciocínio do Kassab quando quer "limpar" o centro: Afinal, são só uns 10 mil mendigos e São Paulo tem milhões de pessoas. Porque não jogá-los pros extremos da Zona Leste, escondê-los...?

Eu até pensei em outro exemplo, mas Godwin não me permitiria ir adiante. Mas pra bom entendedor - e pros judeus...

Me lembrei, aliás, de mais uma justificativa dos pró-Belo Monte: A idéia de que o governo foi eleito, logo, suas decisões são automaticamente justas e democráticas. Errado. O fato do governo ter sido eleito não torna suas ações legítimas ou justas, nem vale então falar em democráticas.

Se assim fosse deveríamos todos aplaudir as privatizações do governo FHC.

Pois é, isto é Belo Monte. Você tem o direito de aceitar calado e receber miçangas em troca. Matamos índios ha 500 anos, destruímos sua cultura e seu modo de vida há 500 anos, porque parar agora?
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