segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lugar de PM é no Campus?

Pin It
Eu parto do princípio de que não.

Mas é preciso pensar em alternativas.

A ação da PM ao prender 3 alunos que fumavam maconha foi, infelizmente, correta. Fumar maconha é crime, por mais que eu, pessoalmente, defenda a legalização das drogas. Obrigação da polícia é fazer cumprir a lei.

Agora, dado o estilo truculento da PM, dificilmente iriam fazer vista-grossa, pois sentem prazer em criar confusão e aparecer, especialmente se puderem dar porrada ou levar pra delegacia quem eles consideram "vagabundo riquinho" (basicamente qualquer universitário).

Mas concordar com a legalidade da ação policial ao prender quem fuma maconha é diferente de concordar com seus métodos. Não faço idéia do tom e da força usada pela PM para prender os rapazes, e isto pode pesar. Aliás, eu acho estúpido prender quem fuma maconha, isto não altera em anda o comportamento de nenhuma das partes, mas apenas faz o PM se sentir poderoso. Da mesma forma que muito maconheiro se acha "bozão" por achar que está contestando o mundo ao fumar.

A questão principal, porém, vai além, e passa pela própria presença ostensiva da PM dentro do campus universitário.

O campus é um lugar de contestação por natureza. Assim é a universidade. USP, PUC, não importa, universidade é um espaço de contestação, de rebeldia, de festas e, claro, de aprendizagem, mas de todo tipo de aprendizagem e não apenas aquela das salas de aula.

E fumar maconha faz parte. Beber faz parte. Contestar faz parte. Há uma clara oposição entre a lei e as práticas (oras, entra-se na universidade com 17 anos e é proibido beber até os 18, mas alguém se importa?) dentro dos muros da universidade, dentro dos limites do campus.

A presença da PM é uma provocação clara tanto da Reitoria, abertamente conservadora e ilegítima, quanto do governo, igualmente conservador. é uma forma de tentar "acalmar" os ânimos e a contestação estudantil.

E é um tiro no pé, estupidez pura. Uma provocação perigosa contra a comunidade universitária.

E não falo apenas da questão da maconha e nem apenas como forma de "proteger" os alunos da amada e odiada FFLCH, e sim de forma geral. A PM se coloca como uma força reacionária de controle social, acostumada a tratar a todos com violência e desprezo. São soldados despreparados, raivosos e sem treinamento que colocam em perigo os estudantes da USP.

Basta ver os índices de criminalidade e contar quantos são cometidos por policiais militares, com sua conivência ou seu silêncio cúmplice.

Polícia Militar não traz segurança e, no campus (me atendo só a aquele local) traz insegurança.



Mas é fato que é preciso haver algum policiamento dentro do campus, mas não para vigiar e punir os estudantes, e sim para evitar que crimes, estupros e assassinatos ocorram. Função de segurança no campus é proteger os alunos e não torná-los criminosos, meter medo ou impor um tipo de respeito que ficou obsoleto ainda na Ditadura.

E não apenas policiamento, mas também um real comprometimento da reitoria com uma solução pros principais problemas de uma universidade gigantesca, mal iluminada, com mato espalhado e mal cuidado, com péssima sinalização e totalmente isolada da comunidade no entorno.

A universidade se fecha como um bunker para a comunidade, mas deixa entrar criminosos (PM entra aí em muitos casos) e trata os seus como criminosos.

A decisão da reitoria de "firmar parceria" com a polícia militar é calculada. Ao invés de se pensar seriamente numa melhora do ambiente e numa abertura do campus, entrega-se a segurança para quem não entende nada dela e, de quebra, garante o monitoramento constante dos estudantes, para que ajam como robôs controlados.

Mas há intransigência por parte dos estudantes também. E uma rebeldia deslocada, infantil (que de certa forma pode ser esperada).

Se há PM no campus, que se fume escondido ou ao menos de forma discreta. Que transgressões ocorram de forma mais contida, pois quando são ilegais, serão reprimidas - corretamente do ponto de vista legal - pela polícia. É obrigação da polícia agir. É preciso contestar de forma inteligente, mesmo provocar de forma inteligente.

E não digo isso porque concordo com a polícia, e sim porque existem formas mais intelignetes de protestar do que, enquanto elo fraco, desafiar quem tem armas e bombas de peito aberto.

Não é "falta de democracia" a polícia prender quem fuma maconha, mas pode ser um problema ter a polícia no campus. A forma pela qual se discute a questão faz toda a diferença.

E, acima de tudo, se os estudantes são contra a presença da PM no campus, precisam propor uma alternativa melhor do que não ter policiamento algum e novos assassinatos ou mesmo estupros ocorrerem

É uma situação complicada, mas que precisa ser discutida pela comunidade acadêmica com mais seriedade do que como briguinha de tendências em centro acadêmico.
------