sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Intolerância, a outra doença infantil da esquerda brasileira [Update]

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Há cerca e um mês eu havia testemunhado um infeliz episódio de censura - na verdade, havia sido a vítima - quando tentei fazer uma postagem no blog do Esquerdopata e meu comentário não só foi censurado como ainda fui ofendido no Twitter pela figura.

A partir daquele momento tive certeza: O Fanatismo é a doença infantil da esquerda brasileira. A intolerância a opiniões divergentes e a idéia de que "sua" esquerda é a única e que qualquer discordância é se igualar à direita, é fazer o jogo da direita e etc (acusaram bastante o Plínio disto, aliás).

Fanatismo, sectarismo, intolerância, são todos conceitos similares quando se coloca a esquerda a prova, ou quem gosta de se dizer de esquerda.

Muitos petistas fanáticos e mesmo Dilmistas fanáticos deram e ainda dão aulas de intolerância nestas eleições. E o mesmo vale para muitos militantes do PSOL e PSTU que desfilam preconceitos e senso comum.

Donos de blogs censuram a seu bel prazer comentários que discordem de suas visões únicas e iluminadas.

Desta vez o exemplo de intolerância vem do Blog do Nassif e, também, de alguns de seus seguidores acríticos.

Tentei por duas vezes escrever um comentário em um post no Blog do Nassif em que este louvava a memória de Romeu Tuma, a primeira por volta das 13h do dia 27 e a segunda no início da noite do mesmo dia.

O post Minhas histórias com o delegado Tuma é, para dizer o mínimo, indigesto.

Na minha mente não cabe respeitar um assassino e torturador e chamá-lo de gentil e decente sem sequer citar os crimes que o canalha havia cometido. E não foram poucos!

Vivemos em um período onde a ignorância sobre quem foi Romeu Tuma é apenas reflexo da memória coletiva apagada por uma mídia que tenta esconder o passado da figura, assim como o seu próprio, de apoio à Ditadura. Ao esconder o passado dos criminosos da Ditadura, a mídia apenas esconde o seu próprio.

Pesquisei bastante pra saber quem era efetivamente o Tuma, não está aí do lado a resposta, infelizmente!

Então acredito ser intolerável que alguém que viveu esta época ao invés de clarear o passado acabe por fazer o mesmo jogo de esconde-esconde midiático. Especialmente quem se diz de esquerda e tem a OBRIGAÇÃO de fazer um contraponto honesto à grande mídia.

Um espaço amplamente acessado, com excelentes debates e com uma imensa comunidade ativa não me parecia naquele momento (e continua não parecendo) o ambiente para se louvar a memória de um capanga da Ditadura Militar, ao invés de se colocar os pingos nos i's, de se dizer a verdade sobre a figura que a mídia santificou quando da sua morte.

Que o trabalho de glorificar ou lembrar com carinho (argh) fique com a grande mídia, nossa função é mostrar o outro lado, ou melhor, a verdade. Desmistificar as mentiras midiáticas e não reforçá-las.

E, como o espaço para comentários era dado, fui questionar o tom do post dentro do mais puro espírito democrático.
O que é preciso para transformar em herói a um assassino e torturador? O que é preciso para que um criminoso se torne santo? O que é preciso para se apagar a memória?

Baste que a nefasta figura morra.

E que a mídia resolva tomar as dores e louvá-lo, pelo seu maravilhoso trabalho na eliminação da praga comunista do país, ou melhor, que convenientemente apaguem a verdadeira história do delegado que de um lado "encontrava" Mengele e do outro mandava matar militantes de esquerda e que controlava um dos piores carniceiros da ditadura, Fleury.

Romeu Tuma já foi tarde, mas infelizmente não pagou em vida por seus crimes. E são incontáveis.
O comentário acima deu origem ao post de ontem aqui no blog.

Não vejo, sinceramente, nada de mais no comentário, que apenas questiona a mania da mídia, de jornalistas e mesmo de quem se diz de esquerda de santificar aqueles que, em vida, foram nada menos que criminosos da pior espécie. A morte, aparentemente, lava os pecados.

Eu já havia questionado esta prática antes, a de esquecer do passado, da memória, na morte (ou quase morte) do responsável pelos piores crimes, em uma polêmica no blog Vi o Mundo onde, apesar de discordar do post, não fui censurado.

O pior é que o problema não aconteceu apenas comigo. A @nanamelon comentou sobre o texto do Nassif no Twitter, discordando obviamente do mesmo, e foi bombardeada por fãs fanáticos do Nassif e sendo até mesmo tratada como imbecil pelo jornalista, comprovando minha tese de doença infantil da esquerda brasileira.

Não se discute o mérito do texto e dos comentários, os argumentos, a idéia é partir logo pra violência, pros ataques e acusações.

Vejam alguns comentários da @nanamelon depois de começar a ser atacada:





E os comentários do Nassif, respondendo com ironia e, aparentemente, achando graça da situação:


Enfim, o que eu escrevi antes sobre o fanatismo permanece mais que atual:
Infelizmente, porém, alguns fanáticos se acham acima do bem e do mal, donos da verdade e descem ao nível de Reinaldos Azevedos da vida e censuram aquilo que lhes desagrada. Matam o debate e a troca de ideias e se assume na posição de intocáveis.[...]

Atitude esta que se assemelha mais à direita mais encarniçada do que a uma esquerda democrática.

Atitude vergonhosa e repudiável que dá apenas munição aos detratores da esquerda, que nos chamam de censuradores e de antidemocráticos. Infelizmente, de fato estes existem entre nós.
Basta trocar "fanatismo" por "intolerância" que encaixamos perfeitamente à nossa atual situação. Censurar é uma das atitudes mais deploráveis e criminosas que um democrata pode pode ter. Matar o debate, esconder a voz dissidente é atitude similar à da Ditadura, que impedia o contraditório, a discordância.

O sectarismo, o fanatismo e a intolerância continuam a ser marcas de uma parcela da esquerda que se diz democrática, tolerante e de vanguarda.

Lamentável que a censura seja prática corriqueira de parte da esquerda.

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Update:

E o Nassif respondeu. Admitiu ter censurado e, de uma vez só, reconheceu que não tolera opiniões divergentes. E notem a contradição, ele não quer repetir a direita que fala mal dos "nossos" mortos, mas copia a mesma direita ao censurar, a agir de forma atnti-democrática.

Deve-se respeitar o torturador e assassino, porque a direita desrespeita os mortos de esquerda.

Só fico com uma dúvida, falar a VERDADE sobre o Tuma, que ele era um assassino e torturador é o problema? Ninguém está difamando a figura, sua história e a memória coletiva - que a mídia tenta apagar e mesmo blogueiros de esquerda tentam - são suficientes.
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