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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O relatório da Funai e o "progressismo" vergonhoso

Li pela blogosfera petista governista progressista a repercussão do "relatório" pífio da Funai. Um relatório feito em três dias, onde só UMA pessoa é entrevistada e os técnicos sequer entram nas terras dos Awá pra verificar alguma coisa pode ser levado a sério? Aparentemente, pode - aliás, nem a própria FUNAI, a verdadeira, não o arremedo Sarneyzista, levou a sério, pois mandará uma equipe de verdade ao local.

Como disse o Rogério Tomaz Jr:
[...] a Funai afirmou enfaticamente que a denúncia não passou de uma mentira, desqualificou aqueles que a divulgaram (citaram alguns trechos do meu desabafo* que ganhou bastante repercussão) e ofereceu para a sociedade um relatório ilustra muito bem o significado do termo embromação.
Desejo – com todas as minhas forças – que o crime não tenha realmente acontecido e que tudo não passe de uma grande confusão informativa.
Entretanto, com esse relatório da Funai, que é também um atestado de negligência, fica difícil crer que a denúncia feita e confirmada por vários indígenas seja um mero boato.
Ler o perfil do Facebook do Emir Sader - que um dia respeitei como intelectual, mas hoje penso em jogar seus livros no lixo  (Pelo menos o FHC teve a decência [sic] de dizer pra esquecerem o que ele escreveu) - ou o blog da Maria Frô - que por vezes tem lampejos de independência, mas em outras demonstra uma cegueira atroz - com o tom de "tirem suas próprias conclusões" é um exercício de paciência e tolerância.

Esta última me falta absurdamente quando o assunto é o genocídio contra os povos indígenas que vem ocorrendo no país.

Será que surpreende que o relatório tenha resultado em uma afirmação tão semelhante com a de famoso blogueiro progressista, o Azenha, que afirmou se tratar de um boato? Falou com a elegância de um mamute, praticamente chamando o blogueiro Rogério Tomaz Jr de mentiroso safado.

Exagero? Talvez, mas qual a sensação que se tem depois de uma séria denúncia ser tratado como espalhador de boatos?

Mas, ao menos, pós-relatório divulgado, o Azenha fez uma mea culpa em que acha tudo "muito estranho".

Diante de um relatório desses, com palavras duras, com acusações diretas contra a blogosfera e palavras que francamente não cabem em um relatório que se preza minimaente científico ou oficial, nada menos que revolta e ultraje são aceitáveis.

O relatório da Funai, aliás, deve ser analisado não apenas pelo conteúdo - parco e pífio -, mas também pela forma. Português macarrônico, tom e veemência descabidos para um relatório oficial, além da investigação ridículamente curta e superficial cujos técnicos SEQUER entraram nas terras Awá. Sério, como alguém pode dizer que investigou um assassinato praticado contra uma tribo isolada sem sequer entrar no território e verificar, mas simplesmente confiando no desmentido de UM índio e deixando tudo mais pra lá?

Gente, levar esse "relatório" a sério é carimbar na testa um atestado de estupidez patológica e irreversível.

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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Genocídio inígena em curso no país... E a Funai conivente.

Não costumo dar publicidade aos meus posts no Global Voices Online aqui no blog, mas desta vez acho importante para denunciar o genocídio silencioso que vem ocorrendo no Brasil contra as populações indígenas que tem patrocínio e incentivo estatal:
As ameaças ao povo Awá por madeireiros, garimpeiros e agricultores interessados em tomar suas terras não são novidade, assim como contra outras etnias do Maranhão, como os Canela e os Krikati. As comunidades convivem há muito tempo com ameaças de morte e com o medo. Em 2008 uma criança Guajajara de 7 anos de idade foi assassinada com um tiro por um motoqueiro na cidade de Arame, e indígenas de outras etnias foram também vítimas de violência semelhante, além de estupros, na região.
A violência contra a população indígena, no Brasil, tem se espalhado e tomado proporções alarmantes. O genocídio em curso contra os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, vem recebendo crescente atenção na mídia alternativa, notadamente na blogosfera, mas ainda é um assunto proibido na grande mídia. O governo federal brasileiro tampouco tem tomado medidas para dar publicidade aos crimes e, especialmente, para evitar novas mortes.
Outras populações tradicionais também são vítimas de violência, em grande parte cometida pelo próprio governo federal, que usa as forças armadas para intimidar Quilombolas - populações negras tradicionais - e expulsá-los de suas terras. A construção da Usina de Belo Monte é outra grave ameaça à sobrevivência de comunidades indígenas inteiras na região amazônica.
Outro perigo que se apresenta para as populações indígenas e tradicionais do Brasil é a possível aprovação do novo Código Florestal, apresentado pelo político comunista Aldo Rebelo em conjunto com a ruralista Kátia Abreu, e que é objeto de contestação por parte de ambientalistas e ativistas das mais diferentes áreas.
Há pouco mais de um ano publiquei um artigo sobre o genocídio contra os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e há pouco mais outro post foi publicado no GV sobre o mesmo tema. Impressiona como mesmo com um ano de diferença, ambos sejam semelhantes e pudessem ter sido escritos em qualquer época.

Belo Monte, tão amplamente dsicutido, é outro passo rumo ao extermínio de indígenas. Apontar uma arma para a cabeça dos índios não é a única forma de abreviar suas vidas, mas a pressão sobre eles e suas terras os levam ao suicídio - muito comum entre os Guarani-Kaiowá - e nada é feito para conter o avanço deste mal, muito pelo contrário, cada vez mais os índiossão tratados como lixo.

Belo Monte é, hoje, o exemplo máximo, pois trata-se de uma ação direta e deliberada do Governo Federal.

Como disse o @Luckaz, o slogan do governo federal deveria ser "País rico é país sem criança indígena", especialmente quando soubemos do assassinato cruel de uma criança Awá-Gwajá no Maranhão, queimada viva por madeireiros em conluio com a Funai que, de forma tosca, disse que ali nada havia acontecido.

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

"É por isso que a gente tem que passar o fogo de vez em quando, que nem fizeram com a irma Doroty"

Recebido por e-mail de fonte mais que confiável, sobre a situação dos Quilombolas no Maranhão e das ameaças de morte recebidas por quem tenta defendê-los dos fazendeiros da região.
Hoje, eu, advogado da CPT Maranhao e padre Inaldo Serejo, estivemos no município de Cantanhede, Maranhao, aproximadamente 200 km de Sao Luis, para realização de audiência preliminar do processo de n 3432010, onde os autores sao trabalhadores rurais quilombolas do quilombo de Salgado, município de Pirapemas e os réus, latifundiários da região, cujos nomes sao Ivanilson Pontes de Araujo, Edmilson Pontes de Araujo e Moisés Sotero. Estes homens perseguem os trabalhadores quilombolas desde 1981, e ano passado ingressaram com ação de manutenção de posse conta estes fazendeiros, pois os mesmo destruiram roças, mataram animais, areas de reserva, cercaram os acessos as fontes de água, alem de ameaçarem se morte os trabalhadores.

Em 7 de outubro de 2010, após audiência de justificação previa, foi concedida manutenção de posse em favor dos quilombolas numa area de 1089 hectares.Ainda assim, os réus continuaram a turbar a posse dos trabalhadores, realizando incêndios criminosos, matando pequenos animais, abrindo picadas na floresta, etc... Nao satisfeitos, com a mudança de juiz da comarca e com a entrada de um novo, por nome Frederico Feitosa, os fazendeiros ingressaram com uma ação de reintegração de posse contra as famílias, que foi deferida em 24 minutos, inaudita altera pars, no dia 6 de julho.

Eu tive ciência da ação no momento em que pesquisa sobre meus processos naquela comarca.... Imediatamente, fui no dia seguinte com padre Inaldo na comarca de Cantanhede, tomei ciência da decisão e agravei. Dia 18 de julho foi concedido efeito suspensivo através do agravo aquela decisão que reintegrava a posse em favor dos fazendeiros... Pois bem, hoje, quando chegava naquela comarca, para realização de audiência preliminar, o fazendeiro Edmilson Pontes de Araujo esbravejava na porta do fórum de que ' era um absurdo gente de fora trazer problema para o povoado, que era uma vergonha criar quilombo onde nunca teve nada disso( se referindo a mim, ao Inaldo e ao agente da CPT Marti Micha, alemão naturalizado brasileiro).... E por isso que a gente tem que passar o fogo de vez em quando, que nem fizeram com a irma Doroty!'

Camaradas, a CPT Maranhao tem enfrentado de tudo: duas vezes foi arrombada, onde levaram documentos e HDs, ligações ameaçadoras e agora mais esta ameaça contra três agentes pastorais.

Peço aos companheiros que possam espalhar essa mensagem por suas listas, porque eu, Diogo Cabral, advogado da CPT e padre Inaldo, coordenador tememos por nossas vidas! Mas apesar das ameaças, nao recuaremos um milímetro!!!

Diogo Cabral advogado da CPT Maranhão
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segunda-feira, 21 de junho de 2010

PT, Maranhão e uma justa homenagem

Pouco comentei no Blog - na verde não comentei nada - sobre a brava luta do Deputado Federal maranhense Domingos Dutra (@DomingosDutra13) contra a direção nacional do PT.

O caso todos conhecem, este bravo deputado, junto com o militante histórico do partido Manoel da Conceição (75 anos e saúde frágil), entrou em greve de fome para exigir que o partido recuasse do golpe que deu contra a direção estadual.

Apoiar Roseana Sarney no Maranhão seria (e é) o mesmo que jogar no lixo 30 anos de luta, 30 anos de embates e combates contra uma das piores e mais agressivas oligarquias do país. Os índices de desenvolvimento do estado falam por sí. O estado está completamente abandonado, pobre, com a população nas piores condições de vida possíveis. São Luís, a capital - e falo por experiência -, está entregue. O centro histórico abandonado, a cidade imunda, perigosa...

Até onde o olhar alcança tudo é da família, ou "famiglia". Terrenos na praia, no interior são dos Sarney. Os melhores empreendimentos tem dedo da família, o principal jornal, a Rede Globo local (que surpresa), os principais políticos estão nos bolsos da famiglia... como uma máfia, tudo controla.

O Maranhão, aliás, é sui generis, o principal jornal de oposição tem o nome de, acreditem, "Jornal Pequeno".

O PT local, o PCdoB, o PDT (de Jackson Lago, que foi cassado a mando da famiglia com a conivência e apoio de nossa "justiça") e tantos outros passaram décadas combatendo essa gangue criminosa para, com uma cartada, a direção nacional do PT obrigar que tudo fosse abandonado.

Era a humilhação final e inaceitável. Humilhação à militância, aos guerreiros, ao PCdoB, ao Flávio Dino... à população do estado.

Esta atitude da Direção, inclusive, foi duramente criticada por muitos militantes não só do Maranhão mas de todo o país e veio logo após outro absurdo: O apoio ao Hélio "Telefônica" Costa para o governo de Minas. outro golpe contra a direção estadual e contra a militância.

Mas, enfim, greve encerrada, uma vitória parcial. A direção nacional continuará a cometer o crime de apoiar a oligarquia estadual, mas permitirá à militância que apoie o candidato do PcdoB - a quem iriam originalmente apoiar - e o espaço para proganda na TV será dividido entre a criminosa Sarney e Flávio Dino.

Parcial, mas ainda assim uma vitória.

Fica aqui minha homenagem a estes lutadores que desafiaram um gigante e conseguiram sensibilizar a todos.


O Blog Conexão Brasília Maranhão é uma boa fonte de informações sobre o caso.
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sábado, 12 de junho de 2010

PT e PMDB: A Falácia das Alianças e a venda das bandeiras


Depois das notícias de que o PT nacional passou por cima dos diretórios estaduais do PT Mineiro e do Maranhense para apoiar respectivamente Hélio "Telefônica" Costa e Roseana Sarney, comecei uma discussão no Twitter com o @fabriciovas sobre a necessidade real da aliança com o PMDB.

Concordamos com o fato de que uma aliança com o PMDB é necessária, pro mais detestável, mas discordamos na necessidade de alianças a qualquer preço, com qualquer um e, especialmente, com o sacrifício do PT regional.

De fato, a matemática é importante - e pelo visto o PT concorda que é mais importante até do que suas bandeiras -, mas eu me questiono se a venda de bandeiras pela matemática nos deixa com qualquer sobra. Só eu enxergo o problema com a idéia de "vender bandeiras para garantir uma matemática para aplicar bandeiras"? Se a bandeira foi vendida, o que sobra?

Lula trouxe avanços, claro, mas a que custo? Vale tudo?

A situação nestas eleições piorou. Temer é vice e o PMDB entrará de corpo e alma no governo.... Será?

Quem conhece o PMDB sabe que é um partido de caciques e oligarquias regionais que não tem nada em comum em termos ideológicos. Abarca desde um Requião até uma Roseana Sarney. É um partido que, por suas características, precisa estar colado ao poder para sobreviver. E assim vem fazendo.

Os defensores das alianças regionais dizem que é preciso fazê-las para garantir o apóio ao PMDB, mas eu questiono: Um partido que precisa do poder para viver e que está longe de ter qualquer unidade iria simplesmente ser oposição por ter a vontade de alguns caciques contrariadas? Iría o PT perder o PMDB do Rio por contrariar o de Minas?

Temer é vice, não nos esqueçamos, não já temos (o PT) de alguma forma algum apóio do PMDB graças à esta aliança?

Eu acredito que alguma alianças espúrias são necessárias, mas não concordo que valha tudo. Limites devem ser impostos. E acredito que os diretórios do PT do Maranhão e de Minas impuseram este limite - que fi desrespeitado pelo PT nacional.

Seria bom perguntar ao povo do Maranhão se eles acham que uma aliança com os Sarney faria a vida deles melhorar.

Quem não é do Maranhão dificilmente consegue entender o grau de rejeição à aliança com os Sarney. Uma coisa é uma aliança nacional, no Senado, outra é impor e referendar o atraso in loco. A esquerda do Maranhão - PT incluso - combatem Roseana e os Sarney em geral há décadas e em troca de uma frágil aliança nacional irão jogar fora todos os anos e sacrifícios dos militantes locais.

Se o PT não respeita sua militância, o que respeitará? O que é o PT sem sua militância? Quem defenderá as bandeiras restantes?

Falamos de um dilema, matemática versus bandeiras, mas no caso do PMDB eu não acredito que estamos dentro deste dilema propriamente dito. E o PP é um exemplo.

O  PP é o que há de pior no país, mas esteve ligado ao PT por 8 anos. Recebeu ministérios e benesses. Mas se recusa a apoiar o PT agora. PRefere o Serra ou a "independência". O que isto nos diz? O básico, não confie na direita, não confie em partidos venais. Com estes tipos, as alianças devem ser pontuais e estruturadas.

Voltemos ao PMDB, o partido do poder. Alguma dúvida de que, se a Dilma perder, o PMDB esquecerá qualquer aliança regional ou nacional e irá para junto do DemoTucanato - caminho inverso ao que fez com a primeira vitória do Lula, um precedente - e fingirá que o PT foi apenas um erro do passado? Se este cenário apocalíptico se confirmar, o PT não só vendeu bandeiras por matemática com um partido traidor - grande novidade! - mas também terá perdido Minas, Maranhão e quantos outros estados mais intervir para desrespeitar a base. E ainda terá perdido exatamente esta, a base.

Ao contrário do @fabriciovaz, eu não acredito que o Lula fosse sofrer qualquer impedimento ou fosse deixar de fazer qualquer mudança por causa do PMDB. Este partido se liga ao poder como lagartixa à uma parede. Seu apóio viria e ponto.


E, acima de tudo, acredito que existem alianças e alianças. Uma suposta governabilidade é válida frente à desgraça de um estado. Vamos vender o Maranhão para governar o Rio e São Paulo? O sacrifício de uns vale a alegria de outros? São todas questões complicadas... Mas acredito que inválidas quando se trata do PMDB.

Esse desespero por supostas maiorias é a desculpa perfeita para o apóio ao vale tudo, para o apoio às piores políticas, piores alianças e piores elementos. Aloprados, Mensalão e cia não vieram de graça, são reflexo da matemática frente às bandeiras. Até onde o PT e sua militância está disposta a ir?

Alianças são importantes, mas eu acho que bandeiras valem mais. O que acha o PT?

Mas, no caso do PMDB, reafirmo, as premissas estão erradas. O PMDB apoiará o PT de qualquer forma  - caso este vença as eleições - e aponto algumas questões também sobre o caráter (sic) do partido:

1. Michel Temer, como vice, garante o apoio já de algumas alas sigificativas e tb ataca a própria moral do partido: Iriam ser oposição com vice no governo?
2. O PT está "garantindo" lugares onde o PMDB já está "domesticado", como Rio, Maranhão e Minas;
3. PMDB precisa de poder, logo, apoiará o vencedor, a história prova;
4. PT perdendo, o PMDB irá para o governo de qualquer forma, nisso, o PT terá perdido eleições certas ou possíveis;
5. Num cenário pessimista, mais ideal que real, valeria este: O PMDB funciona como partido regional antes de nacional, são caciques e oligarquias regionais que só se unem quando há interesse mútuo. Se comprometer em nível regional NÃO garantiria, em tese, apóio nacional.

Dentre outros pontos que já foram levantados ao longo do texto.

É com vocês, militantes do PT.

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domingo, 19 de abril de 2009

Vice de Roseana no Maranhão: Esquadrão da Morte

Cadáveres da ‘Operação Tigre’ assombram passado do vice de Roseana Sarney

Os cadáveres da famigerada "Operação Tigre" - morticínio institucionalizado levado a cabo na região tocantina em 1990 - também assombram o passado político de João Alberto de Souza. Dois deles em especial: Ildeneio Noleto Martins, então com 20 anos, e seu irmão Ildean Noleto Martins, 19. Trabalhadores, sem passagens pela polícia, ambos foram executados pela "Tigre" em junho de 1990, depois de se envolverem num desentendimento familiar.

A "Operação Tigre" foi desencadeada em Imperatriz com o propósito de "varrer" a criminalidade da região. Seu idealizador, o então governador João Alberto, deu uma espécie de "licença para matar" a seu subsecretário de Segurança Pública, o delegado classe especial Luís de Moura Silva (hoje condenado por chefiar o crime organizado no estado) e ao coronel José Rui Salomão Rocha (morto em novembro de 2005, em Fortaleza, em conseqüência de um enfarte).

Os corpos dos irmãos Noleto, fuzilados pela 'Operação Tigre'

Para o advogado José Agenor Dourado, que em 1990 era presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Imperatriz, a "Operação Tigre" se constituiu num dos maiores morticínios institucionalizados do país.

"Foi mais grave do que os 'esquadrões da morte', que agiram no Rio e em São Paulo nas décadas de 60 e 70. Os 'esquadrões' eram grupos de policiais insatisfeitos que atuavam à revelia do Estado. A 'Tigre' foi incumbida de matar, assassinar, pelo próprio Estado. Ela foi determinada pelo próprio governador. Isso é muito mais detestável do que alguns policiais formarem um grupo de extermínio".

Não se sabe até hoje - e talvez nunca se saiba com exatidão - quantas pessoas foram executadas pela "Tigre". De acordo com o advogado Josemar Pinheiro, também ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, que enviou à Organização das Nações Unidas (ONU) dados sobre a operação, mais de 100 pessoas foram assassinadas pela polícia nos pouco mais de quatro meses em que os PMs pistoleiros atuaram na região de Imperatriz.

Sabe-se que bandidos notórios sucumbiram crivados de balas, mas muita gente com ficha policial limpa - ou na condição de meros suspeitos - também foi morta. Entre eles, os irmãos Ildeneio e Ildean Noleto.

Oswaldo Viviani, Jornal Pequeno


Gente do povo grita, protesta e chora em frente ao Palácio

Depois de passar às mãos do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Raimundo Cutrim, o documento comprobatório das condições em que estava deixando o Palácio dos Leões, o ex-governador Jackson Lago anunciou o fim do ‘aquartelamento’. Ele disse que iria sair pelo portão principal, da mesma forma como entrou, no dia da posse, e saiu.

Neste momento, Jackson deixou o palácio ao lado da esposa, Clay Lago, do ex-vice-governador Luiz Carlos Porto, do presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Tavares, dos deputados federais Roberto Rocha, Domingos Dutra, Julião Amin e Ribamar Alves e dos deputados estaduais Edivaldo Holanda, Rubens Júnior, Eliziane Gama, Afonso Manoel, Valdinar Barros, Nonato Aragão, Mauro Jorge, Chico Leitoa e Penaldon Jorge.

Estavam também ao lado de Jackson diversos vereadores e prefeitos de municípios do interior do Estado e os ex-secretários Lourenço Vieira da Silva, Joãozinho Ribeiro, Júlio Noronha, Margarete Cutrim, Aderson Lago, Luiz Pedro, Abdelaziz Aboud Santos, Eurídice Vidigal, João Francisco dos Santos e outros.

Quando o ex-governador desceu à Avenida Pedro II, houve um momento de comoção: muitos militantes, chorando e agitando bandeiras e cartazes, despediram-se dele gritando: “Jackson, guerreiro do povo brasileiro”. “Vamos continuar lutando. Vamos escolher estratégias que não tirem de nós a imagem de legalistas, de cidadãos cumpridores do seu dever. Vamos continuar processos outros. Só vamos mudar de local de resistência”. Com essas palavras o ex-governador pôs fim ao movimento de resistência no Palácio dos Leões, 48 horas após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinou a posse de Roseana Sarney no governo do Maranhão.

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As polêmicas, manobras e desmandos de José Sarney, o último donatário do Brasil

Por Bob Fernandes e Cláudio Leal

Para a Revista RG Vogue

Via Jornal Pequeno

PODRES PODERES

Há 50 anos no epicentro das decisões do país, José Sarney é o parlamentar mais antigo em atividade no Congresso Nacional. Romancista bissexto, imortal, ex-deputado, ex-governador, ex-presidente da República e, desde fevereiro, mandachuva do Senado - cargo que conquistou com a lei do menor esforço em apenas dois meses de manobras espetaculares e altamente controversas - ele se perpetua no poder à moda de um senhor feudal. Aqui, retornamos a trajetória do homem que sobreviveu à ditadura, à transição democrática e ao governo de quatro presidentes seguindo a máxima de que se não pode vencê-los, muita calma: ainda falta pouco

Na noite do mesmo 14 de março, Tancredo Neves foi internado e operado às pressas no Hospital de Base, em Brasília. Horas depois, em 15 de março de 1985, arrastado pelo destino, José Sarney tomou posse como presidente da República do Brasil. Eleito vice no colégio eleitoral indireto, ao final de 21 anos de ditadura, à última hora substituiu o enfermo presidente. Sete cirurgias e 38 dias depois Tancredo Neves chegou ao Palácio do Planalto, símbolo do poder que perseguira por meio século; num caixão subiu a rampa do Palácio onde Sarney já governava.

Ruas de São Luís, Maranhão, 29 anos antes. A câmera de Glauber Rocha acompanha o jovem José Sarney. O político entra no carro chapa preta, conduzido em ritmo fluvial por mãos anônimas. "Sarney! Sarney! Sarney!" - o coro ecoa na praça lotada. Risonho, bigode escovado, o jovem enfrenta a escada do palanque e acena com os braços, numa ginástica de governador em dia de posse.

No curta "Maranhão 66", registro histórico da ascensão do líder nordestino ao governo do Estado, Glauber logo vai separar palavra e imagem, promessa e montagem, espaço e tempo. Sarney discursa:

"Recebo na praça pública o direito de governar o Maranhão, direito que me foi dado pela vontade soberana do povo..."

Mas a câmera não o acompanha mais. Corre um casarão vazio; em seguida, palhoças, cortiços de taipa, onde não há sequer chão. Seqüência de prédios públicos carcomidos. E o eco das palavras de Sarney:

"O Maranhão não suportava mais, nem queria, o contraste de suas terras férteis e seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais, com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero..."

Rostos famélicos em leitos de hospital. Cabeças raspadas, doentes formam par com o discurso de posse:

"O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo, as mais altas taxas de mortalidade infantil, de tuberculose, de malária, de esquistossomo..."

Vêm o silêncio e um homem sentado em seu leito. Confrontado pelo microfone, exibe indignação:

- Estou aqui trêmulo, sem ter um pingo de sangue na minha veia...

Uma das trajetórias mais longas na República, 43 anos desde aquele dia flagrado por Glauber nas ruas e praças de São Luís, José Sarney acaba de assumir pela terceira vez a Presidência do Congresso Nacional. Inevitável o confronto entre a história do senador de 78 anos e o discurso do jovem governador vitorioso na década de 60, eleito à sombra do ditador Castello Branco.

De uma ponta a outra, algo parece irremediavelmente perdido, exceto o poder. Sem ter superado atrasos históricos, o Maranhão de 1966 o acompanha como uma câmera fantasmagórica de Glauber. Ou uma fotografia incômoda. Por quatro décadas, o Sarney controlou a máquina administrativa do Estado. Nem mesmo o acaso da Presidência, em 1985, influenciou uma reversão dos indicadores sociais.

Na radiografia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), os municípios maranhenses ocupavam em 2005 dramáticas posições no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Estado cravou o baixo índice de 0,683 - 26ª posição, acima apenas de Alagoas. Em 2007, a média nacional atingiu 0,800. Esse cálculo envolve o PIB per capita, a educação e a longevidade.

Os números da educação são capazes de amargar o chá dos imortais da Academia Brasileira de Letras, onde Sarney tem assento. O levantamento do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, apontou em 2006 que os alunos do Maranhão tiveram os piores desempenhos do país. São avaliados estudantes de 15 anos em provas de matemática, ciências e leitura.

Dá para esboçar um quadro do ensino na terra do escritor Artur de Azevedo ao saber que os alunos brasileiros se situaram entre os piores do mundo: entre 57 países, 53° em matemática; entre 56, 48° em leitura. Os estudantes maranhenses estão abaixo da já vexatória média nacional.

Outros dados negativos maltratam a história do clã Sarney. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1980 e 2006 o índice de mortalidade infantil, no Maranhão, caiu de 86,1 para 40,7. A queda soa brusca, importante, mas na vida real isso significa que, em 2006, num grupo de mil crianças com menos de um ano de idade ainda morriam cerca de 40. Novamente, pior do que no Maranhão só Alagoas.

Esses indicadores negativos não encabularam a família na hora de colar o sobrenome a obras públicas, apesar da restrição legal ao batismo com nomes de homenageados vivos. Em crônica na carioca Tribuna da Imprensa, o jornalista Sebastião Nery brinca com a auto celebração familiar:

- No Maranhão, para nascer, maternidade Marly Sarney. Para morar, vilas Sarney, Kiola Sarney (mãe do presidente, já falecida) ou Roseana Sarney. Para estudar, escolas José Sarney, Marly Sarney, Roseana Sarney, Fernando Sarney, Sarney Neto... Para saber notícias, leia O Estado do Maranhão, ligue a TV Mirante ou as rádios Mirante AM e Mirante FM, todas de José Sarney. Se estiver no interior, ligue uma das 13 repetidoras da TV Mirante ou uma das 35 emissoras de rádio, também todas do mesmo José Sarney... Desde Calígula, quem sabe Nero, nunca se viu gente tão abusada - ironiza Nery.

Depois de quatro décadas de hegemonia, Sarney, senador pelo PMDB do Amapá, sofreu um revés: o opositor Jackson Lago venceu a filha do ex-presidente, Roseana, nas eleições de 2006. Durou pouco. O primeiro respiro político do Maranhão gorou. No início de março deste ano, por cinco votos a dois, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu pela cassação do mandato de Lago, acusado de abuso de poder econômico e compra de votos na eleição em que saiu vitorioso.

A sobrevida política de José Sarney não está apenas ligada aos limites do que se convencionou chamar de "coronelismo", conceito por vezes reducionista. E míope. Nunca é demais lembrar a preconceituosos e racistas em geral que figuras como, por exemplo, Paulo Maluf, Celso Pitta, Anthony e Rosa Garotinho, ou ainda o triunvirato Emílio Garrastazu Médici, João Figueiredo e Ernesto Geisel são, entre tantos outros do mesmo quilate, produtos do sudeste e do sul. O Brasil é, desde sempre, país de cúpulas empresariais, culturais, políticas, futebolísticas e todas mais, cevadas, grudadas nas tetas do estado, algo que Raimundo Faoro definiu em Os Donos do Poder, de 1958, como "Patrimonialismo Oligárquico". Cultura, modus vivendi este que independe de latitude e longitude.

O presidente do Congresso possui, e não há porque não reconhecer, um faro político raro, não necessariamente preso a métodos rudimentares. Sabe sondar os seres de Brasília, pensar a frio, blefar com ares de acadêmico, dobrar cenários desfavoráveis, misturar ingredientes da Velha e da Nova República. Essas habilidades se fizeram notar na última vitória, a de fevereiro no Senado, quando venceu a dobradinha PT-PSDB montada em torno do senador petista Tião Viana, do Acre.

Os dissabores de presidente da República, na transição democrática, certamente o vacinaram contra as artes e manhas do Congresso. Na madrugada de 15 de março de 1985, a poucas horas da posse, o general Leônidas Pires Gonçalves telefonou para o vice de Tancredo Neves, o senador Sarney. Dúvidas jurídicas e políticas ainda emperravam a definição do sucessor legal do presidente eleito, mas o general comunicou a Sarney a definição por seu nome. Diante de ponderações distintas, de prós e contras, o general Leônidas encerrou o papo: "Boa noite, presidente!"

Foto: SÉRGIO LIMA/FOLHA IMAGEM

Sarney passa revista na tropa: uma manobra espetacular, fruto de apenas dois meses de esforço, o reconduziu à Presidência do Senado em fevereiro

Foto: ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO

Relaxando no Maranhão, um estado para chamar de seu e que tem os piores indicadores sociais do país, depois de alagoas

Um desembarque bem calculado do alinhamento total à ditadura militar levou-o ao papel de protagonista da redemocratização do Brasil. No dia 11 de junho de 1984, o PDS ainda se dividia entre Paulo Maluf, Mário Andreazza e Aureliano Chaves na sucessão presidencial. O livro O Complô que Elegeu Tancredo (Editora JB, 1985) guarda um instantâneo da deserção de Sarney. Precavido, o líder maranhense portava um revólver naquela manhã, na reunião marcada para a sede do PDS:

- ...Em uma das salas do edifício Sofia no Setor Comercial Sul, o senador José Sarney, revólver calibre 38 preso à cintura, tenso, rodeado de amigos, estava reunido com a Executiva do PDS para anunciar sua renúncia, em caráter irrevogável, à Presidência do Partido (...) Sarney perdera qualquer esperança de reparar as rachaduras do Partido sob o seu comando e decidira apoiar um candidato da oposição à sucessão presidencial, cristalizando assim a dissidência do PDS que ajudaria a eleger Tancredo Neves.

Na Presidência, Sarney herdou de Tancredo um batalhão de ministros inamistosos. Conduziria um transatlântico que abrigava ex-apoiadores do golpe de 1964 e peemedebistas de quatro costados. No Congresso, o plenipotenciário Ulysses Guimarães amarrava Sarney a compromissos espinhosos, num ensaio de parlamentarismo. Ulysses chegou a acumular quatro presidências simultâneas no tempo da Assembléia Constituinte (além desta, a Câmara, o PMDB e a presidência da República, na ausência de Sarney). Era um contrapeso incômodo, mas inevitável. O fracasso do Plano Cruzado só intensificaria os confrontos. Ulysses Guimarães se divertia com o jogo de poder e em espicaçar Sarney.

Um fotograma desse game no almoço de 15 de novembro de 1985. O presidente do PMDB está no restaurante Massimo, na Alameda Santos, em São Paulo. As pesquisas de opinião indicam que naquele dia Fernando Henrique vencerá Jânio Quadros em São Paulo e que país afora o PMDB vai atropelar nas urnas. Abertas as urnas Jânio Quadros derrotou Fernando Henrique e o PMDB foi atropelado em outras capitais, mas à hora do almoço a vitória era certa. No restaurante Massimo, Ulysses Guimarães informava a meia dúzia de jornalistas:

- Amanhã é dia de chegar em Brasília e perguntar: "E agora, José?"

A pergunta não foi feita.

Em recente sabatina na Folha de S. Paulo, Sarney afirmou não desejar ficar para a história como o presidente da inflação de 40%: "Quero que o povo me julgue como o presidente da agenda da democracia". Motorneiro da transição democrática, enquanto o país ainda ajustava as contas com a ditadura, Sarney cumpriu à sua maneira, com avanços e recaídas, o papel que o destino e a história lhe reservaram. As artes e manhas de ex-udenista "Bossa Nova", formado no intervalo democrático de 1946-1964, certamente o ajudaram na condução do barco até as eleições diretas, mas não o salvaram do melancólico fim de governo: derrota, em 1989, na primeira eleição direta pós-ditadura, quando chegou às urnas a bordo de uma inflação escandalosa e impopularidade recorde.

O salvo-conduto da democracia não merece ser estendido à batalha pelos cinco anos de governo, uma de suas recaídas no viés autoritário. Em dobradinha com o então ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, flor da estufa da ditadura, o presidente Sarney patrocinou o arcaico festival de distribuição de canais de rádio e televisão. Em nítida troca de favores com congressistas, no contexto da fixação do mandato de cinco anos e do debate sobre o presidencialismo, Sarney distribuiu a granel 1.091 concessões - 165 delas beneficiaram parlamentares e 257 foram assinadas às vésperas da promulgação da Constituição. Sarney e ACM saíram dessa farra cívico-midiática com um vasto capital político, o que em parte explica o tratamento amistoso de boa parte da imprensa nas décadas seguintes. E explica ainda mais o arsenal de mídia montado e mantido até hoje pelos dois chefes, e ou sucessores, em seus feudos.

Numa tentativa de polir a biografia, mais e mais o ex-presidente constrói uma vida intelectual paralela ao poder, seja como cronista, seja como romancista. A seu favor, o fato de ter ingressado na Academia Brasileira de Letras em 1980, antes de se ter tornado presidente. Mas o veio literato não esteve, não está livre de petardos. A exposição política lançou olhares impiedosos em direção à obra do autor de Os Marimbondos de Fogo e Brejal dos Guajás. No impertinente Crítica da Razão Impura Ou o Primado da Ignorância, no qual alveja também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o humorista Millôr Fernandes vai à jugular:

- Brejal dos Guajás só pode ser considerado um livro porque, na definição da Unesco, livro "é uma publicação impressa não periódica, com um mínimo de 49 páginas". O Brejal tem 50. Materialmente, sir Ney salvou-se por uma página.

Amostras do temperamento híbrido do presidente Sarney - ora manso, ora autocrático - podem ser pinçadas nas memórias do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra, historicamente ligado a Tancredo e por este alçado ao ministério. O recém-publicado Daquilo que Eu Sei traz um diálogo ilustrativo entre Lyra e Sarney. Pressionado pela Igreja Católica, o presidente encampou a censura ao filme Je Vous Salue, Marie, do cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, expoente da Nouvelle Vague.

O ministro da Justiça tentou retardar uma decisão, para amainar os ânimos do cardinalato católico. Mas Sarney o convocou para uma conversa quase definitiva no Planalto. Queria atender ao pedido da "aliada" Igreja. O tema já motivava críticas iradas de artistas e intelectuais - entre os críticos, o compositor Caetano Veloso. Oito dias antes de deixar o ministério, Lyra entrou no gabinete presidencial. Diálogo sem volteios:

- Preciso que esse filme seja censurado hoje.

- Presidente, eu não censuro.

- Eu assumo a responsabilidade.

- O senhor assume a responsabilidade, mas a assinatura determinando a censura será a minha Não censuro.

- Eu assumo.

- Presidente, não pode ser assim. O senhor vai me dar um tempo para eu ver o que posso fazer.

Decidido a renunciar imediatamente ao cargo, Lyra ouviu conselhos de assessores e esperou a reforma ministerial. A censura só foi efetivada após sua saída.

"Não renunciei, não censurei, mas foi uma falha histórica que até hoje, vinte e poucos anos depois, continuo a pagar sem dever", confessa o ex-ministro.

O episódio realça um dos aspectos da personalidade de Sarney: nas vindas, para fortalecer-se diante de aliados patrocina, patrocinou, o necessário. Às vezes, daquele silêncio todo escapa algo entre a comédia e o patético. Noutro dia, tragicômica a entrevista de Sarney com Alexandre Garcia na Globo News. Sarney já eleito presidente do Congresso a deitar lições e falações sobre um dos raros inimigos por ele nominados, Hugo Chávez. Na argumentação do senador, ataques a aspectos que considera pouco democráticos no governo venezuelano; o cerco à mídia, a origem castrense et Cetera. Faltou o perguntador perguntar: mas presidente, falando em mídia, e o seu formidável arsenal midiático, sempre a postos para fuzilar adversários ou ungir os seus lá no Maranhão? E o seu passado político nos 21 anos de ditadura formal, clássica?

Foto: ALAN MARQUES/FOLHA IMAGEM

Com a filha Roseana, a favorita e herdeira política: derrotada nas últimas eleições para o governo do Maranhão, reassumiu esta semana o trono de 40 anos da família

Qualificado de "senhor semifeudal" pela revista britânica The Economist após a vitória de 2 de fevereiro no Congresso, o senador, que respondeu à revista em carta, se nutre do poder federal, espécie de fiador da cadeia de mando na província. Desde 1994, soube colar-se a candidaturas bem-sucedidas: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por duas vezes, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também em dose dupla. Em 2002, anteviu a filha Roseana no Palácio do Planalto. Líder nas pesquisas, a candidata do PFL era a favorita na sucessão presidencial, ultrapassando Lula e José Serra. Veio uma rasteira de contornos ainda turvos, mas rasteira.

A Polícia Federal invadiu o escritório da Lunus, empresa com digitais da família, em São Luís, e apreendeu R$ 1,4 milhão. As imagens ganharam os telejornais, as manchetes e as capas. Sarney, um pote de mágoas com o governo FHC, desconfiou abertamente do dedo do candidato Serra na operação que transformou em vinagre a campanha da filha. Para dizer isso foi à tribuna, onde discursou e brandiu a revista Carta Capital, em edição que relatava o episódio. Sete anos mais tarde, presidente do Senado, Sarney se impõe como um dos protagonistas da sucessão de 2010. Irá se compor previamente com os vencedores, como se tornou tradição, ou em nome da filha seu coração ainda é um pote até aqui de mágoas?

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