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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A animalidade na UniEsquina [Update]

O Nassif deu a deixa e, como não poderia deixar de ser, dou meus pitacos e acrescento minha revolta.




Por mais que eu tenha ficado revoltado, não fico surpreso. Não sei se a culpa é do país, por ser uma vergonha, ter um ensino indecente e uma falsa moralidade absurda e deturpada, ou se a culpa é da UniEsquina, conhecida como Uniban que, por sua qualidade (sic) não poderia ter nada além de vândalos e animais em seu interior.
Em pleno Século 21 uma mulher é tratada desta forma dentro de uma universidade. Xingada e escorraçada, apenas por estar vestindo uma roupa curta, precisando de proteção policial para não ser agredida fisicamente.
Eu diria mais, em pleno século XXI, com todas as obviedades já explicitadas pelo Nassif e, ainda mais, em um país onde a TV faz aberta apologia à nudez feminina, é simplesmente inaceitável - e o seria mesmo sem a super-exposição e abusos cometidos pela TV contra as mulheres - que uma mulher seja tratada de forma animalesca, sendo humilhada e ofendida pela roupa que usava, que alguns puritanos consideraram "imprópria", "curta".

É direito de qualquer um achar ou deixar de achar uma roupa imprópria, a questão é ofender, agredir alguém pelo seu jeito de se vestir e cometer os atos de selvageria como vimos dentro da Uniban.

Para piorar, o PIG faz coro, estampa em suas manchetes o machismo e o preconceito típicos da elite que criaram um monstro. No G1, a manchete: "Aluna com pouca roupa provoca tumulto em universidade e vídeo cai na web". O puritanismo e a falta de noção de afirmar que a aluna estava com "pouca roupa". O que seria isto, quem decidiu o que é muito ou pouca roupa? E, o pior, é ainda afirmar que a aluna foi a responsável pelo tumulto e não os vândalos da UniEsquina que a atacaram covardemente.

Culpa-se a vítima enquanto escapam os animais. A culpa é de quem usa roupa curta, como se no Brasil isto fosse um crime ou incomum ou, para piorar, como se alguém tivesse o direito de apontar o dedo! Estes mesmos moralistas devem ser os que assistem o "Caldeirão do Huck" ou o tosco "Brothers" e sonham com as mulheres que se mostram nos programas ou, ainda, as mulheres devem ser as mesmas que sonham em ter aqueles corpos para usar as roupas sumárias das "ajudantes de palco". Enfim, são falsos.

A UniEsquina, além de não se retratar pelo comportamento animal de seus alunos (sic), ainda faz uma cruzada para proibir a circulação dos vídeos, não porque isto seria uma forma de defender a aluna ofendida, e sim para defender a reputação (sic) da instituição de ensino (sic).

Para piorar, vejam uma coleção de absurdos ditos por dois alunos (sic) da douta instituição:
- A roupa era inadequada ao local. Ela sAbia que estava em ambiente educacional - disse Cláudia Cristina dos Santos, estudante de Educação Física, 37 anos.

O estudante de Educação Física, Elias Alves, 19 anos, criticou a atitude da menina.
- Não foi uma decisão sábia e, pelo que eu me lembre, nem fazia calor. Ela poderia ter evitado toda a confusão.

Os moralistas de plantão assumiram que a roupa era inadequada, logo, era justificado humilhar a garota.

Ela merecia ser xingada, humilhada e ser praticamente  expulsa de sua faculdade porque sua roupa desagradava à meia dúzia de pseudo-moralistas que se sentiam no direito da fazer o que bem entendessem.

Por fim ainda a culpam, a causa da confusão; Foi sua escolha, seu guarda-roupa e não a animalidade dos presentes que, sem ter o que fazer - compreensível em uma UniEsquina como a Uniban - , resolveram atacar alguém que estava somente no lugar errado e na hora errada - ou melhor, apenas alguém que estava passando sem qualquer problema e foi pega para cristo.

São estes estudantes (sic) o nosso futuro. São estas UniEsquinas que ensinam (sic) os nossos filhos. E é isto que nos ensinam. Intolerância, desrespeito, animalidade.

Simplesmente vergonhoso e lamentável, mas o nível educacional e cultural do país não escondem nossas mazelas, nossa realidade; Não surpreende. A baixíssima qualidade da TV e dos meios de comunicação em geral não surpreendem. É algo simplesmente esperado, uma explosão de falso-moralismo que é lamentável, repreensível... mas jamais inesperado.

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Eu não havia lido a matéria da Folha de são Paulo - finalmente uma que se salva - sob o incrível e irretocável título de "Taleban na Faculdade" e não posso deixar de me impressionar. O nível das ofensas, de todos os lados, foi absurdo. Professores (sic), o coordenador do curso, os demais alunos (sic) tratando uma garota como puta, ameaçando estuprá-la! Seguranças da faculdade atacando a garota que cometeu o crime de usar um vestido para sair em um ambiente repleto de marginais, de debilóides virgens que nunca viram uma mulher - e esero que jamais vejam.
Foi aí que todos os alunos abandonaram as aulas e se aglomeraram numa multidão que ameaçava invadir a sala onde a garota havia se escondido, aos gritos de "puta, puta!". Homens e mulheres se juntaram para xingá-la. Foi preciso que um grupo de policiais militares entrasse no prédio para evitar que a menina se tornasse a protagonista de um gang bang forçado.

Vandalismo puro com porta sendo arrombada, com PM precisando usar spray de pimenta para afastar os marginais que queriam atacá-la.

Isto demonstra o lixo que é a educação no nosso país, o nosso (des)nível cultural, nossa inveja escancarada da Arábia Saudita - sim, pois o episódio lamentável da Uniban não deixa a desejar frente ao que acontece na Arábia Saudita.

Resta à Uniban ser processada pelo descontrole de alunos e, especialmente, funcionários, e estes devem ser duramente punidos pelas ameaças, pela tortura psicológica e pela violência com a qual trataram uma aluna inocente, violentada, humilhada, abusada.

"Esse episódio serviu pra mostrar a verdadeira face de boa parte da sociedade brasileira, extremamente machista, retrógrada, conservadora e hipócrita, e mostra como nossa sociedade precisa ainda de avanços para que as mulheres conquistem uma verdadeira igualdade, de direitos, de dignidade, de cidadania....

No Brasil muita coisa é velada, e esse episódio mostrou mais um grande problema social velado neste país." Mariana Parra
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quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Falsa Moralidade da Mídia (e da Sociedade) e a criação de factóides

Uma coisa interessante para se analisar é o recorrente sintoma de falsa moralidade da sociedade, tanto da brasileira quanto da do resto do mundo e, em especial, da mídia, que faz de tudo para vender, para criar um caso, para criar um monstro.

Me recordo das acusações que pipocavam nos jornais sobre o fato de Lula gostar de beber e - dizia a mídia - ser um cachaceiro, de perder a noção quando bebia, de ser uma vergonha para o país e etc.

Tudo bem, a imagem de um presidente bêbado não é agradável nem boa para o país, mas não vejo grande diferença entre o Lula tomar um copo ou outro de cachaça e o Gordon Brown, por sua vez, tomar um uísque vez ou outra.

A diferença é que não imagino o Daily Mirror anunciando ou denunciando o Brown por cachaceiro, desregrado e beberrã. O nosso PIG, em muitos casos, assusta pela banalidade e falta de noção de suas acusações.

Até hoje procuro saber de que fonte vieram as acusações de que o presidente teria um problema com bebidas.

Aliás, o PIG dos EUA também está na jogada, afinal, as acusações mais contundentes vieram de Larry Rother, do NYT. Vale , porém, que a reação contra o artigo também foi absurdamente desproporcional por parte do governo, expulsar o jornalista seria nada mais que uma maneira de aplicar a censura.

Enfim, o ponto crítico é a confusão entre vida privada e vida pública dos presidentes, dos políticos em geral. Uma coisa é Lula beber, o que não é problema, outra é tomar um porre numa reunião diplomática. O primeiro caso não deveria importar à imprensa nem a ninguém, o segundo é caso sério. E, como se verificou, a imprensa buscou criar um factóide para impor o segund ocaso como verdade. Basta apenas verificar as fotos tiradas à época, a clara intenção de denegrir a imagem do Lula em cliques bem planejados.

Era engraçado, na época, encontrar amigos bons de copo criticando o presidente, oras, quer dizer que o presidente não pode dar suas "bicadas" numa cachaça, mas os falso-moralistas podem encher a cara cotidianamente que não tem problema?

A crítica vale para a sociedade que criticou tanto quanto para a mídia, que criou um factóide ridículo.

O mesmo raciocínio vale para o caso do ex-presidente Bill Clinton. Se ele traiu a mulher com a secretária é/era problema só dele e da esposa, uma questão familiar. Mas a mídia caiu em cima e o país chegou à loucura de propor impeachment!

Até onde vão os factóides e o denuncismo da mídia! A exposição da vida pessoal de um político, sem qualquer relação com a vida pública, comprometendo até a política nacional por algo absolutamente estúpido.

Se tivesse havido coação, se a Lewinsky tivesse sido forçada a alguma coisa - o que ela negou - aí sim teríamos um crime, algo que, finalmente, interessaria à opinião pública, à mídia, à vida política. O que Bill Clinton faz ou deixa de fazer em sua vida privada - desde que dentro da lei - é problema apenas dele e de sua família.

Imagino quantos congressistas não apoiaram a deposição de Clinton pelo seu adultério - posteriormente perdoado por sua esposa, Hillary, mas às escondidas mantinham suas próprias amantes, "pegavam" suas próprias secretárias. E quantos americanos-médios não ficaram escandalizados com o episódio e continuaram com suas amantes.

Não sei se existe um aura de infalibilidade em torno dos políticos - ao menos nos EUA isto parece existir mesmo -, estes não podem ser impuros, cometer erros que qualquer cidadão comum cometeria, ou se, na verdade, vemos apenas a hipocrisia e o falso moralismo da sociedade e, em especial, da mídia que faz de tudo por uma boa história, mesmo que inventada, fabricada ou deturpada.

Todo este périplo apenas para chegar onde eu queria, no Berlusconi.

Sim, este crápula está envolto em denúncias mil, desde ser parte da máfia, passando por ser responsável por desvios e corrupção monstruosas chegando até a recente crise de suas festas fechadas com prostitutas, drogas e transporte público em aviões do Estado.

Hoje me chega a notícia de que a popularidade de Berlusconi caiu 4 pontos, o que, na verdade, não é quase nada. A minha surpresa - não só pela queda risível - recai no fato de que a mídia pouco explorou os aspectos realmente escandalosos e, especialmente, no fato da popularidade do crápula cair apenas por causa deste episódio e não por ser quem é, pelas acusações sérias de manipulação e corrupção ou mesmo pelas declarações absurdas e machistas que fez na cidade destruída de l'Áquila!

Berlusconi é um palhaço, um palhaço perigoso, um mafioso e criminoso não só conhecido mas, infelizmente reconhecido por outros meios. É o Premier, líder incontestável de um país que parece ter prazer em ter um marginal como seu governante.

Mas o falso moralismo que recai sobre a sociedade italiana e tema central deste artigo se configura na crítica e na reprovação da sociedade à orgia em si, às prostitutas levadas por Berlusconi para suas festas, exatamente o ponto mais insignificante de tudo.

Se Berlusconi gosta de orgias, gosta de prostitutas e etc é problema dele. Esta é a vida privada do homem. A crítica deve recair - para ficarmos só neste episódio, no uso de drogas e no uso de aviões da força aérea para o uso pessoal do presidente e seus amigos. Mas, na mídia, ouvimos basicamente os mesmos bordões moralistas e não duvido que o assunto nas ruas de Roma sejam os mesmos, tudo isto dito por quem provavelmente adoraria participar de orgias se tivesse a chance, que morrem de inveja das prostitutas do Berlusconi e dele próprio por seu poder.

A imprensa vem chegando ao absurdo de publicar diálogos quase-eróticos de Berlusconi, acessores e prostitutas, algo que beira o nonsense completo ou um filme B de pornochanchada moderna.

Aliás, voltando ao país, é este moralismo torpe e burro (talvez nem tanto neste caso, logo depois a decisão se mostrou acertada) foi o mesmo que impediu FHC de se eleger prefeito de São Paulo contra o Jânio Quadros, em 1985. Por ser Ateu a sociedade o boicotou, uma eleição ganha foi rapidamente perdida. Alguma dúvida de que muitos que resolveram não votar no FHC raramente sequer pensavam em religião ou Deus? Votaram contra apenas por um resquício de moralismo, a idéia de que Ateus são errados, criminosos, impuros, coisa do capeta e outras besteiras.

Enfim, chego à conclusão de que o povo (não todo, obviamente, mas parte significativa) gosta mesmo é de circo. Sente uma imensa inveja do poder, dos poderosos e não duvido que, "chegando lá", fariam igual. Esta mesma inveja, este falso-moralismo e em alguns casos a crença real na bondade e infalibilidade dos políticos, acaba rapidamente quando estes cometem atos mundanos, se mostram homens (e mulheres) comuns, apenas eleitos, mas não diferentes.

À mídia, cabe o papel de interpretar estes anseios burros da sociedade e ir até à beira do ilegal (às vezes passando para o lado de lá) para denunciar, criar os factóides, fabricar notícias e escândalos ou aumentá-las, deturpá-las até não mais poder.

Ainda é cabível notar a alarmante confusão entre vida pública e vida privada, a diferença entre o que se faz na privacidade do lar, como homem, e os atos e ações públicas, como governante, líder, homem público.

Uma confusão perigosa, descabida e aproveitada pela mídia que, como abutres, divulgam fatos da vida pessoal dos indivíduos como se estivéssemos num big brother eterno enquanto, do outro lado, a "sociedade" se refestela reclamando das mesmas coisas que fazem ou gostariam de fazer mas, por qualquer motivo (banal), preferem apenas reclamar dos erros dos outros.

Enfim, cabe apenas ressaltar que, a barreira entre a vida pública e a privada, salvo o vigilantismo constante da mídia, termina ou vale ser burlada apenas quando um crime, um deslize, é cometido na esfera privada e traga consequências à pública, à sociedade, ao Estado.

A falsa moralidade criada e sustentada seja pela mídia ou pela sociedade amante do espetáculo, chega por vezes à beira da loucura, descambando em denuncismo torpe, crises institucionais fabricadas e o total nonsense.
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