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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cidadania ou a eterna necessidade de consumir

Assistindo ao programa de entrevistas do Rodrigo Vianna na Record News com o Plínio de Arruda Sampaio e o Igor Fuser (os três são pessoas pelas quais nutro grande admiração), pude ter uma verdadeira aula sobre crise do capitalismo e, claro, a visível crise da esquerda, incapaz de se re-inventar e tomar a frente nos vários protestos que surgem pelo mundo.


Nos países árabes lideranças despontavam por todos os lados, localizadas, específicas, mas incapazes de guiar os rumos de uma massa que queria mudanças, mas não inha programa.

Na Inglaterra vê-se uma total falta de organização. Protestos legítimos e insatisfação explosiva se misturando com atos reprováveis devandalismo (mesmo que frente ao vandalismo do governo na entrega de dinheiro público aos bancos e na violência injustificável da polícia contra o povo) e uma esquerda que não existe.

Conservadores, liderados por Tatcher dilapidaram o Estado inglês e todo o processo foi aprofundado ou ao menos continuado por Blair e os trabalhistas que de esquerda não tinham nada. Hoje a direita permanece no poder, apenas mudou o partido, e a esquerda não sabe o que fazer.

Na Espanha, os indignados demonstram a mais completa insatisfação com a política tradicional e com os partidos, onde PP e PSOE são faces da mesma moeda. Partidos neoliberais, privatizantes e dispostos a fazer de tudo para salvar os bancos - mas não o povo. Na falta de uma alternativa viável, resta a indignação que dificilmente evitará uma vitória acachapante do PP nas eleições de novembro. PP ou PSOE são a mesma coisa e nenhuma alternativa parece estar sendo criada e nenhum outro grupo ou partido conseguiu capitalizar a insatisfação popular.

No Chile a situação é um pouco diferente, a politização (mesmo partidarização) da população é imensa, mas ainda não se sabe que reflexos os protestos trarão em termos eleitorais ou se haverá real mudança no quadro político e mesmo social chileno.

E aqui no Brasil, vemos movimentos aparelhados, CUT demonstra insatisfação contra o governo apenas nas páginas de jornais, a UNE faz o mesmo, discordâncias pontuais não passam de notinhas e reclamações inócuas, no resto do tempo o mesmo apoio cego e inconsequente de sempre.

Parte da esquerda está disposta a apoiar tudo em nome de um governo francamente de direita, mas com um verniz avermelhado pelas políticas sociais que escondem intenções não tão nobres.

Políticas compensatorias, quando emergenciais, são corretas, mas no governo Lula/Dilma viraram perpétuas, pois não há qualquer planejamento para se ir além. E nem haverá qualquer lanejamento sério, pois, como analisou Plínio no programa,  o governo prefere manter o povo amarrado e fiel, não quer emancipá-lo, coisa ue demanda trabalho, demanda dinheiro, tempo e paciência e, acima de tudo, demanda peitar interesses poderosos.

O governo mantém o povo refém de suas políticas compensatórias ao tempo em que garante lucros históricos ao empresariado. Se é verdade que o poder aquisitivo melhorou, muita gente saiu da miséria, por outro o fosso entre mais ricos e mais pobres continua igual ou maior.

E as políticas compensatórias do governo tem apenas a intenção de manter esta realidade. Basta fazer o cálculo. Você dá uma especialização mínima ao povo, manda para uma UnieEquina e entrega funcionários baratos para indústria.

Deixo claro, eu sou a favor de Bolsa Família, de ProUni, mas, como já exaustivamente escrevi sobre neste blog, garantindo emancipação popular, garantindo saídas, garantindo cidadania.

O modelo atual é perfeito para a perpetuação do capitalismo, porque no meio tempo você "insere" via consumo a população mais pobre, incutindo a "necessidade de consumir" como se isso fosse cidadania. E parte da esquerda aplaude, achando que isso é uma revolução.

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Aos que estranham a ausência de postagens, informo que estou num período de muito trabalho no mestrado, com entrega de artigos, relatório parcial pra FAPESP (agência de financiamento) e futura viagem para Recife para apresentar trabalho na Intercom.
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quarta-feira, 25 de maio de 2011

A #Horadoplaneta, ou a estupidez do "consumismo cool"

O fenômeno da #Horadoplaneta é apenas um “gancho”, mas se encaixa perfeitamente em outros (ou todos) os movimentos de sofá promovidos pela classe média para tentar mudar o mundo sem sair do lugar.

Por mudar o mundo, compreende-se o de fazê-los ter mais tempo ou mais possibilidades de consumir, passando a ideia de que o fazem de forma responsável, mesmo que, no fim, não mude em nada as relações de produção ou mesmo a mentalidade classe mediana de seus impulsores.
Consumo ou consumismo sem culpa. Uma contrapartida inócua que, de quebra, ainda os fazem sentir-se como parte de um grupo que se importa com o mundo — mas não com as pessoas.
"A #Horadoplaneta é tipo, vamos criticar consumismo, mas só por 1h enquanto usamos nosso iPad para dizer ao mundo o quanto cool nós somos."
Tuitei isso em resposta a um camarada, no Twitter, que disse: "Vem cá, lógico q apenas isso ñ ajuda em nada, mas qual o problema de aproximar pessoas ao tema e fazê-las repensar p/ serem + sustentáveis?".
Se não ajuda em nada, já temos um problema, pois a ideia é vendida como se desse algum resultado. Só isto resolverá metade dos problemas do mundo.
Mas, não pensemos em termos de "sucesso material" e sim na ideia de "fazer repensar para serem mais sustentáveis". Isto, meus amigos, é o novo mantra do "ambientalismo de butique" que Marina Silva vende tão bem. No caso dela realmente de butique, lembram-se da Natura. Ela ainda carrega um algo mais de exotismo, ao juntar o fanatismo evangélico na jogada, mas é apenas para atrair ainda mais adeptos.
É aquele ambientalismo que joga tinta em modelos com casacos de pele, mas usa camisas descoladas de empresas com trabalho escravo. Mas a camisa foi feita com algodão orgânico — plantado por crianças pobres da Guatemala. Não agride à natureza — só ao ser humano.

É a substituição do ser humano pelos animais, em alguns casos, como uma ONG que surgiu das trevas ha algum tempo defendendo o suicídio coletivo da humanidade para não criarmos problemas para a natureza. Até hoje não sei se era "séria". Até onde o termo permite, claro.

A hora do planeta passa a mensagem de que as pessoas — e não as grandes companhias — são responsáveis pelos problemas de "sustentabilidade", de energia, de água e etc. É a ideia de que meia dúzia de adolescentes são responsáveis pelas agruras do mundo e que, apagando a luz por uma hora, ou usando papel higiênico duas vezes, dos dois lados, vão mudar o mundo, quando o problema está em todo um modelo econômico e na gestão dos meios de produção.

A ideia central deste ambientalismo cool é que você nem precisa sair de casa pra mudar o mundo. Pode apenas tuitar que fez a diferença enquanto apaga a luz — mas usa baterias de lítio no celular — e muda o mundo.

Pra que sair às ruas e exigir uma mudança efetiva de sistema? Ou melhor, a maioria sequer sabe o que significa o sistema capitalista! O interesse é usar uma "ecobag" com alguma marca chique, mostrar pras amigas e amigos e esperar pelo lançamento do mais novo iPod ou iPad no mercado. Mas sempre exigindo que estes consumam menos energia ou não maltratem os cavalos exóticos da Mongólia — mas se for trabalho escravo de crianças na China não tem problema, eles tem muitas crianças lá!

Este tipo de "manifestação" passa a imagem errada de "revolução do sofá", sem crítica ao modelo e ao consumismo em si. Na verdade sem crítica alguma que faça a diferença.

Artigo completo pode ser lido na Revista Bula.

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

País Rico é País Sem Pobreza? Onde foi parar a Justiça social?

Este é o novo slogan do governo federal. Péssimo. E explico o porque.

O PT já foi um partido Socialista, ou, ao menos, mais chegado a estes ideais e, como tal, a bandeira é - ou era - a da justiça social, da igualdade e nunca a da acumulação, da riqueza pura e simples. E é isto que promove o slogan, a noção de que riqueza é boa, mas pobreza é ruim.

Ora,s pobreza é algo ruim, mas o seu oposto, a riqueza, também não é maravilhosa. Um país não deve lutar por "riqueza" e sim por JUSTIÇA. Um país justo, um país igualitário, em que a diferença entre os que tem mais e menos não seja a maior do mundo ou simplesmente abissal.

Este slogan reflete fielmente a transformação pela qual passou o governo e o próprio PT: O abandono de antigas bandeiras em troca de uma luta por poder, por manutenção do status quo e pela criação de uma nova classe média baseada unicamente em consumismo.

Como disse Dilma na campanha, ela queria um país de classe média, e se consegue isso através do consumo, do dinheiro, de "enriquecer" os pobres e não em criar uma igualdade, uma justiça social.

Distribuição de renda não é "enriquecer", é tornar justo o desigual.

A linguagem marxista foi abandonada pelo senso comum classe-mediano de que o bom é ser rico, não ser igual, não estar no mesmo nível dos demais, mas ter mais, ser melhor.

Enriquecer, como reza o slogan, resolveria todos os problemas. Tiramos as pessoas da pobreza financeira, mas não da intelectual, da exclusão que não é apenas fruto de diferenças financeiras, mas é social, intelectual.

Façamos um país rico, mas que acha que o Big Brother e o Ratinho são entretenimento de qualidade, ricos que fazem uniesquinas, que são preparados para consumir e não para pensar. Mas poderão consumir mais, acumular mais. Este não é o país que sonho, o que enriquece mas permanece vazio.

Não importa que conceito de "rico" usemos. Um slogan que precisa de profunda interpretação e exercício mental para ser compreendido pelo que é não é bom. Países ricos também podem ser desiguais e terem muita pobreza (e o são em muitos casos), e não ter pobreza, em si, não torna ninguém rico, dependendo da perspectiva e da comparação feita. E, se ser rico fosse inerentemente bom ou solução de problemas não teríamos uma elite tão descaradamente canalha como a nossa.

O que precisamos é de justiça, igualdade, de justiça social, de educação, cultura e inclusão.

Me oponho a este pensamento capitalista, "American Dream" como bem definiu o @Ramiro_fc no Twitter.

Me pergunto: Porque não um "País JUSTO é país sem pobreza"? Ou mesmo "País SOLIDÁRIO é país sem pobreza"?

Seria muito mais digno perante a história do PT e de sua militância.
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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Brastemp e Machismo: O lugar das mulheres é na cozinha.



Eis a propaganda da discórida. Mas poderia ser qualquer outra que fale de eletrodomésticos. Esta é a cara da Brastemp, mas também de todas as demais.

Em toda propaganda do tipo vemos o direcionamento à dona-de-casa, à mulher. Algumas, ao menos, já aceitam que a mulher pode ser algo além de dona-de-casa, que tem uma vida e não passa o dia a cuidar dos filhos, é alguém. É pouco.

Tudo se resume à mulher que limpa, passa, lava e cozinha. No máximo, "administra" o lar e comanda sua(s) empregada(s). A cozinha é seu lugar.

Alguém conhece propaganda de eletrodoméstico direcionada ao homem ou que seja neutra? Nunca vi.

É um machismo descarado e aceito pela sociedade. Silenciosamente aceito, compreendido e replicado. E os protestos são raros, poucos, não incomodam.

Talvez ainda pior seja a propaganda gringa com péssima dublagem que consiste num macho inútil e com cara de sono (ou mesmo de imbecil) que ao ir até a privada nota que acabou o refil daquele treco que limpa e tira mau cheiro da mesma (morro e não lembro do nome). Ao se deparar com o fato não se move para trocá-lo, grita pela esposa, submissa, que sai em sua ajuda.



A propaganda é, no mínimo, odiosa e estereotipada. Machista ao extremo e intragável.

Já é hora de pôr um fim neste tipo de atrocidade cometida contra as mulheres, colocando-as como submissas donas do lar ou, em outros casos, como mulheres ativas mas que, no fim do dia, se limitam a serem perfeitas esposas que cuidam da casa enquanto o marido bebe cerveja na sala.

Mas, felizmente, existem os (as) que se mexem. Mariana Parra (@mariana_parra), graduanda em Relações Internacionais e que estuda as questões feministas (e, felizmente vem a ser minha namorada), mandou uma mensagem certeira à Brastemp sobre a situação. Eis a mensagem e a "resposta" da empresa:

De: ------------------------
Para: faleconosco@brastemp.com.br

Assunto: Fale Conosco (crítica*Outros)

Classificação: crítica

Assunto: Outros

Nome: Mariana Parra

Email:---------------------------

Mensagem: Gostaria de fazer uma reclamação a respeito da propaganda vinculada na televisão
da lava-louça brastemp. A propaganda se mostra extremamente machista e reproduz uma
ideologia a respeito da mulher muito degradante, ao mostrar como a mulher pode economizar seu
tempo tendo a lava-louça, e apenas a mulher. Por que não o homem também nao economiza seu
tempo? Hoje em dia o serviço doméstico não é realizado, felizmente, somente pelas mulheres,
porém grande parte da mídia continua reproduzindo esta imagem, que nos nossos dias agrava-se
mais ainda, já que a mulher conquistou o mercado de trabalho, e se recair todo trabalho doméstico
nela, como infelizmente em alguns casos acontece. Sugiro que a empresa torne-se pioneira nesta
questão e tenha esta fundamental preocupação de responsabilidade social e respeito com a
igualdade de gênero na hora de fazer suas propagandas
E a resposta, que não diz nada mas talvez faça alguém da empresa pensar:
Olá Mariana,

Recebemos seus comentários como críticas construtivas, esse motivo nós os enviamos ao
conhecimento de nossa área responsável, que os levará em consideração em estudos futuros.

Em caso de outras dúvidas, estaremos à disposição.


Atenciosamente,

Maria Ferreira,
Central de Relacionamento Brastemp.
Sim, apenas isto. Nada. E, notem, a resposta veio de uma mulher. Como será que ela se sente? Ou apenas repete e reproduz?

Sugiro que mulheres e homens façam o mesmo, demonstrem seu repúdio a estas propagandas machistas e preconceituosas que perpetuam o estereótipo da mulher submissa e cordial.
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