sábado, 12 de novembro de 2011

Uma tentativa de análise sobre a elite preconceituosa brasileira

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A elite brasileira é racista, preconceituosa, higienista... Disso todos sabemos. Mas impressiona o orgulho que ela tem de declarar suas posições em toda e qualquer situação.

A Gente Diferenciada

Um dos episódios mais marcantes dos últimos tempos foi o Protesto da Gente Diferenciada, em que socialites, moradores ricos de Higienópolis e, porque não, amplos setores da mídia, saíram em defesa do franco higienismo ao se posicionar contra uma estação do metrô que, sendo claro, traria pobres para a região.

As empregadas domésticas das madames não tem direito à transporte de qualidade ou a chegarem com mais facilidade no trabalho. Tampouco os garçons e garçonetes que servem a elite nos restaurantes da região. Os alunos riquinhos da FAAP não precisam de metrô, afinal, tem suas Ferraris sempre prontas. E as madames seus carros com motorista que elas, provavelmente, acham serem grandes amigos depois de aprenderem o nome e trocarem uma ou outra palavra.

Rico tem esta mania de tentar de todas as maneiras manter os pobres longe, mas, quando não há jeito - afinal precisam de serviçais -, tentam fingir amizade com os "de baixo", perguntando com interesse fingido sobre a família e dando uma gorjeta aqui e ali, uma roupa velha aqui e ali e, claro, mantendo sempre total distância fora do ambiente de convivência forçada.

A empregada pode entrar no quarto da patroa para arrumar a cama, mas que nem sonhe em usar o elevador social!

Reinaldo Azevedo, Sérgio Malbergier e tantos outros que, seja no episódio de Higienópolis, seja em outros momentos (me recordo do Leandro Narloch e seu ódio patológico por nordestinos, estes inferiores, e pobres em geral que tem o direito de votar - que deveria ser exclusivo das elites "pensantes"), demonstram o alinhamento quase automático entre mídia e elites, onde a mídia age sempre à serviço dos interesses do andar de cima e reproduzindo seu pensamento elitista.

O elitismo "sutil"

Este elitismo se mostra das formas mais simples. Desde revistas que exclusivamente vendem produtos com preços inacessíveis para a maior parte da população (mesmo se dizendo populares ou sendo campeãs de venda), até o preconceito descarado nos jornais, com apresentadores chamando garis de escória ou defendendo de forma entusiasmada remoções e ações repressivas de todo tipo.

Quando sentem que pegaram pesado, logo correm para "corrigir o erro", mas apenas de forma cosmética.

A elite sabe que é poderosa, mas é bom fazer com que o povo engula suas ofensas de boa vontade e não se revolte. É uma política de doutrinamento que vem funcionando há 500 anos.



Devagar e com "carinho", a mídia empurra estereótipos e força idéias retrógradas contra movimentos sociais, contra protestos organizados contra o status quo e, claro, tenta neutralizar escolas e universidades, forçando currículos que buscam minimizar o debate e a opinião, ensinado para o mercado (como se isto não fosse contradição em termos), promovendo a necessidade de estágios, de profissionalização e esvaziando a academia em si, a continuidade educacional.

O paradigma da educação e a criminalização

Os baixos salários dos professores, o desprezo pela escola pública e a repressão em demais momentos são demonstrações inequívocas da idéia que a elite tem de "educação".

Para as elites, escola privada onde os pais podem ter maior ou menor controle sobre o currículo, onde os filhos aprendem a fina arte do bullyng e da intimidação e, claro, se preparam para o mercado, para controlar a empresa do papai ou, para os menos sortudos, aprendem a ter um trabalho "digno" para sustentar as engrenagens do mercado/sociedade.

Para os mais pobres, a escola pública. Onde apenas alguns raros se sobressaem e o grosso é tratado como lixo. Recebem educação suficiente para conseguirem realizar tarefas subalternas e só.

Na universidade pública (e naquelas privadas de tradição), os jovens, de elite ou não, aprendem a se rebelar, tem contato com outras idéias e descobrem que podem pensar.

É o momento crítico para a elite que tentou de todas as formas moldar o caráter da juventude e prepará-la para uma vida regrada: À base de cocaína, violência, direção embriagada, mas conservadora (ainda que isto soe estranho frente ao resto) e pronta para maximizar lucros.

Uma elite que aplaude que se brutalize estudantes na USP porque fumavam maconha, mas acham absurdo serem parados em seus carros de luxo, quando bêbados, em uma blitz!

Neutralização da universidade

Agora a elite aparentemente aprendeu que deve neutralizar de forma aind mais radical a universidade, a rebeldia juvenil. Não é mais bonitinho que o filho passe quatro anos experimentando a vida fora da redoma - mesmo que depois destes 4 anos volte como um cordeiro para as asas da família rica.

Já os pobres, que antes se contentavam com o segundo grau, motivo de orgulho e possibilidade até de um cargo inferior no serviço público ou algo além do salário mínimo no fim do mês, receberam a oportunidade de chegar à universidade.

Desta forma conseguem entrar me universidades que não chegam aos pés das tradicionais, feitas para o lucro e não para o ensino, que servem apenas para que as engrenagens do capitalismo continuem rodando, mas de forma mais azeitada.

Liga das Senhoras Católicas reloaded

Mas voltando, esta neutralização da universidade se expressa de forma inequívoca no vídeo da Folha gravado com um seleto grupo de socialites da elite paulistana. A festa fica completa aos 2:50: 




Ao ver o vídeo temos a real noção do que pensa a elite brasileira, representada aqui por madames paulistanas riquíssimas, cercadasde fotógrafos e, claro, de ao menos uma serviçal que, para elas, transita entre o invisível e a "amizade" já relatada no começo do post.

Estas dignas senhoras não tiveram problema em se apresentar como elite pensante, mais que econômica, e desfilar uma quantidade absurda de preconceitos em menos de 5 minutos de vídeo. Sequer é possível pensar no resultado de toda a reunião e em suas principais conclusões e políticas futuras.

É tenebroso.

O ressurgimento tosco da Liga das Senhoras Católicas, personificada hoje por mulheres entupidas de botox - tanto que deve ter vazado para o cérebro - com excesso de tempo livre e pouco ou nenhum conteúdo na cabeça, mas com o mesmo discurso conservador e descolado da realidade que as de antigamente.
Os soldados da extrema direita

A elite, assim como os seus soldados, como neonazis de extrema direita, parlamentares que beiram o caricato, mas impõem real perigo à sociedade (Bolsonaro e cia), tem uma agenda clara e uma tropa de choque pronta.

Me recordo do que escrevi quando do protesto dos neonazistas na Avenida Paulista, em abril, permanece assustadoramente atual:
Não estamos falando de um movimento ou de uma onda que surgiu agora, com Bolsonaro, mas do reflexo das eleições, em que José Serra se aliou com forças conservadoras da/e ligadas à Igreja Católica (como a TFP), atraindo outros grupos de caráter fascista para sua campanha, abrindo espaço para uma campanha baseada no ódio, no preconceito, no racismo e na homofobia. Marina Silva, a neopentecostal, foi a outra ponta de lança que, mesmo com discurso carregado de preconceito e medievalismo, conseguiu atrair parcela da classe média way of life, vazia, sem ideologia, que adotou o ecologismo - sem sequer saber do que se trata - como bandeira.

Juntos, estes dois candidatos consequiram quase metade dos votos, e também deram espaço e voz aos grupos mais conservadores da sociedade. Junte isto a uma mídia oligárquica, controlada por pouquíssimas famílias (ou por igrejas evangélicas, o que é ainda pior), com interesses próximos, senão os mesmos, que fez o possível para espalhar as mensagens de ódio o mais longe que podiam.

Assim que a eleição terminou, supostamente derrotados, os grupos oligárquicos voltaram a se mexer.

A Folha de São Paulo, o grupo de mídia mais sujo do país, em conjunto com a eternamente golpista Rede Globo, logo de cara passou a abrir espaço para que a extrema-direita manifestasse todo seu ódio contra nordestinos, pobres e afins. Não bastou a Ditabranda ou a Ficha Falsa da Dilma, Otavinho queria sangue.

Hoje, somos forçados a aguentar o mesmo discurso fascista da mídia, com um governo que nada faz para mudar a situação e com uma esquerda extremamente dividida. Enquanto isso, a direita se organiza, os neopentecostais desfilam o máximo de preconceito, racismo e homofobia que podem, e Bolsonaros ganham fama.

É hora de abrir o olho! Estamos diante do que pode ser o começo da reorganização da direita e da extrema-direita no país. Enquanto o PT caminha para o Centro e flerta com parte da direita (PSD, PP, PR, cia), a esquerda fica perdida, se batendo, sem ação.
Vemos que a elite não escolhe aliados, ou melhor, soldados. Estes estão lá, prontos para serem usados. Que melhor maneira de neutralizar a juventude e mesmo a contestação de classe do que imbecilizando e criando uma nação de neopentecostais acéfalos e acríticos?

Para os que não são cooptados facilmente, o que poderia ser melhor que a violência insensata de grupos de extremíssima-direita, com espaço garantido nas páginas dos grandes jornais e nas editoras?

Conclusão

E, nada disso dando certo, há sempre a PM pronta a invadir universidades, pronta a matar nos guetos e favelas para deixar claro quem manda. 

E porque não, o que poderia ser mais perfeito que uma mídia com viés claramente elitista e, de quebra, financiado pelo governo que parte da elite ama, parte odeia? É difícil encontrar u mgrande empresário que não morra de amores pelo governo Dila, e mesmo pelo governo Lula. Nunca tiveram lucros tão grandes.

Oras, um governo que azeitou a máquina capitalista, garantiu uma mão de obra mais ou menos especializada para os próximos anos e, ao mesmo tempo, manteve e ampliou os lucros dos bancos e dos empresários?

O temor inicial de reforma agrária, de dignidade e distribuição de renda aliada à inserção real, educação de qualidade e universal se mostrou equivocado.

Basta ler nos jornais a opinião dos brasileiros. A opinião de uma elite branca e cristã repetida por papagaios em geral que adoram sangue, adoram violência.

Criador e criaturas se reproduzindo.
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