Não, não estou traumatizado e tampouco o coitado morreu na minha frente (não exatamente), mas alguns fatos me deixaram surpreso - e também me ajudaram a constatar simples fatos e provar teorias.
Antes de mais nada, um agradecimento especial ao nosso querido governador Zé Alagão pelo trabalho exímio da Polícia Militar do Estado de São Paulo que tanto neste caso quanto no do quase assassinato do dramaturgo Mário Bortolotto dentro do teatro Parlapatões (curiosamente eu havia chegado em casa pouco antes dos tiros serem disparados e cheguei a ouvir a comoção logo depois, mas só soube que eram tiros e confusão no dia seguinte) quanto no caso de hoje, de um mendigo assassinado com uma facada na barriga por outro, fatidicamente na frente do mesmo Parlapatões, na disputa por um prato de comida.
Não poderia também deixar de agradecer à outra importante figura, notório mentiroso, o prefeito Aquassab pelas constantes promessas de reformar a Praça Roosevelt, de derrubar o maldito pentágono em cima da mesma e de revitalizar a área mas que, na verdade, acabou fechando os albergues do centro transferindo a população de rua para a praça e também pela fantástica idéia de retirar a Cracolândia de seu lugar histórico e espalhá-la por todo o centro - mas deixando sua amada Nova Luz "livre". Agora eu vejo pessoas fumando crack da minha janela.
Mas vamos aos fatos.
Por volta das 15h do dia 4 de janeiro, com uma dor de cabeça absurda, ouvi os gritos de alguns indivíduos sentados na escadaria da praça exatamente em frente ao meu prédio: "Socorro, Polícia" e coisas do tipo.
Com a eficácia e competência de sempre, a polícia militar - que mantém uma inútil delegacia na esquina da praça e, depois do episódio nos Parlapatões, dois policiais de forma esporádica na praça em si - não fez nada.
Ao ouvir os gritos corri para a sacada do meu apartamento e vi um corpo no chão, sangrando profusamente enquanto, ao longe, vi dois policiais andando, caminhando despreocupados em direção ao corpo. Com a
Bem, era um mendigo, não surpreende o comportamento, o descaso.
Poucos minutos depois chegaram, com toda a demonstração de eficiência, pela contra-mão, cerca de 7 viaturas e 3 motos cheias de PM's que, em nenhum momento, buscaram encontrar o responsável pelo assassinato - outro mendigo, segundo me foi dito.
Uma verdadeira demonstração, uma encenação que combina perfeitamente com o ambiente cheio de teatros. Um teatro policial, um circo armado para fingir eficiência enquanto um homem se esvaia em sangue e o responsável escapava com tranqulidade, sem ser molestado.
Quando a PM notou que estava ridículo o circo de mais de 20 policiais para um corpo e nenhum culpado, pegaram desrespeitosamente o mendigo e colocaram o corpo no banco de trás de uma viatura e foram embora, deixando alguns soldados para fazer perguntas e fingir serviço.
Passados mais alguns minutos, como que para lavar a alma da Praça e para coroar o belo governo Aquassab, chegou uma chuva de granizo que lavou completamente o sangue da calçada e lavou a alma da PM ineficiente e ineficaz.
Ao longo do acontecimento me surpreendeu o descaso não só da PM mas também de muitos transeuntes que passavam, davam uma olhada e passavam como se não fosse nada, como se não fosse uma vida, um homem estendido no chão, não importa sua condição social.
Conversando com comerciantes da rua vê-se o medo de que a Praça volte a ser o que era ha 10-15 anos, um antro de marginais e vagabundos, perigosa, sem vida. Não podemos permitir que isto se repita e que a praça morra. Prefeitura e governo precisam investir em infra-estrutura e em segurança, não fechar os albergues nem criminalizar a população de rua seria um começo ideal!
E nós, moradores, comerciantes e simples frequentadores da praça precisamos continuar a aparecer, a povoar a região e não deixar que o medo tome conta e que o lugar fique vazio pois não há volta.
Enfim, minha intenção é ligar para a Ouvidoria da PM e relatar estes fatos, o descaso da PM e a situação de abandono da praça. Mas como confiar num órgão da PM para verificar a ação da própria?
E, mais além, fica o sonho de que a reforma da Praça realmente saia algum dia, que Aquassab tome ciência da notícia e que Zé Alagão comece a pensar que segurança não é só para os Jardins e Morumbi.
Mas é uma esperança vazia.
No meio tempo ficamos com medo, a violência bate em nossas portas.
Vídeos da ação (sic) da PM:
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Update:
Um mendigo parece não ser tão relevante para a mídia, o nosso querido PIG. Do fato apenas o Estado de São Paulo soltou uma pequena, minúscula nota sobre o ocorrido:
Homem é esfaqueado na Praça RooseveltE o Vermelho também noticiou o fato, com maior preocupação que a mídia tradicional.
Quarta, 05 de Janeiro de 2010, 00h00
Um morador de rua foi esfaqueado ontem à tarde na Praça Roosevelt, em frente ao Espaço dos Parlapatões, local onde o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado, há um mês. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o homem foi levado para a Santa Casa, mas não resistiu e morreu. O caso foi registrado no 4º DP (Consolação).
O post também foi repassado ao Fórum Centro vivo.
O Blog do Nassif também repercutiu a notícia.
Com um dia de atraso e só porque causou comoção e repercutiu, a Folha Online também noticiou o fato mas de forma tão precária quanto o Estado.
Se a info de que ele ainda estava vivo quando chegou na Santa Casa de Misericórdia proceder então a negligência da PM foi ainda maior, pois os dois PM's que chegaram primeiro não prestaram qualquer atendimento à vítima e em momento algum uma ambulância apareceu, muito pelo contrário, o mendigo foi levado como um saco de babatas vários minutos depois das viaturas terem chegado com estardalhaço.