Longe de querer me colocar como grande especialista mas, ainda assim, dou meus pitacos como quem acompanha atentamente a situação e é formado (quase) em Relações Internacionais.
Se é fato que uma significativa parcela da população – em especial a mais pobre e mais beneficiada pelo governo Zelaya – e os movimentos sociais apóiam Zelaya e estão diariamente protestando – e morrendo – pela restauração da democracia, por outro é visível o apoio ao golpe por parte dos setores sociais mais abastados da sociedade Hondurenha, além do judiciário, da franca maioria dos partidos, do congresso em sua maioria e do exército.
Enfim, é uma verdadeira sinuca, um golpe que, apesar de totalmente ilegal, conta com amplo apóio e respaldo de diversos setores-chave de Honduras e o repúdio de outro, a parte da institucionalidade e marginalizado pelo Estado.
Temos, por fim, o lado que defende a democracia, o respeito à constituição e leis de Honduras, o povo, os movimentos sociais e, ainda, todos os demais países do mundo, a ONU, a OEA, a ALBA e etc.
Do outro temos a oligarquia Hondurenha, parte da elite, a maioria do Parlamento e Partidos políticos, além do exército. Mas nenhum apóio internacional.
Nesta questão em particular, as organizações internacionais e demais países podem apenas fazer pressão e esperar que funcione. É isso ou uma intervenção militar e imagino que ninguém esteja disposto a tanto, ao menos não agora.
A volta do Zelaya, como querem os movimentos sociais, povo e todo o mundo encontra a dificuldade suprema de não contar com o apóio da institucionalidade Hondurenha. Como governaria o Zelaya sem o apoio de nenhum partido, do exército ou da justiça?
Indo além, com a volta do Zelaya ao poder, o que fazer com os setores que apoiaram sua derrubada? Não é crível que ficariam no poder, em seus cargos e etc sem qualquer tipo de retaliação, sem punição.
Mas como punir os golpistas se até o judiciário apóia o golpe? Quem julgaria? Como se julgaria?
Os golpistas deram a opção - ou ainda estão analisando a possibilidade - de Zelaya retornar ao país, mas sem qualquer poder, como se anistiado. Esta possibilidade foi frontalmente rechaçada por Zelaya que não aceita voltar como criminoso, mesmo que anistiado.
Para Zelaya só existe a opção de regressar no poder e completar seu mandato. Opção esta que não existe para os golpistas.
Tentando resolver o impasse Micheletti surgiu com outra proposta, a de antecipar as eleições mas, daí, surge um novo problema, quem concorreria? Os mesmos partidos envolvidos no golpe? Os mesmos candidatos golpistas e tudo isso sob os olhos atentos da justiça que até agora tenta dar um ar de legalidade ao Golpe de Estado?
Enfim, vê-se quão complicada é a situação. Não temos - ao menos não de forma visível - setores da justiça, política e forças armadas críticos ao golpe, que poderiam servir de sustentação à uma possível volta de Zelaya e da normalidade constitucional. O que vemos é uma luta entre os "de baixo" e os "de cima", sendo que os primeiros não contam com qualquer apoio de nenhuma força ou setor político, judiciário ou militar.
Neste cenário calamitoso é compreensível o porque do afastamento de Obama ou Lula da situação, talvez chegasse num ponto em que só a intervenção militar seria viável para resgatar o poder tomado pelo golpe e nenhum dos dois países parece ter o interesse em fazê-lo apoiá-lo ou ao menos aventar a possibilidade. Os EUA já tem problemas demais no Afeganistão e o Brasil no Haiti para se aventurar a reconstruir uma Honduras do nada, depondo e destruindo basicamente toda a estrutura que existe hoje.
Como conclusão podemos apenas esperar para ver o que vai acontecer, os cenários possíveis são múltiplos, desde o reconhecimento do golpe e do atual governo, por cansaço, passando por uma volta de Zelaya ao país sem poder algum
1. Por cansaço e inação internacional, o reconhecimento do golpe e do governo golpista como legais, abandono de Zelaya;
2. Por cansaço e inação internacional, o reconhecimento do golpe e do governo golpista como legais, mas com a volta de Zelaya ao país sem qualquer poder;
3. Antecipação das eleições com todas as forças golpistas concorrendo. Zelaya pode ou não voltar ao país;
4. Volta de Zelaya ao país no poder, manutenção da estrutura golpista e quase impossibilidade de governar;
5. Volta de Zelaya ao país no poder poder, verdadeira "limpa" ou expurgo dos golpistas, uma verdadeira reforma na estrutura do país;
6. Guerra civil;
7. Invasão do país por uma aliança internacional para recolocar Zelaya no poder;
Sem dúvida a opção "1" é a mais provável enquanto a "2" e a "3" despontam como favoritas. Uma volta de Zelaya ao país no poder é algo remoto, assim como qualquer intervenção militar séria dos países da América Latina para recolocá-lo no poder. Por fim, a guerra civil é, ainda, uma possibilidade assustadora mas não irreal.
O que se sabe no momento, porém, é que líderes comunitários, lideranças de movimentos sociais e políticos de esquerda estão sendo assassinados. O setor crítico ao golpe vem sendo atacado dia após dia, seja durante protestos com tiros e bombas, seja na calada da noite, enquanto dormem ou na frente de suas casas, por esquadrões da morte.
A direita está seletivamente matando qualquer oposição viável ao seu golpe, o que torna viável a idéia da guerra civil no país.
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Aparentemente a opção bélica e até a guerra civil estão ganhando força.
"Jose Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, deu um ultimato: se as negociações não o levarem de volta ao poder, ele disse que vai considerar outros meios para retornar à presidência em Tegucigalpa. A próxima rodada de negociações está marcada para sábado, na Costa Rica."
Qual será a fórmula de Zelaya para conseguir retomar o poder por "outros meios" é uma incógnita, podemos esperar pela ajuda externa de algum país, mercenários, guerrilha interna...
As possibilidades são múltiplas e o resultado, se a via armada for a certa, será um banho de sangue numa região extremamente fragilizada, conservadora e afeita aos golpes de Estado e violência extrema ao longo de sua história.
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O clima esquentou de vez a opção da Guerra Civil toma corpo e se fortalece. O El País noticia que Zelaya convocou uma insurreição!
"La insurrección es un derecho del pueblo que está consignado en el artículo 3 de la Constitución de Honduras, y los hondureños deben hacer valer sus derechos constitucionales"A declaração de Zelaya foi dada durante conferência de Imprensa na guatemala, na presença do presidente do país, Alvaro Colom, que o recebeu com honras de chefe de Estado
"No hay que dejar la lucha, hay que mantenerla hasta que los golpistas salgan del régimen de facto que han establecido en nuestro país"
"Yo no me he rendido ni me voy a rendir. Voy a regresar al país en el menor tiempo posible. No quiero avisar la hora ni el día para no alertar a las fuerzas opositoras, que sabemos que son criminales"
Enfim, vai se desenhando o cenário em Honduras, e um conflito armado, uma insurreição popular, desponta como principal opção de Zelaya para retornar ao poder.