Abertura
Por volta das 19 horas do dia 14 de Janeiro de 2010 teve início o Ato em apoio ao Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) no auditório Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP) com a presença de mais de 150 militantes do movimento social e sociedade civil e representantes de organizações políticas como PSOL, PCdoB, PT e PCR.
Discursos da Mesa
Na mesa estavam presentes o representante dos ex-presos políticos (Rafael), o representante do Mov. Nacional dos Direitos Humanos (André), Iyá Ekedji Ogunlade do Mov. Negro, o representante das Pastorais Sociais (Paulo), Criméia Almeida e Rose Nogueira do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM).
Rafael dos Ex-Presos Políticos convocou todos à unidade e saudou a composição plural e diversificada daqueles que militam pelos DH e que estavam lá presentes. Ele reforçou ainda que o PNDH-3 foi amplamente debatido em dezenas de conferências regionais e locais e que o resultado é a vontade plural da sociedade.
Infelizmente as Pastorais Sociais se alinham ao conservadorismo retrógrado da Igreja e, infelizmente, até da CNBB que se opõem ao PNDH-3, logo, aos Direitos humanos quando fazem ressalvas absurdas e inaceitáveis.
-----------------------------
* Dentro do espírito democrático que defendemos creio ser de boa monta fazer um esclarecimento. Imagino ter ficado claro, em minha descrição da fala do companheiro Paulo, que as palavras "Aborto e homossexualidade" não foram proferidas por ele, mas foram uma inserção de minha autoria para marcar quais seriam as discordâncias - que são publicas - da Pastoral Operária (e Igreja/CNBB) em relação ao PNDH.
Deixei claro, porém, que mesmo com discordâncias, e também foram palavras do Paulo, que a Pastoral apoiava o movimento e que tal posição é excelente e muito bem vinda. A história de lutas da Pastoral Operária é conhecida e reconhecida e dispensa comentários.
Mas, sem dúvida, mantenho minha visão de que a posição da Pastoral, por mais progressista que seja dentro do seio da Igreja e do Catolicismo, tem muito em comum com a posição retrógrada da Igreja como um todo e que faz um desserviço à luta pela totalidade dos DH, pois eu não acredito em Direitos Humanos parciais, não acredito que excluir os direitos reprodutivos da mulher e os direitos dos homossexuais seja algo que combine com o respeito pleno aos Direitos Humanos e à humanidade.
Talvez eu tenha sido crítico demais, até radical, em relação ao companheiro que é sim valoroso e valioso, mas não vejo outra forma de deixar claro meu repúdio em relação à algumas posições políticas por ele defendidas.
------------------------------
Discursos da militância e Movimentos
Após as mensagens da mesa a palavra foi dada às organizações presentes e cito as mais interessantes da noite.
Um rapaz do PCR (Partido Comunista Revolucionário) citou o exemplo de Manuel Lisboa, estudante morto pela Ditadura e modelo para o seu partido. Segundo o estudante, Manuel Lisboa é o exemplo do estudante que lutava por seus ideais e que foi torturado e morto pelo exército e que crimes como este deveriam ser investigados.
Jamil Murad, ex-deputado e atual vereador de São Paulo pelo PCdoB fez a óbvia defesa do seu partido e do governo Lula e reafirmou a necessidade de se lutar pelo PNDH-3, mas do ponto de vista deste há total vontade do presidente em aprovar a proposta integralmente. Mas, como ponto de lucidez, criticou severamente a direita que clama por uma Comissão que investigue os dois lados. É - e concordo - um absurdo pensar em investigar supostos crimes do lado que foi torturado, perseguido, calado e morto por décadas!
O representante da Intersindical (sindicato ligado ao PSOL) criticou o apoio cego dado pelo PCdoB ao governo mas pediu unidade. Ainda que existam significativas divergências entre os grupos era necessária a unidade em torno do PNDH-3
Ivan Valente também pregou a unidade ao tempo em que também tecia suas críticas ao governo e afirmava não acreditar que Lula fosse manter intacto o PNDH-3 sem ampla pressão dos Movimentos Sociais. Como idéia nova, Ivan Valente comentou que é preciso conquistar os militares novos e faz-se mister retirar do poder a elite militar de cabeça branca, estes sim os fascistas saudosos do regime militar. Segundo Valente, hoje, o exército não é mais o do passado, mas é preciso reformá-lo.
Débora, representante das Mães de Maio fez o discurso mais emocionante da noite. Sua organização luta pela punição dos policiais que, ainda hoje, matam e torturam jovens nas periferias.Ela pede para que nenhuma linha do PNDH-3 seja mudada e que, na verdade, ele precisa ser ampliado porque até hoje a PM tortura, até hoje a PM mata.
Brant, do Intervozes critica duramente a mídia, o PIG e afirma que o direito à informação e a Liberdade de Expressão são inseparáveis. Foi um recado direto e certeiro ao monopólio da informação. O PNDH-3 defende a gestão social da mídia e não podemos permitir retrocessos como quer Globo, Band, Folha, Veja e outros meios.
Deise, coordenadora da Área de Articulação Política e Direitos Humanos da ONG Fala Preta e membro do MNDH, discursa defendendo que o PNDH-3 é de todos e não do governo e que, então, todos devem defendê-lo e não esperar que o governo o faça. Acrescentou ainda que os negros são até hoje perseguidos e sofrem violência diária em favelas, para onde são jogados pela elite branca e rascista. Para finalizar, Deisy diz que precisamos combater os "Sinistros" do governo: O "Sinistro" da Agricultura e o "Sinistro" da Defesa. Declaração perfeita!
Um militante da UJS (PCdoB) fez um interessante discurso nos lembrando que a elite de hoje é a mesma que enriqueceu apoiando os militares, apoiando a ditadura e, dentre eles, a família Marinho e a Frias. Falaram em nome da UNE também sobre o prédio queimado pela ditadura e dos estudantes mortos, inclusive presidentes da entidade.
Invasão da PM
Logo após o discurso do presidente do GTNM eu dei uma saída do auditório para o corredor do Sindicato e imaginem minha surpresa quando vejo dois PM's circulando no lado contrário. Um senhor que acompanhava a Débora das Mães de Maio me disse que eles chegaram procurando "alguém" e não deram mais informações. Algumas pessoas também vram os PM's e começaram a se aglomerar no corredor até que um jornalista - infezlimente não peguei o nome, mas ele foi guerrilheiro em Cuba e passou 6 meses escondido na Cantareira fugindo do Exército brasileiro na época da ditadura - foi conversar com eles.
Vale notar, e isto é bastante significativo, que a PM apareceu apenas depois que o Ouvidor da Polícia, Luiz Gonzaga Dantas, saiu do auditório do Sindicato, deixando o Ato. Enquanto ele esteve presente nenhum policial se atreveu a invadir o sindicato. O que isto indica? Não sei, há de ser investigado.
Nisto, eu estava encostado no elevador e senti uma pancada, me afastei e mais dois PM's chegaram, um deles extremamente mal encarado e segurando a arma. Estes dois, sem querer papo invadiram o auditório e começaram a andar a esmo, fazendo com que o ato parasse. Foram interpelados e, sem explicação começaram a andar para o corredor, quando finalmente, com cara de quem mente muito mal, disseram estar procurando por seus companheiros.
Eles seguiram para a escada com várias pessoas atrás indo encontrar seus companheiros perdidos.
Os 4 PM's que invadiram o sindicato diziam que a corporação havia recebido um e-mail do sindicato pedindo reforço policial. Obviamente, uma mentira. E, mesmo que qualquer e-mail do tipo existisse, o policiamento deveria se restringir à rua.
Mas, pelo menos, não houve violência, e a direção do sindicato ficou aguardando a chegada de algum superior daqueles PM's para esclarecer o ocorrido.
Faz-se mister a defesa intransigente do PNDH-3, sem recuos, sem concessões. O Programa foi discutido por anos a fio e é o resultado de amplos debates entre a Sociedade Civil, partidos, organizações e governo e não pode ser mutilado pela direita que tem pavor de ver seu monopólio ser ameaçado, tem pavor de ver o povo tomando decisões e, acima de tudo, tem horror à verdade.
O Ato foi a primeira demonstração de força dos movimentos sociais e não se limitou à São Paulo. De lá tiramos idéias de ação, o embrião de um Fórum Permanente e a certeza de que a luta será dura, seremos intimidados, mas não podemos recuar sob pena de perdermos uma as melhores chances em décadas de esclarecer não só os crimes da ditadura, mas os de hoje e garantir um futuro melhor para a sociedade, com respeito aos direitos humanos.
---------------------------
Assinem a petição em defesa do PNDH-3: http://www.petitiononline.com/pndh31/petition.html