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"E que eu por ti, se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar teu nome LIBERDADE". Carlos Marighella |
É o que posso resumir do Churrascão da Gente diferenciada que aconteceu na Luz, na famigerada Cracolândia, onde pude ver - porem sem ainda acreditar - onde centenas de pessoas vivem como animais, como se não fossem gente.
De um lado da rua prédios e moradias normais, um salão de beleza, bares... Como se estivéssemos em qualquer bairro de classe trabalhadora de são Paulo ou de outras grandes cidades. Do outro, um edifício semi-demolido, com janelas emparedadas, totalmente pixado e, claramente assustador.
A "city cracko", como diz uma pixação logo em sua entrada. Uma casa de dor e sofrimento que não precisava da PM para ampliar sentimentos e sensações tão comuns àquele local.
A visão tão estranha de uma aparente normalidade de um lado da rua para a completa degradação humana loco na frente me chocou. Admito que, na hora, pouco pensei sobre, mas ao contrário do normal, não consegui gravar muito ou tirar muitas fotos. fiquei apenas ali, encontrando com amigos e conhecidos e num estado meio de torpor, salpicado pelo medo de uma ação violenta da PM, que rondava com cara de poucos amigos e que, à medida que o tempo passava, aumentava seu efetivo e às vezes até faia um showzinho com viaturas em alta velocidade circulando pelas ruas que iam esvaziando.
Os que ficavam diziam que temiam uma "resposta" violenta da PM frente à nossa manifestação, como se quem já não tinha nada e vive em meio às drogas e a miséria merecessem ser castigados por mais alguma coisa.
É difícil pensar em humanidade ou mesmo em sociedade quando nos deparamos com a Cracolândia, com que vive lá, com que sofre lá. O ódio contra "autoridades" que tratam aquelas pessoas pior do que tratam animais peçonhentos apenas cresce, transborda. O fascismo de um governo (municipal, estadual e federal) que se recusa a tratar com humanidade pessoas que não perderam a sua, que amam, que sofrem e, contra tudo que foi dito, raciocinam e tem plena capacidade de argumentar e acima de tudo, de entender e lamentar sua situação, me deixa sem palavras.
Ou melhor, me deixa com mais ódio ao ponto dep recisar moderar as palavras que me surgem e tentam transbordar. Acredito que deveria ser obrigação de todos e todas que sobem no pedestal para dizer que quem está na Cracolândia deve ser FORÇADO a se "tratar" ou que deve ser tratado como animal, fazer uma visitinha ao local e conversar com quem vive lá. É uma verdadeira mudança de vida, na forma como se enxerga o outro.