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quinta-feira, 24 de maio de 2012

O rapaz pobre, "estuprador", e o jornalismo de esgoto, branco e rico.


Escrevi recentemente um artigo para o Global Voices sobre o rapaz Paulo Sérgio, negro e pobre, humilhado em um programa da Bandeirantes da Bahia por uma jornalista branca e obviamente privilegiada, mas acredito que eu precise expressar minha opinião de forma ainda mais clara. E o faço a seguir.

No vídeo, Paulo Sérgio chora, se desespera, enquanto é chamado de estuprador - o que ele nega - mas, no fim, pouco importa. O desrespeito da repórter - e do programa, da Bandeirantes e da falta de regulação da mídia que o governo nega à sociedade - não é só ao rapaz, mas também à suposta vítima de estupro, pois se tivesse efetivamente sido estuprada estaria vendo o crime ser tratado como galhofa na TV.

Mesmo que um ladrão - e confesso, mesmo que sem julgamento - Paulo Sérgio não merecia ser tratado da forma que foi. aos criminosos a lei, a prisão, e não a humilhação pública sob a tese de que estaria "pagando" pelo que fez. Ser humilahdo e ter a vida destruída em público não é "pagamento", é tortura.

A jornalista, branca, bonita, com educação (em tese), não faz ideia, por exemplo, de onde vem Paulo Sérgio, do que passou. Não que isto, em si, desculpe atos criminosos, mas ao menos nos permite compreender parte do problema. E a própria jornalista não é a única culpada, mas sim um produto do jornalismo brasileiro atual, com felizes ecxeções, que busca apenas o entretenimento e que é capaz de transformar até o estupro (suposto) em uma forma de fazer rir.

Processo

O ministério Público da Bahia irá processar a jornalista... Mas só ela? Ela é culpada, claro, mas não é a única. Não saiu só de sua cabeça a ideia de humilahr o rapaz, mas este é o mote do programa da qual faz parte, assim como de vários outros, e de sua rede de TV. Não partiu dela unicamente a iniciativa  de humilahr o rapaz, ou qualquer pessoa em situação semelhante, mas é a regra deste tipo de programa, incentivado por seus diretores e donos de TV.

Não faltam jornais que pingam sangue, com closes grotescos de vítimas - inocentes ou não - que tratam o ser humano como lixo sem respeito por sua dignidade e pelos direitos humanos. Na TV a mesma coisa.

Não adianta punir (apenas) a jornalista, reclamar do programa e dar um tapinha na cabeça da Band a título de "não façam mais isso, ok?". É preciso ir atrás da concessão da rede, realmente causar algum dano, ameaçar de forma que haja uma mudança. Da forma como tudo acontece hoje, a rede finge que reconehceu o erro e o repete na semana seguinte. E é isto mesmo que acontecerá, já que a Band ameaça demitir a jornalista, mas não comenta sobre o nojo que é seu programa e dificilente mudará alguma coisa.

E não podemos nos esquecer da conivência de agentes do Estado - policiais - e do governo da Bahia por permitir que um canal de TV entre da forma como fazem em delegacias para humilhar presos, que estão sob a tutela e responsabilidade do Estado.

Comédia versus jornalismo

Será que teremos no futuro repórteres fazendo paidas de desastreas aéreos? Já temos o CQC, cujos comediantes se auto-declaram "jornalistas", mas são repudiados por muitos dos verdadeiros trabalhadores de jornais, rádios e TV's, pois não exercem a profissão com ética e dignidade, mas transformando tudo nuam grande piada. E, infelizmente, os policialescos que pipocam pela TV fazem um serviço semelhante, mas adicionando a degradação social no hall da comédia.

Trata-se de um jornalismo feito pela elite e para as elites, para que estas possam rir da desgraça alheia, de onde não querem se aproximar. Estereotipam a periferia, aplaudem a violência contra o pobre, contra o negro, criminalizam as lutas e tem medo, pavor, de que haja uma reação capaz de subverter essa realidade. É o serviço oficial da elite para manter seus privilégios e manipular mesmo - ou especialmente - aqueles "do andar de baixo" para que aceitem sua posição. 

Oras, riam de sua desgraça e da de seus semelhantes. Mas façam isso em casa.

A Confecom aconteceu ha anos, o Ministério das Comunicações não se moveu desde então e a farra continua.

Manipulação é a regra

Um jornalismo emancipatório, crítico, faria com que houvesse ação, revolta, talvez até mudanças. Uma regulação da mídia, impondo a ética e punindo coisas grotescas como programas policalescos onde as vítimas são ridicularizadas tanto quanto os que as vitimam em um show de horrores em busca de ibope, apavora os donos do poder, que perderiam seu principal instrumento de doutrinamento e controle.

É interessante que na mesma semana em que surge este caso - apesar do vídeo não ser exatamente novo - tenhamos (com seus respectivos limites de comparação e tamanho, claro)por exemplo um jornalsita da Globo chamando de 'babaca" um jogador que se recusou a participar de um quadro do principal dominical da rede. Ao fazer 3 gols, Herrera, do botafogo, teria "direito" a pedir uma música no programa. E se recusou, dando a entender que achava uma tolice.

E é de fato uma tolice. Em seu direito de se recusar a participar involuntariamente de um programa de TV, Herrera despertou a ira daqueles que tomam o jornalismo (seja o policial, o esportivo ou qualquer outro) como simples entretenimento, até mesmo humor. Me recordo de quando um jogador de futebol americano ao fazer 3 touchdowns pediu uma musica de uma banda de metal extremo em outro programa da mesma Globo, mas editaram o vídeo fazendo aprecer que ele pedira o de uma cantora qualquer, porque o metal, talvez, fosse demais para os ouvidos do pobre telespectador e, afinal, a cantora era parte do cast era da gravadora da... Globo!

A manipulação é clara, a falta de ética mais clara ainda.

É um exemplo que parece não ter relação, mas mostra como é fácil e comum a manipulação da mídia, a falta de ética e como tudo fica impune, apesar do governo ter noção do que acontece. Mas nada faz.

Em São Paulo, estamos no meio de uma greve do Metrô e trens e em todos os jornais não ouvimos a voz ou não lemos a opinião de nenhum metroviário, apenas do governador e de seus imediatos. Não há espaço para as reividnicações dos trabalhadores, apenas para a criminalização da greve através de frases como "São paulo está um caos" e afins. Esta é a regra. A voz dos patrões frente o resto.

A mídia faz o que quer, como quer e nada a impede.

Não se trata, porém, apenas de regular a mídia, de impor limties éticos, mas de se investir em educação, em cultura. Há quem consuma este lixo, há uma retroalimentação. Esta que só pode mudar com cosncientização, com longo trabalho de ensinar direitos humanos, com educação de qualidade e emancipatória e a intenção de mudar a sociedade.
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sábado, 12 de novembro de 2011

Uma tentativa de análise sobre a elite preconceituosa brasileira

A elite brasileira é racista, preconceituosa, higienista... Disso todos sabemos. Mas impressiona o orgulho que ela tem de declarar suas posições em toda e qualquer situação.

A Gente Diferenciada

Um dos episódios mais marcantes dos últimos tempos foi o Protesto da Gente Diferenciada, em que socialites, moradores ricos de Higienópolis e, porque não, amplos setores da mídia, saíram em defesa do franco higienismo ao se posicionar contra uma estação do metrô que, sendo claro, traria pobres para a região.

As empregadas domésticas das madames não tem direito à transporte de qualidade ou a chegarem com mais facilidade no trabalho. Tampouco os garçons e garçonetes que servem a elite nos restaurantes da região. Os alunos riquinhos da FAAP não precisam de metrô, afinal, tem suas Ferraris sempre prontas. E as madames seus carros com motorista que elas, provavelmente, acham serem grandes amigos depois de aprenderem o nome e trocarem uma ou outra palavra.

Rico tem esta mania de tentar de todas as maneiras manter os pobres longe, mas, quando não há jeito - afinal precisam de serviçais -, tentam fingir amizade com os "de baixo", perguntando com interesse fingido sobre a família e dando uma gorjeta aqui e ali, uma roupa velha aqui e ali e, claro, mantendo sempre total distância fora do ambiente de convivência forçada.

A empregada pode entrar no quarto da patroa para arrumar a cama, mas que nem sonhe em usar o elevador social!

Reinaldo Azevedo, Sérgio Malbergier e tantos outros que, seja no episódio de Higienópolis, seja em outros momentos (me recordo do Leandro Narloch e seu ódio patológico por nordestinos, estes inferiores, e pobres em geral que tem o direito de votar - que deveria ser exclusivo das elites "pensantes"), demonstram o alinhamento quase automático entre mídia e elites, onde a mídia age sempre à serviço dos interesses do andar de cima e reproduzindo seu pensamento elitista.

O elitismo "sutil"

Este elitismo se mostra das formas mais simples. Desde revistas que exclusivamente vendem produtos com preços inacessíveis para a maior parte da população (mesmo se dizendo populares ou sendo campeãs de venda), até o preconceito descarado nos jornais, com apresentadores chamando garis de escória ou defendendo de forma entusiasmada remoções e ações repressivas de todo tipo.

Quando sentem que pegaram pesado, logo correm para "corrigir o erro", mas apenas de forma cosmética.

A elite sabe que é poderosa, mas é bom fazer com que o povo engula suas ofensas de boa vontade e não se revolte. É uma política de doutrinamento que vem funcionando há 500 anos.

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Relato do protesto/churrascão da #GenteDiferenciada (Fotos e Vídeos)


Cheguei por volta das 3 da tarde no Churrascão da Gente Diferenciada. Enquanto caminhava pela Maria Antônia até o local notei a quantidade imensa de carros em pleno sábado e logo imaginei "o protesto deve estar pegando fogo".

Organizado pela internet, o evento atraiu uma quantidade impressionante de pessoas para protestar pelo metrô e contra a elite preconceituosa de Higienópolis que, mesmo frente à tamanha mobilização, permaneceu firme e forte em seu preconceito.
Um mar de gente, de todos os tipos, cores, gêneros prontos para, com muito bom humor, protestar contra o racismo e o preconceito.

De longe avistava-se uma fumaça preta persistente em meio à quantidade surpreendente de pessoas - era a catraca de ônibus que havia sido queimada pelos presentes para protestar, também, contra o preço abusivo do ônibus e do metrô -, além da presença maciça de veículos de meios de comunicação, prontos a noticiar e, claro, falsear o número de presentes.

A PM informou serem 600 os manifestantes, a Folha teve a cara de pau de dizer 300. Mas eram (ou éramos) mais de mil. Seguramente mais de 3 mil ou até 5 mil passaram pelo protesto, comeram um churrasquinho, tomaram uma cerveja diferenciada e se divertiram e cantaram durante as mais de 5 horas de protesto.

Presença maciça de jornalistas e presença de um "jornalista" do humorístico favorito da elite racista brasileira (de onde saiu Danilo "eu não gosto de judeus" Gentilli e Rafinha "estupro mulher feia" Bastos) que foi prontamente vaiado e xingado pela maioria dos presentes, ainda na frente do Shopping Higienópolis. Será que as imagens e principalmente o áudio irão ao ar no programa, ou irão editar o possível para fingir que o "jornalista" foi bem recebido?

O churrasco propriamente dito teve início ainda na frente do Shopping, quando chegou a churrasqueira diferenciada, o carvão produzido com trabalho escravo de pobre, a picanha (filé miau disfarçado) e a linguiça (provavelmente de cachorro). Faltava o álcool para acender o fogo, mas os presentes logo trataram de gritar para quem nos olhava dos prédios em frente pedindo pelo Red Label e pelo Blue Label. Mas tivemos de nos contentar com cachaça mesmo.

Perguntado por um policial sobre quem liderava a manifestação, o tuiteiro Gerson Carneiro prontamente respondeu: "O povo".

E era verdade. Um churrasco autogestionário, autônomo, sem qualquer presença de políticos profissionais e/ou oportunistas ou mesmo bandeiras políticas. Um evento extremamente politizado, mas ao mesmo tempo livre de políticos. Um verdadeiro exemplo de que ainda resta esperança para São Paulo, de que o povo ainda pode e sabe se organizar, protestar e fazer uma bela festa de forma completamente autônoma e livre.

Apesar da ausência de políticos, FHC, Serra, Alckmin e Kassab foram lembrados com carinho.

Aceso o fogo, começamos a caminhada pela Av. Angélica até o cruzamento com a Rua Sergipe (local onde deveria ficar o metrô), com a churrasqueira sendo carregada por bravos diferenciados que, claro, cantavam todo o tempo músicas jamais ouvidas anteriormente no bairro pela elite racista local.

Uma curta caminhada na qual muitos moradores viravam a cara ou faziam caretas enquanto quem estava nos ônibus e nos pontos aplaudia, cantava e fotografava. Uma demonstração ímpar da luta de classes que tomou conta do bairro.


Já no cruzamento da Sergipe com Angélica, bem perto da casa de FHC (que foi homenageado diversas vezes pelo público presente, sempre pronto a mandá-lo pra algum lugar exótico ou querendo ajudá-lo ao pedir um metrô em seu quintal para facilitar sua locomoção), uma imensa concentração.

Chegaram logo mais 3 churrasqueiras, mais carne e muita cerveja e outras bebidas diferenciadas, enquanto o público cantava muito samba e pagode, para horror da elite pura da região.

O churrasco alimentou os presentes e vários mendigos e trabalhadores que passavam pela região. Logo arranjou-se um espaço para o truco no meio da rua e o samba rolava solto, cantado pelos milhares de diferenciados que lotaram o cruzamento. O churrasco, aliás, era abanado com capas de LP's do Ultraje e Beto Barbosa.

Senti falta do fiscal do ECAD pra nos cobrar por cantar Bandeira Branca, Trem das Onze e outras musicas livremente.

Não faltou o chuchu assado!

Logo, no pico de criatividade, subiram 3 varais de roupa, com calças, cuecas e mesmo lençóis que, no fim do protesto, foram doados aos sem-teto que circundavam o protesto.

Em um determinado momento, o Lino, da Falha de São Paulo foi conversar com um gari que simplesmente não entendia como e porque a elite local se recusava a aceitar o metrô. Ele não se beneficiaria diretamente pelo metrô, pois onde mora não tem esta facilidade, mas se limitava a dizer que o metrô era bom, como alguém podia ser contra?

Pois é, é incompreensível. Apenas para a elite racista faz algum sentido. Querem manter os pobres distantes, querem, como dizia um cartas deveras ácido, que suas empregadas andem a pé. Pobre tem mais é que se explodir.

O interessante é que esta elite até poderia se opor ao metrô com algum argumento válido. Poderiam dizer que o centro é uma região carente de bons mercados, e que retirar o Pão de Açucar da região (este seria demolido para a criação da estação) seria um prejuízo para todos, completando ainda com a preocupação pelo emprego dos que lá trabalham.

Mas não, a elite não consegue pensar nos outros, mas apenas em si. Não querem pobres, não querem "gente diferenciada" em sua região, em seu feudo.

Ponto negativo foi a cobertura da mídia, que diminuiu de forma vergonhosa a quantidade de presentes e mesmo a importância do evento, dizendo que poucos dos 50 mil que haviam confirmado presença no Facebook haviam comparecido. Bem, para esta mídia poderíamos apenas responder: Compare com o #ForaSarney, que atraiu não só a atenção de milhares de internautas facilmente manipuláveis e ainda com o massivo apoio da mídia golpista e mesmo assim não reuniu nem 50 pessoas em qualquer parte do Brasil.
Ao contrário de outros eventos que contaram com amplo apoio da mídia, em sua maioria preconceituosos ou golpistas, o churrascão da gente diferenciada foi um sucesso. Reuniu uma imensa quantidade de pessoas e prezou pela diversidade, com brancos e negros lado a lado, com héteros, gays e travestis cantando juntos, abraçados slogans contra a homofobia, contra Bolsonaro e pregando total respeito por todos.

Negativa ainda foi a recepção do protesto por muitos moradores do bairro, que viravam a cara ou ensaiavam protestos, mas eram intimidados pelo tamanho da oposição ali presente. Mas, felizmente, muitos moradores nos apoiaram e até participaram do protesto, mostrando que nem todos são os criminosos racistas que pensávamos antes.

A elite brasileira, racista, preconceituosa, não cansa de se mostrar, mas agora também é confrontada.

A festa foi bonita, foi plural, foi imensa, um sucesso. Não importa o que diga a mídia, o governo terá que nos ouvir.

Na sequência, alguns vídeos do protesto. Mais fotos podem ser encontradas no Flickr.



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domingo, 1 de maio de 2011

Alternância de Poder como instrumento de controle burguês

Trigésima quarta coluna  para o portal anticapitalista Diário Liberdade, "Defenderei a casa do meu pai".

Alternância de Poder como instrumento de controle burguês

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Alternância de poder é o nome bonito que a burguesia, a elite, usa para garantir que nenhum governo de Esquerda possa durar mais do que o tempo que esta elite permitir.


Alternância de poder é a forma pela qual a burguesia faz parecer que respeita a democracia, criada por ela, a mesmo tempo em que nada muda. De forma inteligente, transformam a alternância em algo ligado apenas à pessoa, ao indivíduo, mas jamais ao partido ou ao grupo político em si.


A idéia de alternância é corrompida por uma elite interessada em se perpetuar, e ao mesmo tempo, acaba demonstrando uma falha tradicional das esquerdas, que é a insistência em fabricar líderes personalistas e não uma variedade de quadros de renome.


A elite fabrica um número quase infinito de candidatos, investe quanto dinheiro tiver interesse neles e pode trocá-los de tempos em tempos, fazendo parecer que houve alguma alternância, quando, na verdade, mudou a figura teoricamente no poder, mas não a classe por trás, não os que se beneficiaram do governo e muito menos mudou o modelo, a estrutura.


A esquerda, por outro lado, tem a tradição de ter um nome forte, um Chávez, um Morales (até mesmo um Vargas para determinados grupos) que, ao buscarem se re-eleger - pois dificilmente fazem sucessores tão fortes quanto eles - são acusados pelas forças conservadoras de desrespeitar o princípio sagrado da alternância de poder, simplesmente porque seu modelo de governo não corresponde aos anseios da elite.

O fato de "democracia" significar, em termos eleitorais, que quem tem mais votos vence, sempre que o vencedor se opõe, mesmo que minimamente, aos interesses da elite, é tachado de ditador (ou ditatorial).
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Artigo completo no Diário Liberdade.
"Nire aitaren etxea
defendituko dut"
...
"Defenderei
a casa de meu pai"
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Apartheid do Futebol e a TV por Asssinatura

Enquanto eu assistia ao jogo Palmeiras e Santo André, pensando porque o Palmeiras não entrava em campo fiquei pensando no curioso fato do jogo ter sido transmitido para a Capital com a cidade de Santo André sendo considerada "interior" ou outra praça e comecei então a raciocinar sobre a razão da proibição de jogos "da praça" de serem transmitidos pela TV aberta - basicamente, pela Globo.

Até certo ponto é compreensível que a TV seja proibida de passar os jogos locais, sob pena de públicos pequenos ou irrisórios nos jogos. Quem irá ao estádio se pode assistir ao jogo no conforto da sua casa?

Claro que a resposta a esta pergunta, no Brasil, é lógica. Mas na verdade ela deveria ser reformulada: Quem irá a um estádio sem qualquer condição, desconfortável, sem qualquer atrativo além, enfrentando um trânsito caótico e a violência urbana se pode ficar em casa vendo o jogo pela TV?

Na Europa estamos acostumados a ver casas cheias, mas isto não tem qualquer relação com o fato dos jogos serem ou não transmitidos e sim pela estrutura e qualidade dos estádios (alguns contam até com shoppings, restaurantes, enfim, entretenimento para além do jogo, você pode chegar na hora do almoço e sair só depois da partida que terá tido uma tarde interessante), e também porque não enfrentam os perigos da violência urbana do Brasil.

No Brasil àquele que vai ao estádio o faz por paixão, amor ao clube ou, ainda, é um saudosista dos bons jogos de domingo à tarde. Ir a um estádio no Brasil é quase uma aventura. Levar a família é quase um ato de loucura, na europa os estádios são ambientes muito mais familiares ou, pelo menos, com maior estrutura para receber a todos.

Enfim, o que se vê é que para a maioria é realmente mais cômodo ficar em casa do que enfrentar um jogo ao vivo. Mas esbarramos na praça, na proibição da transmissão de jogos locais.

Chegamos ao segundo problema e, aqui, vemos um imenso preconceito contra o pobre e o favorecimento absurdo das classes mais altas, dos que podem pagar mais.

Os jogos de futebol da praça não passam somente na TV ABERTA! Mas, na fechada, por assinatura - que excetuando o famoso "NetCat" só pode ser tradicionalmente adquirida pelas classes mais altas - a transmissão é livre!

Então vejam o raciocínio, aos pobres resta ir aos estádios ou acompanhar o jogo pelo rádio, mas para quem pode pagar mais, a TV fechada (SporTV, da Globo), é a solução.

O que vemos é o máximo do preconceito contra o pobre, forçado a enfrentar todas as intempéries para assistir ao jogo de seu time do coração enquanto a Classe Mé(r)dia assiste confortavelmente ao jogo da sala de casa, sem precisar se misturar, se estressar...


Mas a coisa não para por aí, com a popularização da TV por assinatura e os preços mais atrativos, a classe "c" chegou lá e agora pode ter uma assinatura básica. O que fizeram então os donos dos direitos de transmissão e a elite no geral que, além de não se misturar nos estádios ainda se recusa a assistir os mesmos canais temendo se sujar? Criaram o Pay-Per-View (PPV).

A TV por assinatura em sí tem um caráter elitista, mas neste ponto não é possível criticá-la como um todo, pois muito de sua programação é voltada para nichos específicos, possui programação segmentada - impossível de se manter se os canais fossem abertos - e uma estrutura diferenciada. É tão ridículo manter inalcansável para a maior parte da população quanto é estúpido baixar o nível para adequar ao gosto dos que sofreram lavagem cerebral da TV Aberta. Todos perdem.

A popularização com a manutenção da qualidade deveria ser uma meta, mas na verdade a qualidade em muitos casos cai e a programação mais atraente, por outro lado, torna-se a mais inalcansável, mais cara, mais exclusiva.

Hoje a moda é do "exclusivo". Quem não sente vontade de vomitar quando assiste à centenas de propagandas de imóveis, roupas, carros e afins, todas anunciando que são de "alto padrão", "exclusivos", "diferenciados", compreendendo que isto significa apenas que não é para os pobres? É só para a pequena elite que pode se dar ao luxo de pagar ou, nos casos mais comuns, para a Classe Mé(r)dia que pode comprar e dividir em 500 meses no cartão de crédito para ostentar e mostrar aos amigos como é bem de vida.

Além de pagar pela TV por assinatura ainda temos que assinar um pacote além - costumeiramente caro - para ter acesso aos jogos. Os canais que antes passavam futebol agora passam um ou outro jogo perdido, preferindo deixar o melhor para quem pagar mais.

Quem conseguiu chegar até a TV paga não pode aproveitar de seus benefícios, pois é preciso pagar sempre mais para ter acesso à alguma programação de qualidade e, no caso do futebol, é preciso pagar quase uma nova assinatura. O pobre continua forçado a ir aos estádios ou ouvir pelo rádio enquanto a classe mais alta pode sentar na poltrona da sala, colocar o "uísque" no copo e torcer por seu time.

Tudo é minimamente programado, acertado e planejado para excluir o máximo possível, para legitimar o verdadeiro apartheid social que existe no Brasil.

Os "de baixo" não podem, em hipótese alguma, ter acesso ao que a elite tem, não pode haver mistura ou confusão. Isto é fato no caso do futebol, mas pode ser observado em quase todos os casos. As festas, eventos e acontecimentos tradicionalmente democráticos são cada vez mais esvaziados. O rico vai de camarote, vai de salas especiais, tem pacotes exclusivos, tem moradias exclusivas, longe da "pobretada" em geral, excluída, limitada e humilhada.
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Da criminalização à banalização dos protestos

Há algum tempo comentei sobre a criminalização em curso no país - e em especial no Rio Grande do Sul da criminosa Yeda - dos protestos organizados pelos movimentos sociais. Mantenho, tal criminalização é explicita, óbvia e incessante. Não há o que discutir ou negar.

Mas, para além disto, também é curioso notar o paradoxo do excesso de manifestações vazias e sem sentidos que acabam por banalizar este importante instrumento de pressão social e política ao mesmo tempo em que novas formas de protesto são tentadas dia após dia.

É realmente curioso - e lamentável - que protestos sérios e relevantes sejam criminalizados e esvaziados ao tempo em que futilidades mil ganhem projeção e o óbvio apóio da mídia, interessada em patrocinar o esvaziamento daquilo que não lhe convém.

A posição da população também é interessante, se existe uma greve, uma passeata, uma manifestação em que haja razão relevante para tal, então os "prejudicados" se levantam contra os manifestantes, chamam de baderneiros, dizem que seu direito (sic) de ir e vir fica prejudicado (em São Paulo isto é fácil de notar quando o trânsito para) e dão entrevistas à mídia do jeito que o PIG gosta, criticando, reclamando e prestando um desserviço à classe.

Por outro lado, se o protesto é algo tão útil (sic novamente) quanto um ForaSarney ou contra o governo por causa da fraude da Folha no caso do ENEM, então a população na hora passa a apoiar, esquece os transtornos no trânsito e etc.

Enfim, movimentos como o ForaSarney, por mais que tenham algum conteúdo político, não tem um pingo de ideologia. Aliás, num protesto do ForaSarney você encontra da Esquerda à membros da TFP, ou seja, algo está errado.

Já dei minhas razões para criticar os protestos, não pela idéia em si, mas pela inocência dos participantes, pelo método, pelas sub-celebridades tentando se promover e, especialmente, pelo resultado desastroso e risível e pela completa falta de ideologia por parte da franca maioria dos pré-adolescentes revoltados que sequer sabiam quem era Sarney até 6 meses atrás.

Estes, aliás, já devem ter voltado aos seus videogames e votarão em algum DemoTucano ano que vem.

Voltando ao tópico, a questão principal é a de que os protestos, a organização de manifestações, passeatas e afins vem se banalizando, ao mesmo tempo em que se esvaziam - de gente e de sentido.

Obviamente a mídia sabe escolher seu lado: Se é a burguesada cansada protestando, todo apóio, se são os movimentos sociais, então a solução é a bala de borracha (como são bonzinhos!), o gás e o cacetete.

Aliás, o apóio da mídia à tudo que se opõe ao movimento social, estudantil e sindical legítimo é claro e descarado, nos lembremos da capa de O Globo com o grupo dos "Nove", nada mais que uma dúzia de playboys e patitricinhas da Zona Sul do Rio fingindo que são Movimento Estudantil apartidário, quando claramente assumem a posição ditada pelo PIG e pelas elites - que fazem parte.

Por mais que suas críticas à UNE e Ubes procedam - ambas organizações estão falidas e são controladas pela ditadura baseada em fraudes e intimidações do PCdoB/UJS -, suas alianças e origem denunciam o porque e de onde vêm realmente as críticas, não dos estudantes organizados, mas de uma elite organizada.

Outros eventos ilustram bem esta situação.

De um lado os movimentos sociais, os estudantes e a sociedade protestando na USP e sendo espancada pela PM de Serra - sem qualquer provocação ou razão -, do outros os movimentos burgueses que pedem paz no Rio, fazendo espetáculos, colocando cruzes na areia e se manifestando como se isto fosse fazer alguma diferença na desigualdade galopante do país ou fosse sensibilizar algum político a parar de roubar e investir em educação, saúde, lazer... e não em "segurança", como costumam fazer.

No primeiro caso a mídia gritava pedindo sangue, chamando os estudantes pacíficos de baderneiros e no segundo a mídia achava lindo a burguesia da Zona Sul limpando a consciência e achando que fizeram um bem para o país.

Podemos enumerar ainda casos emblemáticos de lutas sociais da população que são criminalizados, como as invasões do MST e a perseguição constante, em todos os níveis, em todos os lugares, de seus militantes, ou a criminalização dos movimentos de moradia popular que ocupam prédios em São Paulo. Passeatas pró-Palestina, pró-Honduras ou mesmo de setores dos trabalhadores em greve são sempre vistos com reserva ou franco ódio pelos burgueses em seus carros, atrasados para o cabelereiro, para o cinema ou para assistir Malhação.

Para estas, a manifestação do povo é coisa de marginal e merecia a resposta rápida e "justa" da polícia. Já vi muita gente afirmar que manifestações e passeatas deveriam ser proibidas na cidade: - É ruim para o trânsito!

Disparete.

Por outro lado, todos (sic) aplaudem movimentos como o "Cansei", da elite cansada de pagar impostos...

Como se a elite pagasse seus impostos! Quando não sonegam pagam menos que qualquer trabalhador honesto, chão-de-fábrica.

Todos (sic) aplaudem o ForaSarney, afinal a mídia está lá para dar seu apóio e fazer loas aos 50 estudantes daquele colégio cuja mensalidade é 2 mil reais que detestam o Sarney.... mesmo que só o conheçam ha uns 2 ou 3 meses, afinal, nunca perderam tempo com política! Mas agora é hype ser "manifestante", e tudo convocado pelo celular da Hello Kitty!

Caso mais recente, os protestos (contra o que? contra quem?) destes mesmos estudantes tão interessados na política nacional em frente ao MEC (antiga sede) no Rio. Protestam contra a fraude do ENEM? Então porque protestam contra o governo e não contra a mesma Folha de São Paulo - que já os estampou em sua capa até - em cuja gráfica toda a crise começou?

Porque não protestam contra a dona da gráfica, a responsável pela fraude... a Folha? Não, não teriam visibilidade e virariam um "incômodo", não sairiam na MTV nem nos noticiários locais.

Enfim, o que vemos hoje é o protesto sem ideologia, o protesto motivado por razões estúpidas, ou mesmo sem razão alguma.

Filhinho de papai ouve na mesa do "brunch" que Lula é o capeta e então sai pra protestar, para exigir seus direitos!

Ao voltar para casa acusa o MST de baderna e acha que os sem-teto são uma raça suja que emporcalha a cidade. Mas voltam de mente tranquila, porque fizeram a diferença, protestaram contra a violência exigindo mais segurança, protestaram contra o Sarney porque a Globo incentivou e, finalmente, protestaram contra o MEC (?) porque a Folha fraudou as provas do ENEM.

E eles continuam achando que o Golpe em Honduras foi democrático (realmente não compreendo este raciocínio) e que pobre bom nasceu morto.
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