sábado, 1 de janeiro de 2011

O Governo Lula, "vítima" de suas próprias políticas sociais - Parte 1

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O artigo a seguir tem o objetivo de fazer uma análise crítica, à esquerda, dos 8 anos d governo Lula. Artigos tecendo milhões de elogios ao, agora, ex-presidente, são constantes na blogosfera, mas minha intenção é a de, por outro lado, tentar trazer à luz as contradições e os principais problemas encontrados - e em certa medida causados - pela chegada de Lula ao poder tendo como foco os movimentos sociais, os programas sociais e suas contradições.

Apesar de reconhecer o que foi feito pelo governo, é impossível deixar de analisar, também, as contradições criadas.
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A  situação a que chegou a eleição, uma disputa entre o fanatismo religioso e o Estado laico e seus defensores não foi apenas mero acaso, mas o resultado de uma série de fatores que, no fim, servem como uma lição à falta de politização que permeou o governo Lula.
Alguns fatores podem parecer contraditórios, mas na verdade ajudam a explicar o porque de, apesar de um governo com 80% de aprovação, Lula não ter conseguido, sozinho, eleger sua sucessora - foi preciso uma aliança carnal com o PMDB e muita negociação de bastidores com a escória política - e não ter conseguido controlar a boataria neopentecostal.

Aliás, Lula é parte preponderante do problema. Quem tem fama, quem é reconhecido por ter feito verdadeiras mudanças no país é o Lula. Não o PT. Se fosse Lula o candidato a eleição provavelmente teria acabado no primeiro turno, mas como a candidata era outra, mesmo do PT, a briga ficou feia.

O PSDB de Serra não teria elogiado o PT, mas não viu problemas em elogiar Lula, que está acima do partido e que, para muitos, sequer representa o partido. Esta aura em torno do líder foi, de certa forma, prejudicial. Descolou a imagem de Lula do PT.

A moda de se colocar o aborto na disputa é o resultado de uma série de fatores, surgidos até mesmo antes da eleição de Lula, em 2002, mas que foram, ironicamente, agravados por suas políticas.
Combateu-se apena as desigualdades de forma cosmética sem, porém, ter havido uma profunda revolução na estrutura social ou mesmo de poder.

O governo foi responsável por mudanças significativas, mas de profundidade duvidosa. Se pautou pela ascensão social de grupos marginalizados dentro do mesmo modelo capitalista exploratório de antes, ou seja, criou uma classe média artificial.

Criou uma classe sem qualquer identificação consigo mesma. Trouxe para um novo patamar um sub-proletariado que apenas viu engordar sua conta bancária, mas não sua bagagem intelectual ou mesmo sem que se tenha sido criado um vínculo classista.

Mov. sociais

A chegada do PT ao poder acabou por neutralizar os setores mais combativos dos Movimentos Sociais. É um diagnóstico certeiro. Muitos movimentos viram, na chegada do Lula ao poder, sua redenção. Imaginaram que poderiam simplesmente sentar e esperar pelas transformações, sem a necessidade mais de amplas mobilizações, pois tinha chegado ao poder "seu" governo.
Quando a realidade os alcançou era muito tarde.

Lá estão os bancários novamente em greve, sem concessões. O governo não lhes beneficiou em nada. Os salários continuam sendo miseráveis e as greves sumariamente ignoradas.  Os movimentos dos Sem Teto continuam na sua luta, pois o que o governo propõe construir para resolver o problema da habitação não só é insuficiente, como em muitos casos visa beneficiar quase que exclusivamente as grandes construtoras (Minha Casa, Minha Vida). Daí que as ocupações, especialmente em São Paulo, continuam à toda.

A questão da Reforma Agrária é ainda mais emblemática. Foi absolutamente abandonada pelo governo.

Durante o primeiro governo Lula ainda se falava sobre o assunto, no segundo o tema foi completamente abandonado e, num possível governo Dilma, não há qualquer possibilidade de sequer se pensar em uma reforma agrária.

Os Movimentos Sociais pagam, hoje, pela sua completa apatia.

Aparelhamento

Resultado desta alienação trazida pela chegada do PT ao poder está, também, no aparelhamento feito pelo governo (não necessariamente intencional) de organizações como UNE e CUT.
Estas organizações, comandadas por partidos ligados ao governo (PCdoB/UJS e PT), tomaram como primeira atitude frente à vitória do PT o aparelhamento, a aproximação carnal com o governo.

Isto foi e ainda é extremamente nocivo ao movimento estudantil e social, pois eliminou parte importantíssima da crítica, neutralizou setores combativos da sociedade e, por fim, propiciou o racha tanto na CUT (com CTB, Intersindical e Conlutas) quanto na UNE (Conlute e depois ANEL), pulverizando a resistência ao patronato e aos desmandos e iniciativas contra os trabalhadores e estudantes.

Este aparelhamento, e consequente racha, de importantes movimentos sociais levou a um enfraquecimento do papel destes frente à sociedade. Trouxe uma imagem negativa, sectária, de movimentos da mais alta relevância.
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