Numa notícia veiculada ontem pelos jornais os EUA reconheciam formalmente Ahmadinejad como presidente do Irã. 5 palavras carregadas de significado.
"'Ele é o líder eleito', respondeu o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a um repórter que lhe perguntou se a Casa Branca reconhecia Ahmadinejad como o presidente legítimo do país."Legitimidade não é exatamente a questão Ahmadinejad ou qualquer outro presidente não seriam reconhecidos como "legítimos" pelos EUA semque houvesse um desmantelamento do regime islâmico. A questão é mais profunda, os EUA reconheceram, enfim, que Ahmadinejad foi eleito, passando por cima da fraude, dos protestos e aceitando-o como possível interlocutor caso haja alguma vontade de diálogo futuro.
Se por um lado os EUA buscaram não se intrometer - ao menos no discurso - nos assuntos iranianos, inaugurando uma suposta nova era com Obama, por outro, com estas simples palavras, denunciaram que a não-intervenção dos EUA se tornou o apóio tácito à fraudes e golpes.
O apóio, ainda que tácito e sem entusiasmo dos EUA à Ahmadinejad, é emblemático. Por mais que não influencie, na prática, os protestos da oposição legítima, por outro, acaba tendo um efeito psicológico negativo. Os EUA jogaram a toalha, se antes se distanciavam, agora reconheceram como fato consumado que Ahmadinejad venceu, sem levar em consideração a forma.
Sob críticas da oposição, que pedia uma ação mais firme em favor dos manifestantes, Obama falou em favor do diálogo e do direito de manifestação no Irã, com cautela para não ser acusado de interferência pelo governo do Irã, como o líder supremo fez no sermão em que ordenou aos iranianos que aceitassem o resultado da eleição.Em lugar da não-intervenção radical os EUA ultrapassaram a neutralidade e foram direto para a aceitação do "inevitável". Dois extremos indesejados e indesejáveis.
O paralelo que podemos traçar com Honduras é claro.
Tanto quanto no caso Iraniano quanto no caso Hondurenho - salvas as suspeitas dos EUA estarem envolvidos em ambos os casos - os EUA, ou ao menos Obama, adotaram uma posição mais próxima da neutralidade e da conciliação - por mais pernicioso que este posicionamento possa ser, especialmente no caso Hondurenho - mas sem reconhecer, felicitar ou fazer afirmações falsamente inocentes as carregadas de significado os governos golpistas de Micheletti ou Ahmadinejad.
O que vemos é uma mudança substancial, ainda que em tom quase neutro ou insuspeito.
Se hoje vimos o reconhecimento de Ahmadinejad como presidente legal e por direito do Irã, nada impede que amanhã o porta-voz da Casa Branca anuncie que "se esgotaram todas as vias de negociação em Honduras" ou ainda que "não existe clima para a volta de Zelaya".
Qualquer variação destas duas terríveis frases/possibilidades "inocentes" seria o mesmo que reconhecer: Micheletti venceu e perdeu o povo Hondurenho.
Especificamente em Honduras, os EUA não vem tendo um papel relevante - assim como o Brasil de Lula, suposto líder da América Latina -, mas é inegável a sua força e relevância, mesmo que sem muito interesse. Uma palavra dos EUA, uma frase mal colocada ou mal interpretada pode fazer a balança de poder se desequilibrar.
Todas as atenções estão voltadas aos EUA.