domingo, 5 de outubro de 2014

Esquerda no Brasil: Junho morreu na praia?

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"Por que a onda de 2013 vai morrer na praia? Entre outros motivos, porque as redes e organizações ditas horizontais que chamaram os protestos do ano passado não produzem lideranças. A democracia representativa depende de líderes, o poder não admite vácuo. Os manifestantes não se organizaram para preenchê-lo, mas os profissionais sim. É a volta dos que nunca foram embora.

Por essa contradição mal-resolvida, pela aridez econômica e climática, 2015 deve ser ano de mais nuvens lacrimogêneas. Melhor estocar água e vinagre."

Infelizmente faz sentido. Aliás, eu lembro de ter conversado longamente com muita gente sobre isso. O problema em si não está na horizontalidade (o Podemos mostrou que é possível manter a horizontalidade e criar lideranças e esperança), mas sim na falta de líderes e na insistência de alguns grupos de repudiar a política (eleitoral) como um todo.

Ao invés de "Só a luta muda a vida", o "vote nulo". O primeiro lema agrega a luta nas ruas, mas não esquece que até algo mudar teremos de também preencher espaços no parlamento. É triste ver que algumas pequenas lideranças surgidas das ruas encham a boca pra falar que políticos são todos iguais e pregando voto nulo. Oras, isso é o mesmo que dizer que não há diferença entre votar num Bolsonaro ou num Jean Wyllys.

É despolitizante.

É óbvio que o voto nulo em si não é despolitizante, há casos em que é a única alternativa, mas o voto nulo e ponto, como solução enquanto negação da política eleitoral e partidária é despolitizante, pois negamos um direito, reduzimos tudo ao zero, igualamos desiguais e nos recusamos a nos comprometer e a ter esperanças.

No fim, nos descolamos da sociedade adotando uma posição pseudo-vanguardista e iluminada e nos fechamos em casulos.

Na Espanha a esquerda soube se juntar e criar uma força política que agregou boa parte dos movimentos nas ruas, e no Brasil? Ainda não fomos capazes.

Não significa que junho tenha "morrido na praia" - ainda -, significa, neste momento, que a esquerda ainda não foi capaz de passar por cima de diferenças e buscar uma politização conjunta agregando ruas e urnas.

Ainda há muito o que nadar.
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