sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Audiência Pública sobre a situação na Cracolândia

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No dia 11 de janero estive na Câmara Municipal de São Paulo para acompanhar uma audiência pública sobre o que vem ocorrendo na chamada Cracolândia, na região da Luz. Muito blablabla, muitap resença de "autoridades", muito pouco espaço para os movimentos sociais se expressarem, acusações, disputas e quase nada de soluções, mas apenas promessas de boa vontade da parte dos vereadores e deputados estaduais presentes.

No início, o auditório Júlio Prestes estava lotado, inclusive com a presença da mídia - que provavelmente não citou sequer o evento em seus jornais -, mas dada a lenga-lenga típica de políticos (Jamil Murad conseguiu dar uma aula de como ser um anfitrião tedioso, sempre disposto a comentar por mais tempo que os discursos oficiais), aos poucos o local foi esvaziando e, como de costume, os movimentos sociais falaram quase que só para eles.

O assunto é de máxima importância e, no entanto, pouco ou nada ficou resolvido, mas ao menos pudemos ter acesso a algumas informações importantes, como as do presidente do Sindicato dos Guardas Municipais (GCM), Clóvis (vídeo 10), que denunciou o comando da GCM pela incitação clara à violência e anunciou a existência de uma "Ordem de Serviço 01" que obrigava todo GCM a retirar dos espaços públicos todo e qualquer sem-teto, não importando como. Ou seja, basicamente dando carta branca, ou melhor, obrigando ao uso da violência.

O Padre Júlio Lancelotti descreveu um cenário de pânico e terror onde ele mesmo foi abordado por policiais nada amistosos que se fazem isso com uma figura pública e um padre conhecido na região, imaginem com os "nóias", que não são sequer gente para a PM e para boa parte da população paulista (em especial elementos da elite racista e da classe mérdia).

Anderson, do Movimento Nacional de População de Rua traçou um panorama assustador da situação dos moradores de rua e da cracolândia, cobrando uma ação efetiva e não-policial, mas com saúde, educação, lazer e, enfim, respeito e dignidade.

O Desembargador Antônio Carlos Malheiro e o Presidente da AJD, Luis Fernando Vidal, fizeram seus discursos tendo em mente a necessidade de ação da justiça. Cumpriram seus papéis sem grandes necessidades de comentários.

Carlos Weiss, da Defensoria Pública de São Paulo "resumiu longamente" o trabalho feito pela defensoria na região ao passo que o Deputado Estadual Major Olímpio, para surpresa de muitos - e minha em especial - fez um excelente discurso criticando a ação da polícia no local e exigindo respeito e dignidade para a população em situação de rua. Saiu bastante aplaudido.

Ariel de Castro, da Fundação da Criança de São Bernardo fez um discurso óbvio e correto, enquanto o conselheiro do CONDEPE Aristeu Bertelli foi prejudicado tanto pelo cansaço do público, quanto pela vontade de muitos em finalmente poder falar, já que o vereador Jamil Murad se alongava em seus comentários e não permitia a fala popular. Mas, naquilo que falou, foi correto e direto. Encerrando a parte "burocrática", Nazareth Cupertino, pelo Fórum de Assistência Social, fez outro discurso correto e que merece ser ouvido.

Quando a palavra foi dada aos movimentos sociais, muita revolta e reclamações, tanto quanto aos procedimentos que sempre deixam os movimentos por último, em auditórios esvaziados (é possívle notar, no vídeo, que Tina, a primeira a falar, o faz em meio a um imenso burburinho e reclamações por parte do "incalável" Murad), quanto em relação ao absurdo tratamento dado à população da Cracolândia.

Tina comentou sobre reuniões e protestos que estão sendo organizados, ao passo que  Fábio Forte, da Associação de moradores e Comerciantes de Santa Cecília, foi o ponto baixo do dia, discursando que não era higienista, mas apenas higiênico, confundindo moradores de rua e consumidores de drogas da cracolândia com traficantes.

Átila Pinheiro, do Movimento de Moradores de Rua, denunciou a situação de abandono desta população - da qual ele faz parte, e Raul, do Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão), fez um belo discurso, exigindo o impedimento de Kassab e a responsabilização criminal da secretária Alda Marco Antônio, dentre outros, pelo crime de Tortura contra a população da Luz.

A estes discursos se seguiram o do Clóvis, da GCM, já comentado, e o de George Melão, do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, que foi excelente, ao começar já dizendo que polícia não deve reprimir flagelados, movimentos sociais ou grevistas e sim reprimir políticos corruptos e agentes públicos ladrões. Pirotécnico, mas é sempre bom ver um "agente da lei", alguém que carrega a arma reclamando que a função da polícia é proteger o povo e não bater no povo.

Por fim, um pouco mais de polêmica com o discursoinflamado da representante da Associação de Moradores de Cerqueira César que chegou a chamar todos os vereadores de corruptos e acusá-los de estar ligados à especulação imobiliária e a Paula Ribas, da AMOALUZ, que comentou sobre o trabalho que a associação vem fazendo na região.

>>Aliás, recomendo o documentário "Luz" em que a Paula participa, sobre as transformações na região da Luz e Santa Ifigênia<<

Foi, como dito antes, uma audiência em que muito se falou, em que discursos se repetiram e em que há muitos pontos em comum, mas falta uma resposta efetiva, rápida, para as violações que vem ocorrendo na Cracolândia e que não são incomuns à cidade, onde a população de rua, os mais pobres e vulneráveis são constantemente abusados, vítima de violência praticada pelo Estado sob as vistas grossas do parlamento.
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Antes que eu pudesse chegar, a Mariana Parra, minha namorada, gravou vídeos do discurso do vereador Jamil Murad e dos Deputados Adriano Diogo e Ítalo Cardoso (vídeos 13, 14 e 15) que, por eu não estar presente, não comentarei e deixarei que cada um veja e tire sua conclusão.

Recomendo a leitura deste post com uma leitura sobre o evento, no blog Luz Livre, que o acompanhou desde o começo.
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Abaixo seguem os vídeos:














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