sexta-feira, 24 de julho de 2009

Honduras: Porque Zelaya está sozinho? Breve análise.

Pin It
Antes de mais nada é bom notar a mudança perceptível na posição da mídia quanto ao golpe em Honduras. Inicialmente este nome, "Golpe", era impensável, impronunciável mas, depois de algum tempo tornou-se padrão. O governo golpista é chamado de "de fato" ou de "golpista" agora de forma mais aberta e direta.

Ainda falando sobre o PIG, é de se notar que ele ainda comete "deslizes, basta notar a manchete do G1, ontem, afirmando que apoiadores de Mciheletti "marcham por democracia e contra Zelaya e Chávez". Difícil compreender qual a noção de "democracia" das organizações Globo.

Dito isto, este não é um motivo para comemoração. Primeiro lugar, a mídia não costuma mudar de posição tão facilmente sem que haja algo por trás, dado o tamanho e alcance do golpismo e canalhice de nosso PIG, a mudança de comportamento é, no mínimo, suspeita. Segundo, e principal, apesar de mudança de comportamento da mídia, Zelaya esta, ainda, isolado.

Digo isolado porque, mesmo sem qualquer reconhecimento internacional do governo golpista de Hnduras - mesmo com anúncios desmentidos de reconhecimento por parte de Israel, Taiwan e mais recentemente da Colômbia -, mesmo com o repúdio da OEA (quem diria!), da ONU e de praticamente todo país que de dispôs a falar alguma coisa sobre a situação, nada de concreto foi tentado.

Nada além de discussões sem qualquer futuro na Costa Rica e um ensaio de embargo por parte da União Européia. Tudo isto soa bonito, repúdio, embargo... Mas nenhuma ação real apra recolocar Zelaya no poder. E está e a grande questão.

Possibilidades são muitas, ação, por outro lado.... Vale lembrar que Honduras é um país minúsculo e quase irrelevante para o mundo pela sua economia incipiente e histórico de golpes - mais um não seria grande surpresa.

Não é crível que qualquer país, por mais aliado que seja, tenha o interesse de invadir um país, sabendo que terá baixas significantes, especialmente quando o presidente, por mais legal e constitucional que seja, não tem qualquer apoio na estrutura estatal. Nem judiciário, nem parlamento, nem exército e, claro, muito menos a oligarquia, apóiam Zelaya, que ainda encontra resistência em importantes setores da sociedade.

Por mais que seja o presidente constitucional e tnha apoio do grosso do povo, a situação não se mostra propícia à uma invasão que, também, teria de estender seu mandato para reconstruir o país e, sem dúvida, para reformular e manter as estruturas estatais destruídas.

Além disso não seria do próprio interesse de Zelaya ter seu país, já pobre, destruído e invadido. A melhor solução é a dialogada.

Porém, é notável a falta de apoio dos EUA, que se limitam à repudiar o golpe mas não surgem com qualquer proposta viável, sem surgir como moderadores ou sequer terem uma ação proativa na questão. Na verdade, parte da estrutura de Washington é acusada de ter apoiado o golpe.

Vale salientar, aliás, que, na ONU, o caso de Honduras foi votado apenas na Assembléia Geral, que não tem qualquer poder vinculante, no Conselho de Segurança estavam ocupados demais condenando o programa nuclear do Irã ou alguma coisa tão importante quanto (sim, ironia pesada).

Importa mais ao mundo fingir que o Irã é um perigo mundial porque supostamente produz armas nucleares (o Paquistão, a Índia, os EUA, a China são pacíficos, não tem perigo, qual o problema deles terem armas nucleares?), do que o fato de um país democrático ter sido vítima de um golpe, de violações dos direitos humanos, ter sua população atacada pelo exército, ter seus líderes mortos ou expulsos do país e sua oposição, lideranças de movimentos sociais e mídia silenciadas.
"A missão [...] identificou a existência de graves violações aos direitos humanos ocorridas no país após o golpe de Estado", disse Enrique Santiago, da Federação de Associações de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Espanha.

O Comissário dos Direitos Humanos de Honduras, Ramón Angel Custodio, que apoia com entusiasmo o governo Micheletti negou as informações sobre violação aos direitos humanos que teriam sido cometidas no país, assim como o próprio Micheletti.

A missão divulgou um informe de 14 páginas que menciona quatro assassinatos por motivações aparentemente políticas e um de natureza homofóbica. Estas mortes se somam à de Isis Murillo, o jovem que segundo o relatório foi morto por soldados no dia 5 de julho em manifestação perto do aeroporto de Toncontín.

Entre as vítimas, o relatório menciona Vicky Hernández Castillo (Sonny Emelson Hernández Castillo, "membro da comunidade GLS" (Gays, lésbicas e simpatizantes), "morto com um tiro no olho e com marcas de estrangulamento, durante o toque de recolher, em San Pedro Sula".

Maior interesse demonstram os EUA em suas guerras particulares "contra o terror" e no isolamento de Coréia do Norte e Irã, além do apóio constante dado à Israel. Honduras é por demais pequeno para preocupações imediatas. Aliá,s desde o começo do governo Obama que, muito se falou em mudança, mas até agora nada mudou, só o discurso.

Em Honduras, uso do instrumento do Toque de Recolher é constante no país, além das costumeiras práticas de intimidação e violência estatal. O povo, por sua vez, convocou uma greve geral que paralisa o país.
------------------

Neste momento Zelaya está em marcha pela Nicarágua para chegar até a fronteira de Honduras e, então, chegar até Tegucigalpa. Caso os militatres Hondurenhos permitam, o que não prece ser o caso. Da parte do secretário geral da OEA, apenas um pedido de prudência e, dos presidentes da AL, boa sorte.

Zelaya é acompanhado por Nicolás Maduro, chanceler da Venezuela, a ex-chanceler de Honhduras, Patricia Rodas, além de ex-guerrilheiros Sandinistas comandados por Edén Pastora, comandante Sandinista que ajudou na derrubada de Anastacio Somoza.

O Exército Hondurenho fechou a fronteira e bloqueou estradas, além de ter impedido a circulação de veículos na região de fronteira entre Nicarágua e Honduras à espera de Zelaya. O que acontecerá quando este chegar à fronteira, ainda não se sabe. O governo golpista não dá mostras de que cederá e ameaça prender o presidente eleito e constitucional.

Lo lado de Zelaya, este pede calma e um diálogo aberto na região de fronteira para poder retornar pacificamente ao seu país e ao cargo para o qual foi eleito pelo povo, já Pastora afirmou que o problema hondurenho só seria resolvido pela "via das armas" e rejeitou a mediação costarriquenha.

Do lado golpista, Micheletti recusa-se a negociar, não aceitou qualquer condição nas negociações na Costa Rica e pediu à Zelaya que desista de retornar:
"Eu faço um chamado para que evite essa provocação e desista de sua pretensão de provocar violência"
A posição dos EUA é, no mínimo, dúbia. Por um lado Obama não cansa de declarar que o golpe foi ilegal e que Zelaya ainda é o legítimo chefe de Estado, mas, por outro lado, o governo americano afirma que a força, a insurreição - convocada por Zelaya - não é o caminho, ou seja, por um lado repudia, por outro se limita a pedir que o governo golpista seja isolado, coloca panos quentes e não traz qualquer solução viável além de isolar o povo de Honduras que continua refém de um governo violento e ilegal.

Neste bolo ainda é digna de nota a acusação de Zelaya de que a direita estadunidense estaria envolvida em sua deposição o que, sem dúvida, é crível e provável fato. É difícil conceber um golpe em pleno quintal dos EUA sem que este soubesse previamente ou tivesse algum papel, seja diretamente por parte do governo ou por setores "linha-dura".
------