quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dilma venceu. E agora? [Política Externa, novos desafios]

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Tratando especificamente dos novos desafios, parece simplista dizer que cabe a Dilma manter a mesma orientação em termos de política externa e buscar apenas aprofundar os laços já estabelecidos com nossos parceiros.

Mas a questão é realmente simples. Os desafios enfrentados por Lula e Amorim foram vários, típicos de um mundo em transformação, de uma unipolaridade para uma multipolaridade de fato (EUA permanecem como potência militar única, mas sua influência diminui em outras áreas) e dentro de um processo de mudança de paradigma na nossa política externa.

Mas, enfim, o que Dilma deve fazer então daqui pra frente?

Em primeiro lugar, manter o Celso Amorim no cargo (ainda que estejam falando que ele pode assumir a pasta da Cultura) ou colocar em seu lugar alguém por ele indicado e que continue seu legado. É impensável qualquer tipo de mudança brusca em nossa política externa que ponha em perigo os avanços conquistados.

Dilma deve se aproximar ainda mais de nossos vizinhos latinoamericanos, buscando uma maior cooperação econômica e política e, quem sabe, uma aproximação mais corajosa na órbita da ALBA. Fortalecer o Mercosul é passo óbvio. Pouco fizemos de específico para fortalecer o Mercosul e é a hora de investir pesadamente num relacionamento mais forte com nossos vizinhos mais próximos.

No Oriente Médio cabe ao Brasil permanecer firme em sua defesa do programa nuclear pacífico iraniano e buscar manter-se como contraponto às políticas imperialistas na região. Quanto à questão Palestina, caberia ao país buscar ser mais incisivo e talvez iniciar conversações próprias com os lados do conflito.

Seria impossível citar todos os pontos relacionados à política externa, à posição do país frente aos organismos internacionais, na ONU, aos organismos financeiros ou mesmo em relação aos mais diversos países com os quais mantemos, hoje, relações mito mais fraternais, o importante, no entanto, é deixar clara a necessidade de manter a política externa intacta ou, no máximo, permitir alguns pequenos ajustes pontuais.

Hoje já não depende apenas de nós uma vaga no Conselho de Segurança, mas na boa vontade das potências porque, de forma geral, o Brasil vem construindo uma ampla e sólida base de apoio que conta até mesmo com o apoio de nossos vizinhos argentinos, históricos rivais pela hegemonia regional (por mais engraçado que isto possa parecer).

O aprofundamento de nossas alianças com países não-alinhados aos EUA pode, por um lado, propiciar um amplo apoio, mas por outro pode dificultar as coisas com os EUA propriamente dito e com capachos de ocasião ou não de seus interesses. É o multilateralismo militante contra o conformismo envergonhado.

Uma vaga, enfim, no Conselho de Segurança seria o ponto alto de todo um processo de revisão da nossa política externa e do nosso amadurecimento político e, obviamente, do reconhecimento do país como uma potência média, mas atuante no cenário internacional e com interesses que vão além da mera influência periférica ou local.

Resumidamente, a política externa de Dilma deverá se pautar pelo continuísmo sem, porém, cair no imobilismo ou em uma zona de conforto. Deve lutar duramente para manter sua proeminência internacional, para se manter atuante.
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