domingo, 26 de dezembro de 2010

Chantagem ou Exercício Democrático?

Pin It
Imagine que você faça parte de um grupo que, por alguma razão - não vem ao caso - é considerado inimigo do Estado, logo, ilegal. Você acaba preso por se associar a este grupo, mas é fiel aos seus ideais - mesmo que tenha críticas aos métodos empregados pelo grupo, por exemplo - e aos seus companheiros e sabe que, no fim das contas, apesar das críticas a história do grupo merece ser respeitada e lembrada.

Feita a introdução, agora pense que, preso, o Estado te oferece um "acordo". Você pode ter uma redução de pena, regalias e até mesmo ser transferido para uma prisão mais próxima da sua família.

Nesta pequena alegoria sem nenhuma relação com a realidade (ok, talvez tenha), você e seus companheiros, ao serem presos, são colocados em cadeias muito distantes das suas famílias, numa prática conhecida como "dispersão de presos".

Quem sabe como parte do acordo você até receba o status de preso político? Difícil, mas....

Mas, para conseguir estes benefícios você deve fazer algo muito simples: Trair seu grupo e seus companheiros.

Você deve basicamente renunciar ao grupo e denunciá-lo, usando as mesmas palavras e a mesma interpretação do Estado e, de quebra, ainda talvez tenha que denunciar uma ou outra atividade, esconderijo, companheiros....

Nada demais, não é?

O que você faz? Se recusa, enfrenta as consequências junto aos seus companheiros, mas mantém intacta sua honra e se respeito pelo grupo ou simplesmente adota a posição egoísta e trai todo o movimento para ganhar regalias e benefícios?

-----

Toda a introdução acima serve apenas para ilustrar a mais recente oferta por parte do governo espanhol aos presos políticos bascos - acusados de ligação com a ETA, mesmo que com escassas provas na franca maioria dos casos. Muitos dos presos são ligados à EPPK (Euskal Preso Politikoen Kolektiboa ou Coletivo de Presos Políticos Bascos).

A oferta é simples: Entregue seus companheiros, renuncie ao grupo, condene o grupo e você receberá benefícios. Seja egoísta, traia a todos e seja beneficiado pelo Estado.
El portavoz parlamentario del PSE, José Antonio Pastor, ha asegurado que el comunicado de los presos de ETA acusando al Gobierno de ofrecerles beneficios penitenciarios por desmarcarse de la banda demuestra que la apuesta política de Batasuna no llegado a "calar" entre los reclusos de la banda. Además, ha insistido en que esta política "no se trata de ningún chantaje, sino de un simple ejercicio democrático".
En declaraciones a 'RNE', Pastor ha recordado que "cuando alguien se inserta en la vida democrática tiene que aceptar las reglas de la democracia". Por ello, considera que si los presos de ETA creen que esa actitud "escrupulosamente democrática" supone un chantaje, significa que "no tienen ni mucho menos interiorizado que se ha acabado su tiempo y que la violencia de ETA no tiene ningún sentido".
Por esta razón el dirigente socialista opina que el documento de los presos "dice muy poco a favor" de que la apuesta de la izquierda abertzale ilegalizada "haya llegado a calar de verdad en el colectivo de presos". A su vez, la portavoz del Gobierno vasco, Idoia Mendia, ha restado valor a la carta de los presos por considerar que no hay novedad en ella. No obstante, sí que ha reconocido, en declaraciones a ETB, que el colectivo "tendrá que tener su papel en todo este debate que dentro de la izquierda abertzale se está montando".
A ETA declarou uma trégua já ha algum tempo, e passou a apoiar as iniciativas pela paz e pela normalização da situação no País Basco. Concordaram com os princípios do documento Zutik Euskal Herria e, mesmo assim, continuam a ser perseguidos, presos... Tanto membros da ETA quanto pessoas do seu entorno.

Ao governo espanhol - em especial PP e PSOE - interessa manter Euskal Herria em eterno Estado Policial, com medo, cercado. A ETA interessa ao Estado, mas jamais seu fim ou a trégua. Não surpreende que todas as provocações possíveis sejam feitas para testar a paciência do grupo.

Líderes de movimentos juvenis nacionalistas -  como o Segi - são presos acusados de ser parte da ETA, o líder do Batasuna, Arnado Otegi, e toda a direção do grupo são presos - mesmo inocentes - para evitar que coloquem em marcha acelerada o processo de discussão interna entre o movimento nacionalista e a ETA em torno do ideal de uma via pacífica para a resolução do conflito basco...

O Batasna permanece ilegalizado e o Estado ameaça qualquer nova formação que tenha ligação direta ou indireta com seus membros...

É o mais completo e perfeito Estado Terrorista usando todas as suas armas - legais ou ilegais - para tentar manter viva a ETA, para tentar fazê-la responder com igual violência os ataques do Estado. Este é o legitimador do próprio Estado. O inimigo perigoso a ser destruído.

Claro que isto não quer dizer, como talvez pensem alguns fanáticos por teorias da conspiração, que a ETA tenha qualquer tipo de ligação com o Estado ou seja apenas bucha de canhão, mas tão apenas que a contínua violência, hoje, serve aos propósitos do Estado mais do que aos propósitos de independência.

------