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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Em defesa de Peter Cenarrusa. In Memorian (1917-2013)

Pete Cenarussa. Crédito da foto: Glenn Oakley, 2009
Pete Cenarrusa morreu semana passada aos 95 anos. Para começar, é difícil falar em "defender" Pete de qualquer coisa. Ele era uma pessoa maravilhosa, alguém que muitos de nós admirávamos e respeitávamos. Seus pais eram imigrantes que cresceram em cidades bascas vizinhas, mas que se conheceram a milhares de quilômetros, no meio do estado americano de Idaho. A primeira língua de Pete era o basco, e ele continua a falá-la pelo resto da vida, algumas vezes jogando termos em inglês pelo caminho.

Pete estudou na Universidade de Idaho, onde ele participou do clube de boxe e se formou em agricultura e pecuária (aos 92 anos, ele blogou que seus cursos favoritos eram nutrição, química orgânica  e bacteriologia -"Eu recomendaria esses cursos a qualquer um no colégio"). Ele se juntou aos Marines em 1942 e se tornou um instrutor de aviação. Ele voou por 59 anos, mais de 15 mil horas de vôo sem nenhum acidente.

Pete foi eleito como Republicano para a Câmara dos Deputados (House of Representatives) de Idaho em 1950 e serviu por nove mandatos, incluindo três como porta-voz da Casa. Em 1967, quando o secretário de estado de Idaho faleceu, o governador o indicou para o cargo, que ele serviu até 2003. Ele não era um político do elenco central. Como disse seu amigo e sucessor em seu funeral, Pete não era um bom orador; mas diferente de muitos políticos, Pete sabia disso. Ainda assim, é difícil argumentar com o sucesso: Pete nunca perdeu uma eleição e permaneceu no cargo por 52 anos, o maior tempo no cargo de um servidor público na história de Idaho.

Então, o jornal espanhol ABC publicou um "obituário" escrito por Javier Rupérez, o ex-embaixador espanhol nos EUA. Rupérez chama Pete de "Basco separatista", um homem cheio de "obstinação cega" contra a Espanha "até o dia de sua morte". Foi uma peça escrita com veneno guardado desde um evento que aconteceu há mais de uma década, expelido apenas um par de dias depois de Pete morrer. Pete não pode levantar-se e se defender. É por isso que sentimos uma forte obrigação de fazê-lo em seu lugar.

Obituário escrito por Rupérez. A tradução encontra-se ao final do post.
E um pouco de contexto: Rupérez, o autor, foi sequestrado pelo grupo terrorista basco ETA em 1979. Ele foi mantido prisioneiro por um mês. Após ser solto, 26 prisioneiros bascos foram libertados da prisão, e o parlamento espanhol concordou em criar uma comissão especial para investigar as acusações de tortura contra prisioneiros bascos. Não podemos imaginar pelo que Rupérez passou, e gostaríamos que nunca tivesse acontecido. É um evento que certamente muda uma visão de mundo. Mas Pete não teve nenhuma relação com o horrível evento, e sabemos que ele o teria condenado. E é ai que Rupérez erra terrivelmente em relação a Pete e aos bascos em geral.

Perto do fim de sua carreira, Pete anunciou a introdução no legislativo Idaho de uma declaração que dirigiu uma série de críticas a eventos no País Basco e na Espanha. A declaração, oficialmente conhecida como um "memorial", pediu aos líderes dos Estados Unidos e da Espanha para realizar um processo de paz. Em 2002, Rupérez soube do memorial e imediatamente voou para Idaho, [ele] aertou o primeiro-ministro espanhol, o Departamento de Estado e a Casa Branca. De repente, uma declaração do legislador de um pequeno estado do Oeste americano explodiu e tornou-se notícia internacional.

À medida que se aproximava a data da votação do memorial, havia um monte de idas e vindas entre muitas partes que, de repente, se envolveram. Mas a reação de Pete foi perfeita, parafraseando-o: Desde quando os EUA decidem sua política externa baseada em governos estrangeiros? No final, o legislativo de Idaho aprovou por unanimidade o memorial. Ele descrevia a história dos bascos em Idaho, as primeiras ações do legislativo de Idaho em condenar a repressão da Ditadura de Franco, os esforços dos bascos em manter sua cultura e a condenação de todos "menos uma parcela marginalizada fração" de bascos da violência.

Perfeito ou não, foi uma declaração unânime de um governo democraticamente eleito. Mas [a decisão] parece ter assombrado Rupérez por todos esses anos. Mal completadas 72 horas da morte de Pete, Rupérez o condenou como "o inspirador e líder visível" de um esforço que fez vista grossa à violência, um esforço que um líder do Senado de Idaho mais tarde teria supostamente lhe dito que era o resultado de "extrema ignorância por parte de representantes locais" sobre assuntos espanhóis e da "vontade generalizada de agradar Cenarrusa em sua última iniciativa antes de se aposentar". Rupérez sugere que Pete não era típico da comunidade basca de Idaho, que havia outros que eram mais dignos de representá-la.

Nós não conhecemos Rupérez. Mas ele também não conhece os bascos, e certamente não conhece Pete. E penso que quem apunhala pelas costas um homem que acabou de morrer é [uma pessoa] muito pequena. Alguns de nós tivemos a honra de conhecer esta grande personalidade basco-americana. No entanto, nós queremos refletir sobre a significativa contribuição de Pete na preservação da identidade basca dentro e fora do País Basco (veja as reflexões de About the Basque Country e The Bieter Blog). Os quatro blogs que subscrevem a este post não poderiam se calar diante da difamação pública de Pete Cenarussa patrocinada por Rupérez. Encorajamos vocês a compartilhar livremente este post e o façam seu, o repostando em seus blogs, sites ou redes sociais.

Rupérez fecha seu texto com uma frase que ele diz ser de Mark Twain: "Nem todas as mortes são recebidas da mesma maneira". Talvez seja verdade. De qualquer forma, nós podemos garantir ao senhor Rupérez que a morte de Pete foi recebida com grande tristeza e com o respeito merecido por alguém que fez grandes coisas em sua vida. Gostaríamos de concluir com outra frase de Mark Twain que cabe como uma luva em pessoas como Javier Rupérez: "É melhor manter a boca fechada e deixar as pessoas pensarem que você é um idiota do que abri-la e remover todas as dúvidas".

Agur eta ohore [Adeus e honra], Pete

Assinado por:

A Basque in Boise (Inglês)
The Bieter Blog (Inglês)
The Angry Brazilian (Português)
8probintziak (Francês)
Nafar Herria (Castelhano)


Pete Cenarrusa (1917-2013)
Rancheiro de Idaho, Separatista basco

Falecido aos 96 anos, Cenarrusa, que havia assim encurtado o Zenarruzabeitia paterno, protagonizou a vida política e social do estado de Idaho durante quase seis décadas, sendo várias vezes eleito para o legislativo local e tendo desempenhado durante anos o posto de secretário de estado no rústico território. Seus pais haviam emigrado do País Basco aos EUA no princípio do século XX, como fizeram muitos de seus compatriotas naqueles tempos, em resposta à solicitação de pastores para conduzir/liderar a importante indústria pecuária do oeste americano.

Desde cedo, consciente de suas origens euskaldunes, procurou fomentar a memória individual e coletiva entre seus conterrâneos. Atividade que a partir da década de setenta adquiriu um marcante tom nacionalista. Não em vão, o PNV lhe outorgaria no ano 2000 o prêmio Sabino Arana na condição de "basco universal".

Foi em 2002 quando essas propensões nacionalistas tomaram forma na tentativa de fazer a câmara legislativa de Idaho adotar um "memorial" em que se ignorava a ação terrorista da ETA e exigia da Espanha e França uma disposição favorável para negociar "o fim do conflito" e se pedia a autodeterminação do povo basco. Cenarrusa era o inspirador e cabeça visível da tentativa, na qual contava com a colaboração do governo basco de Ibarretxe e a de ramificações do [partido ilegalizado] Batasuna, encarnados nos jornais Gara e Egunkaria, assíduos visitantes do território no qual eram recebidos com hospitalidade pelo legislador local e hoje prefeito de Boise, David Bieter.

O governo de José Maria Aznar alertou a Casa Branca de George W. Bush sobre a manobra, este que tentou fazer os legisladores de Idaho enxergarem a inconveniência de adotar textos que eram ofensivos a um país aliado e aliado como a Espanha. O porta-voz do Departamento de Estado deu por aqueles dias uma contundente declaração na qual, entre outras coisas, afirmava que "o povo espanhol sofre regularmente a violência exercida por uma organização terrorista chamada ETA". Justamente o que o memorial de Cenarrusa/Bieter/Ibarretxe/Gara/Egunkaria não queria mostrar. E que, muito apesar de seus patrocinadores, acabou figurando no texto emendado que finalmente foi aprovado por todos os parlamentares de Idaho.

Foi em janeiro de 2003, quando o presidente do Senado de Idaho fez chegar aos representantes do governo espanhol seu pesar pelo ocorrido, atribuindo [sua aprovação] ao profundo desconhecimento que tinham dos assuntos espanhóis os representantes locais e ao desejo generalizado de contentar Cenarrusa em sua última iniciativa antes de se aposentar de seu posto de Secretário de Estado. O senador Robert I Geddes havia suplicado ao velho pecuarista e político de origem basca que "na próxima vez que quisesse declarar guerra à Espanha que o avisasse previamente, para evitar um mal entendido". Nesta mesma ocasião, o Senado de Idaho concedeu ao embaixador da Espanha em Washington o título de cidadão honorário do estado. E a Espanha nomeava oficialmente Adelia Garro Simplot, outra descendente de bascos, cônsul honorária no estado. Garro é abreviação de Garroguerricoechevarria. Cenarrusa, que não havia vacilado em sua obsessão contra a Espanha constitucional e democrática até mesmo o dia de sua morte, não poderia ser o único representante da comunidade basca em Idaho.

Como diria Mark Twain, "Nem todas as mortes são recebidas da mesma maneira".
Javier Rupérez
Embaixador da Espanha nos EUA (2000-2004)

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sábado, 22 de janeiro de 2011

Por uma verdadeira rede humana: Pacto pela responsabilidade social

Manifesto coletivo publicado em Castellano, Basco, Catalão e Galego por Nynaeve, Elpicapiedra e McShuibhne e divulgado em diversos sites. Agora, traduzido para o português. Divulgue e espalhe!

Porque na era da globalização quem têm acesso à rede é apenas 24% da população mundial, porque 5.1 bilhões de pessoas carecem de acesso à Internet, porque não somos a sociedade, mas apenas uma parte dela, porque não queremos ser uma elite, porque não queremos nos sentir privilegiados, porque nós não queremos  gerar mais invisíveis e excluídos, nós, parte da cidadania [de] internauta[s], exigimos um compromisso firme e decidido para acabar com a exclusão social e digital.  Pedimos um verdadeiro pacto de responsabilidade social aos organismos supranacionais - principalmente  a ONU e UE -, aos governos centrais, autônomos e locais, aos paridos políticos, aos meios de comunicação de massa e sociais, às empresas, às ONG's e à cidadania em seu conjunto para que:

    • O acesso à informação e conhecimento e às ferramentas tecnológicas seja um direito universal protegido pelas leis locais, estatais e supranacionais, e apoiado pela cidadania. 

    • Este direito não seja monopolizada por aqueles que criam, servem e gerem os recursos, ferramentas e as próprias obras, nem uma concessão para aqueles que reconhecem para si o privilégio prévio de pagamento por serviços e ferramentas de acesso ao conhecimento global.

    • A Sociedade da Informação e do Conhecimento se construa tendo em mente os benefícios sociais, priorizando as questões-chave como a educação, a solidariedade, o pluralismo e a integração. Vai mal a Sociedade da Informação e do Conhecimento se só pensamos em como uns poucos podem assumir e gerir o poder e monetizá-lo, se apenas existem motivações econômicas, de faturamento, de mercado, de lazer e de entretenimento.

    • Acabemos com a exclusão de milhões de pessoas no mundo real e na Rede de redes (Internet). Porque todos eles correm alto risco de absoluta invisibilidade. Podemos tornar visíveis na vida cotidiana e também aqui, na Rede de redes, aquele sofrem exclusão.

    • Demos acesso, ferramentas e visibilidade para aqueles que fazem a mediação entre a sociedade afluente (ricos) e os necessitados.

    • Paremos a perigosa endogamia na Internet e a dissociação crescente do ecossistema online do mundo real. Porque percebemos um desligamento rápido dos problemas que não se relacionam direta ou indiretamente com a rede e a seus membros.

    • Os meios de comunicação de massa e tradicionais e a blogosfera assumam um compromisso comum com a responsabilidade social. Nos confundimos se pensamos em impor um único pensamento em vez de buscar o diálogo que aproxime ações para garantir o progresso no Estado de Bem Estar, a coesão e a sustentabilidade.

    • Os jornalistas recuperem a responsabilidade social e ética que se pressupõe ao jornalismo. Difícilmente construiremos uma Sociedade da Informação e do Conhecimento com ruído, confusão e desinformação. Pedimos rigor e também mais e melhor informação social.


    • Todos pensemos com perspectiva social. Pensar com perspectiva social é pensar no acesso universal à Internet e a todas as ferramentas tecnológicas, mas também é dar visibilidade e espaço para grupos e problemas do mundo real, pressionar no mundo físico e na internet para que paremos o suicídio coletivo das mudanças climáticas, para que todas as pessoas tenham acesso universal à saúde, à  educação e à informações, para que a ninguém falte comida ou água, de modo que todas as pessoas tenham o direito à moradia e ao trabalho digno e à remuneração justa por seu trabalho, para que se respeitem os direitos trabalhistas, das mulheres, menores, idosos, imigrantes, refugiados e deslocados, dos doentes, das minorias, das comunidades locais, de todas as raças, línguas e culturas, e de nosso ambiente natural. Pensar com perspectiva social e atuar em conformidade no mundo físico e na Internet.

    • Fechemos as lacunas econômicas, geracionais, culturais, de gênero, geográficas e tecnológicas.

Atuemos para construir uma verdadeira rede humana. Porque cada pessoa excluída no mundo real e no ecossistema online é um fracasso de todos nós.

Licença: Domínio Público
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Global Voices - Artigos Traduzidos

Compartilho com os leitores do blog dois novos artigos traduzidos por mim para o Global Voices em português.

O primeiro,"Rússia: Blogueiro Tártaro sentenciado a quase dois anos em Colônia Penal" trata da prisão arbitrária de um blogueiro pelo conteúdo de uma de suas postagens, uma clara afronta à livre manifestação e liberdade de expressão típicas da Rússia de hoje. Já comentei várias vezes sobre a situação das minorias - no caso deste artigo traduzido, dos Tártaros - que são forçadas a verem sua cultura sendo eliminada dia após dia pela máfia de Putin.

O segundo artigo trata de região próxima, do Cazaquistão, onde a população enfrenta problemas semelhantes com a máfia que comanda o país. O artigo Cazaquistão: Grandes luzes da cidade, gerontocracia e Photoshop trata da construção da nova e brilhante capital do país, Astana, e as imensas somas de dinheiro utilizadas com este propósito em detrimento da população local. Um fino exemplo da megalomania de governantes que se sentem deuses.

Boa leitura!=)
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