sábado, 31 de março de 2012

Escracho e Abertura dos Arquivos: É hora da VERDADE! #DesarquivandoBR

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Ha pelo menos um ano, eu e a Niara de Oliveira (@NideOliveira71) conversávamos sobre a necessidade de se mudar a abordagem sobre os crimes - e os torturadores - da Ditadura. Já não tínhamos muita esperança na justiça brasileira (se é que algum dia tivemos) e já estava claro que Lula não iria, no fim de mandato, desafiar os militares.

Como vimos tempos depois, nem Dilma, ex-presa política, viria a desafiar, mas sim se aliar àqueles que a torturaram e mantiverma o país numa Ditadura brutal por mais de uma década. Comissão da (meia) Verdade feita para agradar, ou ao menos não melindrar os milicos mais chegados e só. Nenhum passo adiante e, na verdade, vários passos atrás com a insistência em se recusar a cumprir decisão da CIDH/OEA sobre a Lei da Anistia.

Pois bem, tivemos uma discussão sobre novas formas de ação e protesto, ou seja, da necessidade de não depender da justiça ou de governos vendidos para demonstrar nosso repúdio aos criminosos da Ditadura e de, ao menos, constrangê-los de alguma forma. Se não seriam presos, que ao menos pagassem com o constrangimento público por seus crimes, que andassem nas ruas sendo apontados como torturadores e assassinos e que tivessem a convivência social enquanto pessoas "normais" dificultada, ou seja, que se tornassem párias.

A idéia, claro, vem em parte da condenação de Brilhante Ustra em tribunal paulista. Se por um lado ele não foi preso, graças à Anistia tão cara à Dilma e ao STF, por outro foi declarado, com todas as letras, TORTURADOR. Um pária.

Qualquer pessoa poderia, então, olhar para quela figura desgraçada e chamá-lo, sem culpas, pelo que ele realmente é: Um monstro torturador.

Nossa ideia - mais da Niara que minha, sejamos honestos -, enfim, era a de realizar manifestações, "escrachos" nas casas e escritórios de conhecidos torturadores. Pixar os muros das casas alertando que ali morava um torturador, colar cartazes, fazer vigílias e muito barulho...

A idéia era constranger e identificar. Deixar claro para vizinhos, conhecidos e transeuntes que ali morava um torturador que merecia ser excluído do convívio social e tratado com o desprezo compatível - mas jamais com violência, nos reduzindo ao nível deles.

A idéia foi apresentada ao Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo que, na época, não achou que seria algo compatível com suas funções. Bem, acredito que estavam certos, pois a força de uma mobilização comandada por jovens sem qualquer ligação com esse passado - a maioria nasceu depois do fim da ditadura  - acabou por se mostrar maior do que se tivesse o comando de uma organização já conhecida e ligada histórica e diretamente à causa.

Como chamar de "revanchismo" a ação de jovens que não teria diretamente do que se vingar? Não que ne mpor um segundo a tese do "revanchismo" cole ou seja aceitável, mas neste caso específico os milicos de pijamas não teriam nem este pífio argumento.

O efeito foi de surpresa, muito maior do que se organizada por quem tem já um histórico na questão.

Depois da surpresa, o choque de realidade: Convivemos com vizinhos e conhecidos que torturaram e mataram e muitas vezes sequer temos noção disto, pois o passado foi escondido, mascarado e criminosos foram perdoados por seus pares, sem que o povo fosse consultado.

O perdão de miltiares dado a militares sob uma farsa chamada Anistia, em que quem lutou contra a Ditadura já havia sido exemplarmente punido: Sofreram tortura, largaram suas vidas para lutar, perderam amigos e parentes, foram demitidos de seus empregos, exilados e muitos acabaram mortos. Se tudo isto não for punição suficiente...


A manifestação do Levante Popular da Juventude, grupo ligado ao Consulta Popular e próximo ao PSOL, mas que contou com o apoio de outros grupos, como o MST e o Movimento dos Trabalhadores Desempregados, serviu para mostrar - mais uma vez - a necessidade de total abertura dos arquivos e da punição dos criminosos que vivem como se fossem cidadãos comuns, inocentes, bons moços.

São criminosos da pior espécie que cometeram crimes contra a humanidade. Mantiveram o país em um cativeiro por mais de uma década e, hoje, se escondem por detrás da ignorância sobre nossa história imposta pelo Estado e mantida pelo atual governo, à revelia de decisões internacionais que desrespeitamos insistentemente.

Já passou da hora não só de uma Comissão da Verdade de verdade -e não o arremedo dilmista que não pune nada, nem ninguém -, da abertura completa e irrestrita dos arquivos da Ditadura e, finalmente, da PUNIÇÃO de todos que tenham cometido crimes contra o povo brasileiro e que tenham dado sustentação ao regime ditatorial, sejam eles militares ou civis.

Nós temos o direito de não sermos forçados a viver ao lado de torturadores que escaparam impunes, temos o direito de conhecer nosso passado em sua totalidade e, desta forma, ter munição para lutar por um futuro diferente.

Este texto faz parte da quinta blogagem coletiva do #desarquivandoBR
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