terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Agressão a skatistas na Praça Roosevelt e a convivência impossível

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Atualização 09/01: Vídeo mostra o começo da agressão por parte do GCM a paisana Luciano Medeiros, o mata leão irresponsável e desnecessário dado em William e o spray de pimenta jogado na cara dos skatistas completamente de graça. Se alguém tinha dúvida de que a ação foi criminosa, este vídeo comprova.
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Este texto foi escrito em duas partes, em dois momentos diferentes. Na primeira parte um desabafo sobre a situação da praça, na segunda, comentários baseados em conversas que tive com skatistas e moradores da praça em busca de entendimento.
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Artigo meu um pouco diferente deste foi publicado também pelo SpressoSP.
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Fotografei uma ação da GCM na Praça Roosevelt dia 4 de janeiro que, de longe, parecia apenas algo corriqueiro.

Já virou lugar comum as brigas envolvendo grupos de skatistas em que a GCM intervém - em um caso pelo menos um GCM acabou sendo agredido por frequentadores -, desrespeito de frequentadores que emporcalham a praça e vão embora.... Está difícil conviver na praça.

É barulho de skate o dia inteiro, sem uma pausa. Mesmo no horário em que deveriam se retirar, 23h, alguns se recusam, tentam escapar da GCM e continuam madrugada adentro fazendo barulho.

Felizmente são raros os que fazem isso, mas existem.

Há a idéia de se  reservar a parte lateral da praça que desemboca na Consolação para a prática do skate e proibir no resto. Eu concordo. E a Confederação Brasileira de Skate também. Mas daí até a prefeitura se mexer...

É impossível frequentar a praça durante o dia, especialmente aos sábados. O perigo real é de ser atingido por skates desgovernados. E não é como se isso fosse raro, não é. Me recordo da última vez em que atravessei a praça, o perigo de desviar dos skatistas que não estão nem aí se tem alguém a pé passando e um skate atingindo duas senhores do meu lado que cometeram o crime de estarem sentadas numa mureta.


Quando a praça estava ainda para ser reformada eu me lembro de conversar com uma das arquitetas responsáveis pelo projeto e avisá-la da necessidade de um espaço específico para skatistas, até porque eles tinham direito à praça e eram os que, naquele momento, ocupavam o espaço degradado mantendo-o relativamente seguro. Fui ignorado e o resultado está aí. Ocupação total da praça sem espaço para mais ninguém.

Claro que os skatistas não são apenas problema ou o problema. Há os que respeitam, os que não ficam passando por cima dos bancos de madeira e os quebrando - outro problema daqui - e que não andam de skate, por exemplo, quando milhares de pessoas estão ocupando o espaço. A Confederação Brasileira de Skate, aliás, está ciente dos problemas e preocupada com a situação.


Mas, como já disse antes, os skatistas não são o único problema. Mas, no fim, a grande questão resume-se ao batido "convivência". Não existe isso na praça. Cada grupo que consegue ocupá-la se acha no direito de fazê-lo ao ponto de impedir outras ocupações. E falta o poder público presente, ação da prefeitura que não aparece no local. Apenas GCM, essa suposta polícia, não serve ou faz nada além de acirrar ânimos.

Mas, sejamos honestos, surpreende que tenha dado merda na praça? Quase toda semana chegam viaturas da GCM para acabar com alguma festa com som alto na praça depois da meia noite. Quase todo dia são várias reclamações ao Psiu, GCM, PM e etc de moradores que não conseguem dormir porque o Parlapatões não fecha, porque estão fazendo festa na Praça, porque tem dezenas de bêbados gritando, tocando instrumento na praça, porque tem gente transando no parquinho ao lado da igreja...

Notem que o problema, como já disse, nem é maior com os skatistas, mas toda a situação de estresse acaba por não discriminar alvos na hora da raiva justa de muitos moradores com a situação. Não estou justificando atitudes radicais, apenas deixando clara a situação.

Não há o menor respeito e a menor convivência entre NENHUM grupo. Há, claro, moradores intolerantes que acham que skatista tem mais é que se foder e não usar um milímetro da praça, que acham que são todos bandidos, que acham que tem mesmo que dar porrada, que tem que cercar/fechar a praça...

Não há, de nenhum dos lados, diálogo e respeito, ao menos até o momento.

E o episódio mostrado no vídeo abaixo, de violência gratuita por parte da GCM na praça é um exemplo do ponto a que chegamos. Eu até diria que pode ser vingança pela pressão que tem tido a GCM na praça para controlar os frequentadores e depois do episódio de um GCM agredido, mas obviamente não justifica.

Nada justifica violência. E nada justifica essa ação criminosa e agressão gratuita.

Cheguei a ouvir por aqui que o rapaz preso estava assaltando - algo que também está sendo comum por aqui, assaltantes com bikes ou skates naquele lado da praça - e que skatistas tomaram as dores - como frequentadores tomaram as dores e agrediram um GCM que apartava uma briga entre skatistas ano passado.

O fato é que não era nada disso. O rapaz, negro, foi agredido por um GCM à paisana sem qualquer justificativa. O nome do guarda é Luciano Medeiros, que já se envolveu em outro caso de agressão no ano passado e continua nas ruas. O próprio rapaz agredido, William, reconheceu que estava andando com seu skate pelos bancos da praça e que um GCM lhe havia chamado a atenção. Porém, um amigo dele teria ofendido a GCM que partiu pra cima da pessoa errada.

De qualquer forma, nem agressão verbal justificaria as ações que foram vistas no vídeo.

De quebra, o rapaz denunciou ter sido agredido dentro da viatura com socos no estômago e teve uma corrente que usava roubada por um GCM.

Aliás, o GCM responsável foi suspenso e outros envolvidos também, o que é bom. É bom, mas nem de longe resolve a situação.

Repito, a ação da GCM é imperdoável e indefensável, criminosa. Jogar spray de pimenta na cara de quem estava gravando uma ação policial e de quem estava no entorno é digno de bandidos que merecem ser punidos.

Mas é preciso compreender também como estão se desenvolvendo as coisas aqui na Praça.

Dizer que a GCM é bandida e ponto não resolve. Não discordo da frase, diga-se de passagem, sou contra a mera existência de uma guarda patrimonial que, pior, anda armada, mas no caso específico da praça vem sendo um processo de constante provocação. Uma área imensa onde poucos GCM tem que patrulhar e tem poder limitado de ação. Já cansei de ver skatistas provocando a GCM, xingando mesmo quando não estão fazendo nada.

Justifica agressão? Não. Mas explica como pessoas despreparadas vestindo uniformes reagirão na primeira oportunidade. E oportunidades não faltam.

O fato é que tem muito morador querendo sair da Praça, não aguentam mais o desrespeito, o barulho a madrugada inteira - não inteiramente culpa dos skatistas, claro -, a falta de diálogo das partes interessadas, a falta de ação da prefeitura (que vale para a anterior, claro, a atual mal assumiu, mas precisará fazer alguma coisa)....

Há exageros dos dois lados. De um frequentadores madrugada adentro fazendo barulho insuportável e impedindo milhares de pessoas de dormir até moradores que além de ovos, querem jogar pedras e garrafas para poder dormir.

De quebra ainda aparecem engraçadinhos dizendo que o morador está errado. Oras, azar o seu se você não pode vir sujar a praça deixando garrafas de madrugada, berrando bêbado a noite toda, deixando camisinhas no parque infantil e depois voltar pra sua casa tranquila e silenciosa e dormir o quanto quiser pensando em como são babacas os que reclamam do barulho....

Outros recomendam: Coloque janela anti-ruído.

Claro, vamos fingir que eu tenha o dinheiro para isso - é caro - e também para o ar condicionado que terei de colocar na casa, da conta de energia... E do absurdo que é precisar isolar minha casa para que outros possam continuar sua algazarra madrugada adentro e todo o dia. Sem dúvida, quem sugere essa canalhice deve ser dono de empresa que faz o serviço, pois terá milhares de clientes de um dia para o outro!

Enfim, falta diálogo, respeito, convivência e eu cada vez menos tenho esperança de uma solução decente.

Para mais fotos da ação criminosa da GCM, vejam no Flickr.

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Este post (acima) escrevi logo que tomei conhecimento do vídeo da agressão. Horas depois, porém, desci para a praça e fui conversar com a mídia e com skatistas. Uma grata surpresa. Acabei sendo entrevistado pelo G1 e pela TV Cultura e pude não apenas conversar e compreender o lado dos skatistas, como também procurar que a mídia presente apresentasse ambos os lados e ponderasse.

Conversei longamente com Paulo Puntel, advogado da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) e com Saulo Godoi, skatista das antigas e com outros skatistas e, apesar de continaur a achar que temos muitos problemas a serem resolvidos, há esperança de resolvê-los. Uma boa quantidade de skatistas experientes e a CBSK tem total intenção de cooperar com a Ação Local para delimitar e sinalizar área para a prática do esporte. Eles compreendem os problemas dos moradores.

Aliás, foi interessante ver que, frente à nossa reclamação de que o barulho é imenso, alguns skatistas disseram não saber que era tão ruim, não sabiam do transtorno que causavam e ao invés de, como alguns esperariam, ligar o foda-se, se mostraram genuinamente preocupados e dispostos a colaborar.

Foi possível até que o Paulo e o Saulo conversassem com membros da Ação Local, alguns até radicalmente contra o skate, e chegar a um denominador comum e encontrar as bases para um diálogo que pode resolver uma parte considerável de nossos problemas.

Surgiu a ideia de um skate plaza, de espaços culturais.... Foi uma tarde bem produtiva. Foi possível até fazer com que skatistas e membros da Ação Local conversassem e se entendessem!

O nosso maior problema aqui é a falta de diálogo, mas encontramos agora com quem dialogar, e bases comuns. Os moradores moderados, que acham que skatista tem sim direito a ocupar o espaço, mas com regras, finalmente econtraram apoio em skatistas que compreendem nossos problemas.

De fato não é possível ocupar a praça toda, é preciso um espaço delimitado, para que acidentes não ocorram, com horário e etc.

Aliás, fiz questão de prestar solidariedade ao William, agredido pela GCM, que também entendeu a reclamação dos moradores contra os skatistas e se mostrou pronto a colaborar. Muitos skatistas são de fora do bairro e mesmo de São Paulo, sem nenhuma sinalização ou regras claras é esperar demais que alguém ache que está fazendo algo errado em ocupar um espaço imenso e virtualmente livre.

Não há nada melhor que o diálogo, que o entendimento.

Como tirada humorística e irônica, quando estava me despedindo dos skatistas e agradecendo pelo papo, fui atingido na perna por um skate desgovernado e, claro, eles brincaram que o único morador que tinha ido conversar com eles e buscado o diálogo ia, depois da porrada, mudar de idéia e falar mal deles!=)

Acidentes acontecem e, no fim, o que estamos buscando é exatamente evitá-los, através da conversa e da convivência. A praça é de todos, mas todos precisam respeitar regras e outros grupos.

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Em tempo, escrevi ao menos duas vezes sobre o uso indiscriminado de chamadas armas "não letais", dentre elas o famigerado spray de pimenta que pode matar por sufocamento. Aproveitando o novo governo Haddad que, diz, será próximo aos movimentos sociais, faço a campanha:
Pelo fim do uso de spray de pimenta contra manifestações públicas na cidade de São Paulo. 
Porque é um direito humano e cidadão a livre manifestação e organização sem riscos à integridade física
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