quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O relatório da Funai e o "progressismo" vergonhoso

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Li pela blogosfera petista governista progressista a repercussão do "relatório" pífio da Funai. Um relatório feito em três dias, onde só UMA pessoa é entrevistada e os técnicos sequer entram nas terras dos Awá pra verificar alguma coisa pode ser levado a sério? Aparentemente, pode - aliás, nem a própria FUNAI, a verdadeira, não o arremedo Sarneyzista, levou a sério, pois mandará uma equipe de verdade ao local.

Como disse o Rogério Tomaz Jr:
[...] a Funai afirmou enfaticamente que a denúncia não passou de uma mentira, desqualificou aqueles que a divulgaram (citaram alguns trechos do meu desabafo* que ganhou bastante repercussão) e ofereceu para a sociedade um relatório ilustra muito bem o significado do termo embromação.
Desejo – com todas as minhas forças – que o crime não tenha realmente acontecido e que tudo não passe de uma grande confusão informativa.
Entretanto, com esse relatório da Funai, que é também um atestado de negligência, fica difícil crer que a denúncia feita e confirmada por vários indígenas seja um mero boato.
Ler o perfil do Facebook do Emir Sader - que um dia respeitei como intelectual, mas hoje penso em jogar seus livros no lixo  (Pelo menos o FHC teve a decência [sic] de dizer pra esquecerem o que ele escreveu) - ou o blog da Maria Frô - que por vezes tem lampejos de independência, mas em outras demonstra uma cegueira atroz - com o tom de "tirem suas próprias conclusões" é um exercício de paciência e tolerância.

Esta última me falta absurdamente quando o assunto é o genocídio contra os povos indígenas que vem ocorrendo no país.

Será que surpreende que o relatório tenha resultado em uma afirmação tão semelhante com a de famoso blogueiro progressista, o Azenha, que afirmou se tratar de um boato? Falou com a elegância de um mamute, praticamente chamando o blogueiro Rogério Tomaz Jr de mentiroso safado.

Exagero? Talvez, mas qual a sensação que se tem depois de uma séria denúncia ser tratado como espalhador de boatos?

Mas, ao menos, pós-relatório divulgado, o Azenha fez uma mea culpa em que acha tudo "muito estranho".

Diante de um relatório desses, com palavras duras, com acusações diretas contra a blogosfera e palavras que francamente não cabem em um relatório que se preza minimaente científico ou oficial, nada menos que revolta e ultraje são aceitáveis.

O relatório da Funai, aliás, deve ser analisado não apenas pelo conteúdo - parco e pífio -, mas também pela forma. Português macarrônico, tom e veemência descabidos para um relatório oficial, além da investigação ridículamente curta e superficial cujos técnicos SEQUER entraram nas terras Awá. Sério, como alguém pode dizer que investigou um assassinato praticado contra uma tribo isolada sem sequer entrar no território e verificar, mas simplesmente confiando no desmentido de UM índio e deixando tudo mais pra lá?

Gente, levar esse "relatório" a sério é carimbar na testa um atestado de estupidez patológica e irreversível.


Estamos falando de uma Funai acusada de aliança com madeireiros, que sabia do caso desde novembro e nada fez, que sabe das ameaças contra os Awá-Gwajá (assim como Dilma) desde AGOSTO de 2010 e nada fez e, acima de tudo, uma Funai que atua no Maranhão, na Sarneylândia, terra do homem que tudo sabe, tudo vê....

Querem exemplos?
O documento traz uma “Nota de Esclarecimento” afirmando que a denúncia sobre o assassinato de uma criança indígena Awá-Guajá, numa reserva em Arame, não passa de “boato infundado, uma mentira”.
A nota e o relatório, em Português de quarta série do primário, desqualificam duramente a “ação dos aproveitadores inescrupulosos que se apressaram em tentar legitimar a mentira” e lamentam que “a sociedade brasileira tenha sido ludibriada de maneira tão vil”.
Suspeito?

Seria o mínimo a dizer.

Mas o APOIO a isso chega a ser criminoso. Como comentaram no twitter ha um tempo, uma coisa é você apoiar por desconhecimento, outra é você saber muito bem o que acontece e como as coisas funcionam e AINDA ASSIM apoiar. Não tem desculpa, chama-se conivência.

Agora, cabe um adendo. Acredito que, apesar de grotesco e deplorável, a morte da criança indigena fica, agora, em segundo plano. É verdade que CIMI e outras organizações confirmaram a morte de um indígena e que sua idade é ainda motivo de conjecturas e não está confimado se é ou não uma criança, mas ficou claro o desespero das autoridades, via Funai, com a possibilidade que algo fosse descoberto na região, que algo fosse efetivamente investigado.

Onde há fumaça, há fogo, diz o surrado ditado, e temos fogo se espalhando, mais até que fumaça. Belo Monte e genocídio dos Guarani-Kaiowá são uma mostra do trato com os indígenas por parte do governo federal que, sem dúvida, não quer mais um foco de crise.

Neste momento, a morte da criança indígena é menos importante, em termos políticos, do que entender todo o processo de tentar mudar o foco da região. Algo está acontecendo por lá, denúncias não faltam. E o governo não quer que ninguém saiba. Daí o relatório feito às pressas, nas coxas pela Funai.

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O jornal Vias de Fato, do Maranhão, um dos primeiros a tratar do caso, lançou uma nota tentando esclarecer as denúncias e desacreditando a Funai que, segundo eles, é ligada aos madeireiros. Segue parte da nota de maior relevância:
No Maranhão, os madeireiros estão também dentro de áreas indígenas. Por conta disso, vários índios são aliciados e participam do negócio. Os que não entram no jogo, sofrem diferentes tipos de agressões, caso dos Awá-Guajá.

Sendo assim, no momento em que a FUNAI lança um relatório em regime de urgência, tentando botar uma pá de cal sobre a denúncia do índio queimado e deixando livre de suspeitas os madeireiros que agem no Maranhão, é o caso de se levantar algumas questões.

A primeira se refere ao índio Clóvis Tenetehara. Ele é a única fonte citada nominalmente pela FUNAI. Na realidade, a FUNAI reproduz um depoimento de Clóvis quando ele diz que o assassinato da criança Awá se trata de “um boato, uma mentira”.  É estranho que neste mesmo relatório da FUNAI está dito que os próprios servidores da Fundação flagraram um caminhão madeireiro e que este teria feito uma doação (incluindo aí mantimentos) para Clóvis Tenetehara e sua família. Já no site da revista Caros Amigos está dito que o “o índio Guajajara Clóvis Tenetehara contou ao CIMI  que costumava ver os Awá-Guajá isolados durante caçadas na mata. Mas que não os vê mais, desde que localizou um acampamento com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança”.

Então, nesta confusão toda, quem está mentido? Quem está sendo bobo ou se fazendo de bobo? A FUNAI? O CIMI? A Caros Amigos? O índio Clovis Tenetehara? Os outros setores da imprensa e da Sociedade Civil? Teria Clóvis dado um depoimento para o CIMI e outro para a FUNAI? Ele mudou de depoimento? E se mudou, o que teria lhe motivado? Hoje nos chegou a informação que ele, inclusive, teria recebido um carro. Até o momento não conseguimos confirmar exatamente esta história do veículo. Mas, são muitos os fatos que precisam ser apurados. E outros índios, certamente, devem ser ouvidos!

Quanto ao nosso papel, desde o início, foi o de ajudar a denunciar uma história que é comentada por vários índios da região de Amarante e Arame: UMA CRIANÇA INDÍGENA AWÁ-GUAJÁ TERIA SIDO QUEIMADA POR MADEIREIROS!
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O Ministério Público Federal do Maranhão informou que passará a acompanahr a denúncia.
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