sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Eleições DCE-USP, falência da Esquerda e o Fascismo

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O vídeo acima é da chapa "Reconquista USP" que concorre ao DCE da instituição e, ao que tudo indica, tem fortes chances de vencer.

Ouçam a música, vejam os chamados e tentem não enjoar.

Vejam os absurdos da chapa no Twitter e em seu site.

Dentre as propostas, coisas tão sérias e importantes para a comunidade Uspiana quanto a instalação de telões para que sejam assistidos os jogos do Brasil na copa de 2010 ou a odiosa defesa da presença ostensiva da PM no Campus universitário.

O ponto central da defesa da chapa passa pelas greves e manifestações na USP: São contra. Defendem a inação, a inércia ou a mera compactuação com a direção. Grevista é marginal e ponto final.

Não surpreende que os membros da chapa se declarem apartidários, mesmo tendo o apóio dos Tucanos da USP explícito e declarado.

Vejam que todo grupelho proto-fascista se vale dos mesmos argumentos de apartidarismo mas, no fim, costumam se alinhar ideologicamente com DemoTucanos e afins - quando não algo pior.

É batata, se alguém declarar que sua chapa é totalmente apartidária, observe bem as propostas e propagandas e logo qualquer um chegará à conclusão de que tal grupo é fascista e, obviamente, tem medo de se declarar abertamente.

Mas, e quanto às causas que levam tal grupo às portas da vitória?

Em um primeiro momento ficamos apavorados com a possibilidade de um grupo de forte viés fascista ter a real possibilidade de vencer em eleições que costumam ser levadas pela Esquerda - seja pelo forte apóio ou simplesmente pela falta de interesse da maior parte dos estudantes em votar -, mas em uma análise mais profunda vemos que, na verdade, o que existe na USP - e pelas universidades afora - é o sectarismo franco e aberto das alas à esquerda e um desânimo gritante da maior parte dos estudantes em sempre se verem num joguinho de chapas e partidos que nunca os levam à nada.

A chapa em questão, a "Reconquista", não vencerá porque os alunos acreditam em seu programa de extrema-direita ou em seus slogans. A possível vitória se deve, por outro lado, à falta de idéias novas do lado da esquerda.

Mas eu iria além, se deve não só pela falta de idéias, mas pela constante repetição de slogans pseudo-revolucionários por grupos que não conseguem agregar nem 500 pessoas e acreditam piamente que irão conseguir fazer a revolução e tomar o poder no Brasil.

Falta pé no chão e propostas que realmente digam algo para a USP. A falência das correntes de Esquerda e o consequênte desânimo dos estudantes são a força que precisa uma chapa fascista, mas que traz algo novo, por pior que este "novo" possa ser.

Não basta querer barrar esta chapa nociva para a USP, para o ambiente acadêmico e para o país, é preciso barrá-la com argumentos, unidade e propostas sérias e não a velha ladainha pseudo-revolucionária de que vamos resolver todos os problemas do mundo se votarmos na chapa do PCdoB ou na do PT.

Enquanto a Esquerda se degladia e mingua, a direita se fortalece e ameaça.

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Para mais informações sobre o assunto, vale a visita ao Blog do João Villaverde que trata da divisão das esquerdas na USP.
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Comentários
7 Comentários

7 comentários:

Hugo Albuquerque disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Albuquerque disse...

Perfeito, Tsavkko. Concordo em gênero, número e grau. Eu mesmo coloquei coisas bem parecidas nas reuniões do CC na PUC; parece que estamos vivendo aquele momento dos anos 70 quando os economistas progressistas - keynesianos ou socialistas - se estagnaram por terem se acomodado com o welfare state ou por terem sindo engolidos pelo pensamento tecno-burocrático da URSS. O resultado disso foi a ascenção dos "economistas" neoliberais iniciando o processo trágico que culminou no atual estado de coisas.

No Movimento Estudantil parece acontecer o mesmo. A questão chave é o dogmatismo de muitos dos grupos de esquerda, o que se manifesta em sua forma de agir assentada em uma teoria estratificada, acrítica e não-dialética. São, em sua maioria, grupos burocráticos que provocam um esvaziamento do significado e da luta da esquerda, o que provoca apatia e desinteresse. Em cima disso, surgem esses grupos.

Acredite, o grupelho que nós do Construção Coletiva derrotamos nas eleições para o 22 de Agosto não era muito diferente disso, só que em proporções menores. A esquerda não pode nunca jamais se escusar de sua responsabilidade histórica e social e, ao assumi-la, deve a conduzir a luta de forma crítica, dialogal e também lúdica. Sem isso, você acaba abrindo espaço para aberrações de toda natureza.

abraços

Raphael Tsavkko Garcia disse...

É o caminho que parece aberto, fragmentação em todas as esferas da esquerda. Não vem de hoje mas o quadro piora a cada dia... A direita vencer - ou mesmo ter chances disso - na USP é algo que seria inimaginável há poucos anos.

As razões são várias mas as principais são o esgotamento e o fracionamento das esquerdas. Falta de idéias e propostas que acabaram por cansar de vez os estudantes.

Hugo Albuquerque disse...

Sim, sim, parece uma conversa que eu tive ontem no nosso CA com um senhor que foi de uma gestão lá do início dos anos 80: Ele nos contou sobre as perseguições que eles sofriam, a repressão militar, as intimidações, a rivalidade com os DA's e tudo mais.

Curiosamente, estavam no 22 de Agosto naquele momento tanto alguns dos nossos quanto também um pessoalizinho da gestão atual - que acaba, felizmente, essa semana; mal sabia ele que pelo menos um terço de quem estava o ouvindo discordava de praticamente tudo o que ele dizia - mas obviamente não colocaria isso, afinal, é politicamente incorreto falar bem da Ditadura, apenas dois três escroques teriam coragem pra tanto, por mais que a Folha trabalhe na direção de acabar com esse tabu.

Em suma, há trinta anos atrás era impensável acontecer o que aconteceu no 22, não apenas durante esse ano como por um tempinho no início da década. Nós é que temos de reverter esse jogo - e não é fácil.

Gustpg disse...

Pq o pessoal da greve chama o pessoal da poli e da fea de fascista? não entendo isso.. pra mim, isso é discurso pra controle. Não criticando, mas já criticando, sinceramente, acho que falta vergonha na cara dos estudantes da usp.. cheios dessa pompa de engajados na política do país, mal sabem o que se passa e ficam pensando em teorias de 200 anos. Falam de Marx e socialismo, mas se algum, qualquer, intelectual político visse isso que acontece na USP, se enjoaria. Absurdo o fato de aparecerem urnas violadas no DCE, e adivinha quais, exatamente aquelas que favoreciam o reconquista. Repito o que falei para todos essa semana: não votei em nenhuma chapa, pq não me acho conhecedor da política do campus e muito menos das chapas, seria bom se o resto dos alunos tentassem conhecer melhor, ou simplesmente que não votassem. controle de massas, até na usp

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Se você ler meu blog mais À fundo, verá que critico abertamente certas posições da Esquerda radical. Acho boçal querer "mudar o mundo" fazendo a "revolução" na USP ou na PUC... É ridículo e inviável, mas da mesma forma um grupelho de caráter fascista não pode ser tolerado.

Da mesma forma acho burro acusar TODOS da Fea ou Poli de fascistas. Existem alguns? Claro, mas é ridículo chamar a todos.

Anônimo disse...

Cara acho muito bom o que vc escreveu. Mas, acho que não se deve desconsiderar do superconservadorismo da classe média paulista. Sou mineiro, moro no rio, e tenho amigos da periferia de são paulo. Não consigo entender como 80% dos eleitores dos bairros de classe média alta, como Pinheiros, votaram no Kassab contra a Marta e no Alckmin contra o Lula. Adoro estatisticas eleitorais. Na Penha 65% das pessoas no segundo turno votaram no ALckmin, percentual igual do Leblon. Nos jardins foi 83%. Impressionante, porque em BH, a classe média tende a ser bem mais de esquerda. Então me parece que uma chapa tucana-pefelista tem muito mais identidade com o aluno médio da USP que uma chapa de esquerda.

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