sexta-feira, 16 de julho de 2010

Nós Decidimos!

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Sob o lema de "Nosaltres Decidim, Som Una Nació" (Nós decidimos, somos uma nação), um milhão e meio de pessoas se reuniam no Sábado, dia 10 de julho, no centro de Barcelona, para deixar claro à Espanha que querem a independência da Catalunha que, hoje, permanece como uma simples região.

Presentes na marcha originalmente organizada pelo órgão de promoção da língua catalã Omnium Cultural, grupos dos mais diversos, que vão desde os que exigem maior autonomia (como por exemplo os Socialistas do PSC, braço regional do PSOE do Premier espanhol) até a independência completa da região (desde os conservadores da CiU, passando pelos Social-Democratas do ERC de esquerda até os radicais das mais diversas formações como Endavant, CUP e ICV-Verdes).

No total, mais de 1400 organizações, entre partidos, sindicatos, associações culturais e coletivos participaram e convocaram a manifestação que foi a maior já realizada em toda a história catalã. Ausentes apenas o PP e partidos "españolistas" minoritários sem participação no Parlamento local.


Em meio à febre da copa, a manifestação, pese seu tamanho, foi praticamente ignorada pelos veículos de comunicação no Brasil. Apenas algumas notas esparsas em jornais online davam uma pequena mostra do que acontecia por lá.

Por se dar na véspera da grande final – ironia do destino, com a participação da própria Espanha – a Catalunha foi deixada de lado. Porém, a escolha do dia não poderia ser mais simbólica.

A seleção espanhola que entraria em campo no dia seguinte para se tornar campeã era um belo exemplo da diversidade de povos e nações que formam o Estado: Nada menos que 7 jogadores da seleção, praticamente a base titular, eram catalães (sem contar os 8 jogadores do Barcelona onde Iniesta e Villa eram os únicos não-catalães); Outros três jogadores eram bascos, um – e artilheiro do time, Villa – era Asturiano; Outros eram, canários, valencianos e, dentre os 23 jogadores convocados, apenas 9 eram efetivamente espanhóis.

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Sobre esta interessante característica da seleção "Espanhola" - a de não existir -, vale a leitura deste post.

Resumo: Dos 23 jogadores, 14 são de nacionalidades diferentes da espanhola, são minorias oprimidas, proibidas de defender suas próprias cores. Muitos destes jogadores, como Fábregas ou Llorente já jogaram pela Catalunya e pelo País Basco em amistosos não reconhecidos pela Fifa.
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Enfim, todo um circo midiático foi montado para esconder a insatisfação de Bascos e Catalães e para exacerbar o sentimento "espanhol". Notem como na TV apenas Madrid era mostrada. A seleção desfilou por Madrid, fez festa em Madrid... Se fossem para Bilbao, para Donostia - onde uma manifestação imensa sob o lema "Nazio Gara, Autodeterminazioa", fez coro à da catalunha , ou mesmo para Barcelona, os jogadores da "Roja" seriam ou ignorados ou, mais provavelmente, seriam recebidos à pedrada.

Claro, um pequeno grupo provavelmente os recepcionaria, mas duvido que este fato confortasse alguém. Um exemplo?

O excelente blog "Las Malas Lenguas" fez um post que merece ser lido, sobre o papelão que vários cargos eleitos do PP - que até hoje se nega a condenar o Franquismo, seu berço ideológico - fizeram ao posar com a bandeira espanhola em frente à estátua de Aguirre, o primeiro Lehendakari (Premier) do País Basco que morreu no exílio durante o regime de Franco e que lutou por um País Basco independente.
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Em português, outra boa fonte sobre o caso.
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Para compreender o quão importante é Aguirre, tentem pensar no que foi Churchill, de Gaulle ou FDR para seus países. É por aí. E, como um nacionalista, nad amais humilhante do que ter à sua volta fascistas com bandeiras do conquistador que até hoje tortura e mata o povo que ele amava.

O fato foi igualmente ignorado por boa parte da mídia - nem esperava que citassem nada no Brasil.
É a demonstração do caráter dos "españolistas". Em geral, a população Basca e Catalã ignorou a copa, ignorou a vitória da "seleção espanhola". Na Catalunha ao menos havia algum interesse nos jogadores locais ou do Barcelona, maioria do time titular, mas nenhum pela seleção em si, pelo que esta representava.

Coube aos fascistas em geral a comemoração absurda, o momento vergonha-alheia da copa, a tentativa torpe de aparecer na mídia comemorando como se fossem minimamente relevantes.

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