quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Da criminalização à banalização dos protestos

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Há algum tempo comentei sobre a criminalização em curso no país - e em especial no Rio Grande do Sul da criminosa Yeda - dos protestos organizados pelos movimentos sociais. Mantenho, tal criminalização é explicita, óbvia e incessante. Não há o que discutir ou negar.

Mas, para além disto, também é curioso notar o paradoxo do excesso de manifestações vazias e sem sentidos que acabam por banalizar este importante instrumento de pressão social e política ao mesmo tempo em que novas formas de protesto são tentadas dia após dia.

É realmente curioso - e lamentável - que protestos sérios e relevantes sejam criminalizados e esvaziados ao tempo em que futilidades mil ganhem projeção e o óbvio apóio da mídia, interessada em patrocinar o esvaziamento daquilo que não lhe convém.

A posição da população também é interessante, se existe uma greve, uma passeata, uma manifestação em que haja razão relevante para tal, então os "prejudicados" se levantam contra os manifestantes, chamam de baderneiros, dizem que seu direito (sic) de ir e vir fica prejudicado (em São Paulo isto é fácil de notar quando o trânsito para) e dão entrevistas à mídia do jeito que o PIG gosta, criticando, reclamando e prestando um desserviço à classe.

Por outro lado, se o protesto é algo tão útil (sic novamente) quanto um ForaSarney ou contra o governo por causa da fraude da Folha no caso do ENEM, então a população na hora passa a apoiar, esquece os transtornos no trânsito e etc.

Enfim, movimentos como o ForaSarney, por mais que tenham algum conteúdo político, não tem um pingo de ideologia. Aliás, num protesto do ForaSarney você encontra da Esquerda à membros da TFP, ou seja, algo está errado.

Já dei minhas razões para criticar os protestos, não pela idéia em si, mas pela inocência dos participantes, pelo método, pelas sub-celebridades tentando se promover e, especialmente, pelo resultado desastroso e risível e pela completa falta de ideologia por parte da franca maioria dos pré-adolescentes revoltados que sequer sabiam quem era Sarney até 6 meses atrás.

Estes, aliás, já devem ter voltado aos seus videogames e votarão em algum DemoTucano ano que vem.

Voltando ao tópico, a questão principal é a de que os protestos, a organização de manifestações, passeatas e afins vem se banalizando, ao mesmo tempo em que se esvaziam - de gente e de sentido.

Obviamente a mídia sabe escolher seu lado: Se é a burguesada cansada protestando, todo apóio, se são os movimentos sociais, então a solução é a bala de borracha (como são bonzinhos!), o gás e o cacetete.

Aliás, o apóio da mídia à tudo que se opõe ao movimento social, estudantil e sindical legítimo é claro e descarado, nos lembremos da capa de O Globo com o grupo dos "Nove", nada mais que uma dúzia de playboys e patitricinhas da Zona Sul do Rio fingindo que são Movimento Estudantil apartidário, quando claramente assumem a posição ditada pelo PIG e pelas elites - que fazem parte.

Por mais que suas críticas à UNE e Ubes procedam - ambas organizações estão falidas e são controladas pela ditadura baseada em fraudes e intimidações do PCdoB/UJS -, suas alianças e origem denunciam o porque e de onde vêm realmente as críticas, não dos estudantes organizados, mas de uma elite organizada.

Outros eventos ilustram bem esta situação.

De um lado os movimentos sociais, os estudantes e a sociedade protestando na USP e sendo espancada pela PM de Serra - sem qualquer provocação ou razão -, do outros os movimentos burgueses que pedem paz no Rio, fazendo espetáculos, colocando cruzes na areia e se manifestando como se isto fosse fazer alguma diferença na desigualdade galopante do país ou fosse sensibilizar algum político a parar de roubar e investir em educação, saúde, lazer... e não em "segurança", como costumam fazer.

No primeiro caso a mídia gritava pedindo sangue, chamando os estudantes pacíficos de baderneiros e no segundo a mídia achava lindo a burguesia da Zona Sul limpando a consciência e achando que fizeram um bem para o país.

Podemos enumerar ainda casos emblemáticos de lutas sociais da população que são criminalizados, como as invasões do MST e a perseguição constante, em todos os níveis, em todos os lugares, de seus militantes, ou a criminalização dos movimentos de moradia popular que ocupam prédios em São Paulo. Passeatas pró-Palestina, pró-Honduras ou mesmo de setores dos trabalhadores em greve são sempre vistos com reserva ou franco ódio pelos burgueses em seus carros, atrasados para o cabelereiro, para o cinema ou para assistir Malhação.

Para estas, a manifestação do povo é coisa de marginal e merecia a resposta rápida e "justa" da polícia. Já vi muita gente afirmar que manifestações e passeatas deveriam ser proibidas na cidade: - É ruim para o trânsito!

Disparete.

Por outro lado, todos (sic) aplaudem movimentos como o "Cansei", da elite cansada de pagar impostos...

Como se a elite pagasse seus impostos! Quando não sonegam pagam menos que qualquer trabalhador honesto, chão-de-fábrica.

Todos (sic) aplaudem o ForaSarney, afinal a mídia está lá para dar seu apóio e fazer loas aos 50 estudantes daquele colégio cuja mensalidade é 2 mil reais que detestam o Sarney.... mesmo que só o conheçam ha uns 2 ou 3 meses, afinal, nunca perderam tempo com política! Mas agora é hype ser "manifestante", e tudo convocado pelo celular da Hello Kitty!

Caso mais recente, os protestos (contra o que? contra quem?) destes mesmos estudantes tão interessados na política nacional em frente ao MEC (antiga sede) no Rio. Protestam contra a fraude do ENEM? Então porque protestam contra o governo e não contra a mesma Folha de São Paulo - que já os estampou em sua capa até - em cuja gráfica toda a crise começou?

Porque não protestam contra a dona da gráfica, a responsável pela fraude... a Folha? Não, não teriam visibilidade e virariam um "incômodo", não sairiam na MTV nem nos noticiários locais.

Enfim, o que vemos hoje é o protesto sem ideologia, o protesto motivado por razões estúpidas, ou mesmo sem razão alguma.

Filhinho de papai ouve na mesa do "brunch" que Lula é o capeta e então sai pra protestar, para exigir seus direitos!

Ao voltar para casa acusa o MST de baderna e acha que os sem-teto são uma raça suja que emporcalha a cidade. Mas voltam de mente tranquila, porque fizeram a diferença, protestaram contra a violência exigindo mais segurança, protestaram contra o Sarney porque a Globo incentivou e, finalmente, protestaram contra o MEC (?) porque a Folha fraudou as provas do ENEM.

E eles continuam achando que o Golpe em Honduras foi democrático (realmente não compreendo este raciocínio) e que pobre bom nasceu morto.
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Comentários
3 Comentários

3 comentários:

Leider Lincoln disse...

Disse tudo!

Anônimo disse...

Pergunta sem qualquer conotação negativa:
O que você propõe?
Pode responder pro meu e-mail..
Dj_xunguita@hotmail.com

Raphael Tsavkko Garcia disse...

O que proponho? Discussão séria e mobilização real. Militância séria e não aventuras. Sem dúvida não virar ídolo do PIG e dos jornalões o que, por sí só, denuncia o movimento como falso e vendido.

Ponto principal: não fingir apartidarismo ou nenhuma afinidade ideológica. Todo mundo vota em alguém - ou anula, o que denuncia já uma linha ideológica - e acredita em algo ou alguém. Partir do princípio da nulidade é esvaziar ou denunciar como vazio o movimento e tornar os protestos burros e sem sentido.

O protesto contra o ENEM - ou contra sei lá quem foi, nem os Nove souberam dizer contra quem ou o que estavam protestando - serviam para que? Para reivindicar algo legítimo? Talvez, mas no fim só serviu para ajudar os DemoTucanos a fazer propaganda.

Um protesto tem que ter sentido, ser planejado para não servir à pior oposição, ao pior grupo. Não pode ser inconsequente.

É por isso que um movimento não nasce do nada, sem background, sem base, pro meia dúzia de estudantes da Zona Sul e filhos da Classe Média que nunca souberam nem quem é Sarney e protestam contra ele porque a Globo diz que ele é canalha (e é).

Eu discordo do movimento partidarizado até o fim, em que todos se dividem em tendências que na maioria das vezes não representam os estudantes, mas o inverso é tão perigoso e falso quanto.

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